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sexta-feira, 11 de junho de 2010

Coronel Theseu: um homem honrado!

Da Série Biografias dos Oficiais do Grupo João Elói Mendes (Parte V).
Coronel Theseu Domingos Muniz (1919-2007).

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"Nunca pedi favores ou graças especiais a quem quer que seja, nem tirei proveito ou vantagens pessoais no exercício de minha profissão. Militar e profissionalmente, sempre procurei ser justo e correto. Se errei, muitas vezes foi por ações bem intencionadas, do que por omissões ou covardias deprimentes. Sempre tomei a sério minha profissão e sinceramente entusiasmado agi em benefício da ordem social e do bom nome da minha Corporação, e em tudo isso pagando, para ser honrado e digno, o preço das promoções preteridas, transferências prejudiciais e punições arbitrárias".
Trecho de carta aberta de 18 de fevereiro de 1957, quando o capitão Theseu se transferiu pela primeira vez para a Reserva. Esta carta lhe valeu 15 dias de prisão, sendo mesmo assim promovido a Major em 04 de Março, passando para a Reserva em 07 de Julho, no posto de Tenente Coronel.
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Theseu nasceu em Paranaguá, Paraná, em 12 de Fevereiro de 1919, morando lá até os doze anos, quando a família se mudou para o Rio de Janeiro. O pai, Themístocles Ferreira Muniz, era oficial da Marinha de Guerra. Logo em seguida se vê transferido para a Escola de Aprendizes de Marinheiros em Florianópolis.
Theseu, aqui, resolve ingressar na Escola aos quinze anos como aprendiz. Depois, se a sorte o ajudar, poderá ingressar na Escola Naval e seguir carreira. Consegue chegar até Primeiro Sargento Aprendiz, comandante da Primeira Divisão de Alunos da Escola. Ao fim do Curso, primeiro colocado, recebe o Prêmio Marcílio Dias por Mérito Intelectual.
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Maio de 1935. O aluno aprendiz de marinheiro Theseu desfila à frente do Grupamento da Marinha, nas solenidades de inauguração do Estádio Renato Tavares, nas comemorações dos cem anos da Força Pública em Florianópolis.
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Mas o sonho de Theseu de seguir carreira naval se viu desfeito. Em Dezembro de 1935 é desligado da Escola, após inspeção médica, por deficiência visual.
Um ano e meio depois, em Primeiro de Abril de 1937, ele ingressa nas fileiras da Força Pública como soldado pronto, já que possuía o curso de aprendiz na Marinha.
Faz o Curso de Sargentos e em seguida viaja para o Rio de Janeiro a fim de frequentar como cadete a Escola Profissional da Polícia Militar da capital federal, no Curso de Oficiais. Em 1942 o pai Themístocles vem a falecer de um derrame cerebral.
Neste mesmo ano Theseu é promovido a segundo tenente por conclusão do Curso de Oficiais.
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Em Abril de 1944 presta queixa ao Comandante Geral, Tenente Coronel Cantídio Quintino Régis, contra ato do Sub-Comandante Antônio Martins dos Santos, por considerar que foi destratado em público pelo mesmo oficial na frente de civis. Como resultado, vê-se punido disciplinarmente e transferido para Curitibanos, o que não o impede de expedir documento pessoal ao Governador Nereu Ramos (interventor na época), julgando injustas a punição e a transferência.
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Foi Delegado Especial de Polícia na jurisdição de toda a fronteira do Estado com a Argentina, com sede em Dionísio Cerqueira. Neste local iria ocorrer um caso, em 1953, que marcaria toda a sua vida. O delegado do lugarejo vizinho, Barracão, no Paraná, tenta prender o coletor Ildefonso Macedo numa zona de meretrício. Este reage a tiros. A autoridade pede apoio ao Delegado Theseu, que para lá se dirige. É também recebido a tiros, mas reage no cumprimento de seu dever legal e em legítima defesa, vindo a matar o agressor.
O capitão Theseu tem de gastar de seu bolso na justiça, uma vez que o Governo era omisso em defender seus funcionários, mesmo em serviço. Os colegas, através do Clube dos Oficiais, resolvem fazer uma coleta para ajudá-lo nos gastos do processo, mas Theseu, embora com muita gratidão e fidalguia, recusa. Considera injusto os amigos tirarem do seu pão e da família para o defenderem. A honra e a altivez eram para o brioso oficial seus bens maiores. É absolvido pela Justiça, como não poderia deixar de ser, dois anos depois.
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Em 1954, um sargento do Destacamento de Araranguá é expulso da Corporação por atitudes reconhecidamente indignas. Isso não impede que a Justiça determine o seu retorno, pois o graduado se valeu de todos os recursos de que dispunha junto a políticos. Observa-se que este quadro não é nem foi nenhuma novidade na Corporação. E continua atualíssimo.
O Capitão Theseu se rebela contra o ato, que para ele depõe contra os mais comezinhos princípios da hierarquia e disciplina, vigas-mestras da Corporação. Diz ele em reunião no Clube dos Oficiais. sobre o ocorrido:
