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sábado, 25 de maio de 2013

A PROCLAMAÇÃO DA REPÚBLICA NO BRASIL.


(TEXTO DE SYLVIO BAZOTE - HISTORIADOR)


Óleo sobre tela "Alegoria da República" - Manuel Lopes Rodrigues (1896)
Imagem: pt.wikipedia.org

Como aconteceu a proclamação da República no Brasil

Apesar da intensa propaganda republicana por intelectuais e parte da elite, a ideia da mudança de regime político não encontrava eco na maior parte da população do Brasil. Na eleição parlamentar realizada no Império do Brasil, em 31 de agosto de 1889, o Partido Republicano só conseguiu eleger dois deputados. Percebendo que não conseguiriam realizar seu projeto político pelo voto, os republicanos optaram por concretizar suas ideias através de um golpe de Estado. Para tanto, procuraram se aproveitar do crescente descontentamento das forças armadas com o governo imperial. Precisavam, no entanto, de um líder militar respeitado na tropa para realizarem seus planos.
Militar de alta patente e prestígio entre os diferentes setores do exército, o marechal Deodoro da Fonseca era o aliado ideal. Homem de convicções monarquistas e amigo de D. Pedro II, sua adesão ao golpe ocorreu mais por conta de boatos mentirosos do que descontentamentos políticos.
Em 14 de novembro de 1889, aproveitando-se da ausência de D. Pedro II, que se encontrava em Petrópolis, os republicanos fizeram circular na cidade do Rio de Janeiro um falso boato de que o governo imperial havia mandado prender Deodoro e o tenente-coronel Benjamin Constant, um dos principais líderes dos oficiais republicanos. O boato afirmava ainda que se pretendia instalar um novo Parlamento, recém-eleito, cuja abertura estava marcada para 20 de novembro de 1889. O objetivo era instigar o marechal a comandar com suas tropas um golpe contra a monarquia.
No dia 15 de novembro de 1889, Deodoro estava doente e com problemas respiratórios. O marechal saiu de sua residência aproximadamente às 6 da manhã, atravessou o Campo de Santana, e, do outro lado do parque, conclamou os soldados do batalhão ali aquartelado, onde hoje se localiza o Palácio Duque de Caxias, a se rebelarem contra o governo. Ofereceram um cavalo ao marechal, que nele montou, e levantando seu chapéu, proclamou "Viva a República!". Deodoro estava acompanhado pelo tenente-coronel Benjamin Constant e alguns líderes republicanos civis neste momento.
Ocorreu então um desfile das tropas presentes no Campo de Santana pela Rua Direita – atual rua 1º de Março – até o Paço Imperial.
Os republicanos precisavam agir rápido para aproveitar os acontecimentos e consolidar o golpe de Estado. A situação ainda estava indefinida, pois a proclamação da República não tinha apoio popular e os revoltosos tinham à disposição poucas tropas, que poderiam ser facilmente vencidas por forças vindas de outras províncias e localidades do Rio de Janeiro. Não estava claro se os militares haviam destituído apenas o ministério de Ouro Preto ou se o regime monarquista também havia caído. O apoio do marechal Deodoro era fundamental naquele momento.
Tendo Benjamin Constant à frente, espalharam novo boato de que o imperador escolheria Gaspar Silveira Martins, inimigo político e pessoal de Deodoro da Fonseca, para ser o novo primeiro-ministro e que o governo imperial pretendia reorganizar a Guarda Nacional e fortalecer a força policial do Rio de Janeiro para combater o Exército, que depois de vencido seria dissolvido. Com mais estas mentiras levadas ao marechal Deodoro da Fonseca, que retornava de carruagem para sua casa, convenceram-no a aderir à causa republicana.
Os revoltosos ocuparam o Quartel-General do Exército, depois o Ministério da Guerra e o Paço Imperial, onde depuseram o primeiro-ministro Afonso Celso de Assis Figueiredo, o visconde de Ouro Preto e seu gabinete ministerial.
O primeiro-ministro havia tentado resistir pedindo ao comandante do destacamento local e responsável pela segurança do Paço Imperial, marechal Floriano Peixoto, que enfrentasse os amotinados, argumentando que no local havia tropas legalistas em número suficiente para derrotar os revoltosos e que o marechal enfrentou tropas bem mais numerosas na Guerra do Paraguai. Floriano Peixoto recusou-se a obedecer às ordens dadas por Ouro Preto, afirmando que no Paraguai havia inimigos e ali eram todos brasileiros. Em seguida, aderindo ao movimento republicano, Floriano Peixoto deteve o primeiro-ministro.
O único ferido no episódio da proclamação da República foi o ministro da Marinha, José da Costa Azevedo, barão de Ladário, que no Paço Imperial resistiu à ordem de prisão dada pelos amotinados e levou um tiro.
Aproximadamente às 4 da tarde, reuniram-se alguns republicanos e vereadores na Câmara Municipal do Rio de Janeiro e, em ato solene presidido por José do Patrocínio, foi proclamada a República dos Estados Unidos do Brasil, tendo  o marechal Deodoro da Fonseca como seu primeiro presidente. Na mesma noite a proclamação foi aprovada sem votação, lavrando-se então uma ata que foi assinada pelo marechal Deodoro, juntamente com uma carta destinada ao imperador, informando sobre o banimento da família imperial.
Enquanto isso, Dom Pedro II, informado por telégrafo sobre o golpe e acreditando que o objetivo dos revolucionários era apenas substituir o Gabinete de Ouro Preto, retorna de Petrópolis ao Rio de Janeiro e na noite de 15 de novembro, reunido com o Conselho de Estado, tenta organizar novo gabinete ministerial, sob a presidência do conselheiro José Antônio Saraiva. Informado da proclamação da República e da adesão de Deodoro, decidiu não oferecer resistência para evitar um conflito sangrento.
O texto da proclamação da República foi para as gráficas dos jornais que apoiavam o movimento e, somente no dia seguinte, 16 de novembro de 1889, foi anunciada ao povo a mudança do regime político do Brasil.

