O Senhor Jones e a esposa eram proprietários da Granja do Solar na Inglaterra. Possuíam alguns empregados. Os bichos da fazenda iam vivendo oprimidos e maltratados por eles, trabalhando demais e comendo o quase suficiente. Um dia o velho Major, um porco várias vezes campeão em exposições, teve um sonho muito estranho e reuniu os animais à noite para contá-lo. Chegaram os cachorros Ferrabrás, Lulu e Catavento, depois os porcos, que eram os mais inteligentes. As galinhas empoleiraram-se nas janelas, os pombos voaram para os caibros do telhado, as ovelhas e as vacas deitaram-se atrás dos porcos e ficaram a ruminar. Os dois cavalos de tração, Sansão e Quitéria, chegaram juntos. Depois vieram Maricota, a cabra branca, o burro Benjamin, o mais idoso, quase um filósofo. Mimosa, a égua vaidosa e fútil, que puxava a aranha do Sr. Jones, entrou requebrando-se. Foi aí que Major tomou a palavra:
-- Camaradas, eu tive um sonho. E quero transmiti-lo antes de morrer. Nossa vida é miserável, trabalhosa e curta. Nenhum animal na Inglaterra é livre. O Homem é o nosso verdadeiro inimigo. É a única criatura que consome sem produzir. Não dá leite, não põe ovos, é fraco demais para puxar o arado, nunca é tosquiado e não corre o suficiente para alcançar uma lebre. Mesmo assim, é o nosso Senhor. Por isso, camaradas, deixo-vos apenas uma palavra: Revolução!... Transmiti esta mensagem para todos e para as futuras gerações. Revolução ou morte! Qualquer coisa que ande sobre duas pernas é inimigo; qualquer coisa que ande sobre quatro patas ou tenha asas é amigo. Nesta luta não devemos nos assemelhar ao homem. Depois que o derrotardes, não morai em casas, não dormi em camas, não usai roupas nem bebei álcool. Não fumar, não tocar em dinheiro nem fazer comércio. E o principal: jamais um animal deverá tiranizar outro animal, pois todos serão iguais. Vou lhes ensinar uma canção, camaradas, que devereis cantar todas as manhãs. Chama-se "Bichos da Inglaterra":
-- Camaradas, eu tive um sonho. E quero transmiti-lo antes de morrer. Nossa vida é miserável, trabalhosa e curta. Nenhum animal na Inglaterra é livre. O Homem é o nosso verdadeiro inimigo. É a única criatura que consome sem produzir. Não dá leite, não põe ovos, é fraco demais para puxar o arado, nunca é tosquiado e não corre o suficiente para alcançar uma lebre. Mesmo assim, é o nosso Senhor. Por isso, camaradas, deixo-vos apenas uma palavra: Revolução!... Transmiti esta mensagem para todos e para as futuras gerações. Revolução ou morte! Qualquer coisa que ande sobre duas pernas é inimigo; qualquer coisa que ande sobre quatro patas ou tenha asas é amigo. Nesta luta não devemos nos assemelhar ao homem. Depois que o derrotardes, não morai em casas, não dormi em camas, não usai roupas nem bebei álcool. Não fumar, não tocar em dinheiro nem fazer comércio. E o principal: jamais um animal deverá tiranizar outro animal, pois todos serão iguais. Vou lhes ensinar uma canção, camaradas, que devereis cantar todas as manhãs. Chama-se "Bichos da Inglaterra":
Bichos ingleses e irlandeses, bichos do mundo,
eis a mensagem de esperança no futuro que virá.
Cedo ou tarde virá o dia e cairá a tirania.
E os campos ingleses só aos bichos caberão.
Sem argolas nas ventas, dorso livre dos arreios,
sem freios e esporas, chicotadas abolidas.
Mais ricos que sonhamos, iremos possuir
o trigo, feno, cevada, pasto, aveia e feijão!
Lutemos por isso, mesmo que nos custe a vida.
Porcos, cavalos, vacas, galinhas e gansos,
liberdade conquistemos!...
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As vacas mugiram a canção, os cachorros latiram, as ovelhas baliram, os porcos berraram, os cavalos relincharam, os patos grasnaram. Mas o alarido acordou o Sr. Jones, que os pôs a correr.
