Roberto Rodrigues de Menezes.

Roberto Rodrigues de Menezes



segunda-feira, 8 de novembro de 2010

O anel dos Nibelungos (parte II).

Alberico, rei dos nibelungos, consegue enganar a vigilância das ondinas e rouba o ouro de Votã. Porém o deus, com mais poderes, arrebata o ouro roubado e o anão jura vingança.
*************************
Na noite que antecedeu aquela manhã fatídica, em que Sigismundo perdeu a vida pela espada de Hundings, ele tomou Sigislinda em seus braços, numa clareira da floresta, e a amou com toda a intensidade. Ela se entregara por completo, pois até aquele momento não conhecera o amor.
E estes momentos de intensa paixão geraram uma vida, um menino, que tão logo nasceu a mulher confiou à guarda de um anão nibelungo, evitando a ira de Hunding. Mantendo-se a custo com a saudade do guerreiro e não podendo ter nos braços o filho, maltratada pelo marido violento, Sigislinda não tardou a morrer, indo ao encontro do amado na eternidade. O menino Sigefredo, gerado por aquele desesperado amor, criou-se sem medo, arrostando todos os perigos. Seu padrasto Mime era na verdade irmão de Alberico, tendo os dois nibelungos resolvido esperar que o garoto se tornasse adulto para realizarem um plano de vingança contra Votã. Mime sempre o alertava sobre a desgraça do pai, morto por interferência do deus das alturas celestes. Já adulto, procurou o guerreiro o lugar em que o pai fora atingido pela espada de Hunding, e lá achou os pedaços prateados da arma que antes pertencera ao próprio Votã, e que Sigismundo retirara de um tronco para depois fugir com a amada Sigislinda para a floresta.
*************************
Ajudado por Mime e Alberico, não foi dificil para o jovem forjar novamente a espada, que ficou perfeita e com seus poderes renovados. Era a arma que somente seria usada por quem desconhecesse o medo, e Sigefredo se sentia assim.
*************************
Mime leva o jovem até a caverna do dragão Fafner. Este, assim que vê o guerreiro, avança para ele com um urro que faz tremer a montanha e a gruta. Sigefredo não se intimida e responde ao ataque com sua espada prateada. Desvia-se com agilidade da investida e, num pulo, enterra sua arma por inteiro no corpo da fera, que cai com estrondo. O dragão se retorce, agoniza, e finalmente morre com um urro que ecoa nos vales. O herói tem agora a seu dispor o ouro de Votã, mais o anel e o elmo. Dispõe-se a retomá-lo e adentra na gruta, mas percebe atrás de si uma sombra e se volta como um raio. É Mime, que levanta o punhal pata atingi-lo pelas costas. Furioso, decepa de um só golpe a cabeça do anão.
O dragão morto ainda esguichava sangue, e algumas gotas sujaram as mãos do guerreiro. Ao colocar a mão na boca para limpar-se, sente que o sangue lhe provoca uma ardência e, maravilhado, passa a entender todos os gorjeios e cantos dos pássaros em sua volta. Convence-se do poder daquele sangue e o passa no corpo. Com isso se tornará invulnerável aos golpes dos inimigos. Mas, apressado, esquece de passar no meio das costas, onde as mãos têm mais dificuldade de tocar.
*************************
Sigefredo é avisado pelas aves que uma valquíria, Brunilda, jaz adormecida numa colina. Parte para lá de imediato, disposto a livrar a guerreira de seu destino. Mas o pai Votã a tudo observa. Impôs o castigo à filha desobediente e não permite que a livrem. Desce à terra e toma a forma de um ancião, armado de poderosa lança.
*************************
Mas os deuses também, como os homens, cometem enganos. O guerreiro sem medo o enfrenta com a espada encantada que um dia fora dele e quebra a lança, deixando Votã inerme e sob o jugo do inimigo. Eis que se aproxima o fim dos deuses.
*************************
A valquíria ainda dorme recostada em seu elmo, tendo em redor de si uma barreira de chamas que o pai tivera o cuidado de formar, antes do encontro com o guerreiro. Este, porém, transpõe a barreira sem se intimidar e socorre finalmente a bela mulher.
Sigefredo e Brunilda se apaixonam e casam. Ele, apesar de bem mais jovem, tem, para ela, a mesma aparência do amado que morrera sob os golpes de Hundings. O casal possui agora o anel, o elmo e as pedras de ouro de Votã. O marido conta à feliz valquíria o seu segredo. Seu corpo é invulnerável, com exceção de um pequeno ponto em suas costas. Mas confia que seus inimigos terão sempre que enfrentá-lo pela frente e de peito aberto.