Óleo sobre tela "Proclamação da República" - Benedito Calixto (1893)
Imagem: educacao.uol.com.br
O exílio da família imperial
À 01:30 da madrugada de 17 de novembro de 1889 o tenente-coronel João Nepomuceno de Medeiros Mallet acordou a família imperial no Paço da Cidade, no Rio de Janeiro, e em nome do governo republicano provisório informava que o soberano destronado, a imperatriz Tereza Cristina, a princesa Isabel, o conde D' Eu, e seus quatro netos deveriam embarcar para o exílio naquele momento, no meio da madrugada daquele domingo em que caía um chuvisco frio.
Mallet afirmou para a família imperial que o objetivo do embarque naquela hora era para evitar que simpatizantes mais exaltados do regime republicano hostilizassem o monarca e seus familiares num embarque durante o dia. O objetivo real era o oposto: tomar mais difícil que ocorressem manifestações de solidariedade a D. Pedro II pela população e que estas manifestações criassem uma reação de parte das tropas que permaneciam simpáticas à monarquia.
A princesa, quase aos prantos, se recusava a embarcar sem seus três filhos, enviados para Petrópolis no dia 15 de novembro temendo tumultos no Rio de Janeiro, apesar das garantias do tenente-coronel Mallet de que um trem especial traria os três garotos – Pedro de Alcântara (14 anos), Luís Felipe (11), e Antônio Pedro (8) – e guardas especiais seriam colocadas em todas as estações.
Com a colaboração do marido da princesa, o conde D'Eu, conseguiu-se após algum tempo convencê-la a aguardar no navio a chegada dos filhos. Restava ainda convencer o sexagenário e pacato imperador a embarcar sem usar a força. D. Pedro II levou bastante tempo para se aprontar e aparecer no salão do palácio. Sereno e severo, entrou na sala vestindo uma elegante casaca preta e segurando a cartola na mão.
Padecendo de diabetes há dois anos, o imperador oscilava naquele momento entre o torpor, lapsos de memória e irritação. Apesar de ter assinado no dia anterior documento aceitando a ordem dos republicanos para que saísse do Brasil, parecia não conseguir entender o que estava acontecendo. O almirante Artur Silveira da Mota, o barão de Jaceguai, amigo da família imperial, ainda tentou ajudar Mallet a convencer o imperador, dizendo que se temiam manifestações de estudantes, sendo repreendido pelo monarca por sua falta de liderança diante da Armada. Após demorada conversa, o conde D’Eu se postou ao lado do imperador e foi encaminhando-o lentamente para fora, sendo seguido pelos demais membros da família imperial.
No Largo do Paço, os soldados apresentaram armas e o imperador respondeu erguendo a cartola. O palácio fica a poucos metros do Cais Pharoux, mas Mallet havia providenciado uma carruagem para transportar os passageiros, onde se acomodaram o imperador, a imperatriz, a princesa Isabel, o conde D'Eu e Pedro Augusto, (23 anos) neto mais velho do monarca, filho de sua filha mais moça, Leopoldina, falecida em 1871. No cais, entraram todos numa lancha do Arsenal de Guerra, guardada por quatro cadetes, encaminhada ao cruzador Parnaíba, onde aguardariam a chegada dos três filhos da princesa e só então navegariam para a Ilha Grande, para embarcar no vapor de transporte de passageiros Alagoas, com destino à Portugal.
Foi difícil encostar no Parnaíba. Mais difícil foi fazer D. Pedro II passar da lancha para o cruzador. Com o mar agitado e a escuridão, Mallet e o conde Mota Maia, médico particular do imperador, tentavam empurrar D. Pedro II pela precária escada ligando os dois barcos. De cima, um cadete lhe dava a mão para puxá-lo, mas o imperador, de 63 anos, fraquejava e oscilava, para o desespero de Mallet. Com um impulso, finalmente deu-se o embarque do imperador, que permaneceu no tombadilho até as 10 horas da manhã, sentado sob uma lona estendida para protegê-lo do chuvisco, até que seus três netos chegassem.
Com a chegada dos três, ao meio-dia o Parnaíba começou a movimentar-se rumo à Ilha Grande. Após desembarque na ilha e embarcarem no vapor Alagoas, o início de viagem foi relativamente calmo. O imperador só reclamava da lentidão da navegação, provocada pela escolta do encouraçado Riachuelo. Quando os dois navios chegaram em alto mar à altura da Bahia, o Riachuelo retornou para o Rio de Janeiro e o vapor Alagoas seguiu sem problemas para Portugal.
A imperatriz Teresa Cristina faleceu na cidade do Porto, em Portugal, em 28 de dezembro de 1889, com 67 anos, 40 dias após o desembarque da viagem de exílio do Brasil. D. Pedro II morreu em Paris, em 5 de dezembro de 1891, com 66 anos, pouco mais de 2 anos após o exílio. Enquanto preparavam seu corpo, um pacote lacrado foi encontrado no quarto do modesto hotel Bedford em que se hospedava, com uma mensagem escrita pelo próprio imperador: "É terra de meu país, desejo que seja posta no meu caixão, se eu morrer fora de minha pátria". O pacote que continha terra de todas as províncias brasileiras foi colocado dentro do caixão.
Em 1921 a família imperial foi autorizada a regressar ao Brasil, sendo revogada a lei do banimento. A ocasião foi aproveitada para repatriar os restos mortais do último imperador e de sua esposa, que ficaram primeiramente na Catedral Metropolitana do Rio de Janeiro e desde 5 de dezembro de 1939 se encontram na Capela Imperial da Catedral de Petrópolis.

