A luta do povo cubano tratando para que o comunismo não se consolidasse incrementava-se dia a dia. Vorazes incêndios consumiam grandes depósitos e lojas da capital. Centenas de hectares de semeadura de cana-de-açúcar eram pasto das chamas e as noites cubanas eram iluminadas por aquelas gigantescas fogueiras. As bombas demoliam redes telefônicas e elétricas, descarrilavam os trens; os entrechoques armados entre os patriotas e as forças repressoras, nas cidades e nas montanhas, eram constantes.
À medida que a resistência aumentava também aumentava o terror do governo. Diante dos pelotões caíam culpados e inocentes. Nas montanhas, quando as tropas de Castro prendiam os patriotas, eram fuzilados no local da captura e os médicos forenses abriam-lhes o abdômen para tentar localizar o restante dos revoltosos, guiando-se pelos tipos de alimentos que tivessem no estômago.
Em toda ilha os pelotões de fuzilamento não cessavam de executar. Naqueles dias, o capitão Antonio Nuñes Jimenez declarou que, dali por diante, o ano de 1961, que havia sido cognominado pelo governo como o "ano da educação", iria se chamar o "ano do paredon". E sua predição foi correta.
Os condenados à morte, ao sair do julgamento, não voltavam para os pavilhões. Eram levados para celas pequeninas, situadas no final da galeria 22, onde se alojavam os militares do exército revolucionário acusados por roubo, drogas e outros crimes comuns. Esses presos ficavam separados dos outros pelo pequeno pátio rodeado por altas grades, que constituía o rastilho da fortaleza e evitava o contato físico com eles; mal podíamos vê-los do nosso pátio.
Os condenados à morte eram confinados naquelas celas individuais. Para chegar-se a elas tinha-se que passar ao longo do pavilhão dos presos comuns militares. Durante este percurso, acompanhados pelo escolta, com as mãos amarradas às costas, eram insultados e recebiam todo tipo de humilhações por parte daqueles criminosos comuns, que tentavam talvez ganhar méritos com a guarnição, ou que canalizavam realmente o seu ódio contra os que enfrentavam a revolução que muitos deles apoiavam. Mas nem sempre eram apenas os poucos instantes de passagem pelo pavilhão que eram aproveitados pelos delinquentes comuns para agredir e humilhar os condenados à morte. Havia os que se punham a segui-los até as celas, às quais tinham acesso, e lá continuavam a ofendê-los, negando-lhes nas últimas horas a paz e o recolhimento que lhes permitissem rezar, recordar a vida, meditar. As autoridades não ocultavam seu beneplácito neste procedimento e, quando havia prisioneiros políticos nas celas da morte, distribuíam bebidas alcoólicas aos presos comuns, para que entoassem a "Internacional" e festejassem o triunfo da revolução.
Muitos dos condenados à morte, longe de se sentirem derrubados ou amedrontados com tanta maldade, respondiam com arengas políticas e denunciavam o marxismo diante daquela chusma.
Quando o esquadrão de guardas os conduzia ao paredão de fuzilamento, ao passar pelo pavilhão 22, eram despedidos com gritos de "Viva Fidel, viva a revolução".
Desde que a caminhonete com os componentes do pelotão de fuzilamento passava a entrada que leva aos porões, escutava-se o inconfundível ruido do motor nos pavilhões e nas celas dos condenados, que percebiam aproximar-se o momento decisivo. Lembrávamos seus filhos órfãos, a viuva, a mãe transida de dor. Também nos assaltava a ideia de que o próximo poderia ser um de nós.
No tablado, diante dos sacos de areia, os refletores iluminando tudo... Levantavam os fuzis e um relâmpago ensurdecedor ecoava por todos os porões. Depois do tiro de misericórdia alguém sempre soluçava. Houve noite de dez, doze fuzilados. Foi então que Deus começou a se tornar um companheiro constante para mim, e a perspectiva da morte era uma porta para a vida eterna, um passo das trevas para a luz eterna.
Muitos dos condenados à morte, longe de se sentirem derrubados ou amedrontados com tanta maldade, respondiam com arengas políticas e denunciavam o marxismo diante daquela chusma.
Quando o esquadrão de guardas os conduzia ao paredão de fuzilamento, ao passar pelo pavilhão 22, eram despedidos com gritos de "Viva Fidel, viva a revolução".
Desde que a caminhonete com os componentes do pelotão de fuzilamento passava a entrada que leva aos porões, escutava-se o inconfundível ruido do motor nos pavilhões e nas celas dos condenados, que percebiam aproximar-se o momento decisivo. Lembrávamos seus filhos órfãos, a viuva, a mãe transida de dor. Também nos assaltava a ideia de que o próximo poderia ser um de nós.
No tablado, diante dos sacos de areia, os refletores iluminando tudo... Levantavam os fuzis e um relâmpago ensurdecedor ecoava por todos os porões. Depois do tiro de misericórdia alguém sempre soluçava. Houve noite de dez, doze fuzilados. Foi então que Deus começou a se tornar um companheiro constante para mim, e a perspectiva da morte era uma porta para a vida eterna, um passo das trevas para a luz eterna.
************
Agradeço ao amigo Anatoli pelo comentário pertinente. Continuarei postando assuntos relevantes deste livro;
*******************************
*******************************
Nenhum comentário:
Postar um comentário