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quarta-feira, 23 de junho de 2010

Capitão Osmar Romão da Silva.

Primeiro Tenente Osmar Romão da Silva - 1935 - Almanaque da Força Pública.

...Ah! Desumanidade dos homens. Vês, tu que és chefe, quantos cadáveres pelos campos? Olha para as trincheiras. Olha, vê milhares de homens sob a chuva de arma na mão, para matar o seu companheiro!... (Trecho do diário de campanha do tenente Osmar, quando da Revolução Constitucionalista de 1932).

Este artigo é súmula de um capítulo do livro "Diário de Campanha" do Capitão Osmar Romão da Silva, excelente trabalho de pesquisa do coronel Edmundo José de Bastos Junior. As fotos foram extraídas do mesmo livro. A gravura do Comandante Régis faz parte do Almanaque da Força Pública no seu centenário (1935).

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Quando da revolução de 1930, que deu o poder a Getulio Vargas, o governo catarinense colocara-se ao lado do presidente Washington Luiz, que foi destituido. Como não poderia deixar de ser, a Força Pública teve a mesma postura do governo catarinense, sendo a última tropa legalista a depor as armas. Muitos oficiais foram compulsoriamente reformados e outros até demitidos, como aconteceu com o comandante, Coronel Pedro Lopes Vieira.

A 19 de novembro do mesmo ano assumiu o comando da Força o Primeiro Tenente do Exército Heitor Lopes Caminha, sendo comissionado no posto de Tenente Coronel. Equilibrado e sensato, o novo comandante tratou de logo normalizar a vida da Corporação. Recompôs o quadro de oficiais, havendo concurso no início do ano de 1931 para preenchimento de vagas de segundo tenente. Entre os inscritos estava Osmar Romão da Silva, natural de Florianópolis, nascido a 23 de Outubro de 1912. Era o mais velho dos cinco filhos de Paulino José da Silva, dono de uma padaria no bairro da Trindade, e de sua esposa Alípia Ferreira da Silva. Transferiu-se a família para São José e Osmar, revelando pendor para as letras, começou a estudar na Escola Pública Antônio Epifânio dos Santos.

Seu primeiro trabalho, ainda bem jovem, foi o de revisor do jornal "O Estado". Submeteu-se depois a exames para a Escola de Sargentos de Infantaria do Exército, sendo aprovado. Quando tentou o concurso para oficial na Força, já era segundo sargento. Aprovado em terceiro lugar, foi comissionado a 21 de Março de 1931 no posto de Segundo Tenente. Em Dezembro do mesmo ano foi nomeado delegado de polícia de Chapecó, onde permaneceu até Julho do ano seguinte.

Em 1932 ocorreu a Revolução Constitucionalista em São Paulo e a Força Pública foi colocada à disposição da Quinta Região Militar. Osmar foi classificado na Segunda Companhia do Batalhão de Caçadores, organizado com 405 homens da Corporação catarinense, embarcando a 29 de julho no vapor Itaipava para São Francisco do Sul, de onde prosseguiria por trem para a frente de operações. O segundo tenente Osmar se conduziu com denodo na batalha, merecendo citações elogiosas, sendo comissionado no posto de primeiro tenente.
Tenentes Osmar Romão da Silva e Ruy Stockler de Souza na campanha de 1932 (foto do arquivo do Coronel Lara Ribas).
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Terminado o conflito com a vitória do Governo Federal, voltou o tenente Romão ao seu posto efetivo na Corporação. Fez parte, como secretário, da primeira diretoria do Clube dos Oficiais, cujo presidente era o major Cantídio Quintino Régis.

Em 25 de Fevereiro de 1933 casa-se com Maria de Lourdes Mayvorne, com quem teria as três filhas Neda, Neusa e Neide.

Promovido a primeiro tenente em 27 de julho de 1933, foi delegado de Polícia em Curitibanos, Lages, Herval, Cruzeiro, Araranguá e por duas vezes em Canoinhas. Foi comandante interino da Companhia de Herval do Oeste, tendo seu desempenho sido objeto de entusiasmado elogio do coronel Régis, comandante geral da Força.