Fotografia da família imperial - Petrópolis - Fevereiro de 1889
(museu imperial em Petrópolis)
Da esquerda para a direita:
Imperatriz Teresa Cristina, esposa de Pedro II. Príncipe Dom Antônio (caçula da princesa Isabel e do conde D'Eu), menino sentado. Princesa Isabel, filha de Dom Pedro II. Dom Pedro II, de longa barba branca. Príncipe Pedro Augusto (filho de Leopoldina), de bigode ao lado do avô. Príncipe Dom Luís (segundo filho da princesa Isabel e do conde D'Eu), menino de roupa escura e calça curta. Conde Gastão D'Orleans (conde D'Eu), marido de Isabel, de bigode e cavanhaque. Príncipe Dom Pedro de Alcântara (filho mais velho de Isabel e do conde), menino de terno claro e gravata.

Curiosidades, verdades e mentiras sobre a proclamação da República no Brasil
O marechal Manuel Deodoro da Fonseca era simpatizante ao regime monárquico, funcionário de confiança e amigo de D. Pedro II. Apesar de saber da conspiração, relutou em participar dela e aderiu à causa apenas 4 dias antes da proclamação da República, em grande parte mais pelo temor que líderes de alas radicais do exército matassem os membros da família imperial brasileira, pela qual tinha respeito. Acreditava que este ato violento causaria uma guerra civil entre os golpistas com parte da população (grata pela abolição da escravidão) e os defensores do Império, que teriam na família imperial mártires para vingar. Por ser o militar de mais prestígio e de maior patente entre os militares conspiradores, resolveu tomar a frente do golpe de Estado para manter a situação sob controle.

