Roberto Rodrigues de Menezes.

Roberto Rodrigues de Menezes



quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

O Pré-modernismo na Literatura Brasileira. (Parte VI).

A expressão Pré-modernismo foi cunhada por Tristão de Athaíde e se estende pelas primeiras três ou quatro décadas do século XX.
Neste período os valores se dispersam e a estética se torna bem eclética. A prosa do período voltou a ser dominada pelo Nativismo. O Regional se sobressai com Euclides da Cunha, que descobriu o homem brasileiro e a terra tal como é. O Nativismo deste período não deve ser confundido com o nativismo romântico e seus tipo postiçamente quase perfeito. O homem e a terra são mais autênticos, pois desromantizam-se. O caráter nacionalista também se acentua na Literatura.
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Expoentes do Pré-modernismo brasileiro:
01 - Catulo da Paixão Cearense. (Maranhão 1863 - Rio 1946).
Foi residir no Ceará aos dez anos. Alguns anos depois transfere-se para o Rio, onde serviu ao Ministério da Viação.
Obra: Cantos Fluminenses, Sertão em Flor, Meu sertão.
Mais que regionalista, foi sertanista. Tirou para sua obra a forma do linguajar caipira. Embora fosse homem de gabinete, acertou por instinto as vibrações da alma brasileira. Salpicou seus versos de imagens líricas e penetrantes:

"Coisa mais bela neste mundo
não existe
do que ouvir um galo triste
no sertão se faz luar.
Parece até que a alma da lua
é que descanta
escondida na garganta
desse galo a soluçar."

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Cumpadre, quanta maldade!
Cumadre, que falsidade!
O Bera D'Água, o Aruera,
o Pedro Caxinguelê,
o Venanço, o Zé Curinga,
a Mariquinha Sapê,
diz tanto verso bunito
e nunca prendeu a lê.
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02 - Henrique Maximiliano COELHO NETO. (Maranhão 1864 - Rio 1934).
Filho de português e de uma índia civilizada. A família vai morar no Rio quando ele tinha seis anos. Estuda no Colégio Pedro II. Tenta Medicina, mas desiste e parte para o Direito. Não se forma também. Partidário do Abolicionismo e da República, ocupou vários cargos públicos no Rio de Janeiro.

