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terça-feira, 11 de maio de 2010

As origens da Língua Portuguesa - Parte II

João da Cruz e Souza, o maior vulto da poesia simbolista do Brasil, nascido em Florianópolis.(1861-1915).
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Já verificamos que o Latim vulgar, trazido pelas legiões romanas para a península Ibérica, influenciou de maneira decisiva na configuração de nosso idioma. Na península, celtíberos, fenícios, cartagineses, gregos, populações do norte da África, muitos vieram dar a sua contribuição para este processo dinâmico e contínuo que são os falares. Já no final do primeiro milênio da nossa era, esta mescla de idiomas foi chamada de ROMANÇO, expressão usada para definir um falar à moda de Roma, românico. Desta palavra se originou o nosso ROMANCE. Eete romanço deu forma ao italiano, ao francês, ao espanhol e posteriormente ao português, que podemos dizer ter se desvinculado do espanhol, quando Portugal ganhou a sua nacionalidade.
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Em alguns lugares houve influência deste Romanço na formação da Língua. Na Romênia, na Provença (hoje território situado na França), na Catalunha (Espanha) e na Galíza (Espanha).
Nesta última região aconteceu um processo muito interessante. Situada acima do norte português, sua língua não se desvinculou totalmente dos nossos patrícios. Apesar da região pertencer à Espanha, fala um idioma denominado galego-português. Estive num Seminário de Lusofonia no mês que passou, no Centro Administrativo do governo do Estado, e tive e felicidade de assistir a uma palestra de uma professora da Galiza que, no seu linguajar espanhol-aportuguesado, discorreu sobre sua região e sobre o processo linguístico.
Nós, caros leitores, como não poderia deixar de ser, descendemos do Romanço Lusitano, que tem três períodos como abrangência:
1 - o período proto-histórico, do século IX ao XII. A língua, podemos afirmar, é somente falada. Até alguma produção literária, como um poema, é passada pela tradição oral.
2 - o período do português arcaico, que vai do século XII ao XV. A língua já aparece em documentos escritos, em prosa e verso, mas não tem ainda formas definitivas, sendo bem semelhante ao espanhol.
3 - período do português moderno, do século XV até os nossos dias, com duas fases: a clássica (XV a XVIII) e a contemporânea.
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A língua que aparece em Portugal no período arcaico é o galego-português, de domínio na Galiza, ao norte, até o Algarve. Com a independência de Portugal e a anexação da Galiza à Espanha, as diferenças entre o galego e o português foram se acentuando.
Com a publicação de "Os Lusíadas", de Luiz Vaz de Camões, e o aparecimento das primeiras gramáticas, a língua portuguesa passa a ganhar formas definitivas. Para isso contribuiu o fortalecimento de Portugal como nação.

No século IX o rei Afonso VI, de Leão e Castela (futuramente a Espanha), resolve premiar o conde Dom Henrique pela bravura com que se portou no combate aos mouros, que durante muitos séculos dominaram a península. Deu ao nobre a mão de sua filha e uma faixa de terra entre os rios Douro e Minho, com a mais importante cidade denominada Porto. Esta região foi denominada condado Portucalense - Porto + Cale (quente). De Portocale adveio o nome Portugal. Um nobre chamado Dom Afonso Henriques, sucessor do conde, rompe em 1143 os laços que uniam o condado aos reis de Leão e Castela, depois de vencer os mouros na batalha de Ourique (1139), o que permite que leve os limites de seu território até o rio Tejo, com a tomada da cidade de Lisboa. Passa, assim, a ser o rei da nova nação. Caberá mais tarde ao rei Afonso III a glória de dar os limites definitivos ao reino, com a tomada do Algarve aos mouros.

Dom Dinis, o rei trovador,torna obrigatório no país o uso da língua portuguesa nas escolas e nos atos oficiais, para livrá-la da influência de Leão e Castela. Funda em 1290 a Universidade de Coimbra, para dar forma à cultura lusitana.

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Com os descobrimentos marítimos, Portugal funda colônias na América (Brasil), África e Ásia. Já identificamos em artigo anterior estas colônias, hoje países, que falam a Língua Portuguesa. Esta assume os seguintes domínios:
- Português continental - de Portugal no território europeu.
- Português insulano - das ilhas da Madeira e Açores.
- Português ultramarino - Falado nas colônias, dentre as quais o Brasil.

