Roberto Rodrigues de Menezes.

Roberto Rodrigues de Menezes



quarta-feira, 30 de junho de 2010

Coronel Lara Ribas.

Primeiro Sargento Antônio de Lara Ribas, já incorporado ao Segundo BI da Força Pública de Santa Catarina, na campanha de 24/25.

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Em Palmas, Paraná, na Fazenda Bela Vista, nasceu a 25 de Outubro de 19o2 Antônio de Lara Ribas, o primeiro de quatorze filhos, sete homens e sete mulheres, de Constantino de Oliveira Ribas e sua mulher Querubina de Lara Ribas.
Foi criado com os avós maternos na Fazenda. Estes, idosos, mudaram-se para a cidade de Palmas, onde Antônio fez o curso primário regular à noite, trabalhando de dia numa farmácia.
O rapaz, desejoso de continuar os estudos, partiu com dois amigos para São Paulo, onde, em Campinas, se matriculou no Ginásio Diocesano Santa Maria. Não conclui o curso, pois a falta de recursos o obrigou a voltar a Palmas.
Entra, então, como voluntário, nas tropas da Força Pública comandadas pelo capitão Pedro Lopes Vieira, que estavam à disposição do governo federal para auxiliar nos combates à revolta contra a República Velha. Isso ocorreu em fins de Setembro de 1924, quando ele se apresenta com cavalo e arreiamentos próprios, como era o costume. Logo em seguida as revoltas são desbaratadas e as tropas vão sendo desmobilizadas. Ele permanece, pois logo os comandantes sentem a sua capacidade intelectual e de trabalho. É encarregado da escrituração militar e logo se vê comissionado como Primeiro Sargento. O aquartelamento de Porto União, onde estava Antônio, foi incorporado ao efetivo da Quarta Companhia de Infantaria Montada.

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A 06 de junho de 1925 era Antônio incluído no efetivo da Força Pública, por convite do Capitão Lopes Vieira. A 13 de junho ele chegava a Florianópolis.
Em 25 de julho de 1925 Pedro Lopes Vieira, já tenente coronel, ascende ao comando geral da Força Pública catarinense.
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Em 29 de setembro de 1927 Antônio desposa a jovem Carmélia Ramos. Conheceram-se numa festa rrealizada no quartel do Segundo BI na rua Major Costa, onde se localiza hoje o Hospital Lara Ribas. Ela seria sua eterna companheira.
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Segundo Tenente Antônio de Lara Ribas

Após concluir o Curso de Aperfeiçoamento e Preparação Militar Antônio, a 31 de Dezembro de 1928, é promovido a segundo tenente.
Participou da campanha de 1930 ao lado das tropas legalistas, junto ao governo do Estado e de sua Corporação. Mas isso não impede que Getúlio Vargas e seus aliados empreendam marcha do Rio Grande do Sul até a capital federal tomando o poder central, sendo destituído Washington Luiz. O General Ptolomeu de Assis Brasil, das hostes getulistas, ocupou com suas tropas a capital catarinense. Com a nova situação o Comandante Lopes é demitido com mais alguns oficiais. Sargentos e Cabos foram rebaixados. O coronel da Brigada Militar gaúcha, Amadeu Massot, passa a comandar a Força, implantando uma política de terror, mesmo no comando por apenas 13 dias.
Em Novembro de 1930 é substituído pelo Tenente Coronel Heitor Lopes Caminha que, mais sensato e equilibrado, tratou de normalizar a vida da Corporação.
O Tenente Lara Ribas escapou ao expurgo promovido por Amadeu Massot, apesar de seus laços de amizade com o comandante Lopes Vieira. É nomeado a 08 de março de 1931 delegado de polícia da capital. A 21 de Setembro o Interventor Federal Assis Brasil o promove a Primeiro Tenente. Cumpriu com êxito e profissionalismo as funções de delegado e responsável pelo policiamento da capital Florianópolis.
Em 1932 recebeu espinhosa missão no meio oeste catarinense, quando teve que se deslocar com tropas até Cruzeiro (Herval-Joaçaba), para coibir revoltas de políticos e populares simpáticos à revolução constitucionalista de São Paulo. Para tal missão, o Interventor Assis Brasil promoveu o tenente Lara a capitão e o comissionou no posto de Tenente Coronel, nomeando-o comandante de um BCR.

O Comandante do Terceiro BCR (Batalhão de Caçadores da Reserva), Tenente Coronel comissionado Antônio de Lara Ribas (centro), com oficiais do Batalhão. Em pé, a partir da esquerda, tenentes Erasmo Barbosa, Lobato, Lunardelli, Guerreiro, Matias Pimpão, Carlos Cogo, Lula e Silva Santos. Sentados, na mesma ordem, capitães Álvaro da Nova, Osni Silva, Hercílio Müller e Maisonetti, médico.
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Com o fim vitorioso de sua missão militar, é nomeado delegado de Porto União, com jurisdição sobre todo o norte e oeste do Estado.
Em 03 de fevereiro de 1933, já no posto efetivo de capitão, assume o comando da terceira Companhia na capital. Participa efetivamente, comandando as tropas no desfile comemorativo ao Centenário da Força, em 1935.
Em início de 1937 segue à capital federal no Rio de Janeiro, para frequentar o Curso de Aperfeiçoamento de Oficiais, juntamente com os tenentes Américo D'Ávila e Asteróide da Costa Arantes. Os três têm partipação brilhante, sendo Lara o primeiro colocado, Américo o segundo e Asteróide o terceiro. Engrandeciam, assim, a Força Pública catarinense na capital federal.
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Dona Carmélia Ramos Ribas, em foto tirada antes de seu noivado.
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Na época da Segunda Guerra Mundial, Lara Ribas foi delegado de Ordem Política e Social no Estado. Em Novembro de 1943 publica o livro "O punhal nazista no coração do Brasil", sobre a ação do Partido Nazista no Estado, especialmente nas regiões de imigrantes alemães.
A 02 de Maio de 1945 Lara é promovido a Major. Em maio de 1948 o coronel Cantídio Quintino Régis deixa o Comando Geral da Força Pública, agora Polícia Militar, que teve sua denominação mudada com a Constituição Federal de 1946. O coronel Régis foi o oficial que por mais tempo exerceu o cargo de Comandante Geral, recorde quase impossível de ser batido nos tempos atuais. Ele substituiu o Ten Cel (Comissionado do Exército) Renato Tavares em abril de 1935, entregando o cargo em 1948. Assume em seu lugar o coronel Antônio Cândido Alves Marinho e Lara Ribas é promovido a Tenente Coronel.
A primeiro de março de 1950, vinte anos depois de sua paralisação, reiniciavam as atividades do Curso de Formação de Oficiais na Corporação, embrião do CIPM (Centro de Instrução Policial Militar), hoje Centro de Ensino da PM. O Ten Cel Lara foi nomeado diretor do Curso.
A 29 de dezembro de 1949 Lara Ribas recebe as insígnias de Coronel e é nomeado Comandante Geral da PM, substituindo o coronel Marinho, que se transferiu para a Reserva Remunerada.
Capitão Lara Ribas.
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A 03 de Agosto do mesmo ano o coronel Lara é nomeado Secretário de Segurança Pública do Estado. Transfere-se para a Reserva em início de 1951, após a vitória de Irineu Bornhausen, da UDN, para o governo do Estado.
Solenidade no Quartel do Comando Geral. À esquerda o coronel Lara, Cmt Geral, o Ten Cel Paulo Weber Vieira da Rosa, à época Comandante do 14BC (hoje 63BI) e o governador Aderbal Ramos da Silva.
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Em 1954 o coronel Lara Ribas foi diretor da Divisão Administrativa do Departamento Nacional do SESI (Serviço Social da Indústria) no Rio de Janeiro.
A 05 de Fevereiro de 1961, convocado, assume pela segunda vez o coronel Lara Ribas o comando geral da PMSC, no governo de Celso Ramos.
Suas principais realizações neste segundo Comando:
- Deu nova estrutura organizacional à Corporação.
- Administração descentralizada, com a criação de diretorias setoriais, uma para administração e assistência médica e social e outra de ensino e instrução.
- Reorganização dos Batalhões do Interior (Canoinhas e Chapecó) e a criação das Companhias de Rio do Sul, Araranguá e Porto União.

Inauguração do Quartel da Primeira Cia de Porto União, subordinada ao Batalhão de Canoinhas, em Janeiro de 1964.

- Criação do Serviço de Salvamento no Corpo de Bombeiros, criação da Polícia Florestal, instalação do Gabinete Psicotécnico e Setor de Identificação, Curso de Oficiais mudado em definitivo para o bairro da Trindade e serviço de Radio-comunicações ampliado sensivelmente, com 49 estações. Redimensionou o Hospital da PM, que leva o seu nome, sendo o responsável pela criação e reinstalação do Museu da PM, situado abaixo da ponte Hercílio Luz, no forte Santana, museu este que também leva o seu nome.

