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terça-feira, 9 de novembro de 2010

Che Guevara.

Guevara fuma displicentemente um charuto, enquanto o embaixador norte-americano Adlai Stenvenson discursa do Conselho de Segurança da ONU em New York (1964). Atitude de colegial imaturo e não de um representante de um país num organismo internacional. Na verdade, finesse não era coisa que Guevara incorporasse. Isso, porém, não impedia que tais rompantes fossem admirados e aplaudidos por milhares de jovens e intelectuais esquerdistas no mundo todo.
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Dezembro de 1964. Guevara faz vigoroso discurso na ONU, em New York, atacando os Estados Unidos dentro de seu próprio território (Ah, os males da democracia!). Até aí, tudo previsível. No meio do discurso lança sua metralhadora falante também contra os soviéticos, criticando tentativas de aproximação entre os dois países. As críticas de Che aos russos irritam Fidel, que não desejava colocar em risco importantes acordos comerciais firmados com Moscou. No ano seguinte Guevara desaparece das vistas do público. Optara por se tornar novamente guerrilheiro. Do Congo à Bolívia, Che só consegue encontrar a morte.*************************
Havana parou no tempo. Carros e casas ainda vivem a década de cinquenta.*************************
"Che Guevara e os idiotas úteis que o idolatram". Livro do cubano-americano Humberto Fontova, Editora É Realizações - São Paulo - 287 páginas).
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SUCESSO NO MARKETING COMERCIAL, FRACASSO NA VIDA REAL.
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Resenha de Paulo Zamboni sobre o livro em apreço.
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Ernesto Guevara, ícone dos pobres, sempre ostentou um Rolex no pulso. Transformado ao longo dos anos numa espécie de "Jesus Cristo revolucionário", graças aos esforços inauditos da esquerda mundial, o argentino é ainda objeto de culto à personalidade em todo mundo.
Com extensas fontes orais e bibliográficas, especialmente de ex-companheiros, Fontova relata de maneira impiedosa e irônica que o deus da mitologia esquerdista era uma pessoa ressentida, vingativa, profissionalmente incompetente e responsável direta pelo assassinato de pessoas absolutamente inocentes de qualquer tipo de crime. Devotava um ódio primário e animalizado aos Estados Unidos. Vindo de uma desestruturada família burguesa simpatizante do comunismo, Guevara tinha tudo para ser considerado um vagabundo, um andarilho perdido na América Latina. Seu envolvimento fortuito com exilados cubanos no México acabou levando-o para aventuras em Cuba, no seio do movimento armado contra o ditador Fulgêncio Batista.
Diferente do senso comum, segundo o qual Batista foi derrotado por guerrilheiros heróicos, o que menos houve na queda de Batista foi luta armada. Castro operava sobretudo no terreno da propaganda, angariando dinheiro em grande quantidade, especialmente das elites cubanas cansadas de Batista, contra as quais o barbudo se voltou depois. Estas elites nunca poderiam supor que estavam financiando uma futura ditadura marxista-leninista.
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Castro e Guevara no início do poder absoluto.
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Castro se tornou internacionalmente simpático, especialmente perante os Estados Unidos, e até chegou a ir aos americanos pedir ajuda para seu novo governo. Foi recebido com indiferença, pois a nação do norte não tinha certeza das reais intenções do cubano. Ressentido, bandeou-se para o lado soviético e se tornou comunista.
O regime de Batista caiu praticamente sem esforço. Foi minado pela corrupção de suas forças, que aceitavam dinheiro de Fidel para se retirar da luta. Para a população cubana, especialmente sua elite, havia a crença que Castro e seus homens eram democratas e honestos. E os havia realmente, como Huber Matos e Pedro Luiz Diaz Lanz, que lutaram com Fidel para conseguir a democracia. Iludidos com o comunismo que não queriam e não lhes fora anunciado, revoltaram-se, sendo o primeiro preso e condenado a vinte anos de cadeia. O segundo conseguiu fugir para os EUA. Aviador que era, pilotou um avião até a ilha, de onde lançava panfletos acusando Fidel de ser comunista.
Após a vitória, em pouco tempo a verdadeira face do regime se revelou. Violência, assassinatos, tortura e prisões. E Guevara teve papel fundamental nisso, como criador dos campos de concentração cubanos, chamados pomposamente de "campos de reeducação." Muitos homossexuais, camponeses e religiosos morreram nestes campos.
