Doutor Velazco.
Eram constantes na Circular três, as buscas aos rádios que escondíamos, para contato com o exterior e mesmo as rádios cubanas, agora todas fiéis a Castro. Os guardas se amontoavam na saida e distribuiam baionetadas e correntadas às mãos cheias. Ás vítimas eram mandadas sair das celas sob uma chuva de golpes, protegendo a cabeça com as mãos.
Lembro-me de uma revista na Circular 2. As escadas estavam tomadas pelos guardas, que batiam selvagemente nos presos que iam descendo. Já estávamos quase todos no térreo, restavam alguns retardatários. Entre eles o Dr. Velazco, um preso alto, negro, vestido com uniforme completo. Usava óculos redondos, pequeno, de lentes transparentes. Como sempre, ele andava da mesma maneira que falava, com parcimônia, pronunciando cada sílaba, imperturbável, lentamente. Nós do térreo pedíamos que se apressasse, para evitar que batessem nele. Ao chegar no último lance de escada, com seu inseparável leque de papelão, com que costumava se abanar tranquilamente, os guardas descarregaram uma série de pancadas furiosas nas costas dele. O Dr. Velazco não movia um só músculo, como se as costas que recebiam o castigo não fossem suas. Ergueu-se um rugido de indignação:
- É o médico, gritávamos, não batam mais nele. Apesar das pancadas, o doutor não se apressou em descer as escadas, deixando os guardas furiosos. E um deles, que estava no segundo andar, jogou-se para trás, projetou metade do corpo fora do corrimão, segurando-se com uma das mãos e com a outra, com a qual brandia um facão, deu-lhe uma última pancada com a lâmina de prancha. Ele sentiu, mas não gritou. Aproximamo-nos dele e, com o seu falar parcimonioso, disse-nos que não tinha importância.... E procurou um lugar junto da torre, colocou ali seu banquinho e sentou abanando-se. Eu tinha certeza de que suas costas ardiam, queimadas como deveriam estar a pele e a carne pelas pancadas. Mas ele se manteve imperturbável.
Em princípios de 1961 começaram a afluir ao presídio prisioneiros pertencentes aos rebeldes que, em numerosos focos de revoltosos, operavam em Escambray. Através deles ficamos conhecendo detalhes da gigantesca operação que o governo havia desencadeado: mais de 60 mil efetivos participaram do se chamou limpeza" de Escambray".
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