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quarta-feira, 13 de junho de 2012

Contra toda esperança X.


MARTHA.
A diretoria da penal comunicou, uma noite, que receberíamos as visitas no refeitório, sem as odiosas cercas de arame. E além disso, que os visitantes seriam autorizados a nos levar um pacote de ajuda familiar. A visita seria a cada 45 dias.
Foi uma alegria. Depois de mais ou menos três anos sem ver nossos familiares, aquela possibilidade nos encheu de ilusões. Pensei em meus pais, em minha irmã e em Martha, que por fim iria ver. Depois de anos de correspondência clandestina, nossa identificação havia sido tão profunda, que tudo em nós pedia um encontro.
Por fim chegou o dia da visita. Tiraram-nos do refeitório e nos revistaram. Vários pelotões de guardas esperavam. A revista foi vexaminosa. Tivemos que ficar completamente nus, para que revistassem a nossa roupa costura por costura. Era uma obsessão. Tinham que impedir que saísse qualquer denúncia, uma carta que tivesse valor de testemunho. Mandaram-nos até abrir a boca., levantar os testículos. Não se podia levar nada às visitas.
Às dez da manhã, aproximadamente, apareceu o contingente de familiares. Os encontros foram dramáticos, carregados de emoção. Os abraços, as lágrimas, a alegria, tudo misturado naqueles momentos de emoção.
Chegou minha família. Meu pai foi o único que deixou escapar uma lágrima. Minha mãe a a irmã me abraçavam e beijavam ao mesmo tempo. Só podiam entrar três familiares por preso. Martha conseguiu entrar cm uma família amiga. Sua presença foi inesquecível para mim. Mais de três anos tinham se passado desde que nos víramos pela primeira vez. A adolescente era agora uma moça com quase dezoito anos, mais alta, mais mulher, mais bonita e elegante.
Quando chegou, olhamo-nos nos olhos, sem dizer uma palavra. Ela corou. Por dentro, nunca tínhamos deixado de estar juntos. Sabíamos que estávamos unidos para sempre. As palavras não são necessárias quando as almas dizem tudo. Nossa conversa foi como dar-nos as mãos e entrarmos num mundo maravilhoso, criado pelo amor que sentíamos e compartilhávamos. Tudo desapareceu ao nosso redor, as pessoas, o lugar, e éramos como um casal de namorados debaixo de um céu aberto e azul, inundado de uma luz que jamais nos faltaria. Sob ele nos encontramos sempre, deixando para trás celas e ferrolhos, angústias e tristezas.
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Armando Valladares, preso político em Cuba, já cumprira os vinte anos a que fora condenado por negar-se a reconhecer o comunismo.  Iam deixá-lo mofando até morrer num campo de "reeducação", se pressões internacionais não obrigassem o tirano Castro a expulsá-lo de Cuba. É casado com Martha e vivem nos EUA.
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