Em Janeiro de 1964 deixa Lara Ribas o Comando Geral, sendo substituído pelo Coronel Elvídio Petters. Neste mesmo ano foi nomeado Superintendente Geral do SESI, função que exerceu até 1971.

O casal Lara Ribas em uma praça de Belo Horizonte, foto tirada em fins de 1959 pelo seu único filho João Batista.
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Lara Ribas foi Cidadão honorário de Florianópolis (1973), Presidente do Clube dos Oficiais por mais de três anos, clube que ajudou a fundar, membro do Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina e expoente da Maçonaria no Estado.

Foi agraciado com o título de cidadão honorário do Estado de Santa Catarina, proposição do coronel Sidney Carlos Pacheco, à época deputado à Assembléia Legislativa. Na foto o deputado e o coronel Lara (1990).

Dona Carmélia faleceu, após quase sessenta anos de união, deixando viúvo o velho e honrado coronel. Recolheu-se à sua chácara em Cacupé com o filho João Batista (alto funcionário do Badesc), a nora Alice Vaz Sepetiba, que fez as vezes de filha que não teve com a esposa, e as netas Patrícia Andrea, Ana Carolina e Maria Beatriz. Ali continuou estudando, pesquisando e orientando a respeito da história da Corporação, até a morte o colher, num violento ataque cardíaco, a 10 de junho de 1992. Iria completar noventa anos e deixou um legado inestimável de trabalho, honra, probidade e dedicação à causa policial militar.

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Toda esta síntese teve como base, incluídas as fotos, o livro do Coronel Edmundo José de Bastos Junior: Coronel Lara Ribas, PMSC. O homem - A carreira - O símbolo.

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terça-feira, 29 de junho de 2010

O Livro de Ester.


O autor do livro de Ester é desconhecido. Talvez tenha vivido no século IV AC. (Série Bíblia Sagrada - parte V).
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No tempo de Ester, os judeus são oprimidos por estrangeiros. Os persas dominavam. Era a época do rei Assuero, que reinava com poder total sobre cento e vinte e sete províncias. A capital do reino era Susa.
Certo dia, o rei oferece aos nobres um banquete e determina que a rainha Vasti compareça à sua presença com o diadema real. Ante a recusa desta, o rei consulta os sábios sobre o que fazer. Eles sugerem um decreto em que Vasti perca a sua condição e seja coroada outra rainha. O rei assim fez, passando a procurar outra mulher.
Ora, em Susa vivia o judeu Mardoqueu, tutor de uma bela jovem chamada Ester, cujo nome em persa significava estrela. Ele viera deportado de Jerusalém. A jovem, como muitas outras, foi levada ao palácio, caindo nas graças de Assuero. Orientada pelo tutor, ela não revelou ao rei a sua origem judia.
Um dia Mardoqueu, à porta do palácio, ouviu dois nobres conspirarem contra o rei. Leva o fato à afilhada, que conta a Assuero. Os nobres foram presos e enforcados, tendo o monarca se mostrado muito grato à jovem e a Mardoqueu.
Ocorre que um homem chamado Amã, o agagita, foi elevado pelo rei acima de todos os nobres, só unicamente a ele devendo obediência.
Todos se curvavam à sua passagem, exceto Mardoqueu. Isso provocou em Amã ódio e ressentimemto. Ele direcionou a sua ira para os judeus, procurando exterminá-los. Quis colocar o rei contra o povo de Mardoqueu, afirmando que eles obedeciam mais a seu Deus que ao próprio rei. Isso encolerizou Assuero, que determinou por decreto que os judeus fossem mortos em determinado dia. Mardoqueu, ao saber do edito, prostrou-se ante o Senhor, pedindo ajuda. Comunicou tudo a Ester, que se vestiu com suas mais belas roupas e foi à presença do rei. E tanto o agradou, que este prometeu lhe dar um presente valioso, mesmo que fosse a metade de seu reino. Ela pediu, então, que o rei comparecesse com Amã a um banquete que ela iria preparar.
Naquela noite, Assuero determinou que lhe trouxessem os anais do reino e leu sobre a intervenção de Mardoqueu em relação aos dois nobres traidores. E constatou que o judeu nada recebera em troca por seu gesto de extrema lealdade. Chamou Amã e lhe perguntou: O que devo fazer a um homem que desejo homenagear, por ter me servido bem? Este pensou que o rei desejava lhe agraciar e se apressou em responder:
--Este homem deverá vestir as vestes reais, a coroa real e montar o cavalo do rei.
-- Vai, então, e faz isso a Mardoqueu, disse o rei.
E Amã foi obrigado a conduzir seu inimigo pelas ruas da cidade no cavalo do rei, com as vestes e a coroa reais. Isso só fez aumentar o ódio que devotava ao judeu.
O rei, logo após, foi com Amã ao banquete que Ester lhe preparara. E lá renovou a sua disposição de atender a um pedido da jovem. Ela, então, falou:
-- Se achei graça diante de ti, salva meu povo, que Amã quer exterminar.
O rei tornou sem efeito o edito de morte e, irado, mandou enforcar Amã. E colocou Mardoqueu em seu lugar. Este se tornou o primeiro após o rei e os nobres passaram a respeitá-lo.
Libertos do perigo, os judeus instituíram como dias de festa (Purim), o décimo quarto e décimo quinto dias do mês de Adar, quando se banqueteiam, trocam presentes e praticam generosidade com os pobres, sendo este costume observado até hoje.

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domingo, 27 de junho de 2010

Viagem ao Egito.

