A
sentença de enforcamento de Tiradentes foi executada publicamente em 21
de abril de 1792 no Campo da Lampadosa, na cidade do Rio de Janeiro. A
execução foi planejada como uma demonstração de força da Coroa
Portuguesa. A população recebeu ordens, mediante ameaça de punição, e
enfeitou as janelas, varandas e portas das casas com flores e colchas
coloridas. O novo vice-rei colocou nas ruas praticamente toda a guarnição
militar disponível: três regimentos de infantaria e os outros três regimentos
portugueses de elite.
No
início do dia os quartéis estavam prontos para marchar, tropa com fardamento
novo, armas polidas e enfeitadas com flores. Aproximadamente às sete horas da
manhã o negro condenado Capitânia, que servia de carrasco, acompanhado de dois
oficiais de justiça, entrou no oratório da cadeia com uma corda comprida e
grossa e um camisolão branco, a alva dos condenados. Tiradentes estava com o
cabelo e barba raspados, como era obrigatório entre os condenados.
Antes
das nove horas, os portões da cadeia se abrem e surge uma companhia de soldados
de infantaria da tropa portuguesa de elite, seguido de um grupo de frades
franciscanos. Tiradentes vem após, puxado pelo carrasco. Na saída da cadeia
forma-se o cortejo, tendo à frente uma fanfarra, seguida pela Irmandade da
Misericórdia, vindo depois por religiosos em geral, seguidos depois pelo
carrasco e seus auxiliares conduzindo Tiradentes. Imediatamente após seguiam o
escrivão, o desembargador-de-crime, o juiz de fora e o ouvidor. Fechando o
cortejo seguiam, com as espadas em mãos, os portugueses da Segunda Companhia do
Esquadrão de Cavalaria da Guarda, com uniforme de gala e cavalos enfeitados.
Durante o trajeto pelas ruas do
centro da cidade (Rua da Cadeia, Largo da Carioca, Rua do Piolho e Campo de São
Domingos), frades colhiam esmolas para rezar missas pela alma do condenado. Ao
mesmo tempo, os oficiais de justiça anunciavam aos gritos a sentença à
população. O cortejo parou alguns instantes em frente da Igreja da Lampadosa,
onde dentro celebrava-se uma missa, e seguiu em direção à nova forca,
construída mais alta (necessitando de uma escada com 24 degraus) para
possibilitar que a multidão visse o cumprimento da sentença.
Ao chegar à forca, houve rufar de
tambores, toques de clarim e sinos das igrejas. Tiradentes sobe a escada da
forca balbuciando coisas incompreensíveis, olhando fixamente o crucifixo de
aproximadamente dois palmos que desde a saída da cadeia estava entre suas mãos
amarras por cordas. Aguarda no estrado da forca enquanto o frei José de Jesus
Maria do Desterro, guardião do Convento de Santo Antônio, faz longo discurso
recriminando os males da desobediência à vontade real e divina, ao final do
qual desce a escada recitando o Pai-Nosso.
O carrasco empurra Tiradentes para o
espaço. Os tambores rufam e voltam a badalar os sinos das igrejas que ficaram
silenciosos durante o discurso do frei. As pernas de Tiradentes se agitam no ar
e, para acabar rapidamente com a agonia, o carrasco sobe nos ombros do
condenado, cavalgando seu corpo e arrochando a corda que envolve o pescoço.
Após a morte o povo se dispersa aos
poucos, enquanto os batalhões, formados em triângulo, davam vivas à rainha.
Pelas esquinas estavam afixados editais determinando “aos vassalos da América
colocarem luminárias por três dias, esperando que não sejam necessárias
punições e penas contras os que desobedecerem às ordens, que devem ser
cumpridas com a maior satisfação e vontade”. Depois do enforcamento de
Tiradentes, o Conde de Resende promoveu comemorações pelo fracasso da
conspiração e condenação dos envolvidos, entre festas e missas solenes no Rio
de Janeiro e em Minas Gerais.
A decapitação e esquartejamento de
Tiradentes
Após
a execução, o corpo foi levado em uma carreta do exército para a Casa do Trem
(hoje parte do Museu Histórico Nacional), onde foi esquartejado. Com seu sangue
se lavrou a certidão de que estava cumprida a sentença, onde se determinava que
as partes de seu corpo deveriam ser expostas até que o tempo as
consumisse, seus bens fossem confiscados para a Câmara Real, a
casa alugada em que vivia em Vila Rica fosse arrasada e seu
proprietário indenizado, sendo seu terreno salgado para que em seu chão nada
mais crescesse ou edificasse, levantando no local um monumento pelo qual
deveria se conservar em memória a infâmia do “abominável réu”, bem como de seus filhos e netos.
Após
o esquartejamento, o tronco do corpo de Tiradentes foi entregue à Santa Casa de
Misericórdia (instituição responsável pelos cemitérios na época), sendo
enterrado como indigente em lugar ignorado. A cabeça, braços e pernas foram
salgados para não apodrecerem rapidamente, acondicionados em sacos de couro e
enviados para Minas Gerais, sendo pregados em pontos do Caminho Novo da Estrada
Real onde Tiradentes pregou suas ideias revolucionárias: braço direito em Borda
do Campo (Barbacena), braço esquerdo em Santana de Cebolas (atual
Inconfidência, distrito de Paraíba do Sul), perna direita numa estalagem de Varginha do
Lourenço (atualmente no município de
Conselheiro Lafaiete) e perna esquerda em Queluz
(Conselheiro Lafaiete) A cabeça, exposta em Vila Rica no alto
de um poste em frente à sede do governo, foi roubada na terceira noite (alguns
estudiosos sobre o assunto afirmam que foi na primeira noite), sem que se
conseguisse localizá-la ou descobrisse quem realizou o ato até os dias de hoje.
Três dias após a execução de
Tiradentes, os condenados ao degredo começaram a tentar mudar suas sentenças na
Alçada. O advogado condenado Tomás Antônio Gonzaga teve ativa participação
nessa tentativa judicial, redigindo o último dos embargos solicitados em 07 de
maio de 1792. Dois dias depois, o recurso foi sumariamente rejeitado pelo
tribunal, que determinou o cumprimento das sentenças sem direito a novas
contestações.
Em 16 de maio de 1792, os
inconfidentes Vitoriano Gonçalves Veloso e José Martins Borges, por não serem
brancos, cumpriram a pena adicional de açoitamento público e depois foram
obrigados a dar três voltas em torno da forca onde, há pouco menos de um mês,
Tiradentes fora enforcado. Os embarques dos condenados ao degredo para
África ocorreram entre 05 de maio e 25 de junho de 1792.
Quando
ocorreu a independência do Brasil, em 1822, o povo de Vila Rica derrubou o
monumento erguido no local onde existia a casa em que viveu Tiradentes,
construindo-se em 1928 a atual sede da Associação Comercial de Ouro Preto. Em 1832, o governo imperial determinou a
restituição dos bens confiscados em 1790 que ainda não estivessem incorporados
ao patrimônio nacional.
Tiradentes esquartejado - Tela de Pedro Américo.
Texto de Sylvio Bazote, um amigo historiador de Juiz de Fora, Minas Gerais.
Texto de Sylvio Bazote, um amigo historiador de Juiz de Fora, Minas Gerais.
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