Roberto Rodrigues de Menezes.

Roberto Rodrigues de Menezes



segunda-feira, 26 de novembro de 2012

ACADEMIA DESTERRENSE DE LETRAS.




No dia 22 de novembro de 2012, dia do Livro, assumi a cadeira 36 da Academia representativa da nossa capital, Florianópolis, que antes de ser Floripa era denominada Nossa Senhora do Desterro, ou somente Desterro, título não de agrado de alguns. Acontece que o governador Hercílio Luz, para agradar o marechal Floriano Peixoto, propôs a mudança à Assembleia (1894). Mas famílias ilustres da capital, ligadas ao Império, foram fuziladas na Ilha de Anhatomirim por um preposto de Floriano, o coronel Moreira César. Daí que alguns historiadores não aceitam o nome Florianópolis. Nossa Academia relembra como era chamada a capital dos catarinenses.
Na fila de cima, da esquerda para a direita: Pilati, Isaque, Augusto Teodoro, Zanon e Nereu Na fila do meio: Telma, Roberto, Vera, Geraldo (sem balandrau), Hiamir, Maura e Osmarina. Sentados Leatrice, Augusto Coura, Kátia, Heralda, Vilca e padre Ney.
Aos caríssimos confrades e confreiras a minha saudação, no momento em que transpasso os umbrais do nobre sodalício. Entraram comigo Leatrice e Vilca.



Tenho como patrono da cadeira 36 o médico e poeta desterrense José Cândido de Lacerda Coutinho.
Excerto da oração acadêmica:

Assumo hoje a cadeira 36, como primeiro membro, neste castelo de honoráveis letras, que tem como patrono o eminente médico e poeta José Cândido de Lacerda Coutinho, nascido em Desterro em 15 de dezembro de 1842 e falecido no Rio de Janeiro, onde se radicou, em 02 de novembro de 1900. Lutou como alferes na guerra do Paraguai e no seu retorno formou-se em Medicina em 1869. Sua formatura coincide com a publicação de sua peça de teatro “Quem desdenha quer comprar”. Um ano antes publicara a comédia “A casa para alugar”. Deputado provincial por Santa Catarina, exerceu seu nobre ofício de médico por algum tempo em Desterro, onde também foi professor de História, Português e Filosofia. Colaborou com a imprensa da ilha, sobretudo no jornal “O despertador”. Seu primeiro trabalho poético, Greenhalg, é a exaltação de um jovem oficial herói da Batalha do Riachuelo, obra que o tornou respeitado no universo literário da época. Mas foi com o seu trabalho poético “Ovidianas’, burilado à luz da imortal Metamorfoses, do grande poeta romano Públio Ovídio, nascido no reinado do imperador romano César Augusto, na minha modesta concepção, que o Doutor e poeta Lacerda Coutinho se superou. Logrei adquirir num sebo virtual duas peças teatrais e esta magnífica ode poética. Ele maneja uma constante melancolia, paradoxalmente com a sátira, que instrumentaliza sua graça e verve especiais. Diz sobre esta obra o grande crítico literário e escritor Tristão Alencar de Araripe Junior: “poemas deliciosos, em versos escandidos com perfeição, que revelam o mestre da arte poética”.
As Ovidianas acontecem no Olimpo, lugar sagrado de morada dos mitológicos deuses greco-romanos, onde a beleza e o fino erotismo perscrutam e mesmo satirizam os desejos e vontades de divinos personagens, como Vulcano, Minerva, Pã, Vênus, Júpiter, Mercúrio, e tantos outros. São seis capítulos de versos decassílabos em rimas escorreitas, que narram de forma sutil, erótica e intensa os amores nem sempre muito corretos dos inquietos deuses.  
Ladeando com Horácio Nunes Pires, Duarte Paranhos Schuttel e Álvaro de Carvalho, podemos afirmar que José Cândido Lacerda Coutinho é uma das personalidades literárias mais representativas do romantismo em Santa Catarina. É também patrono da cadeira 23 da nossa tradicional Academia Catarinense de Letras. Finalizando o relembrar de sua memória, cito aqui um pequeno e belo quarteto decassílabo, que demonstra ser a tristeza, talvez, a motivação maior para os poetas e seus versos, apesar das alegrias aparentes e por vezes enganosas com que o mundo ilusório os encanta. O Dr. Lacerda Coutinho não fugiu dela:
“Sei que despontas, viração, que gemes,
Mata que tremes aos suspiros seus.
Ave que saúda a estação florida,
Falas da vida, mas eu morro... adeus!”

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Nossa Academia tem como patrono o imortal João da Cruz e Sousa, expoente maior da corrente simbolista da poesia no Brasil, e hoje o homenageamos com muita justiça e emoção. Nascido nesta terra em 24 de novembro de 1861, ele faleceu jovem, minado pela tuberculose, o mal dos poetas no século dezenove. Sua chama findou-se a 19 de março de 1898 em Estação do Sítio, um lugarejo das Minas Gerais. Sepultado no Rio de Janeiro, seus restos mortais foram transladados para nossa terra em 2007 e repousam no palácio que leva o seu nome, museu histórico de Santa Catarina. Seus versos irretocáveis e belos o tornaram imortal, quando relembramos os cento e cinquenta e um anos de seu nascimento na bela Desterro. Termino esta oração com um soneto dedicado a este grande poeta catarinense, a melhor e maior lira simbolista, o nosso Paul Marie Verlaine brasileiro. São da lavra dele os dois primeiros versos do primeiro e segundo quartetos:

“Crótão selvagem, tinhorão lascivo,
planta mortal, carnívora, sangrenta...”
Teu verso sempre a burilar tormenta,
teu estro sempre do sofrer cativo.

“Vozes velozes, veludosas vozes,
volúpias de violões, vozes veladas...”
Sabias ser também doce alvorada
a solfejar teu canto em meigas doses.


O tempo-sofrimento foi passando,
e aos trinta e seis surgiu o fim da via,
a lira magistral, triste, apagando.

O Cisne Negro, trovão, melodia,
cruzou a terra a caminhar, penando.
restando apenas a tumba e a poesia.


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