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segunda-feira, 21 de abril de 2014

JOAQUIM JOSÉ DA SILVA XAVIER, O TIRADENTES.



O enforcamento de Tiradentes
 A sentença de enforcamento de Tiradentes foi executada publicamente em  21 de abril de 1792 no Campo da Lampadosa, na cidade do Rio de Janeiro.  A execução foi planejada como uma demonstração de força da Coroa Portuguesa.  A população recebeu ordens, mediante ameaça de punição, e enfeitou as janelas, varandas e portas das casas com flores e colchas coloridas. O novo vice-rei colocou nas ruas praticamente toda a guarnição militar disponível: três regimentos de infantaria e os outros três regimentos portugueses de elite.
No início do dia os quartéis estavam prontos para marchar, tropa com fardamento novo, armas polidas e enfeitadas com flores. Aproximadamente às sete horas da manhã o negro condenado Capitânia, que servia de carrasco, acompanhado de dois oficiais de justiça, entrou no oratório da cadeia com uma corda comprida e grossa e um camisolão branco, a alva dos condenados. Tiradentes estava com o cabelo e barba raspados, como era obrigatório entre os condenados.
Antes das nove horas, os portões da cadeia se abrem e surge uma companhia de soldados de infantaria da tropa portuguesa de elite, seguido de um grupo de frades franciscanos. Tiradentes vem após, puxado pelo carrasco. Na saída da cadeia forma-se o cortejo, tendo à frente uma fanfarra, seguida pela Irmandade da Misericórdia, vindo depois por religiosos em geral, seguidos depois pelo carrasco e seus auxiliares conduzindo Tiradentes. Imediatamente após seguiam o escrivão, o desembargador-de-crime, o juiz de fora e o ouvidor. Fechando o cortejo seguiam, com as espadas em mãos, os portugueses da Segunda Companhia do Esquadrão de Cavalaria da Guarda, com uniforme de gala e cavalos enfeitados.
Durante o trajeto pelas ruas do centro da cidade (Rua da Cadeia, Largo da Carioca, Rua do Piolho e Campo de São Domingos), frades colhiam esmolas para rezar missas pela alma do condenado. Ao mesmo tempo, os oficiais de justiça anunciavam aos gritos a sentença à população. O cortejo parou alguns instantes em frente da Igreja da Lampadosa, onde dentro celebrava-se uma missa, e seguiu em direção à nova forca, construída mais alta (necessitando de uma escada com 24 degraus) para possibilitar que a multidão visse o cumprimento da sentença.
Ao chegar à forca, houve rufar de tambores, toques de clarim e sinos das igrejas. Tiradentes sobe a escada da forca balbuciando coisas incompreensíveis, olhando fixamente o crucifixo de aproximadamente dois palmos que desde a saída da cadeia estava entre suas mãos amarras por cordas. Aguarda no estrado da forca enquanto o frei José de Jesus Maria do Desterro, guardião do Convento de Santo Antônio, faz longo discurso recriminando os males da desobediência à vontade real e divina, ao final do qual desce a escada recitando o Pai-Nosso.
O carrasco empurra Tiradentes para o espaço. Os tambores rufam e voltam a badalar os sinos das igrejas que ficaram silenciosos durante o discurso do frei. As pernas de Tiradentes se agitam no ar e, para acabar rapidamente com a agonia, o carrasco sobe nos ombros do condenado, cavalgando seu corpo e arrochando a corda que envolve o pescoço.
Após a morte o povo se dispersa aos poucos, enquanto os batalhões, formados em triângulo, davam vivas à rainha. Pelas esquinas estavam afixados editais determinando “aos vassalos da América colocarem luminárias por três dias, esperando que não sejam necessárias punições e penas contras os que desobedecerem às ordens, que devem ser cumpridas com a maior satisfação e vontade”. Depois do enforcamento de Tiradentes, o Conde de Resende promoveu comemorações pelo fracasso da conspiração e condenação dos envolvidos, entre festas e missas solenes no Rio de Janeiro e em Minas Gerais.

A decapitação e esquartejamento de Tiradentes

Após a execução, o corpo foi levado em uma carreta do exército para a Casa do Trem (hoje parte do Museu Histórico Nacional), onde foi esquartejado. Com seu sangue se lavrou a certidão de que estava cumprida a sentença, onde se determinava que as partes de seu corpo deveriam ser expostas até que o tempo as consumisse, seus bens fossem confiscados para a Câmara Real, a casa alugada em que vivia em Vila Rica fosse arrasada e seu proprietário indenizado, sendo seu terreno salgado para que em seu chão nada mais crescesse ou edificasse, levantando no local um monumento pelo qual deveria se conservar em memória a infâmia do “abominável réu”, bem como de seus filhos e netos.
Após o esquartejamento, o tronco do corpo de Tiradentes foi entregue à Santa Casa de Misericórdia (instituição responsável pelos cemitérios na época), sendo enterrado como indigente em lugar ignorado. A cabeça, braços e pernas foram salgados para não apodrecerem rapidamente, acondicionados em sacos de couro e enviados para Minas Gerais, sendo pregados em pontos do Caminho Novo da Estrada Real onde Tiradentes pregou suas ideias revolucionárias: braço direito em Borda do Campo (Barbacena), braço esquerdo em Santana de Cebolas (atual Inconfidência, distrito de Paraíba do Sul), perna direita numa estalagem de Varginha do Lourenço (atualmente no município de Conselheiro Lafaiete) e perna esquerda em Queluz (Conselheiro Lafaiete)  A cabeça, exposta em Vila Rica no alto de um poste em frente à sede do governo, foi roubada na terceira noite (alguns estudiosos sobre o assunto afirmam que foi na primeira noite), sem que se conseguisse localizá-la ou descobrisse quem realizou o ato até os dias de hoje.
Três dias após a execução de Tiradentes, os condenados ao degredo começaram a tentar mudar suas sentenças na Alçada. O advogado condenado Tomás Antônio Gonzaga teve ativa participação nessa tentativa judicial, redigindo o último dos embargos solicitados em 07 de maio de 1792. Dois dias depois, o recurso foi sumariamente rejeitado pelo tribunal, que determinou o cumprimento das sentenças sem direito a novas contestações.
Em 16 de maio de 1792, os inconfidentes Vitoriano Gonçalves Veloso e José Martins Borges, por não serem brancos, cumpriram a pena adicional de açoitamento público e depois foram obrigados a dar três voltas em torno da forca onde, há pouco menos de um mês, Tiradentes fora enforcado. Os embarques dos condenados ao degredo para África ocorreram entre 05 de maio e 25 de junho de 1792.
Quando ocorreu a independência do Brasil, em 1822, o povo de Vila Rica derrubou o monumento erguido no local onde existia a casa em que viveu Tiradentes, construindo-se em 1928 a atual sede da Associação Comercial de Ouro Preto. Em 1832, o governo imperial determinou a restituição dos bens confiscados em 1790 que ainda não estivessem incorporados ao patrimônio nacional.


Tiradentes esquartejado - Tela de Pedro Américo.
Texto de Sylvio Bazote, um amigo historiador de Juiz de Fora, Minas Gerais.

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