Páginas

sábado, 7 de julho de 2012

Recordar é viver.

Eu sou de um tempo distante, chamado tempo do onça. Quando se amarrava cachorro com linguiça e aos domingos a gente ia à missa. Trago lembranças bacanas das Casas Pernambucanas.

Tempo em que adultério era crime e o Flamengo tinha time. Sou do tempo do buscapé, do rojão e do xarope São João. Tempo em que os meninos sentavam de um lado na sala e as meninas no outro. 


Tempo em que menino gostava de menina. 

Quando o telefone era preto e a geladeira branca. Um tempo em que confiava nas companhias aéreas e a penicilina curava as doenças venéreas. Tempo do confete e da serpentina, do bicabornato de sódio.

e do lançamento do Sonrisal. A Rádio Nacional, o lança-perfume no carnaval, quando pó era apenas poeira. Tempo do terno de riscado a giz, da calça de cintura alta, quando ficar era não ir e os passeios à beira-mar não eram perigosos.

Sou do tempo da brilhantina, do laquê, do Glostora e do Gumex,


Quando só a mulher usava brinco e as portas não tinham trinco. As calças não perdiam o vinco, picada era só na bunda e se a febre profunda não cedesse. Naqueles tempos coca era refrigerante e havia o tergal, o banlon e o terilene. Tempo da cocoroca e da Copa Roca, que muitos não conheceram.

 Sou do tempo do coreto, da banda, da estricnina e do leite de magnésia, do sagu, do fubá Mimoso e do fosfato que curava a amnésia. Tempo do tostão e dos vinténs, da zona com seus bordéis .

Havia a Cibalena e os filmes do Rin-tin-tin, a Rádio PRK-30 e os contos da carochinha.

Tomava o Biotônico Fontoura.
No meu tempo o remédio era assim anunciado:
Veja, ilustre passageiro,
o belo tipo faceiro
que o senhor tem a seu lado.
Mas, no entanto, acredite,
quase morreu de bronquite,
salvou-o o Rhum Creosotado.


Li a revista Cruzeiro, escrevi com  caneta tinteiro, separei o joio do trigo e vi muito vigarista na cadeia, o que hoje não vejo. Os assoalhos brilhavam com a cera Parquetina. Só não fui garçom da Santa Ceia, mas não sou assim tão antigo.

Tempo de curtir a vida sem medo de bala perdida.
Tempo em que se respeitava os pais.
Enfim, um tempo que não volta mais.
(Carlos Alberto Andrade, jornalista, advogado, historiador, psicografando um amigo daquele tempo em Quatis, Rio de Janeiro).
*****************
(Remetido pelo meu amigo Augusto Barbosa Coura Neto).
********************

Um comentário:

  1. Apesar de ser uma geração após vocês. Eu me lembro de todos estes por causa de vovó e das tias. Lia com sofreguidão as revistas antigas que iam as pilhas pela casa, onde havia todas estas propagandas, e queria ficar logo mais velha, para ser igual a elas as minhas tias e primas alguns anos mais que eu, que nem atenção me davam pois me chamavam de bebe, portanto não podia participar das conversas de adulto, só como ouvinte, risos. Sintos que estes anos 40, 50, 60 foram maravilhosos, os 60 pouco lembro pois era pequena, mas curti tudo isso muito. Sou de uma família com muitas mulheres e era como um conto de fadas, sempre rodeadas com nossos sonhos, rendas enfeites e laços. Hoje dou boas risadas do tempo em que o problema de toda família se resumia ao laço de fita de uma das meninas. Beijos Roberto.

    ResponderExcluir