Geralmente se associa a monarquia aos desmandos dos reis e imperadores e a república à liberdade. No Brasil aconteceu o contrário. O reinado de D. Pedro II se caracterizou pela liberdade que oferecia à imprensa, flexibilidade administrativa e respeito que possuía pelos políticos do império. Quando foi proclamada a República, uma das primeiras providências foi a censura aos jornais, seguida de perda de autonomia pelos estados da federação e eleições fraudulentas com limitação das condições dos votantes. Multiplicaram-se os presos políticos e exilados, figuras que não existiam no Segundo Reinado.
O Império Brasileiro, que em seus últimos anos era caracterizado pelos observadores internacionais como "a monarquia mais republicana das Américas" se tornou "mais uma democracia de ditadores", tão comum na época entre as repúblicas da antiga América espanhola.
Boa parte da população de então simpatizava com a humildade, pacifismo e amor às artes e ciências de D. Pedro II, vendo também com bons olhos a provável sucessora do trono, a princesa Isabel, que agradava por sua devoção católica e era associada ao fim da escravidão. Se a simpatia dos pobres não era suficiente para pegar em armas pelo retorno do monarquia, foi mais decisiva a insatisfação dos ricos com a possibilidade do governo brasileiro ser chefiado pelo francês conde D'Eu, marido da princesa Isabel, e a falta de políticas imperiais para uma rápida melhora econômica, agravada com a abolição da escravidão. Não que os republicanos tivessem planos melhores – tanto que continuaram com as mesmas diretrizes da época do Império – era o caso da elite trocar o prejuízo certo pelo lucro incerto.
O jornalista João do Rio, ao descrever o Rio de Janeiro de 1908 no livro A Alma Encantadora das Ruas, se mostrou surpreso com a quantidade de trabalhadores, negros e brancos, que levavam nas costas tatuagens de símbolos imperiais. Afirmou ele: "Pelo número de coroas da monarquia que eu vi, quase todo esse pessoal é monarquista".
No dia 21 de abril de 1993 ocorreu um plebiscito onde a opção "República" obteve 86% dos votos válidos, conferindo, finalmente após 104 anos, legitimidade popular ao regime republicano brasileiro. No mesmo plebiscito, o sistema presidencialista de governo foi legitimado pelo voto popular.
Não bastando a demora que favoreceu o modelo republicano, tendo em vista que devido à demora da escolha, gerações haviam já nascido neste tipo de governo, impossibilitando uma comparação imparcial, realizaram a votação no feriado do Dia de Tiradentes, data de apelo emocional na luta dos brasileiros contra a monarquia portuguesa. As manobras políticas e ideológicas, de forma direta e subliminar, continuam a favorecer a República no Brasil.

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Quem me acompanha no blog sabe que tenho ideias monarquistas. Sempre tive atração por impérios, reis, rainhas e princesas. O governo muda menos, fazendo também com que se roube menos. Já é inquestionável que nas monarquias a roubalheira não é tão generalizada e epidêmica.É mais fácil de controlar. Vejo os exemplos da  Holanda, Suécia, Espanha, Inglaterra. Na Inglaterra, se acabarem com a monarquia, única coisa interessante naquela ilha úmida e friorenta, ninguém mais vai lá. Isso apesar do Charles e da Camila. A rainha Sílvia da Suécia é minha admiração maior, juntamente com o quarteto ABBA, que hoje é só lembrança..
Hoje meus leitores podem entender melhor quando a corriola de esquerda fala tanto em "atitude republicana". Insinuam como algo bom mas, na verdade, desconfiem de qualquer atitude republicana hoje neste país. (Roberto).
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Este artigo é do meu amigo historiador mineiro (esses mineiros são bons, sempre gostei de Minas), a meu juízo o melhor trabalho já feito sobre a proclamação da República. Isento, preciso, verdadeiramente histórico. E olha que não coloquei o trabalho todo, que é bem mais completo. Parabéns, SYLVIO BAZOTE, de Juiz de Fora. (Roberto).
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