"A anulação da expulsão do Sargento Oliveira, todos nós sabemos, foi devida a insistentes pedidos de políticos e figurões sem escrúpulos, que em suas orgíacas campanhas não hesitam em ferir o que a Polícia Militar tem de melhor e mais digno".
Por este ato é punido pelo Comandante Geral Interino Mário Fernandes Guedes. Entra com recursos contra a punição, mas não logra êxito. Como além dele, mais doze oficiais foram punidos em razão daquela reunião no Clube, resolveram criar o "dia do Treze", chegando tal ocorrência a ser publicada no jornal Barriga-Verde de Canoinhas, para onde o Capitão Theseu fora transferido logo após a punição.
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Em 1957 pede transferência para a Reserva Remunerada, após vinte anos de serviço efetivo, em protesto contra os politiqueiros que tanto mal fazem à Corporação. Publica carta aberta em que expõe os seus motivos, sendo punido disciplinarmente antes da transferência, pelo Comandante Geral, Coronel Guedes.
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Em 1961 é reconvocado para o serviço ativo da Corporação e classificado Chefe do Departamento de Educação Física, curso que concluíra anos antes na Força Pública de São Paulo. Em 24 de julho de 1962 é nomeado Diretor da Diretoria de Administração e Assistência Médica e Social na PM.
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Em 25 de Setembro de 1962 solicita ao governador seu retorno à Reserva, por não se considerar com o apoio de escalões superiores no cargo que exercia, em razão de decisões que tomara. Já era Coronel. O Comandante Geral, Coronel Lara Ribas, atende o pedido e ele ingressa pela segunda vez na Reserva Remunerada.
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Em 1964, atendendo a pedido do Secretário de Segurança Pública, passa a responder pelo expediente da Delegacia de Furtos, Roubos e Falsificações, acumulando também a de Costumes e Menores. A 30 de Agosto de 1965 é dispensado das funções e nomeado Diretor da Diretoria de Polícia Civil do Estado de Santa Catarina, com jurisdição sobre todas as delegacias. É exonerado do cargo em Outubro de 1966, por discordar de ato do Secretário de Segurança Pública, seu superior imediato, tendo expressado tal em carta aberta.
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Forma-se Bacharel em Direito pela Universidade Federal de Santa Catarina em 1973, com 54 anos.
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É designado Corregedor Policial da Secretaria de Segurança Pública em 10 de julho de 1974. Em abril de 1976 solicita exoneração por ter um recurso negado pelo Secretário.
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Participou pela equipe de Xadrez de Florianópolis dos Jogos Abertos de 1978 em Caçador, tendo a equipe se sagrado vice-campeã. Recusa-se a receber a medalha, por considerar que no verso dela há propaganda do governo (Governar é encurtar distâncias - governador Antônio Carlos Konder Reis). Theseu julgou a inscrição inadequada para a grandeza dos esportes olímpicos.
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Em 1999 publica o livro "Em defesa da honra e da dignidade", narrando os êxitos e vicissitudes de sua movimentada carreira. Este artigo tem como base o livro referido.
Rconhece no livro o mérito de seu companheiro coronel Edmundo José de Bastos Junior, que o incentivou e muito a escrever suas memórias. Continuou dando aulas no Centro de Ensino da PM, fardando-se nas solenidades militares, entusiasta que sempre foi da sua condição de oficial da Polícia Militar catarinense.
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Dados a mim repassados pelo Coronel Edmundo:
O Coronel Theseu foi casado em primeiras núpcias com Armandina Camisão Muniz, falecida, e que lhe deu o filho Alexandre, hoje perto da casa dos cinquenta e sete anos.
O oficial casou depois com Maria da Graça, com quem teve a filha Beatriz. Sua segunda esposa veio também a falecer.
O coronel Theseu faleceu a 16 de outubro de 2007 em Florianópolis, deixando viúva a esposa Ondina, conhecida como Landa.
A mãe do nosso biografado se chamava Jandira Pirath Manso Muniz e, além de Theseu, teve mais seis filhos com o marido Themístocles.
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Um comentário:

  1. Que maravilha ver essa homenagem ao meu tio.Pena que a Polícia Militar do Rio de Janeiro não seguiu o mesmo exemplo.Meu pai foi um valoroso coronel da Polícia Militar do Rio.Sua vida foi marcada por inúmeras lutas, principalmente no concernente a melhorias salariais e injustiças realizadas contra seus companheiro.Meu pai, coronel Themístocles Germano Muniz Filho, chegou a ser eleito Presidente do Clube de Oficiais da Polícia Militar do Rio e também do Brasil.Recebeu mais de 800 dias de cadeia por defender seus valores, nunca se deixando esmorecer.Faleceu em 24 de dezembro de 2002 e nem uma nota foi escrita sobre sua vida.Santa Catarina merece meus aplausos, não esquece seus filhos ilustres.Parabéns a Polícia Militar catarinense.

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