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sábado, 19 de maio de 2012

Contra toda esperança III.

Ilha de Pinos.
Os alto-falantes do presídio berravam que duzentos prisioneiros seriam transferidos para a ilha de Pinos, a sudoeste de Cuba. Estávamos aterrorizados. Lá imperava o terror das torturas e execuções e não havia visitas. Escutei meu nome e saí para arrumar as minhas coisas. Pedro Boitel e Alfredo Carrion também. Pedro, de compleição frágil, quase não podia com o seu saco. Usava um crucifixo grande, presente de um padre católico, que o acompanhou em sua candidatura a presidente da Federação Estudantil Universitária, à qual teve que renunciar, ameaçado por Castro pessoalmente, pois Boitel era um anti-comunista ativo. Ele passou então à clandestinidade até ser capturado pela polícia política.
Saímos em ônibus expropriados pelo governo. Chegamos ao acampamento militar de Columbia, onde aviões de transporte de gado iriam nos levar à ilha. O avião não tinha assentos e estava repleto de excrementos. Tivemos que sentar no chão, emporcalhando-nos todos, vigiados por guardas muito bem armados.
O piloto subiu com dois guardas escoltando-o. Já naquela época, como hoje, todos os voos nacionais saíam com dois soldados de escolta e a cabine do avião era blindada.
Ao chegarmos, enquanto descíamos do avião os militares começaram a gritar desaforos. A maioria eram negros e não pareciam cubanos. Do pescoço pendiam-lhes colares de sementes e contas coloridas nas boinas.
Aquilo era horroroso. Os presos se moviam como animais assustados. Eu pelo menos me sentia assim e o medo se apoderara de todo meu ser.  Muito havíamos ouvido falar dos horrores do presídio, dos trabalhos forçados nas pedreiras, das arrepiantes requisições, nas quais muitos prisioneiros acabavam mortos e centenas feridos a baioneta. Os carcereiros gostavam de ver os presos nus, com a porta da cela soldada, usando como cama o chão frio e duro. Quem conseguisse controlar a mente e não saisse de lá com as faculdades mentais abaladas, quase sempre saía com os pulmões destruídos, tuberculoso...
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A partir de 1978 Fidel mudou o nome da ilha de Pinos, que passou a se chamar ilha da Juventude.
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