Roberto Rodrigues de Menezes.

Roberto Rodrigues de Menezes



domingo, 19 de dezembro de 2010

O ouro de Moscou (Parte III).

O livro Camaradas, de William Waack. Leitura excelente.
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O trabalho do repórter William Waack é magnífico porque traz dados novos e desmistifica o romantismo que existia sobre o assunto. (Bolívar Lamounier - cientista político).
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05. O ouro e o levante.
Celestino Pavarenti, rico comerciante em São Paulo, de origem italiana, era dono da Café Pavarenti. A alta sociedade paulista frequentava o seu palacete. Prestes e Olga Benário se encontravam com Pavarenti. Prestes sempre afirmou que somente pediu para ele que conseguisse um local no Rio onde o casal pudesse ficar. No entanto, não era só isso. Prestes e Olga tinham vindo de Moscou para o Brasil via Paris, Nova York e Buenos Aires, como se fossem o casal Antônio Vilar e Olga Bergner Vilar. Celestino Pavarenti concordou em receber em seu nome, em sua conta no Banco Francês e Italiano, o "ouro de Moscou", dinheiro mandado pelos soviéticos para financiar o levante comunista. Ele entregaria o dinheiro a Prestes. Mas Pavarenti, na verdade, não sabia que o dinheiro vinha de Moscou . Pensava ser de outras fontes, como o dinheiro que Prestes recebeu de Getúlio, ou "dinheiro da indústria do café".
Prestes recebia salários de Moscou. As provas são copiosas. E era muito dinheiro, pois naquela época o aluguel de um apartamento de classe média alta no Rio situava-se entre 40 e 70 dólares. O dólar tinha alta cotação.
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Pavarenti e seu café. Ele recebia dinheiro em sua conta para Prestes.
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O levante de Prestes foi precipitado. Superestimou suas forças, despreparadas. Subestimou as forças do presidente Getúlio Vargas, demonstrando desconhecer o Brasil da época. **********************
**** Stuchevski, agente soviético no Rio, recebeu de Moscou em 1935, 27.341 dólares para o levante. ************************* A tentativa de golpe contra Getúlio em 1935 deu em nada, sendo mal preparada e executada do início ao fim. Ocorreu no Nordeste e no Rio de Janeiro. Militares comunistas executaram colegas de farda pelas costas. O capitão Agildo Barata simplesmente executou um colega que não quis aderir. No final, aconteceram operações desastradas que o Exército e a Polícia de Getúlio conseguiram dominar até com facilidade. *************************

Luiz Carlos Prestes (sentado à direita) com companheiros na Argentina em 1929.
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06. O assassinato de Elza.
Elza, de dezesseis anos, se tornara amante de Miranda, o secretario geral do PCB. Depois da Intentona, os dois foram presos a três de janeiro de 1936. Elza foi estrangulada depois de solta, julgada por um "tribunal revolucionário" dirigido por Prestes, pois era suspeita de ter denunciado os companheiros à Policia. Esta suspeita não se comprovou até hoje. Foi estrangulada com uma corda por três membros do PCB e seus ossos quebrados para que o corpo coubesse num saco, sendo enterrada nos fundos da casa no Rio. A queima de arquivo aconteceu em 02 de março de 1936.
Prestes e Olga seriam presos em sua casa no Meyer a cinco de março de 1936.
Elza, a garota, ou Elvira Cupelo Colônio.
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Moscou, com a derrota, retraiu-se, para evitar problemas. A rede de espionagem no Brasil ruíra. A partir de julho de 1936, enviados soviéticos que conseguiram fugir começavam a chegar em Moscou. Em 25 de outubro de 1937, ainda desesperado com a morte de Elza e desalentado com o pouco caso que dele faziam os companheiros do PCB, Miranda remete a eles carta em que se desliga do partido. Esta carta deveria ser destruída, mas foi encontrada em Moscou décadas depois, quando abertos os arquivos da KGB,
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07. Concluíndo.
Olga Benário.
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Em 1938 o levante comunista no Brasil era um episódio encerrado para o Komintern. Após uma grande inquisição, os dirigentes de Moscou chegaram à conclusão que suas diretrizes tinham sido corretas. O seu cumprimento por comunistas brasileiros e pelos agentes estrangeiros enviados é que fora incorreto. Como sempre, Moscou nunca errava. Vários agentes soviéticos foram parar em campos de concentração, torturados ou fuzilados. Prestes repetiria até o final de sua vida que os erros tinham sido cometidos por brasileiros e não pelos "bem intencionados" companheiros soviéticos. Aconteceram na segunda metade da década de trinta campanhas na Europa pela libertação de Olga e Prestes. Ele foi condenado em 1936 pelo levante e solto em 1945, mediante anistia e em razão da queda de Getúlio. Olga morreria nas mãos dos nazistas, na Páscoa de 1942. Tais campanhas, muitas delas com Dona Leocadia á frente. eram custeadas por Moscou e sua propaganda.
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Toda correspondência ente Prestes no Brasil e Olga na Alemanha era monitorada por Moscou.
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Pavel e Sofia Stuchevski foram executados pela NKVD (depois KGB) sociética em 1938. Jonny de Graaf também foi vítima da polícia política moscovita no mesmo ano. Jan Jolles teve morte trágica em Guayaquil, no Equador.
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Arthur Ernst Ewert, preso no Brasil pela polícia de Getúlio, foi barbaramente torturado, perdendo o juízo. Em 1945 uma irmã conseguiu levá-lo para Berlim. Esteve internado num hospital até morrer em 1959.
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Rodolfo Chiodi e sua mulher Carmen, presos no Brasil, foram deportados para a Argentina. Prestes, que não suportava Chioldi, o denunciou em Moscou, mas nada foi feito.
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Manuilski morreu cego e decrépito em Kiev, na Ucrânia, em 1959.
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Dona Leocádia faleceu no México em 1943, enquanto o filho estava preso no Brasil. Prestes foi condenado pelo levante e pelo assassinato de Elza. Em 1945 foi anistiado. Os crimes comunistas sempre são consideraods com leniência como "políticos". Com a revolução de 1964, Prestes e a família se exilaram em Moscou.
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Luiz Carlos Prestes.
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Miranda foi para a Bahia e lá morreu pobre e esquecido no final da década de quarenta. De Martins e Tampinha, executores de Elza, não se ouviu mais falar.
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Prestes aliou-se a Getúlio nas eleições de 1950 e foi eleito senador, enquanto Getúlio era eleito presidente. Coligava-se com o responsável maior pela morte de sua mulher Olga.
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Prestes dirigiu o PCB até a década de oitenta. Morreu em 1990 com 92 anos, sem ter o desprazer de ver sua União Soviética desmoronar com Gorbachev.
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Nas entrevistas que deu até a morte, Prestes sempre afirmou: "Não tinha nada que ouvir qualquer ordem da Internacional. Não havia nada disso. É preciso desmentir tudo isso".
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Os arquivos da KGB iriam desmenti-lo.
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No dia 03 de Maio deste ano postei artigo sobre "Olga, o filme". No dia 25 de Setembro narrei com mais detalhes a morte de Elza, a garota. O blog está à disposição dos leitores para consulta.
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