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sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Etiópia, o império vermelho.

Saldo macabro do comunismo africano.
Uma seca devastadora, aliada ao gerenciamento medíocre da agricultura e produção de alimentos, levou a população etíope sob o regime comunista do general Mengistu a um estado de penúria tal, que os "imperialistas" do mundo ocidental tiveram que mandar alimentos para um povo sofrido e sem esperança. Um outro motivo das mortes foi a distribuição de alimentos ter ficado a cargo do governo comunista, que impedia as regiões antagônicas de recebê-los.
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O imperador Hailê Selassiê, o negus, que governou a Etiópia de 1918 até 1974.
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Em 12 de setembro de 1974 morria o imperador da Etiópia, o negus (título de soberano), com 82 anos de idade. O cenário era a incerteza quanto ao sucessor, penúria alimentar, petróleo em alta, guerras fronteiriças (a província etíope da Eritréia sempre tentou a independência) e o descontentamento das camadas urbanas. Cenário propício para radicalizações.
O Exército instala-se no comando do Estado. 108 homens compõem o DERG (Comitê Militar Administrativo Provisório). Colocado na chefia do governo, o general Aman Andom, herói da guerra contra a Somália, de origem eritréia, é liquidado na noite de 22 para 23 de novembro de 1974. Algumas horas mais tarde, é a vez de 59 personalidades. Políticos liberais e tradicionalistas ligados à monarquia são o alvo escolhido. O destino dos membros do DERG estaria agora ligado ao sucessor do general Aman, o general Mengistu Hailê Marian, mentor das mortes.
O pai de Mengistu era um cabo analfabeto, mas um tio era ministro do Negus e isso lhe facilitou o começo da carreira militar. A educação, porém, limitou-se a uma escolaridade primária, e é sem diploma que entra na Escola Militar de Holetta. Sem bagagem teórica conhecida, embora dotado de um grande apetite pelo poder, bastaram três anos para afastar os rivais. Mandou eliminar (por conspiração "direitista") o general Teferi Bante e oito de seus oficiais.
Mengistu toma posse da Etiópia e do parlamento. A sua legitimidade é incontestada aos olhos dos socialistas. Antes do golpe, já visitara Moscou, para pedir as bênçãos do regime que iria imitar. Em 1977 rompe relações com os Estados Unidos. Cubanos e soviéticos passam a fornecer apoio maciço em pessoal e equipamentos. Os soviéticos apreciam bastante os esforços de Megistu. O DERG nacionaliza os bancos e seguros, bem como o essencial do setor de transformação. A propriedade de terras é limitada e uma família só poderá ter um bem imobiliário, devolvendo o excedente ao governo. Em 1979 uma Comissão nomeada pelo ditador institui o Partido dos Trabalhadores da Etiópia, comunista em seu cerne, com o aval de Moscou. Três quartos do partido eram formados por militares e funcionários do Estado, enquanto os camponeses tinham uma representação de 3%. Isso num país em que 87% da população era camponesa. Na verdade, os militares comunistas detinham o poder.
Chegavam à Etiópia estudantes filhos de pais ricos, que tinham ido estudar nos Estados Unidos e na Europa. Vinham, principalmente os advindos da Europa, com ideias radicais e comunizantes. Professores e estudantes em Adis Abeba, a capital, fundaram dois movimentos: o PRPE (Partido Revolucionário do Povo Etíope) e o Meison (Movimento Socialista Pan-etíope), ambos de orientação marxista-leninista. Em outubro de 1976 o "terror vermelho" de Mengistu aniquilou o PRPE, embora igualmente comunista.
Em abril de 1977, num discurso público Mengistu concitava o povo ao "assalto" aos inimigos da revolução. Pediu teatralmente três frascos de sangue, que simbolizavam o imperialismo, o capitalismo e o feudalismo. Nestes assaltos, o Meison atuou como força de apoio.
