O lulopeti$mo tinha razão: a culpa é dos olhos azuis.
Estes já foram os piratas do mar e com séculos de ação política chegaram a este ponto cultural que o texto retrata.
Até porque sabem que, se desrespeitarem, o bicho pega. Nossa décima geração chegará aonde eles estão hoje, os quais já estarão umas 15 gerações na frente. Nós estamos no rabo de fila.
Há alguns anos, entrei numa estação de metrô em Estocolmo, a tão civilizada capital da tão primeiro-mundista Suécia, e notei que havia entre muitas catracas comuns uma de passagem livre. Questionei a vendedora de bilhetes o porquê daquela catraca permanentemente liberada, sem nenhum segurança por perto, e ela me explicou que era destinada às pessoas que por qualquer motivo não tivessem dinheiro para a passagem. Minha mente incrédula e cheia de jeitinhos brasileiros não conteve a pergunta óbvia (para nós!): e se a pessoa tiver dinheiro mas simplesmente quiser burlar a lei?
Aqueles olhos suecos e azuis se espremeram num sorriso de pureza constrangedora? Mas por que ela faria isso? me perguntou. Não lhe respondi. Comprei o bilhete, passei pela catraca e atrás de mim uma multidão que também havia pago por seus bilhetes. A catraca livre continuava vazia, tão vazia quanto minha alma brasileira e envergonhada.
(Por Décio Tadeu Orlandi, bacharel em Letras pela USP e mestre em Literatura pela UFG.)
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