Intelectual, afeito à leitura e ao estudo, esteve sempre ligado a atividades de ensino e aperfeiçoamento profissional. Sempre foi sensível às questões humanas e sociais.

Em agosto de 1938 lança um livro de crônicas, Miséria, em que questiona os poderosos do país, para ele causa da vida miserável do povo. Tal livro lhe rende trinta dias de prisão, aplicada pelo Comando Geral a mando do Secretário de Segurança Pública. No livro Osmar criticava a criação de um novo imposto pela Interventoria Estadual, a taxa de educação e saúde, o que talvez lhe tenha rendido a punição.

No ano de 1939, o tenente Osmar frequentou o Curso de Aperfeiçoamento de Oficiais na Polícia Militar do Distrito Federal no Rio de Janeiro, sendo o primeiro colocado.

Logo após o regresso à capital, ele é convocado pelo Interventor Nereu Ramos para ser seu Ajudante de Ordens no Palácio do Governo. Houve-se o tenente Osmar tão bem no cargo, que tornou-se amigo pessoal do grande político catarinense.
Coronel Cantídio Quintino Régis. Na gravura ele é major comandante da Força Pública quando de seu centenário em 1935.
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Em abril de 1942, Osmar lança o "Curso de Polícia", obra de vasto conhecimento profissional e técnico. O capitão Antônio de Lara Ribas, no prefácio, destaca ser a obra mais importante do gênero já lançada no país. Oficiais de polícia, delegados, advogados, bacharéis, sargentos, todos reconheceram na obra uma orientação de extrema valia para seu labor profissional, tanto que obteve sucesso de publicação em todo o Brasil.
É exonerado da função de ajudante de ordens em 1943, com extenso elogio do interventor por seu trabalho dedicado. É nomeado delegado de Polícia de Serra Alta (São Bento do Sul).
Na verdade, Osmar já estava doente e os médicos tinham recomendado que procurasse o clima de uma cidade serrana. Este era o real motivo de sua transferência. Ali elaborou "Unidade geográfica do Brasil" e "Anais do Congresso de Brasilidade". Foi membro da Associação Catarinense de Imprensa.

Em 23 de Abril de 1944 vê-se promovido a capitão. No início de 1945 foi nomeado prefeito de Serra Alta. No final deste mesmo ano colou grau como bacharel em Ciências Sociais pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras do Paraná. Sua amizade a Nereu Ramos o levou a ser um dos fundadores do Partido Social Democrático em Serra Alta, sendo eleito presidente do Diretório Regional.

Nos primeiros meses de 1946 seu estado de saúde se agrava. É oito de março e sua filha caçula Neide aniversaria. Ele, da cama, consegue vê-la apagar as velinhas.
No início da tarde do dia 10, o capitão Osmar sofreu forte hemoptise (expectoração sanguínea). O médico e amigo Pedro Cominese, chamado às pressas, nada pode fazer. Osmar faleceu às 14 horas daquele dia aos 35 anos de idade.
No dia seguinte, o corpo foi transladado até São José, para o velório na casa da família. A 12 foi sepultado no cemitério da Trindade, com grande acompanhamento, a começar pelo Interventor Luiz Galotti. À beira do túmulo discursaram o tenente Maurício Spalding de Souza pela Força Pública e Pedro Quint pelos amigos de Serra Alta.
O Comandante Régis fez publicar extenso e comovido necrológio.
O capitão Osmar deixou trabalhos inéditos. Crônicas, poesias, e um romance inacabado intitulado Sofrimento.
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Em 29 de Novembro de 1960 a Câmara Municipal de Florianópolis dá seu nome a uma das ruas do bairro Pantanal, próximo ao local onde nasceu o capitão, iniciativa do prefeito Osvaldo Machado.
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Diário de Campanha do Capitão Osmar Romão da Silva. Um dos inúmeros trabalhos de pesquisa voltados à causa policial militar do nosso coronel Edmundo. São páginas de especial valor literário e de resgate de eventos importantes da história da nossa instituição.
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