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Quando me perguntarem quais os dez melhores livros que li na vida, seguramente colocarei dois de George Orwell. A Revolução dos Bichos e 1984, este último a previsão de um Grande Irmão (Big Brother) dominador do mundo e das pessoas, que não terão mais privacidade nem individualidade. Orfeu, o pascácio, meu alter-ego abobado, odeia o BB.
Nascido na Índia Britânica em 1903, foi de tudo um pouco na vida. Jornalista, romancista, lutou com os comunistas na Espanha contra Francisco Franco. Desgostoso com o totalitarismo que via crescer no mundo, produziu este livro, A Revolução dos Bichos, o maior libelo já escrito contra a opressão exercida em nome de falsas utopias de liberdade e igualdade. Morreu em 1950. Muitos autores reconhecem que o livro foi uma crítica candente ao ditador Stalin, que na época encantava os comunistas do mundo todo. O livro foi escrito logo após o término da Segunda Grande Guerra.
Nascido na Índia Britânica em 1903, foi de tudo um pouco na vida. Jornalista, romancista, lutou com os comunistas na Espanha contra Francisco Franco. Desgostoso com o totalitarismo que via crescer no mundo, produziu este livro, A Revolução dos Bichos, o maior libelo já escrito contra a opressão exercida em nome de falsas utopias de liberdade e igualdade. Morreu em 1950. Muitos autores reconhecem que o livro foi uma crítica candente ao ditador Stalin, que na época encantava os comunistas do mundo todo. O livro foi escrito logo após o término da Segunda Grande Guerra.
O velho Major faleceu dormindo três noites depois. A tarefa de continuar sua luta coube aos porcos, seguramente os mais inteligentes. Destacaram-se Napoleão, um cachaço forte, e Bola de Neve, da mesma idade e força. Este último era mais ativo, mas o primeiro gozava de mais reputação quanto ao caráter. Os discípulos mais fiéis dos porcos eram os dois cavalos de tração, Sansão e Quitéria, uma vez que estes tinham dificuldade de pensar por si próprios. Tudo o que lhes era dito passavam aos outros animais por repetição. E assim se fez a Revolução. Os bichos unidos correram da Granja com o seu dono, a mulher e os empregados, que fugiram para uma outra de propriedade de um amigo. A primeira coisa que os porcos, agora chefes, fizeram, foi colocar no curral uma tábua com os novos mandamentos. A Granja deixou de ser "do Solar" para ser "dos Bichos". Diziam os sete mandamentos:
Qualquer coisa que ande sobre duas pernas é inimigo.
Qualquer coisa que ande sobre quatro patas ou tenha asas é amigo.
Nenhum animal usará roupas.
Nenhum animal dormirá em cama.
Nenhum animal beberá álcool.Nenhum animal matará outro animal.
Todos os animais são iguais.
Foram formados grupos para melhor se organizarem. O Comitê da Produção de Ovos para as galinhas, a Liga das Caudas Limpas para as vacas, o Centro de Reeducação dos Animais Selvagens para domesticar ratos e coelhos, o Movimento Pró Lã Mais Branca que congregava as ovelhas. As classes de ler e escrever tiveram enorme sucesso e já no outono quase todos os bichos estavam alfabetizados. Mas os porcos é que elaboravam o que eles deviam aprender. Já liam e escreviam muito bem, melhor que os demais. Mas depois de certo tempo verificou-se que, exceto os porcos, nenhum animal foi além da letra A. Os mais estúpidos, como as galinhas, ovelhas e patos, eram incapazes de aprender de cor os sete mandamentos. Por isso Napoleão condensou estes mandamentos em uma só frase: QUATRO PATAS BOM, DUAS PERNAS RUIM! As ovelhas, principalmente, passavam o dia balindo.
Mas chegou o dia em que os bichos constataram que os porcos estavam comendo mais maçãs e bebendo mais leite. Quiseram fazer um protesto, mas eles os convenceram que era natural, pois comandavam e pensavam, coisa de muita responsabilidade, gastando para isso mais energia que um mero carregar de feno. Os bichos acabaram aceitando as explicações e se puseram a trabalhar mais ainda. ********************
Aconteceram, porém, problemas. O Sr. Jones tentou retomar a Granja, e trouxe com ele alguns amigos. Os bichos os botaram a correr, mas uma ovelha foi morta. A égua Quitéria fugiu e foi depois vista puxando uma charrete em outra Granja. Não suportou o fato de não mais ter direito a torrões de açúcar, como na época de Jones.