Máscara mortuária de Tutancamon - Museu do Egito - Cairo.
Diário de Viagem - Outubro de 1995.
A 16 estávamos saindo de Israel pelo aeroporto de Tel Aviv rumo ao Egito, formando um grupo de turismo de cerca de trinta pessoas, do qual partícipávamos minha mãe e eu. Nos hotéis meu companheiro de quarto foi o coronel Rolim, um senhor viúvo, aposentado do Exército, de setenta anos, pessoa fina, educada e de grande cultura. Digo com certeza que foi um privilégio privar com ele durante um mês das nossas visitas a Portugal, Israel, Egito, Turquia, Grécia e Itália. Infelizmente, ele faleceu cerca de um ano depois desta viagem. Minha esposa Sílvia não quis ir, pois se recusa terminantemente até hoje a entrar em um avião. Fica em pânico só de ouvir falar.
A revista no aeroporto de Ben Gurion foi muito detalhada, com aparelhos de detecção moderníssimos. Iam conosco alguns árabes com aquela túnica branca que lhes cobre todo o corpo e na cabeça o "fez", normalmente quadriculado. Portavam pastas executivas. Não pude deixar de sentir um certo medo. E se naquelas pastas houvesse alguma bomba, já que o avião era da El Al, empresa de aviação de Israel?
Deixávamos, afinal, a terra prometida por Deus aos hebreus errantes. (Sobre minha visita a Israel escreverei em futuros artigos). Nossa próxima etapa era o Cairo, capital do Egito, com suas pirâmides e a lembrança de seus faraós. Saíamos do Oriente Médio para entrar no norte da África.
Foi um voo tranquilo, de cerca de uma hora e meia. Estava anoitecendo quando chegamos ao Cairo. A vista da cidade do alto se revelava deslumbrante, com o grande rio Nilo cortando a planície desértica, somente verdejante perto de suas margens. Cidade enorme, que naquele ano contava com dezesseis milhões de habitantes. No aeroporto nos esperava um confortável ônibus que nos levaria ao hotel. Nas praças eram comuns enormes cartazes iluminados do presidente Mubarak. Os dirigentes árabes cuidam normalmente muito bem do culto às suas personalidades. O Egito, como qualquer país árabe, não é democrático, tanto que Mubarak governa até hoje.
Estávamos nos aproximando do hotel Fort Grand, um luxuoso cinco estrelas. Quando entramos na planície de Gizé, perante nossos olhos maravilhados apareceram as pirâmides e sua esfinge, iluminadas por clarões feéricos que projetavam seus contornos retilíneos na noite. Simplesmente piramidal. O hotel tinha na recepção cascatas com vários ambientes, lustres enormes de cristais, tapetes desenhados com motivos egípcios de outrora, enfim, tudo de um requinte que nos deslumbrava. Poltronas de veludo, mármores e granitos no ambiente decorado em ouro, e uma escadaria de mármore branco que levava ao piso superior, mais parecendo a entrada para o harém das Mil e uma noites.
Jantamos carne, frango, lula, além de saladas exóticas e frutas de todos os tipos, de tamanho maior que o normal. A melancia passava do verde da casca para um vermelho vivo, sem aquela polpa branca que se coloca entre as cores, de sabor bem doce e refrescante. O hotel ficava próximo das pirâmides, na planície de Gizé.
Na planície de Gizé a pirâmide do faraó Quéops, a maior das três, guardada pela Esfinge.
A população do Egito é muçulmana, porém de índole mais moderada. Não são fundamentalistas como o Irã do Lulla. Perto de cinco por cento são cristãos coptas, apenas tolerados. A moeda utilizada no Cairo é a libra egípcia, sendo os centavos chamados piastras.
Logo de manhã, fomos conhecer de perto as pirâmides. e a esfinge. Impressionantes! Feitas de blocos superpostos de pedras amareladas que se encaixam de forma admirável. Representam o que restou das sete maravilhas do mundo antigo.
As pedras foram retiradas de uma pedreira distante, nos diz o guia Tarik, a quarenta quilômetros do outro lado do Nilo. O transporte dos enormes blocos era feito por balsas na travessia do rio e em terra por troncos roliços de árvores, acima dos quais as pedras eram colocadas para que deslizassem, tendo a puxá-las com grossas cordas milhares de escravos. As pirâmides são os túmulos dos faraós, considerados divindades. As maiores e mais conhecidas são três: Quéops (cento e quarenta metros de altura), Quéfren (dez metros a menos) e Miquerinos (um pouco menor que a segunda); porém, existem muitas outras menores na planície. Algumas até superpostas, lembrando as construções dos astecas na América Central.
Adentrei na pirâmide de Miquerinos, descendo uma galeria de quarenta e cinco graus, a partir da porta de entrada, que é situada no meio da pirâmide e não na sua base. A altura da galeria era de cerca de um metro, o que nos obrigava a descer inclinados, quase de joelhos. Ambiente soturno, somente iluminado por luzes mortiças que eu não sabia de onde vinham. Calor enorme. Fomos dar numa sala vazia, pois os sarcófagos dos faraós ou estavam em museus na Europa, ou no museu do Cairo. Ali era o lugar do sarcófago de Miquerinos. Desci por uma outra galeria até uma sala menor, onde o calor se fazia quase insuportável. Era o local dos tesouros do faraó. Idosos e pessoas com problemas de saúde não podem entrar nas pirâmides. Estava agora na parte mais profunda da construção de Miquerinos. Comecei a ficar com medo que aqueles blocos, com mais de quatro mil anos de construção, desabassem sobre mim. Retirei-me apressado, fazendo, é claro, o percurso inverso. Foram bem poucos os que se aventuraram. Um claustrofóbico seguramente morrerá, se entrar ali.
Após, visitamos a Esfinge, enorme e magnífica com seu nariz quebrado. Por sinal, nada ali é bem conservado. Perdi infelizmente todas as fotos da planície, o filme queimado, sei lá, com exceção de uma foto que mostro abaixo. Tive que me contentar com os postais que comprei no local, parecendo até adivinhar o que aconteceria com a máquina.
Egípcios em frente às pirâmides nos seus camelos ajaezados.
Dispus-me a dar uma volta de camelo. Nativos vestidos a caráter, de feições morenas crestadas pelo sol, alugavam seus animais com arreios multicores. A cor predominante destes era o vermelho. Antes conversei com o guia Tarik. Ele me alertou que os rapazes eram mansos, mas procuravam sempre ser espertos e tirar algum dinheiro a mais dos turistas.
Entrei em contato com um deles num inglês macarrônico e acertei, usando gestos, um passeio de mais ou menos dez minutos, que me custaria um dólar. Subi em seguida no camelo, que se abaixou a um comando de seu dono, que portava na mão um látego fino e pequeno.
Que coisa mais desconfortável! Que animal desengonçado! Mas aguentei firme os dez minutos já sabendo que meus fundilhos iriam sentir, dando umas três voltas no local. O piso natural era somente areia e o camelo bastante alto. Mas calculei que poderia pular, se alguma coisa de ruim acontecesse.
O árabe logo tomou os arreios, pois o animal parou apenas viu ele se aproximar. Pedi, com gestos, para descer, mas o homem me olhou com um sorriso maroto e fez com o polegar e o indicador aquela esfregadela internacional que significa pedir mais dinheiro. Fiz com a cabeça um sinal negativo e enérgico e não dei mais bola para ele. Fiquei a olhar a planície. Havia gente em volta e eu podia até ver o meu ônibus. Não havia perigo físico, então. Era o que me parecia. Quando se está em terra alheia, e tão alheia quanto aquela, o melhor é não querer aparecer muito. Ele começou a ficar impaciente, remexeu-se, até mandar o camelo se inclinar com o pequeno chicote. Desci sem olhar para ele e fui para o ônibus. Meu namoro com as pirâmides terminara. Estava enjoado e com desconforto no traseiro. Mas que não paguei mais que um dólar, não paguei!
Esta foi a única foto que se salvou de minha visita ao Cairo. Eu e o camelo ao lado da estrada em asfalto, que o vento de vez em quando enche de areia.

A quarta pirâmide em tamanho recebe a denominação de pirâmide escalonada. Bem menor que as outras três. Além dela existem mais seis ou sete, todas pequenas. Note-se que são bem grandes, mas pequenas em relação às três famosas.
Ainda em Gizé, planicie enorme de areia na maior parte, existem locais que parecem oásis, com vegetação e palmeiras. Esta esfinge é a de Sakara, nome do lugar em volta dela.

Fomos em seguida ao Instituto Egípcio de Papiros, onde verificamos o processo de sua fabricação a partir de juncos muito verdes, de estrutura triangular, que crescem à beira do rio Nilo. Comprei duas gravuras pintadas em papiro, uma do faraó Ramsés II, que teve quarenta e duas esposas, sendo sua favorita a rainha Nefertiti (ou Nefretiri, ou Nefertari), mãe de seu primogênito morto quando as pragas mandadas pelo Deus de Israel, via Moisés, assolaram o Egito. A outra era uma gravura de um gavião, o deus da segurança e da guerra.


Busto dourado de Nefretiri, rainha do Egito, esposa de Ramsés II.

Almoçamos em um belo barco-restaurante ancorado no Nilo. Comida deliciosa e frutas variadas como sobremesa. As romãs eram enormes, mais parecendo melões. À tarde visitamos o Museu do Cairo. Contemplei impressionado o sarcófago do faraó Tutancamon, feito de peças folheadas a ouro. Sua múmia, muito bem conservada, tem os braços trançados e segura duas hastes douradas e curvas, símbolo do poder que exercia.

Disse-nos Tarik que era a única urna intacta. As outras, ou foram para museus na Europa, ou foram roubadas por salteadores locais, o que não fazia muita diferença. Tutancamon morreu com cerca de vinte anos, dizem alguns historiadores que envenenado por sua própria família. Também não é de estranhar, pois quando o poder é absoluto, tais desgraças costumam acontecer. Não vimos nenhuma referência honrosa a Cleópatra, para os egípcios considerada uma prostituta a soldo dos romanos. Voltamos ao hotel para um descanso em suas piscinas.

À noite fomos jantar num barco que navegava o rio Nilo. Mesas para seis pessoas, tudo com bastante luxo. Num tablado à frente um grupo musical de rapazes se apresentava. Quando cantavam aquelas músicas árabes características, com modulações constantes de voz, até que era bonito. Porém, quando quiseram imitar os Beatles, foi um desacerto. Logo em seguida saíram e apareceu uma moça muito bonita envolta em véus transparentes e multicoloridos. Ia fazer a dança do ventre. Contorcia-se toda ao soar de várias flautas, dançava até graciosamente, e o fez até tirar todos os véus que a cobriam. Ficou com uma espécie de biquini, mas com bastante roupa nos seios e nas partes pudendas. Perante a nudez da mulher brasileira nos carnavais, ela até podia parecer uma freira. Fomos ao convés, vendo a cidade passar rodeada de luzes perante nossos olhos maravilhados. As águas do Nilo deslizavam graciosas e em silêncio. Quando voltamos ao hotel, a madrugada começava.


Gisé. A grande Esfinge e a pirâmide de Quéops.


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sábado, 26 de junho de 2010

Curiosidades da Mitologia greco-romana IV.

Deuses da Mitologia.

Rômulo e Remo sendo amamentados por uma loba. Ao se tornarem adultos, Rômulo mataria o irmão e fundaria a cidade de Roma, que levou seu nome.

