Para mim uma das melhores notícias do ano. O peruano Mario Vargas Lhosa, de 74 anos, recebe o Nobel de Literatura de 2010. Já falei aqui de sua obra. No entanto, o que desejo comentar hoje é a entrevista de Páginas Amarelas da Revista Veja sobre o grande escritor.
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Permitam-me transcrever algo, pois foram as melhores páginas amarelas que já li. Comprem a revista 42 de 20 de Outubro deste ano, edição 2187. A entrevista é de Diogo Schelp e Jerônimo Teixeira.
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A esquerda tem o controle do establishment cultural. Ela domina o mundo acadêmico, as editoras e até os setores de cultura de jornais e revistas de direita. Isso dá um poder de chantagem enorme à esquerda. Todo escritor, desde muito jovem, sabe que não ser de esquerda significa defrontar com portas fechadas. Por outro lado, ser esquerdista garante regalias. A esquerda fracassou em tudo, menos no controle da cultura. Isso foi possível porque a direita é muito ignorante e também por não ter se preocupado em utilizar a cultura ideologicamente, politicamente. A esquerda, sim. Como resultado, muitos intelectuais e artistas, inclusive aqueles que não militam na esquerda, jamais se atrevem a criticá-la. Isso não ocorre apenas na América Latina. Conheci um ambiente assim na França dos anos sessenta. Não ser de esquerda dava muita dor de cabeça.
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Na lógica dos patrulheiros, quem não é esquerda só pode ser nazista, defender o apartheid na África do Sul e ser a favor da guerra do Vietnã. Explicar cada dia, cada semana, que não se é nada disso, é um trabalho muito chato e incômodo. Por isso muitos escritores dizem que são de esquerda só para serem deixados em paz.
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Hugo Chavez é de um anacronismo completo, uma criatura cavernícola, um militante bruto e semianalfabeto.
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Estamos na América Latina, onde os clichês e lugares-comuns que a esquerda incrustou na cultura pesam muito. Queremos ser pobres.
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Lamento que Lula, em política internacional, faça coisas como abraçar um ditador repugnante como Fidel Castro, enquanto um dissidente está morrendo numa greve de fome. Isso me desconcertou, entristeceu, indignou.
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Se quiserem saborear a entrevista toda, leiam a Veja.
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Para mim isso não se revela novidade, embora fique feliz por alguém dizer o que já tive até oportunidade de sentir na carne, é claro, consciente do meu anonimato e da minha condição de joão-ninguém. Quando cursava a Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), sendo diretor da Faculdade de Educação o eminente professor Otacílio Schüller Sobrinho, de saudosa memória, e que tinha sido meu professor no Curso Superior de Polícia, conversei com ele para ver da possibilidade de publicar trabalho meu pela faculdade, pois havia possibilidade para tal mediante aprovação de um conselho de cultura. O professor foi muito sincero: Roberto, vais ter muito pouca possibilidade. Afora o fato de seres oficial da PM, tuas ideias em nada se coadunam com o que pensa reitoria, conselho, e tudo o que funciona aqui. É quase impossível. Eu próprio fico bem calado para continuar dirigindo isso aqui sem problemas.
Agradeci pela sua franqueza. Comecei a pensar na "democracia" cultural da esquerda, que realmente, como afirma Lhosa, domina toda a área. As universidades principalmente. As editoras também. Dou como exemplo somente uma, que é católica: a Editora Vozes, franciscana. Ali os louvores à Cuba e à Teologia da Libertação, frei Betto, Boff e PT, são intermináveis.
Já senti isso, com a minha pequenez, há vinte anos. Somente passam em grandes editoras, jornais e mesmo revistas, com algumas exceções, as ideias socialistas. Guevara continua mito, apesar de reconhecidamente assassino. E isso é algo que a esquerda sabe fazer como ninguém, principalmente nesta América Latina: mitificar assassinos, caudilhos ditadores e demagogos populistas.
A entrevista de Lhosa foi eslarecedora. Continuemos pobres, então, com o nosso eterno complexo de inferioridade (tadinhos de nós, tão inocentes!) e com as nossas ridículas e galeânicas veias abertas. Se um livro passa a ser de cabeceira de Hugo Chavez, por certo é um livro chinfrim. ("As veias abertas da América Latina", do esquerdista uruguaio Eduardo Galeano, um tratado indigente em que nós, inertes e deitados em berço esplêndido, somos bicados em nossas pobres veias pelos gaviões do imperialismo, principalmente os norte-americanos. Um livro que ficaria bem numa sala-de-espera de um hemocentro ou na Transilvânia, no castelo do Drácula. O brucutu bolivariano afirma com aquele sorriso truculento que é seu livro de cabeceira. Duvido que o tenha aberto, muito menos lido, se for igual a alguém aqui em nossa terra).
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Como ilustração, os latinoamericanos que ganharam o Nobel de Literatura foram:
- Gabriela Mistral, chilena, em 1945.
- Pablo Neruda, comunista chileno, em 1971. (Fez o elogio à Coluna Prestes).
- Gabriel Garcia Marques, comunista colombiano, em 1979 (este tem férias quase anuais em Cuba, onde Fidel o enche de mordomias. Já afirmaram sarcasticamente que é o churrasqueiro do ditador fossilizado e que, na época, a amizade com o barbudo foi fundamental para que conquistasse o Nobel).
- Octavio Paz, mexicano, em 1990.
- Mario Vargas Lhosa, peruano, em 2010.
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