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quinta-feira, 3 de março de 2011

Histórias de caserna - O passo errado.

Esta história foi encontrada pelo autor do livro O milagre do coronel Trogílio, Coronel Edmundo José de Bastos Junior, junto aos arquivos do saudoso coronel Antônio de Lara Ribas.
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O fato aconteceu entre os anos de 1926 e 1927. Nessa época o capitão Pedro Manoel Pinheiro, brilhante oficial da Força Pública, hoje Polícia Militar de Santa Catarina, desfrutava de excelente conceito junto aos seus pares. Era exímio atirador, desportista, poeta e violonista. 
Havia seleção para ingresso de voluntários na Força Pública, mas isso não impedia a inclusão de elementos curtidos em outras tropas e até de alguns maus elementos. Certa ocasião, quando o capitão Pinheiro dirigia a instrução geral, na rua José Veiga e espaços vazios adjacentes, o enérgico Sargento Teotônio, auxiliar do oficial instrutor de recrutas, cansado de insistir com determinado recruta gozador para que marchasse de passo certo, e convencido da inutilidade das reiteradas tentativas de convencê-lo, resolveu procurar o capitão Pinheiro, que se encontrava próximo, formulando a seguinte queixa:
-- Capitão, o senhor conhece o recruta Manoel Francisco?
-- Mas é claro, conheço. Ele é da minha companhia.
-- Pois é, senhor, acontece que este indivíduo teima em marchar de passo errado e, quando observo, determinando que acerte o passo,  ele responde que está de passo certo e que os demais da Escola é que devem acertar o passo pelo seu. E, dizendo isso, continua a marchar de passo errado, em franca atitude desrespeitosa. Por tudo isso, senhor capitão, entendo que o remédio é expulsá-lo para que sirva de exemplo à tropa.
-- É, respondeu Pinheiro,  -- mas acontece que não participo de sua extravagante opinião.  E não participo saiba o disciplinado sargento, porque aqui nesta Força nunca houve, nem haverá jamais em tempo algum, soldado ou recruta, por machão que seja, capaz de não acertar o passo. E preste bem atenção, sargento. Agora mesmo, nesse instante, ponha a Escola em posição de sentido porque eu quero ter uma conversinha com esse moleque, mais que recruta, metido a engraçadinho!
A ordem foi executada, de sorte que, disposta a tropa em posição para a revista, o capitão em postura rigorosamente militar, ordenou que viesse à sua presença, escoltado pelo sargento, o tal recruta que se julgava tão importante.
-- Então o senhor é o homem que não deseja acertar o passo?... O senhor já teve notícia sobre a solitária, não dessa que dá na barriga de muita gente boa, mas daquela de concreto que tem lá no fundo do quartel? Se não teve acautele-se, porque se não acertar o passo, vai para lá muito breve.
E dito isso ordenou categórico:
-- Sargento, leve este cabra da peste lá para seu lugar na escola.
A ordem foi cumprida com presteza. Em seguida o capitão ordenou que o sargento movimentasse a tropa segundo o eixo da rua.  E, nesse mesmo instante, olhando firmemente para o recruta, Pinheiro sacou da espada, acompanhando o desfile emparelhado com o homem que, nessa altura dos acontecimentos já muito nervoso, porém, como sempre - possivelmente por força do hábito - iniciava a marcha de passo errado.
O capitão, furioso com aquele desrespeito, não teve dúvida: virou o rosto junto ao ouvido do dito recruta e recitou a seguinte quadrinha:
-- Acerte o passo, Mané Francisco, dito recruta!
-- Acerte o passo, seu velhaco, com ares de batuta!
-- Acerte o passo, seu ordinário, e não discuta!
-- Acerte o passo, miserando filho de uma puta!
O pobre, sentindo a disposição agressiva de seu comandante, sem outra alternativa, entrou na cadência, deu aquele pulinho característico e lá se foi de peito saliente, como manda o figurino, fuzil perfilado e passo certo.
Daí por diante nunca mais o Manoel Francisco marchou de passo errado. E quando algum companheiro seu, da Escola de Recrutas ou da própria Companhia, errava o passo, ele próprio advertia:
-- Cuidado, patrício, aí vem o capitão Pinheiro!...
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Extraído do livro do Coronel Edmundo José de Bastos Junior, O milagre do Coronel Trogílio e outras histórias milicianas. Editora Garapuvu - 1998.
Desenho de Marcelo Costa.
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A Rua José Veiga hoje é denominada "Avenida Mauro Ramos", numa homenagem ao irmão de Nereu Ramos.
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