Pégaso - Cavalo alado, filho de Netuno e da Medusa. Nasceu do sangue desta, quando Perseu lhe cortou a cabeça. Pégaso auxiliou alguns heróis gregos em sua trajetória na terra. Após isso, foi à morada dos deuses, sendo transformado em constelação.
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Parnaso - Montanha considerada a morada de Apolo e das musas. Ali músicos e poetas buscavam inspiração. Deu origem à expressão Parnasianismo na literatura, forma poética que privilegia o apuro da forma e a métrica perfeita. Olavo Bilac é o nosso maior poeta parnasiano.
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Partenon - templo da acrópole de Atenas. Suas ruínas são sempre a primeira visita, quando se chega à cidade.
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Partunda - divindade romana que presidia os partos.
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Pecúnia - deusa do dinheiro, venerada pelos romanos.
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Pico - rei dos laurentinos, povo ao sul do Lácio. Ao participar de uma caçada, foi visto pela feiticeira Circe, que dele se enamorou. Como Pico a rejeitasse ela, irada, o transformou em pica-pau. Entre os romanos, este pássaro era tido como detentor do poder de prever a chuva. Passou a ser uma divindade agreste, que protegia os campos e as colheitas.
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Pluto - Filho de Ceres, deusa das riquezas. Figurava no cortejo de sua mãe, sob a forma de um jovem que transportava uma cornucópia. Júpiter o privou da vista, a fim de que, ao dispensar seus bens, favorecesse indistintamente ricos e pobres. Hoje a expressão plutocracia significa a dominação e influência da classe rica.
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Pomona - deusa romana que velava sobre os frutos. Daí a expressão pomar, ou pomos. Tinha um bosque sagrado no caminho de Roma.
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Príapo - Filho de Baco e Vênus. Graças a malefícios de Juno, nasceu com um pênis descomunal. Sua mãe, temendo ser ridicularizada, abandonou-o nas montanhas. Os pastores o criaram. Protetor dos jardins e dos pomares, era o deus da virilidade. Foi assimilado a algumas divindades agrestes, sobretudo a Pã. É representado com chifres e orelhas de bode. Dele advém a expressão priapismo, que significa ereção persistente do órgão sexual masculino. Priapo pode significar pênis ou falo.
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Réia Silva - Filha de Númitor, rei da Alba Longa, na península itálica. Devia ser vestal (sacerdotisa virgem) mas, seduzida por Marte, deu à luz os gêmeos Rômulo e Remo.
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Rômulo- Fundador de Roma. Quando nasceu com o irmão Remo, o tio Amúlio mandou que fossem jogados ao Tibre. O rio, porém, os expeliu para as margens, sendo eles criados por uma loba, que os amamentou. Com o irmão fundou uma cidade às margens do Tibre. Quando foram demarcá-la, desentenderam-se e Rômulo matou Remo. Rômulo preocupou-se em povoar a cidade que criara. Chamou até bandidos e assaltantes, pois faltavam cidadãos. Como houvesse poucas mulheres, raptou as sabinas, de um povo vizinho. Rômulo reinou sobre a cidade, criou o Senado e a primeira legião, dividindo os cidadãos em patrícios e plebeus. Era o início de Roma, que foi a cidade sede do grande império onde o sol não se punha. Foi chamado pai da pátria. Quando passava suas tropas em revista, uma tempestade o arrebatou e ele se tornou deus.
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Salus - divindade romana que personificava a saúde, a prosperidade e o bem-estar. Foi identificada com a deusa grega Hígia. Daí as expressões saúde, salutar, higidez, hígido.
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Sono - Filho da Noite e irmão gêmeo da Morte. Habitava os infernos, onde possuía um palácio onde todos dormiam. Tinha forma alada e percorria a terra para adormecer os mortais.
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Tântalo - Filho de Zeus e de uma ninfa. Roubou néctar e ambrosia dos deuses no Olimpo para oferecê-lo às suas concubinas. Revelou aos homens muitas conversas dos imortais. Finalmente matou o próprio filho e o serviu aos deuses num banquete. Foi precipitado no infernos e condenado a padecer fome e sede eternas, pois a água lhe fugia dos lábios e os frutos lhe escorregavam das mãos. Dele se originou a expressão "suplício de Tântalo", quando é muito grande o sofrimento de uma pessoa.
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Tártaro - lugar dos infernos em que eram supliciados os criminosos.
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Terra - nome latino de Gaia. Surgiu do Caos. Seu princípio masculino engendrou o Céu, as Montanhas e o Mar. É representada como uma mulher gigantesca, de formas pronunciadas e seios grandes.
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Ulisses - Nome latino de Odisseum, rei de Ítaca. Participou da guerra de Tróia. Levou dez anos para voltar à sua ilha onde a esposa Penélope o esperava, pois a feiticeira Circe por ele se apaixonou e tudo fez para que ele não retornasse. Teve que passar no local habitado pelas sereias e mandou-se prender ao mastro do navio, para evitar o canto mavioso e mortífero delas.

Ao chegar à ilha, vestiu-se de mendigo, pois nobres pretendiam desposar sua esposa, julgando-o morto. Ela, porém, manteve-se fiel. Ulisses deu-se a conhecer e matou os pretendentes com suas flechas, auxiliado pelo filho Telêmaco. Foi morto por Telégono, o filho que teve com Circe. Sua epopéia é narrada por Homero no livro Odisséia.
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Uterina - divindade romana invocada nos partos. Daí advém a expressão útero.
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Via Láctea - caminho de leite. Estrada que conduzia ao palácio de Júpiter. Quando Juno amamentava o pequeno Hércules, este a feriu, pois já era incrivelmente forte. A deusa repeliu o bebê e o leite que escorreu formou a Via Láctea.
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Zéfiro - era o deus do vento, colérico, que provocava tempestades. Apaixonou-se por Flora, que o recusou por ser violento. Para agradá-la, transformou-se numa doce brisa e a desposou. É representado por um jovem com asas de borboleta.
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Deuses gregos e correspondentes romanos:
(Deuses romanos entre parênteses).
Cronos (Saturno) - Pai de Zeus (Tempo).
Cibele - Mãe de Zeus.
Zeus (Júpiter) - Deus dos deuses.
Hera (Juno) - esposa e irmã de Zeus.
Héstia (Véstia) - deusa dos lares.
Demeter (Ceres) - deusa da vegetação.
Hades (Plutão) - deus das profundezas.
Posseidon (Netuno) - deus dos mares.
Afrodite (Vênus) - deusa do amor.
Hermes (Mercúrio) - deus do comércio.
Hefestos (Vulcano) - deus do fogo.
Ares (Marte) - deus da guerra.
Artemis (Diana) - deusa da caça.
Atena (Minerva) - deusa guerreira.
Baco (Dionísio) - deus do vinho.
Eros (Cupido) - deus do amor.
Perséfone (Prosérpina) - deusa dos mortos.
Hebe - deusa da juventude.


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Tenente Fernando Raulino.

Tenente Fernando Raulino.

No dia 18 de maio de 1949, tropas do Exército realizavam exercícios no campo de manobras de Gericinó, na Vila Militar do Rio de Janeiro. Estava em andamento uma demonstração de tiro real das armas de uma divisão de Infantaria para os oficiais-alunos da Escola de Aperfeiçoamento do Exército. O exercício foi também acompanhado por numerosos oficiais e praças da Polícia Militar do então Distrito Federal, inclusive os alunos de sua Escola Profissional, em que se formavam seus oficiais.

Quando eram disparados tiros de morteiro visando alvos a duzentos metros, uma das granadas explodiu ao deixar o tubo. Da terrível deflagração resultaram vários mortos, a maioria oficiais do Exército, e cerca de sessenta feridos, inclusive o próprio Comandante da Escola de Aperfeiçoamento, coronel Justino Alves Bastos.

Entre os alunos da Escola de Oficiais da PM do Distrito Federal que assistiam ao exercício estava o subtenente da Polícia Militar de Santa Catarina Fernando Raulino, que cursava o terceiro e último ano. Atingido por vários estilhaços no rosto e no corpo, teve morte imediata.

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Nascido em 30 de maio de 1916, Fernando Raulino havia ingressado como soldado na Força Policial Militar catarinense em 18 de maio de 1934. Natural de Florianópolis, era filho de Antônio José Raulino e Júlia Maria da Silva. Foi aluno da primeira turma do Curso de Sargentos, obtendo as três divisas em 03 de setembro de 1935. Foi promovido a segundo sargento em 14 de julho de 1938, a primeiro sargento em 08 de janeiro de 1941 e a subtenente em 9 de janeiro de 1946. Selecionado para cursar a Escola de Aperfeiçoamento Profissional da Polícia Militar do Distrito Federal - onde nossa PM formava, então, os seus oficiais - estava, quando ocorreu o acidente que lhe custou a vida, a poucos meses de concluir o curso e ascender ao posto de segundo tenente.