Mas Alberico, bem velho, ainda planeja vingança. O filho Hagen, forte e aguerrido, que nascera de uma relação sua com uma mulher da estirpe dos homens, não é baixo nem atarracado como o pai. O nibelungo cria o filho com a missão de executar a sua vingança. Dá a ele uma poção mágica que pede que entregue a Sigefredo, como se vinho fosse. Os dois se encontram na mata e Hagen, em nome da hospitalidade, lhe oferece a bebida, que o guerreiro toma num brinde. Retorna ao lar, mas a beberagem já fizera os seus efeitos. Regressou a custo, pois não mais se lembrava de onde morava. E dali por diante esquece de tudo o que lhe ocorrera antes. Ignora Brunilda que, desesperada, não consegue entender a súbita mudança do marido. Sigefredo ainda faz mais. Repele a esposa e entrega-a a um outro guerreiro, Gunter, desposando a irmã da valquíria. Cega pela dor e pelo ciúme, Brunilda vaga pelos ermos distantes. Encontra Hagen e a ele revela o segredo da invunerabilidade do marido infiel.
*************************
É quase fim de tarde e Sigefredo está na seio da floresta, a ouvir o canto dos pássaros. Hagen consegue se aproximar sorrateiro e enterra a espada nas costas do guerreiro, no ponto indicado pela valquíria. O sol vai morrendo no horizonte, ao mesmo tempo em que a alma do jovem guerreiro é levada aos céus por uma penalizada valquíria.
*************************
*************************
O mesmo fado cruel e terrível coubera ao filho de Sigismundo e Sigislinda. O corpo inerme do herói
é colocado numa pira de fogo, como reza o costume, onde se consumirá. Hagen vasculha a casa do infeliz casal, mas não consegue descobrir os tesouros desejados pelo pai nibelungo. Brunilda os escondera na floresta. Ela toma os objetos todos, que julga serem a causa de sua ruína e, com as faces revoltas e os cabelos em desalinho, joga-os de volta ao rio Reno. As ondinas, atentas, se encarregam de devolvê-lo ao lugar de onde nunca deveria ter saído, no mais profundo das águas.
*************************
Brunilda desiste da vida, que lhe é impossível sem a presença do marido. Monta seu cavalo e se lança como doida em direção à pira em que jaz o amado. Consome-se no fogo com ele. Uma enorme labareda se eleva até os céus e atinge o Walhalla, o palácio de cristal, onde os deuses aguardam resignados o seu destino. Tudo explode em turbilhões enormes e o céu enegrecido a custo se refaz.
Acabava para sempre a grandeza, o poder e a morada dos deuses.
******************************
P.S. Podemos observar que, apesar das culturas tão diversas do nosso planetinha, elas possuem sempre algum ponto em comum. A adormecida valquíria nos relembra a Bela Adormecida a esperar seu príncipe, guardada por um feroz dragão. A parte vulnerável do corpo do guerreiro Sigefredo nos remete à guerra de Tróia, onde o invulnerável Aquiles só tem como ponto fraco o seu calcanhar. As ondinas nada mais são que a sereias gregas e mesmo as iaras indígenas. Por que não comparar Sigismundo e Sigislinda com Paris e Helena?
Os deuses costumam, independente de nacionalidade, morar no alto dos céus e em meio a nuvens douradas. As valquírias podem ser comparadas às ninfas dos bosques, que vivem a fugir dos sátiros e faunos.Vinganças, poções e desgraças tornam-se comuns e recorrentes. Nem sempre o final será feliz, a exemplo da mitologia greco-romana. Mas os pontos coincidentes demonstram que vivemos mesmo numa aldeia global, e nossos usos e costumes por vezes tão díspares, possuem alguns pontos em comum. E assim é feita e refeita a história dos homens, verdadeira ou mítica, principalmente por aqueles que vencem as disputas e porfias, seja através da coragem, ou da cizânia e dissimulação, como costuma acontecer muito nos tempos atuais. Nossa América Latina serve como exemplo da segunda hipótese.
******************************
Pesquisa e resumo com base no Tomo V da Enciclopédia Trópico. O conto "A lenda do tesouro do rio Cubatão", de nossa autoria, postado neste blog nos dias 11 e 12 de agosto deste ano, foi elaborado com base nesta lenda nórdica.
******************************

Nenhum comentário:

Postar um comentário