Ocorreu então que alguns bichos começaram a suspeitar que estavam trabalhando mais do que antes e ganhando menos comida. Mas tudo foi abafado por uma eleição que se seguiu. O porco Bola de Neve era candidato, prometendo uma semana de três dias de trabalho. O porco Napoleão prometia mais comida na manjedoura.
Ao final, Bola de Neve ganhou o pleito, mas foi expulso da Granja acusado de trair a Revolução. Napoleão, pobrezinho, viu-se obrigado a assumir a chefia da Granja, e faria isso com grande sacrifício pessoal. Começou por abolir as reuniões que os bichos faziam todos os domingos. O porco Garganta, seu imediato, fez ver aos outros bichos que Napoleão só queria o bem de todos. Dizia ele:
-- Ninguém mais que o Camarada Napoleão crê firmemente que todos os bichos são iguais. Feliz ele seria se pudesse deixar-vos tomar decisões por sua própria vontade. Mas poderíeis tomar decisões erradas, camaradas, e aí, onde iríamos parar? Quereis Bola de Neve de volta, o traidor, que se aliou a Jones? Quereis Jones de volta?
Aconteceram, porém, problemas. O Sr. Jones tentou retomar a Granja, e trouxe com ele alguns amigos. Os bichos os botaram a correr, mas uma ovelha foi morta. A égua Quitéria fugiu e foi depois vista puxando uma charrete em outra Granja. Não suportou o fato de não mais ter direito a torrões de açúcar, como na época de Jones.
Ocorreu então que alguns bichos começaram a suspeitar que estavam trabalhando mais do que antes e ganhando menos comida. Mas tudo foi abafado por uma eleição que se seguiu. O porco Bola de Neve era candidato, prometendo uma semana de três dias de trabalho. O porco Napoleão prometia mais comida na manjedoura.
Ao final, Bola de Neve ganhou o pleito, mas foi expulso da Granja acusado de trair a Revolução. Napoleão, pobrezinho, viu-se obrigado a assumir a chefia da Granja, e faria isso com grande sacrifício pessoal. Começou por abolir as reuniões que os bichos faziam todos os domingos. O porco Garganta, seu imediato, fez ver aos outros bichos que Napoleão só queria o bem de todos. Dizia ele:
-- Ninguém mais que o Camarada Napoleão crê firmemente que todos os bichos são iguais. Feliz ele seria se pudesse deixar-vos tomar decisões por sua própria vontade. Mas poderíeis tomar decisões erradas, camaradas, e aí, onde iríamos parar? Quereis Bola de Neve de volta, o traidor, que se aliou a Jones? Quereis Jones de volta?
Os bichos não os queriam, por certo. Se as reuniões de domingo trouxessem os dois de volta, que não fossem feitas mais as reuniões. E todos trabalhariam mais ainda, reconhecidos com o sacrifício de Napoleão.
Os animais passaram então a não se sentar mais juntos. Os porcos tinham agora uma plataforma superior à frente, sendo protegidos pelos cachorros. Napoleão decretou que todo o trabalho seria voluntário, mas quem não o aceitasse somente teria a metade da ração, que já era bem pequena. Uma semana depois, ele também decretou que a Granja passaria agora a negociar com as granjas vizinhas, mesmo com homens. Era preciso aumentar a produção e fazer comércio, para que todos os bichos vivessem melhor.
Os animais passaram então a não se sentar mais juntos. Os porcos tinham agora uma plataforma superior à frente, sendo protegidos pelos cachorros. Napoleão decretou que todo o trabalho seria voluntário, mas quem não o aceitasse somente teria a metade da ração, que já era bem pequena. Uma semana depois, ele também decretou que a Granja passaria agora a negociar com as granjas vizinhas, mesmo com homens. Era preciso aumentar a produção e fazer comércio, para que todos os bichos vivessem melhor.
Foi mais ou menos em seguida que os porcos resolveram se mudar para a casa de Jones. Garganta convenceu os animais que era absolutamente necessário que eles, sendo os cérebros da granja, tivessem um lugar calmo para trabalhar em benefício dos demais. E viver numa casa era mais adequado à dignidade do Líder, pois assim Napoleão deveria ser intitulado. Pouco tempo depois os porcos passaram a dormir nas camas, usando cobertores para o frio. Lá veio de novo o Garganta:
-- Vocês não seriam capazes de nos negar o repouso, com todo esse nosso trabalho intelectual. Para vocês é fácil. É só repetir e repetir o que fazem! Será que desejam o Jones de volta?