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O Boletim do Comando Geral (19-05-1949), após transcrever o comunicado oficial de sua morte, publicou o seguinte necrológio:

"Ao transcrever o radiograma acima, este Comando lamenta profundamente o doloroso acontecimento ocorrido ontem nos campos de manobra de Gericinó, e que tanto consterna os sentimentos de todos os que aqui mourejam, uma vez que ocasionou o desaparecimento tão prematuro do nosso meio, do disciplinado, inteligente e esforçado camarada que a fatalidade acaba de colher no verdor de seus anos, e quando terminava brilhantemente o seu curso de preparação ao Oficialato da nossa secular Corporação na tradicional Polícia Militar do Distrito Federal, e ainda, precisamente, na data em que aqui assentava praça, em 18 de maio de 1934. Nesses quinze anos de leais serviços prestados com dedicação invulgar à nossa Força, o subten. Raulino nunca desmereceu, pelas suas belas virtudes militares, o conceito em que era tido por seus superiores e subordinados, que lhe dispensavam, por isso, uma especial estima, consideração e benquerença, porque ele era digno dos nossos melhores aplausos. Com o seu passamento perde nossa Corporação um jovem de quem muito se poderia esperar, e, por isso, o nosso preito de gratidão e profundo respeito pela morte do nosso inesquecível camarada subtenente Fernando Raulino."

O corpo chegou a Florianópolis a 20 de maio, transportado em avião da FAB. No aeroporto, para recebê-lo, encontravam-se o representante do Governador do Estado, o Comandante Geral e uma comissão de oficiais da Polícia Militar, os alunos do Curso de Formação de Oficiais (reativado naquele ano), representantes das Forças Armadas e muitas outras pessoas.

O cortejo parou em frente ao quartel, onde foram prestadas as honras fúnebres regulamentares. Em seguida rumou para Palhoça, onde foi realizado o enterro. Em 26 de junho seguinte, Fernando Raulino foi promovido post-mortem ao posto de segundo tenente. Em 1963 seu nome foi dado a um pavilhão construído no grupamento escola da Polícia Militar, atual Centro de Ensino, na Trindade.

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(Texto de autoria do Coronel Edmundo José de Bastos Junior no seu livro "Polícia Militar: um pouco de História e algumas histórias").

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quarta-feira, 23 de junho de 2010

Capitão Osmar Romão da Silva.

Primeiro Tenente Osmar Romão da Silva - 1935 - Almanaque da Força Pública.

...Ah! Desumanidade dos homens. Vês, tu que és chefe, quantos cadáveres pelos campos? Olha para as trincheiras. Olha, vê milhares de homens sob a chuva de arma na mão, para matar o seu companheiro!... (Trecho do diário de campanha do tenente Osmar, quando da Revolução Constitucionalista de 1932).

Este artigo é súmula de um capítulo do livro "Diário de Campanha" do Capitão Osmar Romão da Silva, excelente trabalho de pesquisa do coronel Edmundo José de Bastos Junior. As fotos foram extraídas do mesmo livro. A gravura do Comandante Régis faz parte do Almanaque da Força Pública no seu centenário (1935).

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Quando da revolução de 1930, que deu o poder a Getulio Vargas, o governo catarinense colocara-se ao lado do presidente Washington Luiz, que foi destituido. Como não poderia deixar de ser, a Força Pública teve a mesma postura do governo catarinense, sendo a última tropa legalista a depor as armas. Muitos oficiais foram compulsoriamente reformados e outros até demitidos, como aconteceu com o comandante, Coronel Pedro Lopes Vieira.

A 19 de novembro do mesmo ano assumiu o comando da Força o Primeiro Tenente do Exército Heitor Lopes Caminha, sendo comissionado no posto de Tenente Coronel. Equilibrado e sensato, o novo comandante tratou de logo normalizar a vida da Corporação. Recompôs o quadro de oficiais, havendo concurso no início do ano de 1931 para preenchimento de vagas de segundo tenente. Entre os inscritos estava Osmar Romão da Silva, natural de Florianópolis, nascido a 23 de Outubro de 1912. Era o mais velho dos cinco filhos de Paulino José da Silva, dono de uma padaria no bairro da Trindade, e de sua esposa Alípia Ferreira da Silva. Transferiu-se a família para São José e Osmar, revelando pendor para as letras, começou a estudar na Escola Pública Antônio Epifânio dos Santos.

Seu primeiro trabalho, ainda bem jovem, foi o de revisor do jornal "O Estado". Submeteu-se depois a exames para a Escola de Sargentos de Infantaria do Exército, sendo aprovado. Quando tentou o concurso para oficial na Força, já era segundo sargento. Aprovado em terceiro lugar, foi comissionado a 21 de Março de 1931 no posto de Segundo Tenente. Em Dezembro do mesmo ano foi nomeado delegado de polícia de Chapecó, onde permaneceu até Julho do ano seguinte.

Em 1932 ocorreu a Revolução Constitucionalista em São Paulo e a Força Pública foi colocada à disposição da Quinta Região Militar. Osmar foi classificado na Segunda Companhia do Batalhão de Caçadores, organizado com 405 homens da Corporação catarinense, embarcando a 29 de julho no vapor Itaipava para São Francisco do Sul, de onde prosseguiria por trem para a frente de operações. O segundo tenente Osmar se conduziu com denodo na batalha, merecendo citações elogiosas, sendo comissionado no posto de primeiro tenente.
Tenentes Osmar Romão da Silva e Ruy Stockler de Souza na campanha de 1932 (foto do arquivo do Coronel Lara Ribas).
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Terminado o conflito com a vitória do Governo Federal, voltou o tenente Romão ao seu posto efetivo na Corporação. Fez parte, como secretário, da primeira diretoria do Clube dos Oficiais, cujo presidente era o major Cantídio Quintino Régis.

Em 25 de Fevereiro de 1933 casa-se com Maria de Lourdes Mayvorne, com quem teria as três filhas Neda, Neusa e Neide.

Promovido a primeiro tenente em 27 de julho de 1933, foi delegado de Polícia em Curitibanos, Lages, Herval, Cruzeiro, Araranguá e por duas vezes em Canoinhas. Foi comandante interino da Companhia de Herval do Oeste, tendo seu desempenho sido objeto de entusiasmado elogio do coronel Régis, comandante geral da Força.

Intelectual, afeito à leitura e ao estudo, esteve sempre ligado a atividades de ensino e aperfeiçoamento profissional. Sempre foi sensível às questões humanas e sociais.

Em agosto de 1938 lança um livro de crônicas, Miséria, em que questiona os poderosos do país, para ele causa da vida miserável do povo. Tal livro lhe rende trinta dias de prisão, aplicada pelo Comando Geral a mando do Secretário de Segurança Pública. No livro Osmar criticava a criação de um novo imposto pela Interventoria Estadual, a taxa de educação e saúde, o que talvez lhe tenha rendido a punição.

No ano de 1939, o tenente Osmar frequentou o Curso de Aperfeiçoamento de Oficiais na Polícia Militar do Distrito Federal no Rio de Janeiro, sendo o primeiro colocado.

Logo após o regresso à capital, ele é convocado pelo Interventor Nereu Ramos para ser seu Ajudante de Ordens no Palácio do Governo. Houve-se o tenente Osmar tão bem no cargo, que tornou-se amigo pessoal do grande político catarinense.
Coronel Cantídio Quintino Régis. Na gravura ele é major comandante da Força Pública quando de seu centenário em 1935.
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Em abril de 1942, Osmar lança o "Curso de Polícia", obra de vasto conhecimento profissional e técnico. O capitão Antônio de Lara Ribas, no prefácio, destaca ser a obra mais importante do gênero já lançada no país. Oficiais de polícia, delegados, advogados, bacharéis, sargentos, todos reconheceram na obra uma orientação de extrema valia para seu labor profissional, tanto que obteve sucesso de publicação em todo o Brasil.
É exonerado da função de ajudante de ordens em 1943, com extenso elogio do interventor por seu trabalho dedicado. É nomeado delegado de Polícia de Serra Alta (São Bento do Sul).
Na verdade, Osmar já estava doente e os médicos tinham recomendado que procurasse o clima de uma cidade serrana. Este era o real motivo de sua transferência. Ali elaborou "Unidade geográfica do Brasil" e "Anais do Congresso de Brasilidade". Foi membro da Associação Catarinense de Imprensa.

Em 23 de Abril de 1944 vê-se promovido a capitão. No início de 1945 foi nomeado prefeito de Serra Alta. No final deste mesmo ano colou grau como bacharel em Ciências Sociais pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras do Paraná. Sua amizade a Nereu Ramos o levou a ser um dos fundadores do Partido Social Democrático em Serra Alta, sendo eleito presidente do Diretório Regional.