É nomeado lente do Pedro II e participa da política como deputado pelo Maranhão em duas legislaturas.
Obra: A Capital Federal, Miragem, O Rajá de Pandjab, Rei Negro, Fogo Fátuo, Sertão, Treva, Banzo. Estes são alguns títulos de sua vasta obra.
Colaborou com cerca de 50 jornais. Construiu magistralmente seus contos à moda oriental. A Bíblia era o seu livro predileto. Foi proclamado em 1928 o príncipe dos prosadores brasileiros. A ausência de atualidade vocabular, em vista de seus termos eruditos, faz com que seja apreciado por reduzida parcela dos garimpadores do idioma.
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"Se Hamlet houvesse conhecido o automóvel, certamente não teria dito no monólogo famoso: Morrer...dormir...mais nada!... E dizer que com um sono, colocamos remate a todas as angústias do coração e aos mil ataques naturais que são a herança da carne. Morrer... dormir...dormir... sonhar, talvez!... Afortunados tempos! Lá o morrer morre-se como nunca se morreu... quanto a dormir, duvido!...
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03 - Euclides da Cunha (Rio 1866 - Rio 1903).
Órfão de mãe, foi criado pelas tias. Jovem ingressa na Escola Militar do Exército, de onde é expulso. Faz-se jornalista em São Paulo. Retorna ao Rio e estuda na Escola Politécnica. Toma parte na campanha de Canudos como repórter do "Estado de São Paulo". Retorna e é nomeado professor de Lógica no Colégio Pedro II. Em 1903 morre baleado, ao tirar satisfações com o amante da mulher Ana de Assis. O escritor chegou a atingir o amante, um jovem oficial do Exército, mas o revide veio rápido e o matou.
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Obra: Os Sertões (sua monumental obra), Contrastes e Confrontos, À margem da História.
Rebelde por princípio, detestou a escravatura e aderiu à República. A posteridade fez jus a Euclides. Seus insistentes traços sociológicos sobre a raça e o meio físico brasileiros, se não são integralmente aceitáveis, são entretanto vigorosos e originais. Tinha estilo forte. Todos os escritos de Euclides trazem a marca de seu caráter.
"Antônio Conselheiro: e surgiu na Bahia o anacoreta sombrio, cabelos crescidos até aos ombros, barba inculta e longa; face escaveirada, olhar fulgurante, monstruoso, dentro de um hábito azul de brim americano; abordoado ao clássico bastão, em que se apoia o passo tardo dos peregrinos...Tornou-se logo alguma cousa de fantástico ou mal assombrado para aquela gente simples. Ao abeirar-se da rancharia dos tropeiros aquele velho singular, de pouco mais de trinta anos, fazia que cessassem os improvisos e as violas festivas.
Precisava de alguém que lhe traduzisse a idealização indefinida e a guiasse nas trilhas misteriosas para os céus..."
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04 - Afonso Henriques de LIMA BARRETO: (Rio 1881-1922).
Era mulato e passou a infância na ilha do Governador. Ingressou na Escola Politécnica, mas não completou os estudos. Conseguiu por concurso um emprego na Secretaria de Guerra. Entrega-se à imprensa e mais tarde ao álcool, em consequência do qual morreu solteiro, na idade de apenas 41 anos.
Obra: Recordações de Isaías Caminha, Triste fim de Policarpo Quaresma, Numa e ninfa.
Isolado por sua condição humilde e racial, fez-se sozinho e não teve auxílio. Voltou à classe média seu sarcasmo pungente. Ridicularizou o funcionalismo público e alvejou satiricamente alguns figurões da época.
Advertido por beber, retrucou: O que prejudica o Brasil não é o álcool; é a burrice!
Não possuía o burilamento impecável de Machado de Assis. Escrevia com a alma ferida. Nos último anos seus livros receberam justa admiração, pelos tipos que criou.
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05 - José Bento MONTEIRO LOBATO. ( Taubaté 1882 - São Paulo 1948).
Formou-se em Direito em São Paulo. Uma herança o deixou por sete anos fazendeiro abastado. Montou uma editora para publicar suas produções. Esta editora foi o embrião da grande Companhia Editora Nacional. Residiu no Rio e esteve por quatro anos em Nova York como adido comercial do governo de Washington Luís. Não se deu bem com o Estado Novo de Getúlio Vargas e exilou-se voluntariamente na Argentina por algum tempo. Morreu quase repentinamente em São Paulo, aos 66 anos.
Obra: Urupês, Cidades Mortas, O poço do visconde, Emília no país da gramática, Os 12 trabalhos de Hércules, etc. A Editora Brasiliense publicou obra completa de Monteiro em 30 volumes. Escritor prolífico e de qualidade, foi o melhor autor da literatura infanto-juvenil brasileira, onde alia o ameno, o pitoresco, o instrutivo. Tem estilo sedutor, personalíssimo. Foi elogiado por Rui Barbosa, e algum tempo depois era o escritor mais lido no Brasil. Baseia-se muito no lado pérfido das ações humanas, sendo adepto do evolucionismo, expondo-se por isso às críticas de autores mais convencionais. Sua obra foi traduzida para o espanhol na Argentina. Suas criações foram base para o grande sucesso da Rede Globo de Televisão que foi a série " O Sítio do pica-pau amarelo".
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"Atacado pela onça, vi romper do mato o primeiro caçador. Era justamente o meu sogro.
-- Atira, nhô Vado, gritei eu.
Que atirar nada! O raio do homem ficou tão estuporado de me ver na goela da onça que estarreceu no lugar.
-- Atira, nhô Vado!...
Que nada!...
Nisto houve jeito de eu desentalar a espingarda e entrouxar o cano na goela da onça. Estrondei o tiro e o bicho moleou de banda. Eu estava em pedaços, mas não sentia dor nenhuma. Só me lembro que, ainda no chão, puxei a espingarda de dentro da onça, virei o cano para o lado do meu sogro e casquei nele o segundo tiro, junto com o nome ofensivo à defunta avó da minha mulher, coitada! De "reiva". Depois veio a dor e perdi os sentidos. Resto de Onça tomou fôlego:
-- E fiquei assim. O braço direito sem carne, sem osso inteiro, foi preciso um médico cortar co'a serra. A cara e o peito foram sarando e fiquei assim, resto de onça, mas homem ainda para escorar o diabo.
(Cidades Mortas).
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06 - Plínio Salgado (São Paulo 1895-1975).
Político, escritor, jornalista e teólogo, fundou a Ação Integralista Brasileira, movimento tradicionalista, patriótico e nacionalista, com o que granjeou críticas contundentes da esquerda marxista.
Estudou em Pouso Alegre. Foi redator do Correio Paulistano. Entrou na política com Júlio Prestes e foi deputado em seu Estado. Militou sempre na imprensa, chefiando vários jornais e movimentos políticos.
Obra: Romances: O estrangeiro, O esperado, O cavaleiro de Itararé., etc.
Biografia: A vida de Jesus.
Inteligência robusta, foi reconhecido como grande literato. Exilou-se em Portugal com o Estado Novo de Getúlio Vargas.
Os romances de Plínio são simbólicos. São Paulo, em geral, serve de cenário. Criticou e expôs a degradação moral da sociedade de seu tempo. Orador reconhecido, a sua prosa flui harmoniosa e cheia de sentimentos.
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"Mingote puxou a reza. Mulheres amarelas, mulatos troncudos, faziam coro. E os clarões pisca-piscas dos pavios pintavam no teto e nas paredes morcegos inquietos, asas trepidantes de mariposas."
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"Sapos-ferreiros, na sensibilidade dos intervalos pesados de silêncio de chumbo: -- Tan-Tan! Tan-Tan! Estão construindo o esquife de bronze".

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"A madrugada madrugou orvalhada e desapontada com o conviva suspirado que chega em atraso, de relógio na mão".
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"No cotovelo da estrada, próximo ao córrego, uma paineira saiu do mato e estende os braços verdes, empunhando guirlandas. E um ipê, que encomendou crisântemos falsos, trouxe braçadas de flores amarelas. Os angicos também vieram, segurando os cabelos com pentes de macaco.
E os ingás atiram cipós-serpentinas e barbas-de-pau iluminadas de aranhóis de apoteose. Há um cheiro amoroso de sassafrás e lírios-bastões de São José. Mas, um bando de piriquitos-palhaços amoita-se e dissimula-se numa fronde. Gargalha uma vaia num voo surpresa. Explode, na manhã cegante, o "requiem" carnavalesco! O sino da matriz de Mandaguari chorou por três mil réis"
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Curso de Literatura Brasileira - Ébion de Lima - Tomo III.
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