Este argumento era irrespondível. E quando os porcos passaram a se levantar uma hora mais tarde que os outros animais, ninguém mais achou estranho. Mas em Janeiro a comida diminuiu. A ração de milho foi drasticamente reduzida e uma ração de batata seria entregue em seu lugar. Há tempos que as maçãs e o leite eram destinados somente aos porcos. Os outros bichos dispunham de água, que era mais saudável. Aconteceu então a primeira dissidência. Napoleão negociara com uma granja o fornecimento de ovos e não consultara as galinhas. Três delas se revoltaram. Napoleão foi rápido. Cortou a ração delas por inteiro. Se comessem, os cachorros as matariam. Ela resistiram por cinco dias, depois voltaram arrependidas aos ninhos.
Quatro dias depois, à tardinha, Napoleão mandou que os bichos se reunissem no pátio. Saiu do casarão ostentando no peito duas medalhas que conferira a si próprio. A de Herói Animal Primeira Classe e a de Herói Animal Segunda Classe.
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As ovelhas eram mais dóceis porque não pensavam.
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E naquele mesmo dia, os cachorros levaram para a frente dos bichos quatro porcos pelas orelhas. Estes berravam e se contorciam. Estacaram à frente do Líder, guardados pelos ferozes cães. Napoleão pediu-lhes que confessassem seus crimes. Eles logo confessaram que tramavam com Bola de Neve contra a granja. Os cães os estraçalharam, num julgamento que parecia já estar resolvido. As três galinhas que se rebelaram foram degoladas. Os bichos, aterrorizados, recolheram-se, mas alguns deles lembravam que o sexto mandamento dizia que nenhum animal mataria outro animal. O burro, mais esperto, foi até o curral para ler e se certificar. Estava escrito: Um animal não matará outro sem motivo.
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Napoleão começou a ser reverenciado por outros títulos: Pai de todos os bichos, Terror da humanidade, Amigo dos Pintainhos, Protetor dos Apriscos. O porco Mínimo compôs para ele uma canção:
Tivesse eu um leitão e antes mesmo que atingisse
o tamanho de um garrafão ou de um barril,
já teria aprendido a ser eternamente
um teu fiel e leal servidor.
E o primeiro guincho que meu leitão daria seria:
"Camarada Napoleão!"
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Quatro cachorros passaram a montar guarda pessoal a Napoleão e um jovem porco teve a tarefa de lhe provar a comida, pois poderia ser envenenado por inimigos cruéis.
O grande Líder concedeu a si próprio a Ordem da Bandeira Verde, a maior comenda até então. Para comemorar, foi encontrada na adega da casa grande uma caixa de uísque. E para quem tivesse lido que nenhum animal beberia álcool, na verdade teria lido que "nenhum animal beberá álcool em excesso!"
Estabeleceu-se também que se um porco passasse por outro animal numa trilha, este animal deveria lhe ceder a passagem. No domingo, os porcos poderiam colocar fitas vermelhas nos rabichos.
Havia cada vez mais canções, discursos e desfiles, que eram chamados Manifestações Espontâneas, para comemorar a revolução vitoriosa. Como a Granja foi proclamada República, surgiu apenas um candidato, Napoleão, que foi eleito por unanimidade.
Sansão, que tanto trabalhara pela revolução e já estava velho, foi aposentado e mandado para um abrigo na Inglaterra. Veio um caminhão buscá-lo. Só que o burro conseguiu ler no caminhão: Alfred Simmons, matadouro de cavalos, fabricante de colas e de rações para canis.
Os bichos até se revoltaram, mas de nada adiantou. Passaram a crer que a fome, o cansaço e a decepção eram a lei imutável da vida. Na verdade, porcos e cachorros não produziam uma só grama de alimento, mas todos tinham um apetite fora do comum. E, numa noite fatídica, quando os animais se reuniram sem a presença dos porcos, que estavam na casa grande, a luz permitiu que eles fossem vistos andando somente sobre as duas patas traseiras. Parece que todos os mandamentos tinham sido mudados. O burro voltou ao curral e conseguiu ler para os outros uma nova placa com os seguintes dizeres: "TODOS OS ANIMAIS SÃO IGUAIS, MAS ALGUNS ANIMAIS SÃO MAIS IGUAIS DO QUE OS OUTROS".