Nos primeiros meses de 1946 seu estado de saúde se agrava. É oito de março e sua filha caçula Neide aniversaria. Ele, da cama, consegue vê-la apagar as velinhas.
No início da tarde do dia 10, o capitão Osmar sofreu forte hemoptise (expectoração sanguínea). O médico e amigo Pedro Cominese, chamado às pressas, nada pode fazer. Osmar faleceu às 14 horas daquele dia aos 35 anos de idade.
No dia seguinte, o corpo foi transladado até São José, para o velório na casa da família. A 12 foi sepultado no cemitério da Trindade, com grande acompanhamento, a começar pelo Interventor Luiz Galotti. À beira do túmulo discursaram o tenente Maurício Spalding de Souza pela Força Pública e Pedro Quint pelos amigos de Serra Alta.
O Comandante Régis fez publicar extenso e comovido necrológio.
O capitão Osmar deixou trabalhos inéditos. Crônicas, poesias, e um romance inacabado intitulado Sofrimento.
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Em 29 de Novembro de 1960 a Câmara Municipal de Florianópolis dá seu nome a uma das ruas do bairro Pantanal, próximo ao local onde nasceu o capitão, iniciativa do prefeito Osvaldo Machado.
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Diário de Campanha do Capitão Osmar Romão da Silva. Um dos inúmeros trabalhos de pesquisa voltados à causa policial militar do nosso coronel Edmundo. São páginas de especial valor literário e de resgate de eventos importantes da história da nossa instituição.
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quinta-feira, 17 de junho de 2010

Comandante Geral da PMSC se demite por motivo de ordem moral.

Segundo Tenente Ruy Stockler de Souza na época do Centenário da Força Pública (1935).
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Texto da lavra do Coronel Edmundo José de Bastos Junior. Apenas o resumi e coloquei as fotos e gravura.
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Texto do Boletim Interno 265 de 02-12-1953 do Comando Geral da PMSC:
Comando Geral da PM.
"Tendo este Comando, por motivo de ordem moral, telegrafado ao Excelentíssimo Sr. Governador do Estado, solicitando em caráter irrevogável a sua exoneração, passo nesta data o Comando Geral da Corporação ao Chefe do Estado Maior, Tenente Coronel Duarte Pedra Pires".
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Qual o motivo de ORDEM MORAL invocado pelo Coronel João Cândido Alves Marinho para encerrar seu segundo período como Comandante Geral da PM catarinense?
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Na eleição de 03 de Outubro de 1950 para Governador de Santa Catarina, venceu o candidato da UDN (União Democrática Nacional) Dr. Irineu Bornhausen, derrotando Udo Deeke, do PSD (Partido Social Democrático).
Como Irineu Bornhausen tomaria posse em 31 de Janeiro de 1951, teve bastante tempo para convocar seus auxiliares mais diretos. O cargo de Comandante Geral apresentava dificuldades. O efetivo da PM era inferior a mil homens e não havia mais que cinquenta oficiais.
Os oficiais superiores eram sete: um coronel, um tenente coronel e cinco majores.
O coronel era Antônio de Lara Ribas, no cargo de Secretário de Segurança Pública, e que permaneceu após as eleições. O Tenente Coronel João Elói Mendes era o Comandante Geral Interino. Os dois não permaneceriam nos cargos, pois eram vinculados politicamente ao PSD. Mas tinham ainda tempo a cumprir e não passariam para a Reserva. Obviamente, o cargo não poderia ser ocupado por um major.
Começaram a correr rumores de que o futuro comandante seria um capitão do Exército, do 14 Batalhão de Caçadores do Estreito, muito afinado com o governo que se formava. Os oficiais da PM logo passaram a rejeitar esta possibilidade, tanto que o problema foi discutido numa reunião no Cassino dos Oficiais, hoje salão nobre do QCG. Após acaloradas discussões, foi decidido que poder-se-ia até aceitar um oficial do Exército, mas que pelo menos fosse oficial superior. Foi designada comissão para levar a decisão ao governador eleito. Faziam parte dela o capitão Leônidas Cabral Herbster (este por ter automóvel, coisa rara entre oficiais), o capitão Ruy Stockler de Souza e o Primeiro Tenente Theseu Domingos Muniz.
Segundo Tenente Leônidas Cabral Herbster. 1935, época do Centenário da Força Pública.
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O Tenente Theseu declarara seu apoio ao Brigadeiro Eduardo Gomes, da UDN, nas eleições presidenciais, o que o deixou em sintonia com o Governador eleito, embora o Brigadeiro tivesse sido derrotado por Getulio Vargas.
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Foi a Comissão até a residência do Dr. Irineu em Cabeçudas, que ouviu com interesse a exposição do Tenente Theseu e os tranquilizou, afirmando que não se colocaria contra os anseios da Corporação.
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Quando assumiu o governo, o Dr. Irineu convocou para o Comando Geral um coronel da Reserva da PM, João Cândido Alves Marinho, ligado ao PSP (Partido Social Progressista), que apoiara a UDN na eleição anterior, elegendo dois deputados à Assembléia catarinense. O coronel Marinho já exercera o cargo de Comandante Geral de 06-03-48 (quando fora promovido a coronel) até 26-12-49, data em que se transferiu para a Reserva Remunerada.

O Capitão João Cândido Alves Marinho em foto de 1935, quando do Centenário da Força Pública, depois Polícia Militar.

Assumiu o coronel Marinho no início do ano de 1951, tranquilizando assim todos os oficiais da PM catarinense. No seu terceiro ano de Comando, 1953, o relacionamento entre o Dr. Irineu e o coronel Marinho começou a se deteriorar, tanto que a PM não foi contemplada com reajuste de salários obtido pelos funcionários civis. No final de Outubro de 1953 o Governador viajou para o Oeste a fim de inaugurar obras, entre elas o quartel da então Quarta Companhia de Polícia Isolada de Chapecó. O coronel Marinho não foi convidado para integrar a Comitiva. Tal desfeita revoltou a oficialidade.

Em 20 de Novembro, o jornal oposicionista "O Estado" publicava com destaque um artigo intitulado "PROTESTO", assim mesmo em letras garrafais, assinado pelo capitão Ruy Stockler de Souza. Oficial de atitudes firmes e claras, fora como Tenente Ajudante de Ordens de Nereu Ramos em sua Interventoria Estadual, ligado por isso ao PSD. Isso não impediu o capitão Ruy de iniciar sozinho o seu protesto, pois afirmava ter de honrar os seus galões.

E prosseguia: Não defendo Comandantes! De mim não necessitam! Como se não bastasse havermos ficado esquecidos quando todos os servidores do Estado foram contemplados com melhoria de vencimentos, passamos agora pelo vexame de ver inaugurados os nosso quartéis sem que desse histórico e solene acontecimento participasse o nosso Comandante, desta forma ostensivamente menosprezado. Todos podem calar, por comodismo... Menos eu, graças a Deus!

Seja ele um grande chefe ou um comandante mirim, meu amigo ou desafeto, em horas tais só uma coisa me ocorre: é o Comandante Geral chefe de uma classe à qual pertenço, somos partes inseparáveis de um todo. Se luva no rosto é lançada, o braço é que o ultraje defende!

E finalizava: "... Se me calo me acovardo, e covarde é coisa que não combina com uniforme (...) Fico com a verdade (...) e não apanho em silêncio! Fica o meu protesto!

O artigo teve grande repercussão. O Comandante Marinho, pelo regulamento, era obrigado a punir o Capitão Ruy, cujo artigo configurava grave infração disciplinar. Mas, moralmente, não tinha como punir o subordinado que de forma tão vigorosa o desagravara. Não deve, por isso, ter tido a menor dúvida em seguir o caminho indicado pela sua dignidade. Deixou o Comando.

Eis aí o motivo de ORDEM MORAL mencionado em seu pedido de exoneração.

Dr. Irineu Bornhausen, governador de 31 de Janeiro de 1951 a 31 de Janeiro de 1956.

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P.S. - Aqui fica um agradecimento especial ao Coronel Edmundo José de Bastos Junior, nosso expoente maior das letras milicianas. Desde que iniciei este blog, vem ele se dispondo com grande boa vontade e presteza a colaborar, uma vez que dispõe de alentada enciclopédia de informações e dados policiais militares, fruto de sua pesquisa constante, que nos ensejam conhecer melhor nosso não tanto calmo, mas glorioso passado. Será sempre uma honra tornar público via internet tudo o que o coronel Edmundo se dispuser a levar ao conhecimento de nossos leitores. Já sugeri até que ele tenha o seu próprio Blog, pois seria a memória viva por excelência de nossa Corporação.

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Caros leitores. Estou viajando hoje para Piratuba com a minha Sílvia, a fim de descansar um pouco e retemperar as energias. Dançaremos bastante, já que estão previstos um baile de máscaras e uma festa junina. Tudo no estilo terceira idade, que é o melhor baile que existe. Ninguém briga, ninguém urra, não há drogas, as músicas são mais calmas e variadas. Segunda-feira volto, se Deus quiser, com força total.