No entanto, o tenente coronel Atnafu Abate, principal fonte de apoio do Meison no interior do DERG e repressor feroz do PRPE, é executado em 11 de novembro de 1977. Hailê Fida, membro eminente do Meison e do DERG, de formação marxista-leninista adquirida na França, preso em Agosto de 1977, "desaparece" após alguns meses de detenção. A França foi o país que na época mais se notabilizou por formar intelectuais comunistas em suas universidades - lembremos Jean Paul Sartre que morreu defendendo o genocida Mao-Tse-Tung. O cerco fecha-se sobre o Meison, que tem milhares de partidários mortos pelos estranguladores do esquadrão da morte dos serviços de segurança.
Em 1977, o secretário geral da Federação dos Professores da Etiópia, confirmava um total de trinta mil assassinatos políticos desde 1974. (Humans Rights Violations in Etiópia - Anistia Internacional - 1978).
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Semitas, camitas e negros do Sudão deram origem aos habitantes da Etiópia.
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As hostes de prisioneiros eram classificadas de reacionários, antipovo, anarquistas e subversivos. Como na Ex-URSS, não terminaram ainda as descobertas de valas comuns, onde se acumulavam "desaparecidos", recenseados pelos relatórios da Anistia Internacional. A exemplo da China, as famílias eram obrigadas a custear as despesas inerentes às execuções das sentenças. Parentes do antigo Negus imperial (o herdeiro e a neta princesa Yjegayehu) foram mortos dessa maneira, embora oficialmente tenham morrido devido a intervenções cirúrgicas.
Os serviços de segurança receberam ativa colaboração da polícia secreta soviética, dos alemães orientais (Stasi) e dos cubanos.
Em maio de 1977, o Secretário Geral Sueco do Save the Children Fund, relatou que cerca de mil crianças foram massacradas em Adis Abeba e os seus corpos expostos nas ruas, presas de hienas errantes. Quando se saía de Adis Abeba podia-se ver na estrada os corpos amontoados de crianças assassinadas, na sua maioria de 11 a 13 anos.
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Mengistu desencadeou a operação "Estrela Vermelha" (o Exército etíope em conjunto com o corpo revolucionário cubano) a fim de rechaçar as incursões da Frente Popular pela Libertação da Eritréia (também de orientação marxista-leninista), região etíope que mais tarde ganharia a sua independência.
A ação de Mengistu foi tão eficaz, que ganhou medalha de ouro da Confederação Geral dos Trabalhadores (CGT francesa), dirigida por Henri Krasucki, pela sua "contribuição à luta pela paz, pela segurança dos povos e por sua independência nacional e econômica", numa premiação patéticamente ridícula.
Esta medalha foi obtida em março de 1988. Três meses depois, 2.500 habitantes de Hawzen (interior eritreu) pereciam sob intenso bombardeio de ajuda soviética. Como em Guernica, no país basco espanhol, era dia de feira livre. Obviamente, o episódio em Hawzen não mereceu quadros do socialista Picasso, poemas, filmes ou pasionárias, demonstrando a incrível capacidade comunista de esconder seus crimes e denunciar em todas as mídias amigas os dos outros.
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14 de Setembro de 1979. O ministro das Relações Exteriores da União Soviética, Alexei Kossyguin, visita Adis Abeba por ocasião do quinto aniversário da tomada do poder por Mengistu Hailê Mariam, à direita. O regime do ditador inspirava-se no comunismo soviético.******************** 
A Frente Popular de Libertação da Eritréia, marxista, ainda que dirigida por cristãos, em 1970 se separou da Frente de Libertação da Eritréia de maioria muçulmana. As duas frentes, atacadas por Mengistu, tinham o mesmo objetivo: a independência da Eritréia, região do norte etíope que confrontava com o Mar Vermelho. A independência tirou aos etíopes o acesso ao mar. O balanço da guerra total decretada por Mengistu contra os separatistas da Eritréia ainda não está oficialmente esclarecido. Sabe-se que no período 1978/80 pereceram oitenta mil militares e civis. ********************
A partir de 1982 grassou na Etiópia uma fome terrível, que motivou copiosa ajuda internacional, uma vez que os meios de comunicação veiculavam imagens impressionantes de adultos e crianças, esquálidos e quase agonizantes. A causa foi uma seca abrasadora, como também a política governamental de troca de habitantes (os comunistas sempre fazem isso - China, Vietnã, Camboja, etc) em que comerciantes eram perseguidos, espalhando-se a insegurança geral originada por intensa repressão. Mengistu ganhou nova munição para seu regime, a arma alimentar, controlando as doações internacionais. As dissidências de regiões (eritreus, também acossados pela fome) ou pessoas não eram contempladas com comida. O partido controlava os abundantes gêneros vindos do exterior.