Depois disso, os porcos não mais se envergonharam de andar com duas patas e portar um chicote.
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As ovelhas eram mais dóceis porque não pensavam.
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E naquele mesmo dia, os cachorros levaram para a frente dos bichos quatro porcos pelas orelhas. Estes berravam e se contorciam. Estacaram à frente do Líder, guardados pelos ferozes cães. Napoleão pediu-lhes que confessassem seus crimes. Eles logo confessaram que tramavam com Bola de Neve contra a granja. Os cães os estraçalharam, num julgamento que parecia já estar resolvido. As três galinhas que se rebelaram foram degoladas. Os bichos, aterrorizados, recolheram-se, mas alguns deles lembravam que o sexto mandamento dizia que nenhum animal mataria outro animal. O burro, mais esperto, foi até o curral para ler e se certificar. Estava escrito: Um animal não matará outro sem motivo.
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Napoleão começou a ser reverenciado por outros títulos: Pai de todos os bichos, Terror da humanidade, Amigo dos Pintainhos, Protetor dos Apriscos. O porco Mínimo compôs para ele uma canção:
Tivesse eu um leitão e antes mesmo que atingisse
o tamanho de um garrafão ou de um barril,
já teria aprendido a ser eternamente
um teu fiel e leal servidor.
E o primeiro guincho que meu leitão daria seria:
"Camarada Napoleão!"
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Quatro cachorros passaram a montar guarda pessoal a Napoleão e um jovem porco teve a tarefa de lhe provar a comida, pois poderia ser envenenado por inimigos cruéis.
O grande Líder concedeu a si próprio a Ordem da Bandeira Verde, a maior comenda até então. Para comemorar, foi encontrada na adega da casa grande uma caixa de uísque. E para quem tivesse lido que nenhum animal beberia álcool, na verdade teria lido que "nenhum animal beberá álcool em excesso!"
Estabeleceu-se também que se um porco passasse por outro animal numa trilha, este animal deveria lhe ceder a passagem. No domingo, os porcos poderiam colocar fitas vermelhas nos rabichos.
Havia cada vez mais canções, discursos e desfiles, que eram chamados Manifestações Espontâneas, para comemorar a revolução vitoriosa. Como a Granja foi proclamada República, surgiu apenas um candidato, Napoleão, que foi eleito por unanimidade.
Sansão, que tanto trabalhara pela revolução e já estava velho, foi aposentado e mandado para um abrigo na Inglaterra. Veio um caminhão buscá-lo. Só que o burro conseguiu ler no caminhão: Alfred Simmons, matadouro de cavalos, fabricante de colas e de rações para canis.
Os bichos até se revoltaram, mas de nada adiantou. Passaram a crer que a fome, o cansaço e a decepção eram a lei imutável da vida. Na verdade, porcos e cachorros não produziam uma só grama de alimento, mas todos tinham um apetite fora do comum. E, numa noite fatídica, quando os animais se reuniram sem a presença dos porcos, que estavam na casa grande, a luz permitiu que eles fossem vistos andando somente sobre as duas patas traseiras. Parece que todos os mandamentos tinham sido mudados. O burro voltou ao curral e conseguiu ler para os outros uma nova placa com os seguintes dizeres: "TODOS OS ANIMAIS SÃO IGUAIS, MAS ALGUNS ANIMAIS SÃO MAIS IGUAIS DO QUE OS OUTROS".
Depois disso, os porcos não mais se envergonharam de andar com duas patas e portar um chicote.
E numa noite os bichos ouviram gritos e impropérios na casa dos porcos. Barulho de brigas e xingamentos. Foram olhar, protegidos pela escuridão, e viram lá porcos e homens a beber e brigar. É que eles jogavam cartas e um tal senhor Pilkington e Napoleão lançaram ao mesmo tempo um ás de espadas.
Não havia dúvidas sobre o que sucedera à fisionomia dos porcos. Os infelizes animais olhavam de um porco para um homem, de um homem para um porco e de um porco para um homem outra vez. Mas já se tornara impossível distinguir quem era homem, quem era porco.
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Não havia dúvidas sobre o que sucedera à fisionomia dos porcos. Os infelizes animais olhavam de um porco para um homem, de um homem para um porco e de um porco para um homem outra vez. Mas já se tornara impossível distinguir quem era homem, quem era porco.
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