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domingo, 13 de junho de 2010

O último Czar russo.

O monge ortodoxo Rasputin, considerado a eminência parda na Rússia pela influência que detinha junto aos imperadores russos Nicolau e Alexandra.

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Nicolau Romanov, o último czar russo, que assumiu o poder em 1894 com a morte do pai, Czar Alexandre III. A expressão CZAR deriva dos Césares romanos. Não fora preparado para governar, sendo fraco e sem autoridade, apesar de deter o poder autocrático e total no seu país. Nicolau, nascido em 1868, tinha 26 anos.

Numa espécie de premonição, ele afirmou ao tomar o poder: O que me acontecerá? O que acontecerá à Rússia? Não me sinto preparado para ser um Czar. Isso não impediu que governasse o grande país do leste europeu até 1917, quando abdicou em favor de um governo provisório. No ano seguinte foi executado com sua família pelos bolcheviques de Lênin, que instalaram o comunismo na Rússia. A respeito de Nicolau dizia Guilherrme II, da Alemanha, seu contemporâneo: ...só pensa em morar numa casa de campo e cultivar nabos!...

Por razões de Estado, Nicolau casou-se com a princesa alemã Alix de Hesse-Dormstadt. Ela não morria de amores por seu novo país e não era muito popular. Casaram-se em Novembro de 1894 e ela abraçou a fé ortodoxa, adotando o nome de Alexandra Fyodorovna.

O casal teve cinco filhos: as princesas Olga, Maria, Anastácia, Tatiana e o herdeiro do trono (czareviche) Alexei, o caçula, nascido em 1904.

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O czareviche (pequeno czar) ao nascer trouxe consigo a hemofilia, herdada das casas reais europeias, que mais tarde soube-se provir da rainha Vitória, da Inglaterra, de quem os imperadores russos eram primos. Alexei crescia frágil e doente, o que preocupava demais seus pais. Nas crises do filho eles apelavam para Deus, e daí adveio a influência que um monge chamado Rasputin passou a exercer sobre eles. Numa ocasião em que os médicos se preparavam para atender o rapaz, chegou Rasputin e os impediu, dizendo que o salvaria com suas orações. O enfermo melhorou consideravelmente e isso foi o toque de influência que faltava sobre o casal real, principalmente a mãe, de quem chegou-se a comentar que teria um caso com o monge.
A nobreza russa odiava Rasputin e isso decretou a sua morte. O príncipe Félix Yussupov foi o mentor, usando sua bela mulher como isca, já que o monge era dado a conquistas amorosas. Deram-lhe uma dose cavalar de cianureto numa bebida, mas o monge, extremamente forte, resistiu. Yussupov, então, descarregou o revolver no peito dele, mas não foi o suficiente e o monge ainda se movia. Amarraram-no então e o jogaram num buraco de gelo que cobria o rio Neva. O corpo somente foi achado por obra de um sapato do monge que caíra e ficara sobre a neve.
Na autópsia descobriu-se que ele não morrera em função do veneno nem dos tiros. Morrera por afogamento. Apesar dos apelos da imperatriz, Nicolau somente baniu Yussupov para o exílio de uma confortável casa de campo e nada fez contra os outros conspiradores.
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Nesse meio tempo crescia Vladimir Ilitch Ulianov (Lênin), nascido em Simbirsk, cidade da Rússia Meridional, em 1870. Formou-se advogado bem cedo, e passou a frequentar as rodas de opositores à monarquia. E tinha todos os motivos para isso. Seu irmão mais velho Alexandre fora preso e morto por enforcamento em 1887, depois de participar de um atentado mal sucedido contra Alexandre III, pai de Nicolau. Na ilustração acima Alexandre está à esquerda, em pé, a mão esquerda apoiada no braço do pai Ilya. Lênin, menino, está sentado à direita.

Lênin passou a frequentar reuniões clandestinas que tinham como objetivo a queda da monarquia russa. Era discípulo de Marx, cujas ideias grassavam por toda a Europa. O barbudo alemão vaticinou que uma revolução comunista seria iniciada na Inglaterra, por ter este país um operariado mais consciente e ativo por seus direitos e a nação ser a mais industrializada. Errou redondamente, pois a utopia comunista foi acontecer na Rússia, um país atrasado e eminentemente agrícola.

Na Rússia existia a Duma, um parlamento sem muito poder e ao qual Nicolau não dava importância. Foi seu erro, pois seus parentes europeus iam soltando os anéis para não perder os dedos. Nicolau acreditava no poder total que detinha em razão da vontade de Deus.
Em 22 de janeiro de 1905, em São Petersburgo, para onde Nicolau se deslocara com a família, centenas de homens, mulheres e crianças, à frente o padre Georgi Gapon, protestavam pacificamente pedindo oito horas de trabalho diário, um rublo diário como salário-mínimo, além de maior representação da população na Duma. São recebidos a tiros pela polícia czarista, que promove um massacre que ficou conhecido como Domingo Sangrento.
Este episódio iria modificar completamente as relações de poder. Nicolau estava ameaçado.
Greves e levantes passam a ser comuns. Nicolau vê-se obrigado a abdicar e no país instala-se um governo provisório, chefiado por Alexandre Kerenski, nomeado primeiro ministro, e representantes da Duma, o parlamento, além de chefes militares. Este governo não dura um ano, pois os bolcheviques de Lênin tomam o poder em 07 de Novembro de 1917. Nicolau e a família são mandados em degredo para a Sibéria.

A família Romanov. Na fila da frente, da esquerda para a direita: Olga, o czar Nicolau, Anastácia, Alexei eTatiana. No fundo Maria e Alexandra, a czarina.

Em Abril de 1918 os Romanov são transferidos para Ekaterinburg, nos Urais, pequena cidade controlada pelo soviete regional (poder do povo). Em julho do mesmo ano seus carcereiros recebem do diretório central em Moscou, chefiado por Lênin, a ordem para executá-los. E isso acontece em 18 do mesmo mês. O czar, a mulher e os cinco filhos, mais alguns criados, são mortos a tiros, sendo o serviço terminado com o uso de baionetas, para acabar de vez com os agonizantes. Conta-se que Anastácia fora ferida de leve, sendo morta a golpes de baioneta. O exército branco, de partidários da realeza, ainda lutava contra os bolcheviques vermelhos de Lênin. E parecia se aproximar dos Urais para libertar a família. Este motivo, além do ódio pessoal de Lênin em razão da morte do irmão, foram determinantes para o extermínio de toda a família real. Enterraram-nos às pressas sob uma ponte, exceto os corpos de Alexei e Maria, sepultados numa floresta próxima.

Em 21 de janeiro de 1924 Lênin morre em Gorki, de hemorragia cerebral. Tinha 53 anos.

A morte de Lênin abriu caminho para Stalin, cujo nome verdadeiro era Josef Vissarionovitch Dzhugashvili, (à direita da foto) tomar o poder total. Governou a Rússia, anexando mais quatorze países para formar a União Soviética, detendo influência total nas nações do leste europeu, que formariam a chamada Cortina de Ferro. Exportou para o mundo os "ideais comunistas", sendo o poder vermelho tentado em quase todos os países do globo, incluído o Brasil de Prestes, Lamarca, Marighela, José Dirceu, Lulla e Dilma Rousseff.
Stalin morreu no poder em 1953, sendo seus crimes denunciados pelo seu sucessor Nikita Kruschev. A Rússia somente se livraria do comunismo (hoje vê-se que parcialmente) com a era Gorbachev, no início da década de 1990.
Stalin pode ser considerado o segundo maior genocida do século Vinte, atrás somente do ditador timoneiro da China, Mao-Tse-Tung. O terceiro genocida denominou-se Adolf Hitler, todos eles de um século onde se chacinou mais gente do que em toda a história anterior da civilização.

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Os ossos da família real já tinham sido exumados, exceto os de Maria e Alexei, os últimos a serem achados por arqueólogos russos. A Igreja ortodoxa daquele país, na década de noventa, canonizou o Czar Nicolau e toda a sua família. Descendentes da realeza hoje, à frente a grã-duquesa Maria Romanova, atual chefe da Casa Imperial Russa, pedem à Justiça que o crime seja considerado "político" e não homicídio premeditado, como definiu a Procuradoria Russa, evitando assim reparações contra o Estado. Bem ao contrário do que está acontecendo em certo país ao sul do Equador, onde presos políticos reais e supostos estão ficando milionários.

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sexta-feira, 11 de junho de 2010

Coronel Theseu: um homem honrado!

Da Série Biografias dos Oficiais do Grupo João Elói Mendes (Parte V).
Coronel Theseu Domingos Muniz (1919-2007).