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O oficial Aristidez Dias, do Exército de Batista, é confortado por um padre para ser em seguida executado. Corpos se enfileiram na estrada. Guevara e Castro depois adotariam o instituto do "paredon", para que a coisa ficasse mais escondida.*************************
Castro se mostrava mais hábil, utilizando a violência como um meio para alcançar um fim. Guevara parecia ver na brutalidade e no assassinato um fim em si mesmos. Ele acreditava na "violência revolucionária" e admirava o criminoso soviétivo Netchaiev, adepto da violência extrema e morte sem piedade de inimigos reais ou imaginários (Marighela no Brasil incorporou esta crença). Desde o começo Guevara pressionou para que Castro se ligasse logo ao bloco soviético, transportando seus métodos para o cenário cubano. Providência atroz para o povo da ilha, pois era época em que os crimes do genocida Stalin estavam sendo finalmente conhecidos pelo mundo estarrecido.
Talvez o mais chocante para os fãs de Guevara, ao lerem o livro, seja a imensa distância entre o ícone e sua figura real. Um homem cultuado por minorias, raças discriminadas, hippies, alternativos e jovens, possuía verdadeira mentalidade racista e patriarcal, despótica e arrogante. Apesar de bonitão, conhecendo-se as três mulheres que desposou, qual sultão latino, não era dado ao hábito do banho, tendo em Cuba o apelido de El Chancho.
Essas e muitas outras incoerências são o resultado do intenso caso de amor entre a revolução cubana e os meios intelectuais e midiáticos, principalmente nos Estados Unidos no começo do governo castrista. O jornal New York Times não se pejou de repetir com Castro o que já fizera com Stalin, encobrindo os seus crimes e os incensando.
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A incompetência de Guevara à frente do Ministério da Economia destruiu a infraestrutura cubana, desorganizando até hoje um país que, antes do comunismo, sempre fora um dos mais prósperos da América Latina, levando ao caos e à miséria uma população cristã e orgulhosa, favorecendo sua submissão ao projeto totalitário.
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O livro revela episódios pouco conhecidos, como o envolvimento de Guevara numa série de atentados frustrados nos Estados Unidos, na época em que os americanos ainda pensavam que podiam confiar em Castro.
Este teve a garantia americana de que seu governo não seria incomodado, ao final da crise dos Mísseis, artefatos bélicos que a União Soviética instalara em solo cubano para espionar e mesmo atacar os Estados Unidos. Kruschev, ante a ameaça de Kennedy de invadir a ilha, determinou a saída dos mísseis sem consultar Castro, o que deixou este enfurecido. No entanto, era muito tarde para mudar de patrão.
Começava então uma dura repressão contra uma incipiente revolta popular promovida pela população rural cubana, que durou até metade da década de sessenta, com a submissão dos camponeses que tentaram reagir à coletivização geral forçada.
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As aventuras externas de Guevara, primeiro no Congo e depois na Bolívia, cheias de retórica revolucionária vazia e despidas de competência, resultaram no descrédito dele em Cuba após seu fracasso no Congo. Na verdade, tinha dificuldade até para ler uma bússola. A decantada e fantasiosa habilidade tática e estratégica era somente fruto de propaganda.
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Sua fugaz permanência na Bolívia revela guerrilheiros em ação com um modus operandi primário e mesmo constrangedor. Nem os comunistas bolivianos o ajudaram, por achá-lo auto-suficiente e arrogante demais. Além disso, os camponeses bolivianos Aimarás a que Guevara se dirigia com suas pregações, pouco entendiam de espanhol, e estranharam um sujeito diferente deles, de terras longínquas, que os concitava a lutar contra o governo. Como resultado, comunicaram ao Exército boliviano a sua presença e de seus dezoito guerrilheiros na selva. Castro, que prometera ajudá-los com artilharia, não compareceu. Guevara foi preso a 08 e executado em território boliviano a 09 de outubro de 1967, a mando do presidente, General Renê Barrientos. A execução ocorreu na selva, longe das vistas de seus admiradores internacionais. Contava o Che com quarenta anos.
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Um dos biógrafos chapa-branca de Guevara, citado várias vezes no livro de Fontova, o mexicano Jorge Castaneda, antigo esquerdista radical e convertido ao socialismo light que predomina nos EUA e em alguns países da América Latina, esteve envolvido em episódio no mínimo curioso. Convidado para um evento promovido pela sofrida e perseguida oposição venezuelana contra o brucutu bolivariano Hugo Chavez, Casteneda o criticou asperamente, afirmando que Chavez estava tentando criar uma outra Cuba na América Latina. Para quem dedicou grande parte de sua vida a homenagear os tiranos Castro e Guevara, essa é uma virada e tanto.
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