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A Etiópia faz fronteira com Sudão, Kenia e Somália. Hoje também faz com a Eritréia, em azul, que ficou com a faixa de mar.********************
A política de aldeamento ou de deslocamento de populações originava por vezes ferozes resistências, muitas vezes sangrentas e enriquecedoras da sinistra antologia de guerras camponesas em regimes comunistas. O objetivo era colocar as comunidades rurais em locais de mais fácil controle do Partido dos Trabalhadores, agremiação de Mengistu, permitindo ao camponês "mudar a sua vida e o seu pensamento" e ajudando a "edificar o socialismo". A taxa de mortalidade de certos campos de trocas chegou a ser superior aos bolsões de fome. Entre 200.000 a 300.000 pessoas foram deixadas voluntariamente fora do circuito da ajuda internacional, o que gerou alta taxa de mortalidade, inclusive de mulheres e crianças.
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Sabendo trabalhar bem a comunicação social de seu regime (os comunistas são imbatíveis nisso), Mengistu capitalizou os benefícios de uma onda de solidariedade humana, de entidades e pessoas que desconheciam a sordidez de seu regime. Estrelas do rock e intérpretes do "show-bizz" americano, cantaram o hino We are the world (música de Lionel Ritchie e letra de Michael Jackson-1985), talvez hoje o único vestígio do drama etíope na memória de dezenas de adolescentes do mundo.
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A partir de 1988, o crepúsculo de Mengistu se confunde com o crepúsculo da União Soviética. Conselheiros soviéticos partem em março de 1990. Os cubanos, deserdados da colossal mesada russa, já tinham partido. Em todas as frentes o Exército recua diante de frentes populares como a da Eritréia e da região do Tigré. São anunciadas medidas de liberação da economia, antes planificada e centralizada, mas isso não impede uma nova depuração nas Forças Armadas, quando líderes tentam um golpe logo afogado em sangue pelos serviços de informações. Faltando tropa, Mengistu decreta o fechamento dos cursos superiores, sendo os estudantes convocados a participar do esforço de guerra. No entanto, o cerco vai se apertando sobre a capital.
Em 21 de maio de 1991 Mengistu foge via Kênia, para Harare. A Rodésia concede-lhe asilo político Após a fuga, o novo presidente Meles Zenawi instaurou em 1994 1823 processos contra o governo do tirano comunista, por crimes contra a humanidade. Estes processos caminharam lentamente e a imprensa teve acesso limitado. O comunismo cede lugar a um sistema de governo multipartidário.
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No outono de 1994 Mengistu, convocado a comparecer a um tribunal de Adis Abeba como principal responsável pela tragédia etíope, tem a sua extradição recusada pelo Zimbábue, país de orientação socialista. Ficava impune o grande general que dissera, ao tomar o poder: "Liquidaremos a herança satânica do passado e colocaremos a natureza sob nosso controle!"********************
Após a segunda guerra mundial os países africanos foram acometidos, a maioria de liberdade recente de seus senhores colonialistas, de intensa febre comunista, instalando-se no continente regimes totalitários. Foi uma tragédia semelhante à etíope. No início da década de noventa, com o esfacelamento da União Soviética, estes países, a exemplo dos satélites soviéticos e países do leste europeu, começam a se libertar do jugo assassino comunista. Na atualidade a maioria dos países africanos está se voltando para o Islamismo, que passa, como sabemos, a interferir na política de Estado e governo de seus países.
Esta doutrina, que só trouxe horror e morte nos países em que se instalou, continua viva e atuante na América Latina, o continente das ideologias defuntas. Cuba, após a perda da milionária ajuda soviética, começou a decair. Tenta se levantar atualmente com a ajuda preferencial do Brasil e da Venezuela.
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Pesquisa: O Livro Negro do Comunismo, do Centro Nacional de Pesquisa Científica da França.
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