O Quarto Batalhão de Policia Militar, que hoje se encarrega da segurança pública na parte insular do município de Florianópolis, foi inaugurado pelo Comandante Cantídio Régis em Setembro de 1943, sendo marco importante na história da corporação. As instalações eram primorosas. Para as praças, havia banheiros coletivos impecavelmente asseados, ligados aos alojamentos por corredores, com um grande lavatório central e muitos chuveiros, de água fria, naturalmente, que esse negócio de banho quente não era coisa para soldado daquele tempo. Daí que até mesmo oficiais, depois de exercícios físicos, iam tomar revigorantes duchas nos banheiros das praças.
Certo dia de verão um tenente, extenuado após renhida partida de tênis com um colega, resolveu tomar seu banho no banheiro da Segunda Companhia, a companhia dos recrutas. Lá estava ele refrescando-se com o forte jato de água fria, quando entrou no banheiro um recruta recém-incluído que, não conhecendo o oficial, lançou um comprido olhar para o seu derrière, comentando em voz alta:
-- Mas que rabo bonito!...
O tenente, constrangido com a inusitada situação, tentou impor sua autoridade:
-- Me respeite, soldado. Eu sou oficial!
-- Oficial que nada, seu. Tu é arrecoluta que nem eu, só que tem bunda bonita!
O oficial insistiu, mais constrangido ainda:
-- Recruta uma ova! Eu sou o tenente Fulano e posso te botar na rua!
O soldado novato não se impressionou e, com o chiado e entonação próprios do interior da ilha, voltou à carga:
-- Ah, quésh m'imbromá, quésh? Pois então te aperpara, que vou te passá a mão nesse rabo!..
E de fato investiu para cumprir a ameaça.
O desnorteado tenente, tentando livrar o traseiro do vexatório manuseio, escorregou no piso ensaboado e caiu de comprido.
Nesse momento entrou no banheiro ouro soldado mais antigo que, reconhecendo o oficial, tomou a posição de sentido e lhe fez a continência. Era uma cena grotesca: o soldado, todo perfilado, mão à pala do gorro, na saudação militar ao oficial, nu em pelo e estirado no chão.
O bisonho recruta, percebendo o erro, tratou de sumir o mais rapidamente possível.
Já o tenente, depois de levantar-se auxiliado pelo outro soldado, enrolou-se na toalha e caiu fora assim mesmo. Consciente de que um procedimento disciplinar o exporia à chacota geral, achou melhor dar o caso por esquecido, mas nunca mais foi tomar banho no banheiro das praças.
Mesmo assim o episódio se tornou conhecido pelos comentários da soldadesca. E numa versão que nem era soft como a aqui apresentada.
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Do livro do Coronel Edmundo José de Bastos Junior - O milagre do coronel Trogílio e outras histórias milicianas - Ilustração de Marcelo Costa - Editora Garapuvu de Floripa - 1998.
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Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirÉ isso é para entedermos que nús não somos nada, somos reconhecidos pelo que carregamos nossa roupa nossa posição na sociedade e como somos conhecidos por nossos pares. Grazie
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