No ano de 2012 foram gastos 59.600.000,00 de reais com cartões corporativos federais.
Em 2011 eu estava com minha mulher Sílvia em
Caldas Novas, Goiás, num hotel quatro estrelas, o máximo que se poderia pagar
numa excursão. Como a minha metade da laranja não entra em avião nem amarrada,
costumamos, vez por outra, realizar alguns passeios de ônibus, o que até
justifica, pois se revela bem mais barato. Afinal, já criamos os nossos filhos
e eles estão bem. E para um oficial aposentado de polícia que só tem reajuste
em seu soldo de oito em oito anos, sempre dependente da boa ou má vontade (normalmente má) do senhor governador, está
até muito bom, ou de regular tamanho.
Ao sairmos, fui acertar as contas na
recepção do hotel, com o que gastei de cerveja e refrigerantes. Meu gasto
dava 42 reais, pois a estada estava inclusa no roteiro de viagem e era problema
da guia. Há que economizar para se passear sempre, além de beber moderadamente
para atender aos apelos pretensamente bem comportados do governo e das tevês.
Eis que uma moça bonitona e glamurosa se
postava na minha frente. Chegou a vez dela e a recepcionista, depois dos
cálculos, anunciou que a conta da jovem estava em oito mil reais e alguma
coisa. Lembro-me bem dos oito. Diminuí, fiquei até um pouco encolhido com os
meus quarenta e dois reais. Pobre!...
─ Cheque, cash ou cartão?
Indagou a solícita atendente.
─ Cartão, respondeu a moça
muito desinibida.
E sacou da bolsa um cartão que, pela
proximidade em que eu estava, logo atrás dela, embora meio deficiente de vista,
pude constatar ser um cartão corporativo com o sinete vetusto e pomposo da
nossa idolatrada República, a das enormes tetas, não sei se executiva,
legislativa ou judiciária. Ela pagou sem um ai, sem um reclamo, sem um franzir
de sobrancelha. Afinal, o dinheiro não era dela. E não costumamos ser muito
econômicos com o dinheiro dos outros.
E lá se foi embora (a moça, não a República)
muito lampeira e rebolativa, depois que a Hidra poderosa pagou o seu gasto bem avantajado.
Bolas, talvez fosse avantajado só para mim!... Nas questões relevantes do
mensalão, a nova e pós-moderna invenção republicana, as cifras nunca se
traduziram em mil, mas em milhões.
Lembrei um pouquinho indignado e triste do
que me tiram anualmente no famigerado imposto de renda, que serve mais para
imposto sobre salário, pois renda se sonega com muita e graciosa facilidade.
Pensei protestar, como fazem aqueles segmentos de interesse que denominam povo.
Mas em que praça?... Com que bandeira?... A do Avai? Tenho vergonha de
protestar!...
Afinal, para que protesto se a situação dantesca, no fundo, corresponde
ao chamado povo comissionado encafifado no poder?... E a mocinha até que foi
econômica, pois não se hospedou num hotel cinco estrelas. Franciscana e
espartana, ela!...
Minha mulher jura que ela estava ali com um político de Brasília.
E alvíssaras aos os cartões corporativos!...
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Show de crônica!
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