"... valente, destemido, feroz, dominador. Era, de fato, um chefe. Temido e obedecido sem discussão, firmara o seu prestígio nos entreveros e o seu domínio se alicerçava na dureza com que reprimia as rebeldias. A sua lei eram o rabo de tatu e o fuzilamento. (Osvaldo Cabral - A Campanha do Contestado - segunda edição pg 250).
Tendo conseguido escapar de Santa Maria, arrasado pelas forças do governo, Adeodato procura reorganizar-se, mas sofre, com os seus caboclos, seguidos revezes diante dos contingentes policiais e vaqueanos. Desbaratado o último reduto, em Dezembro de 1915, Adeodato logra, como das outras vezes, escapar, e só mais tarde, em agosto de 1916, praticamente abandonado pelos seus companheiros, é preso e removido para Florianópolis.
Um repórter que o entrevistou na cadeia pública de São Francisco do Sul, - de onde prosseguiria viagem para a capital por via marítima - declarou-se surpreendido porque ao invés do "... semblante perverso e hediondo de um bandido cujos traços fisionômicos estivessem a denotar a sua filiação entre os degenerados e os desclassificados do crime...", viu-se, pelo contrário, diante de "... um mancebo em todo o vigor da juventude, de uma compleição física admirável, esbelto, fronte larga, lábios finos, o superior vestido de um buço pouco denso, cabelos crespos, olhos de azeviche, pequenos e brilhantes, dentes claros, perfeitos e regulares, , ombros largos, estatura mediana, tez acaboclada e rosto levemente alongado..." (O Estado - 18-08-1916).
A notícia de que Adeodato viajava para Florianópolis a bordo do "Max", fez com que o trapiche da Rita Maria ficasse apinhado de gente ansiosa por ver de perto o famoso bandido. A polícia, porém, foi ao encontro do vapor e trouxe o preso em sua lancha, desembarcando-o no Trapiche da Praia de Fora (hoje Avenida Beira-Mar Norte).
Recolhido à cadeia pública, que ficava no Quartel do Regimento de Segurança, Adeodato foi interrogado no dia seguinte, 12 de Agosto, pelo próprio Chefe de Polícia, Ulisses Costa, presente o Capitão do Exército José Vieira da Rosa, (de notável participação na Campanha) e um jornalista de "O Estado".
Nascido em Lages, filho de Manoel Telêmaco Ramos (morto em Perdizinhas), Adeodato tinha, à época de sua prisão, 29 anos de idade. Analfabeto, residia, antes de se engajar na luta, no lugar Trombudo, município de Curitibanos, onde, segundo declarou, dedicava-se à agricultura. O depoimento de Adeodato (O Estado, 13-08-1916) é a confissão de uma impressionante série de atrocidades que inclui a eliminação, com um tiro na cabeça, de sua própria mulher Maria Firmina da Conceição - com a qual, segundo suas próprias palavras, vivia bem, só a tendo assassinado por ordem de Elias de Morais - a morte de numerosas pessoas, entre as quais vários chefes fanáticos como Aleixo Gonçalves, Eusébio Ferreira dos Santos, Joaquim Germano e outros, e até mesmo comandados seus, inclusive mulheres e crianças, além de saques e depredações contra fazendas e propriedades na zona conflagrada. Nem mesmo seu padrinho Neco Pepe foi poupado, tendo sido assassinado durante o assalto e incêndio de sua casa, executados por um bando de jagunços do qual Adeodato confirmou ter feito parte. Na verdade, ele comandou o ataque. (Maurício V. de Queiroz, Messianismo e Conflito Social, pg 266).
Era, provavelmente, o melhor exemplo da mistura do misticismo primitivo com o banditismo puro e simples, tão presente na luta do Contestado.
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Condenado pela Justiça, Adeodato cumpria sua pena na própria Cadeia Pública. (A Penitenciária do Estado só viria a ser inaugurada em 1930). Ali, a 23 de março de 1917, foi alvo de uma tentativa de morte por parte de outro sentenciado, Bruno Haendchen - também condenado por homicídio - com o qual se desaviera e que, com um sabre-punhal que conseguira arrebatar de um soldado da guarda, vibrou-lhe um golpe no peito, ferindo-o gravemente (O Dia, 23-03-1917).
Finalmente, no dia 23 de janeiro de 1923, foi morto pelo capitão Antônio Trogílio de Mello, no curso de uma tentativa de fuga. O episódio foi assim narrado pelo oficial-de-dia à Força Pública, tenente Boaventura Alves da Silva, em parte que, na mesma data, dirigiu ao Subcomandante da Corporação: Capitão da Força Pública Trogílio Antônio de Mello.
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"Hoje, às 9 1/2 horas, veio à minha presença o Snr. Carcereiro da Cadeia Pública, solicitar-me quatro praças a fim de vistoriar a prisão número 4, ocupada pelo preso Deodato Ramos, que estava arrombando a mesma prisão. Satisfazendo a sua solicitação para lá se encaminhou o referido número de praças, e em pessoa assisti à abertura da porta do presídio, e, nessa ocasião, o mencionado preso, que estava atrás da porta armado de um cacete, atirou-se contra a guarda, conseguindo por ela passar e apoderar-se de um fuzil Mauser da sentinela das armas, procurando com ele assassinar ao Snr. Capitão Trogílio Mello, a mim e às demais praças. Teria de lamentar graves perdas se não fosse o auxílio prestado pelo Snr. Capitão Trogílio Mello, que em sua própria defesa pôde alvejá-lo com tiros de revólver, prostrando-o por terra e sem ação para manejar a arma que o bandido tinha em seu poder. Com o pronto auxílio prestado pelo mencionado oficial, com calma e sangue frio, ficou sanada a triste ocorrência de hoje. Quartel em Florianópolis, 03 de janeiro de 1923. (ass) Boaventura Alves da Silva, segundo tenente oficial-de-dia."
Adeodato faleceu por volta das dezessete horas daquele mesmo dia.
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Guerra do Contestado (1912-1916). Conflito entre posseiros, jagunços e donos de terras da região do hoje meio-oeste catarinense disputada por Paraná e Santa Catarina. Os agricultores, possseiros e madeireiros CONTESTARAM a doação de extensas terras, consideradas devolutas, para colonização (madeira, agricultura, pecuária, estrada de ferro) em favor uma Companhia Inglesa de Colonização (Southern Brazil Lumber). Tropas federais e dos dois Estados foram para lá combater a revolta, tendo a Força Pública catarinense participado das ações. A atuação de "monges" (um chamado João Maria, outro que adotou o mesmo nome e Atanas Marcaf, de origem síria) agregou à revolta o componente messiânico e religioso. Em 1916 as tropas legalistas acabaram com a revolta.
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que merda
ResponderExcluirTA O Ó´DO BOROGODO,TA ORRIVEL
ResponderExcluirÓTIMO. Muito obrigado, foi de grande serventia pra mim. estou vivendo o Adeodato no teatro e foi muito bom poder pesquisar esse material pra composição de meu personagem.
ResponderExcluirConheço todas essas histórias contadas pela minha mãe que ouviu dos avós e bisavós que conviveram na guerra e conheceram o Deodato em pessoa
ExcluirTá bom, mas falta ainda muuuuuita informação....
ResponderExcluire mesmo falta mais conhecimento nessa historia
ResponderExcluirmais esta bom
ResponderExcluirQue versão mal contada de como foi a morte de Deodato. Morto não fala.
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