Uma reunião de luta (China).
(Nieng Cheng, chinesa viúva de um cidadão britânico, era considerada "estrangeira" e foi presa). O seu depoimento, depois que conseguiu fugir do país:
O auditório gritava slogans e agitava o livrinho vermelho de Mao. Depois do "Viva nosso grande dirigente, o presidente Mao", foi o "boa saúde para nosso comandante supremo Adjunto Lin Biao, sempre boa saúde"!
Os partidários deste último, desejosos de lhe prestar culto, tinham programado a reunião.
Um homem falou à minha frente. Apresentou-me ao auditório, reunindo as minhas origens familiares e a minha vida pessoal. Ele dizia que cada vez que os revolucionários contavam a história da minha vida, eu me tornava mais rica e o meu modo de vida mais decadente e luxuoso. A farsa, agora, adquiria proporções dantescas. Estava eu disposta a permanecer muda. A plateia levantou-se e muitos homens juntaram-se à minha volta, para gritar a sua cólera e indignação, no momento em que o orador lhes disse que eu era agente do imperialismo. Estes insultos eram tão intoleráveis, que levantei a cabeça. Então as mulheres levantaram as minhas mãos algemadas, em minhas costas, com tal brutalidade, que tive que dobrar-me para a frente para atenuar a dor. Mantiveram-me nesta posição até o final da denúncia do orador. Foi quando a plateia começou a gritar slogans e abaixaram-me os braços. Estavam histéricos. Os gritos deles abafavam a voz do orador. Alguém me empurrou com força, por detrás. Estremeci e muitos caíram em cima de mim, sendo necessários alguns minutos para que eu me levantasse. Esgotada, esperava ansiosa que a reunião acabasse, mas os discursos se sucediam sem interrupção, como se todos os presentes quisessem falar. Lançavam os mais altos louvores a Lin Biao, usando os termos mais lisonjeiros e extravagantes que a rica língua chinesa podia oferecer.
Subitamente, abriu-se uma porta atrás de mim e alguém gritou que Lin tinha saído. O efeito dessas palavras foi instantâneo. O orador interrompeu-se no meio da frase. Tive então certeza que a partida de Lin tornava inútil aquela encenação montada em seu proveito. Uns começaram a abandonar a sala, outros pegaram suas bolsas e seus casacos. O orador pôs-se a gritar slogans a toda pressa, esperando voltar a entusiasmá-los, mas ignoraram-no completamente. A sala esvaziara e já ninguém parecia estar zangado comigo. Olhavam-me com indiferença. Eu não passava de uma das inúmeras vítimas com que animavam suas "reuniões de lutas". Foram embora conversando sobre bobagens, como se tivessem saído de uma sessão de cinema.
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Os guardas vermelhos detinham os passantes nas ruas e obrigavam-nos a recitar frases decoradas do livro vermelho de Mao. Alguns ficavam sem coragem de sair às ruas, sem antes decorar bem o livrinho.
(Livro Negro do Comunismo - O comunismo na Ásia - China, uma longa marcha.)
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