Um dos fatores que contribuíram para a formação de nossa nacionalidade e da vastidão intocada de nosso território, podemos afirmar sem medo de erro, foi o nosso belo idioma, falado do Oiapoque ao Chuí, com suas características regionais, mas perfeitamente inteligível para todos os brasileiros. A Língua é fator importante de coesão nacional.
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Para terminar, a título de ilustração, vejamos alguns vocábulos da nossa língua e a sua origem:

1 - Elementos gregos:
Filosofia, teatro, academia, liceu, escola, alfabeto, carta, hora, relógio, época, clero, batismo, pároco, bíblia, evangelho, anjo, esmola, órfão, diabo, esfera, etc.
Cientistas recorreram ao grego para formar palavras: telefone, microscópio, telégrafo, fonógrafo, protoplasma, homeopatia, fonema, etc.

2 - Elementos germânicos:
brando, bramar, albergue, elmo, trégua, harpa, carpa, burgo,etc.

3 - Elementos árabes:
alcunha, alaúde, aljava, almíscar, alferes, almoxarife, aduana, alcova, aldeia, alarido, alvará, almôndega, assassino, açougue, bolota, califa, sultão, etc.
A maioria das palavras árabes tem seu início em "al", que nada mais é que o artigo definido. Alcorão, por exemplo, significa O Corão.

4 - Vocábulos originários dos visigodos:
arauto, arreio, esgrima, barão, banco, banho, espeto, feltro, guerra, guia, jardim, marechal, roca, sítio, roupa, etc.

5 - Vocábulos originários da Língua Inglesa:
bar, bife, brigue, clube, escoteiro, esporte, gim, futebol, iate, grumete, jóquei, lanche, pudim, repórter, revólver, rum, sanduíche, túnel, turfe, surfe, uísque, etc.

6 - Elementos franceses:
- de épocas remotas - chapéu, libré, assembléia,linhagem, manjar, dama, jóia, loja, chaminé, maré, etc.
- de épocas recentes - toalete, atelier, abajur, tricô, chofer, placar, apartamento, chassis, creche, deboche, elite, envelope, fuzil, pose, valise, greve, avenida, etc.

7 - Elementos italianos:
adágio, ária, bandolim, contralto, dueto, maestro, piano, soprano, sonata, tenor, aquarela, caricatura, madrigal, arlequim, carnaval, confete, palhaço, pastel, porcelana, alarme, esquadrão, fragata, galera, mosquete, sentinela, banquete, macarrão, talharim, espaguete, mortadela, lasanha, salame, salsicha, etc.

8 - Elementos espanhóis:
castanhola, fandango, pandeiro, amistoso, mochila, colcha, façanha, camarilha, caudilho, hediondo, neblina, novilho, realejo, rebelde, etc.

9 - Elementos alemães:
níquel, zinco, cobalto, bismuto, valsa, mazurca, polca, etc.

10 - Elementos asiáticos:
sândalo, nirvana, pijama, nanquim, chá, tufão, junco, gueixa, samurai, jasmim, bazar, laranja, divã, biombo, quimono, etc.
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A Língua, aqui no Brasil,sofreu muita influência do elemento indígena e do elemento africano:

O elemento indígena foi preponderante para a formação de nomes de pessoas (Araci, Iracema, Peri, Jandira, Moema, Jurema, Juraci, Jacira, etc) e de lugares (Guanabara, Itu, Pará, Paraná, Niterói, Tietê, Ipanema, Itajaí, Cubatão, Maciambu, Cambirela, etc). Na fauna (arara, araponga, quati, gambá, jacaré, jaburu, juriti, maracanã, paca, saracura, sucuri, tatu, urubu, etc). Na flora, alimentos e utensílios (abacaxi, buriti, carnaúba, caruru, cipó, ipê, jabuticaba, jacarandá, mandioca, moqueca, pirão, tipiti, arapuca, saci, caipora, curupira, etc).

O elemento africano:
Topônimos: Caxambu, Carangola, Bangu, Guandu, quilombo, etc.
Crenças: mandinga, macumba, candomblé, muamba, zumbi, Exu, Iemanjá, Ogum, etc.
Alimentos:quitute, quindim, vatapá, aluá, mungunzá, cuscuz, etc.

BIBLIOGRAFIA:

Enciclopédia Trópico - Esta eu comprei no Curso de Formação de Oficiais, ano 1967, em prestações várias, por livre e espontânea pressão. Mas valeu a pena, pois são dez tomos de cultura clássica magnífica.

Português no Colégio - Raul Moreira Léllis. - Companhia Editora Nacional.

Dicionário Prático Ilustrado - Editores Lello Ltda - cidade do Porto, Portugal, 1935.
Livraria Ghardron.

Novo Dicionário Aurélio 1986 - Editora Nova Fronteira.

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