O navegador e engenheiro militar francês FRANÇOIS FRÈZIER (1682-1733) aportou na ilha de Santa Catarina em 1712, hoje parte do município de Florianópolis. Fez estudo e mapa da ilha, descrevendo o estado primitivo em que viviam os 147 brancos ali. Ele partiu da França em fins de 1711 no navio Saint Joseph, comandado pelo capitão Duchénne Battas. Vinha também o navio Marie, sob o comando do capitão Jardais Darmel.DESCRIÇÃO DA ILHA:
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Ilha de Santa Catarina.****************************************
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Vista do famoso bar Miramar, apontando para o mar calmo da baía sul, no centro da ilha. Foto da década de sessenta.****************************************
Essa gente, à primeira vista, parece miserável. Mas eles são mais felizes que os europeus, ignorando as curiosidades e comodidades supérfluas que na Europa se adquirem com tanto trabalho. Passam eles sem pensar nelas. Vivem numa tranquilidade que os subsídios e a desigualdade de condição não perturbam. A terra lhes fornece os elementos necessários à vida, as madeiras e as ervas, o algodão, peles de animais para se cobrirem e se abrigarem. Não almejam essa magnificência de habitação mobiliada e bem equipada, que só fazem excitar a ambição e lisonjear a vaidade, sem tornar o homem mais feliz. A única coisa que têm a lamentar é a de viverem na ignorância. São cristãos, é verdade, mas como podem ser instruídos em sua religião, não havendo senão um vigário na Lagoa (Laguna), que lhes vem rezar a missa somente nas principais festas do ano?
Possuem também muitos remédios naturais do país para se curarem de outras doenças que podem aparecer. O sassafrás, esta madeira de bom aroma e comum pelas suas virtudes contra os males venéreos, ali é tão comum que nós o cortamos para queimar como lenha. O guaiaco, empregado também para os mesmos males, não é mais raro. Encontra-se ali uma grande quantidade de plantas aromáticas cujas qualidades e utilidade são conhecidas por seus habitantes para os seus usos.
As árvores frutíferas são excelentes em suas espécies, as laranjas são tão boas como as da China, existem muitas limeiras, limoeiros, goiabeiras, palmitos, bananeiras, canas-de-açúcar, melancias, melões, jerimuns e batatas melhores que as de Málaga.
Ruínas do Forte de São José da Ponta Grossa, na baía norte. Defesa contra incursões espanholas.
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Foi na ilha que vi pela primeira vez o arbusto que dá o algodão. Colhem-se nas pedras do mar ostras verdes, pequenas e deliciosas. A pesca é abundante e com peixes grandes (meros, salemeras, sargos, carapaus, peixes-galos, peixes-reis, sardinhas, etc). Cheguei a pescar um cavalo-marinho. A caça é abundante, mas os bosques são de difícil acesso, quase impenetráveis. Os pássaros mais vistos são os papagaios, que voam em pares, os guarás, aves pescadoras de belo colorido. além dos tucanos. Na ilha, a caça mais comum são os macacos. No continente, no seu lado sul, existem bois selvagens. Enfim, na terça-feira, doze de abril (1712), partimos com uma boa brisa. Deixando a ilha e viajando para o sul, encontramos inúmeras baleias.
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