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quinta-feira, 7 de março de 2013

O CAUDILHO.



A América latina sempre foi a m... que é por causa dos caudilhos. Ditadores no corpo e na alma, sejam civis ou militares, messiânicos, donos da verdade, somente infelicitaram o continente. Seria simplista, se não fosse ridículo, culpar o imperialismo pelos nossos males (leia-se americanos). No início do século dezenove a ex-colônia inglesa era tão importante quanto a ex-colônia portuguesa ou as ex-colônias espanholas daqui. A diferença é que eles resolveram prosperar, enquanto nós ficávamos de lamúrias e choros, sempre arranjando pseudo-culpados para a nossa burrice e incompetência nacionais. O livro Manual do Perfeito Idiota Latino-americano expõe sem retoques este nosso provincianismo, verdadeiro complexo de inferioridade. Escrito a três mãos pelos peruanos Plinio Apuleyo Mendoza, Carlos Alberto Montaner e Alvaro Vargas Lhosa, tem a apresentação de Mário Vargas Lhosa e prefácio de Roberto Campos. Leitura que recomendo a todos os que buscam a análise rigorosa e mesmo sarcástica e não a lamúria autocomplacente.
Mas este livro, em seu capítulo X, "Como é linda a minha bandeira", define muito bem o que seja o caudilho, praga que infestou a América Latina desde o nascimento de suas nações, e da qual ainda não nos livramos, e que se revela uma das principais causas de nosso terceiromundismo.
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O Caudilho.
O caudilho é o pai da nação, que quer ensinar seu filho a ler e escrever (pela sua cartilha), cuidar de sua saúde, protegê-lo contra as inclemências da vida diária e a incerteza da velhice, colocá-lo sobre rodas para poder deslocar-se.
O caudilho é um benfeitor que gasta o dinheiro de todos, inclusive aquele que não existe - que um belo dia descobre sob a forma demoníaca de inflação - para proteger a sociedade inválida. Protege-a também, é claro, contra os charlatães que querem conduzi-la pelo caminho equivocado, assegurando-se de todos os possíveis detratores dividir uma acolhedora prisão com os roedores mais hospitaleiros, ou então fazer um longo passeio pelo exílio.
O caudilho encarna o Estado, o personifica, mas também encarna a sociedade em seu conjunto. O caudilho é a nação. Quando o caudilho se aborrece a nação se aborrece. Quando está triste, a sociedade se amofina. Quando ele, o macho, está contente, ela, a fêmea, sorri. Quantos mais amantes passam pela cama do chefe, mais se admiram os bíceps políticos do caudilho, mais assustam suas fobias e mais alegram suas inclinações. O humor do caudilho é o marco jurídico, político e institucional a servir de referência diária ao país. Diante da ausência de instituições sólidas, o caudilho surge com sua força viril. A longa duração do governo do caudilho compensa a instabilidade de sociedades incompletas. O caudilho torna-se a única coisa permanente, um verdadeiro projeto nacional de si mesmo.
Enquanto suas polícias políticas dissuadem com métodos mais ou menos amáveis as audácias das dissidências, eles petrificam toda a sua sede de grandeza em empresas públicas, essas pirâmides egípcias de nosso panorama político. Começam a falar de "Áreas estratégicas" e, aplicando a mentalidade militar ao mapa econômico de suas nações, Vargas no Brasil, Peron na Argentina, Arbens na Guatemala, Torrijos no Panamá, Allende no Chile, Castro em Cuba (e hoje Chavez na Venezuela e mais alguns projetos de títeres), a partir de posições mais ou menos socialistas - mas sobretudo patrimonialistas - começam a estender o abraço de urso do Estado a todos os centros de criação de riquezas da sociedade. Nunca se estrangulou uma vítima com mais amor! O abraço do Estado também é a asfixia da sociedade. Tudo isso, é claro, com o pano-de-fundo do adversário exterior, ajudado pelo inimigo interior da pátria. O antiimperialismo está no coração do caudilho. O nacionalismo do caudilho é político, militar e econômico ao mesmo tempo.
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