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terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Descrição da ilha de Santa Catarina.

O navegador e engenheiro militar francês FRANÇOIS FRÈZIER (1682-1733) aportou na ilha de Santa Catarina em 1712, hoje parte do município de Florianópolis. Fez estudo e mapa da ilha, descrevendo o estado primitivo em que viviam os 147 brancos ali. Ele partiu da França em fins de 1711 no navio Saint Joseph, comandado pelo capitão Duchénne Battas. Vinha também o navio Marie, sob o comando do capitão Jardais Darmel.
Bibliografia: Ilha de Santa Catarina (relatos de viajantes estrangeiros nos séculos 18 e 19). Editora Lunardelli e Universidade Federal de Santa Catarina.
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DESCRIÇÃO DA ILHA:
A ilha de Santa Catarina se estende do norte ao sul, desde os 27 graus 22 minutos até os 27 graus 50 minutos. É uma floresta contínua de árvores verdes o ano inteiro, não se encontrando nela outros sítios praticáveis, a não ser os desbravados em torno das habitações, isto é, 12 ou 15 sítios dispersos aqui e acolá à beira-mar nas pequenas enseadas fronteiras à terra firme. Os moradores que os ocupam são portugueses, uma parte de europeus fugitivos e alguns negros. Veem-se também índios, alguns servindo voluntariamente aos portugueses, outros que são aprisionados em guerra.
Embora não paguem tributo algum ao rei de Portugal, são seus súditos e obedecem às ordens do governador ou capitão, que é nomeado para comandá-los em caso de guerra contra os inimigos da Europa e os índios do Brasil, com os quais andam quase sempre em guerra; de sorte que quando penetram na terra firme, que não é menos tomada de florestas que a ilha, não ousam fazê-lo em grupos menores de trinta ou quarenta homens juntos e bem armados.
Esse capitão, cujo comando não passa ordinariamente de três anos, depende do governador da Lagoa (Laguna), pequena vila distante da ilha para o sul.
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Ilha de Santa Catarina.
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Na ilha havia 147 brancos, alguns índios e negros libertos, dos quais uma parte acha-se dispersa pela orla da terra firme. Suas armas comuns são os facões de caça, flechas e machados. Possuem poucas espingardas e raramente pólvora. Estão, no entanto, suficientemente defendidos pelas matas, onde uma infinidade de espinheiros de toda espécie as torna quase impenetráveis. Tendo sempre a retirada segura e pouco equipamento a transportar, vivem tranquilamente sem o medo de verem suas poucas riquezas arrebatadas. Na verdade, encontram-se eles em carência de quase todas as comodidades da vida. Em troca dos víveres que nos traziam não aceitavam dinheiro, dando mais importância a um pedaço de pano ou fazenda para se cobrir, protegendo-se das penúrias do tempo. Satisfazem-se com o vestuário de uma camisa e um par de calças. Os mais distintos usam também um paletó de cor e um chapéu. Quase ninguém usa meias ou sapatos, sendo obrigados a cobrir as pernas quando entram no mato, utilizando-se da pele da perna de um tigre como perneira. Não são mais exigentes com a alimentação do que com o vestuário: um pouco de milho, batatas, alguns frutos, peixe ou caça, quase sempre o macaco, os satisfaz.
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Vista do famoso bar Miramar, apontando para o mar calmo da baía sul, no centro da ilha. Foto da década de sessenta.
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Essa gente, à primeira vista, parece miserável. Mas eles são mais felizes que os europeus, ignorando as curiosidades e comodidades supérfluas que na Europa se adquirem com tanto trabalho. Passam eles sem pensar nelas. Vivem numa tranquilidade que os subsídios e a desigualdade de condição não perturbam. A terra lhes fornece os elementos necessários à vida, as madeiras e as ervas, o algodão, peles de animais para se cobrirem e se abrigarem. Não almejam essa magnificência de habitação mobiliada e bem equipada, que só fazem excitar a ambição e lisonjear a vaidade, sem tornar o homem mais feliz. A única coisa que têm a lamentar é a de viverem na ignorância. São cristãos, é verdade, mas como podem ser instruídos em sua religião, não havendo senão um vigário na Lagoa (Laguna), que lhes vem rezar a missa somente nas principais festas do ano?
De resto, gozam de um bom clima e um ar muito saudável. Não têm raramente moléstia, a não ser o "mal do bicho", que é uma dor de cabeça acompanhada do desejo de evacuar sem nada expelir, e por isso usam um remédio muito simples que julgam como um específico. Colocam no assento um pequeno limão azedo ou emplastro de pólvora diluída na água.
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Possuem também muitos remédios naturais do país para se curarem de outras doenças que podem aparecer. O sassafrás, esta madeira de bom aroma e comum pelas suas virtudes contra os males venéreos, ali é tão comum que nós o cortamos para queimar como lenha. O guaiaco, empregado também para os mesmos males, não é mais raro. Encontra-se ali uma grande quantidade de plantas aromáticas cujas qualidades e utilidade são conhecidas por seus habitantes para os seus usos.
As árvores frutíferas são excelentes em suas espécies, as laranjas são tão boas como as da China, existem muitas limeiras, limoeiros, goiabeiras, palmitos, bananeiras, canas-de-açúcar, melancias, melões, jerimuns e batatas melhores que as de Málaga.

Ruínas do Forte de São José da Ponta Grossa, na baía norte. Defesa contra incursões espanholas.
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Foi na ilha que vi pela primeira vez o arbusto que dá o algodão. Colhem-se nas pedras do mar ostras verdes, pequenas e deliciosas. A pesca é abundante e com peixes grandes (meros, salemeras, sargos, carapaus, peixes-galos, peixes-reis, sardinhas, etc). Cheguei a pescar um cavalo-marinho. A caça é abundante, mas os bosques são de difícil acesso, quase impenetráveis. Os pássaros mais vistos são os papagaios, que voam em pares, os guarás, aves pescadoras de belo colorido. além dos tucanos. Na ilha, a caça mais comum são os macacos. No continente, no seu lado sul, existem bois selvagens. Enfim, na terça-feira, doze de abril (1712), partimos com uma boa brisa. Deixando a ilha e viajando para o sul, encontramos inúmeras baleias.

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