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"Nunca pedi favores ou graças especiais a quem quer que seja, nem tirei proveito ou vantagens pessoais no exercício de minha profissão. Militar e profissionalmente, sempre procurei ser justo e correto. Se errei, muitas vezes foi por ações bem intencionadas, do que por omissões ou covardias deprimentes. Sempre tomei a sério minha profissão e sinceramente entusiasmado agi em benefício da ordem social e do bom nome da minha Corporação, e em tudo isso pagando, para ser honrado e digno, o preço das promoções preteridas, transferências prejudiciais e punições arbitrárias".
Trecho de carta aberta de 18 de fevereiro de 1957, quando o capitão Theseu se transferiu pela primeira vez para a Reserva. Esta carta lhe valeu 15 dias de prisão, sendo mesmo assim promovido a Major em 04 de Março, passando para a Reserva em 07 de Julho, no posto de Tenente Coronel.
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Theseu nasceu em Paranaguá, Paraná, em 12 de Fevereiro de 1919, morando lá até os doze anos, quando a família se mudou para o Rio de Janeiro. O pai, Themístocles Ferreira Muniz, era oficial da Marinha de Guerra. Logo em seguida se vê transferido para a Escola de Aprendizes de Marinheiros em Florianópolis.
Theseu, aqui, resolve ingressar na Escola aos quinze anos como aprendiz. Depois, se a sorte o ajudar, poderá ingressar na Escola Naval e seguir carreira. Consegue chegar até Primeiro Sargento Aprendiz, comandante da Primeira Divisão de Alunos da Escola. Ao fim do Curso, primeiro colocado, recebe o Prêmio Marcílio Dias por Mérito Intelectual.
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Maio de 1935. O aluno aprendiz de marinheiro Theseu desfila à frente do Grupamento da Marinha, nas solenidades de inauguração do Estádio Renato Tavares, nas comemorações dos cem anos da Força Pública em Florianópolis.
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Mas o sonho de Theseu de seguir carreira naval se viu desfeito. Em Dezembro de 1935 é desligado da Escola, após inspeção médica, por deficiência visual.
Um ano e meio depois, em Primeiro de Abril de 1937, ele ingressa nas fileiras da Força Pública como soldado pronto, já que possuía o curso de aprendiz na Marinha.
Faz o Curso de Sargentos e em seguida viaja para o Rio de Janeiro a fim de frequentar como cadete a Escola Profissional da Polícia Militar da capital federal, no Curso de Oficiais. Em 1942 o pai Themístocles vem a falecer de um derrame cerebral.
Neste mesmo ano Theseu é promovido a segundo tenente por conclusão do Curso de Oficiais.
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Em Abril de 1944 presta queixa ao Comandante Geral, Tenente Coronel Cantídio Quintino Régis, contra ato do Sub-Comandante Antônio Martins dos Santos, por considerar que foi destratado em público pelo mesmo oficial na frente de civis. Como resultado, vê-se punido disciplinarmente e transferido para Curitibanos, o que não o impede de expedir documento pessoal ao Governador Nereu Ramos (interventor na época), julgando injustas a punição e a transferência.
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Foi Delegado Especial de Polícia na jurisdição de toda a fronteira do Estado com a Argentina, com sede em Dionísio Cerqueira. Neste local iria ocorrer um caso, em 1953, que marcaria toda a sua vida. O delegado do lugarejo vizinho, Barracão, no Paraná, tenta prender o coletor Ildefonso Macedo numa zona de meretrício. Este reage a tiros. A autoridade pede apoio ao Delegado Theseu, que para lá se dirige. É também recebido a tiros, mas reage no cumprimento de seu dever legal e em legítima defesa, vindo a matar o agressor.
O capitão Theseu tem de gastar de seu bolso na justiça, uma vez que o Governo era omisso em defender seus funcionários, mesmo em serviço. Os colegas, através do Clube dos Oficiais, resolvem fazer uma coleta para ajudá-lo nos gastos do processo, mas Theseu, embora com muita gratidão e fidalguia, recusa. Considera injusto os amigos tirarem do seu pão e da família para o defenderem. A honra e a altivez eram para o brioso oficial seus bens maiores. É absolvido pela Justiça, como não poderia deixar de ser, dois anos depois.
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Em 1954, um sargento do Destacamento de Araranguá é expulso da Corporação por atitudes reconhecidamente indignas. Isso não impede que a Justiça determine o seu retorno, pois o graduado se valeu de todos os recursos de que dispunha junto a políticos. Observa-se que este quadro não é nem foi nenhuma novidade na Corporação. E continua atualíssimo.
O Capitão Theseu se rebela contra o ato, que para ele depõe contra os mais comezinhos princípios da hierarquia e disciplina, vigas-mestras da Corporação. Diz ele em reunião no Clube dos Oficiais. sobre o ocorrido:
"A anulação da expulsão do Sargento Oliveira, todos nós sabemos, foi devida a insistentes pedidos de políticos e figurões sem escrúpulos, que em suas orgíacas campanhas não hesitam em ferir o que a Polícia Militar tem de melhor e mais digno".
Por este ato é punido pelo Comandante Geral Interino Mário Fernandes Guedes. Entra com recursos contra a punição, mas não logra êxito. Como além dele, mais doze oficiais foram punidos em razão daquela reunião no Clube, resolveram criar o "dia do Treze", chegando tal ocorrência a ser publicada no jornal Barriga-Verde de Canoinhas, para onde o Capitão Theseu fora transferido logo após a punição.
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Em 1957 pede transferência para a Reserva Remunerada, após vinte anos de serviço efetivo, em protesto contra os politiqueiros que tanto mal fazem à Corporação. Publica carta aberta em que expõe os seus motivos, sendo punido disciplinarmente antes da transferência, pelo Comandante Geral, Coronel Guedes.
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Em 1961 é reconvocado para o serviço ativo da Corporação e classificado Chefe do Departamento de Educação Física, curso que concluíra anos antes na Força Pública de São Paulo. Em 24 de julho de 1962 é nomeado Diretor da Diretoria de Administração e Assistência Médica e Social na PM.
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Em 25 de Setembro de 1962 solicita ao governador seu retorno à Reserva, por não se considerar com o apoio de escalões superiores no cargo que exercia, em razão de decisões que tomara. Já era Coronel. O Comandante Geral, Coronel Lara Ribas, atende o pedido e ele ingressa pela segunda vez na Reserva Remunerada.
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Em 1964, atendendo a pedido do Secretário de Segurança Pública, passa a responder pelo expediente da Delegacia de Furtos, Roubos e Falsificações, acumulando também a de Costumes e Menores. A 30 de Agosto de 1965 é dispensado das funções e nomeado Diretor da Diretoria de Polícia Civil do Estado de Santa Catarina, com jurisdição sobre todas as delegacias. É exonerado do cargo em Outubro de 1966, por discordar de ato do Secretário de Segurança Pública, seu superior imediato, tendo expressado tal em carta aberta.
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Forma-se Bacharel em Direito pela Universidade Federal de Santa Catarina em 1973, com 54 anos.
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É designado Corregedor Policial da Secretaria de Segurança Pública em 10 de julho de 1974. Em abril de 1976 solicita exoneração por ter um recurso negado pelo Secretário.
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Participou pela equipe de Xadrez de Florianópolis dos Jogos Abertos de 1978 em Caçador, tendo a equipe se sagrado vice-campeã. Recusa-se a receber a medalha, por considerar que no verso dela há propaganda do governo (Governar é encurtar distâncias - governador Antônio Carlos Konder Reis). Theseu julgou a inscrição inadequada para a grandeza dos esportes olímpicos.
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Em 1999 publica o livro "Em defesa da honra e da dignidade", narrando os êxitos e vicissitudes de sua movimentada carreira. Este artigo tem como base o livro referido.
Rconhece no livro o mérito de seu companheiro coronel Edmundo José de Bastos Junior, que o incentivou e muito a escrever suas memórias. Continuou dando aulas no Centro de Ensino da PM, fardando-se nas solenidades militares, entusiasta que sempre foi da sua condição de oficial da Polícia Militar catarinense.
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Dados a mim repassados pelo Coronel Edmundo:
O Coronel Theseu foi casado em primeiras núpcias com Armandina Camisão Muniz, falecida, e que lhe deu o filho Alexandre, hoje perto da casa dos cinquenta e sete anos.
O oficial casou depois com Maria da Graça, com quem teve a filha Beatriz. Sua segunda esposa veio também a falecer.
O coronel Theseu faleceu a 16 de outubro de 2007 em Florianópolis, deixando viúva a esposa Ondina, conhecida como Landa.
A mãe do nosso biografado se chamava Jandira Pirath Manso Muniz e, além de Theseu, teve mais seis filhos com o marido Themístocles.
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