Roberto Rodrigues de Menezes.

Roberto Rodrigues de Menezes



quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Monsenhor Bianchini (parte II).

Monsenhor Francisco de Sales Bianchini (29-01-1925 Brusque // 26-10-2010 Florianópolis).
************************* Desde ontem o corpo do reverendo pastor foi velado na Catedral Metropolitana, com grande presença de autoridades, parentes, fiéis católicos, amigos e admiradores em geral.
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Às nove e trinta horas deste 27 de Outubro Dom Murilo Krueger, Arcebispo Metropolitano de Florianópolis, celebrou a missa de corpo presente, com mais dois bispos e inúmeros sacerdotes, além do povo cristão.
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Após a missa, o caixão com o corpo do santo sacerdote colocado em carro aberto do Corpo de Bombeiros, para sepultamento no Jardim da Paz, bairro Monte Verde, na capital.
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O caminhão em frente ao Museu Cruz e Souza, no centro de Florianópolis, já se deslocando para o Jardim da Paz, onde o Monsenhor Bianchini foi sepultado.
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O governador de Santa Catarina, Leonel Pavan, decretou três dias de luto oficial no Estado, em homenagem ao grande sacerdote, filho de Brusque e florianopolitano por mérito, cidadão catarinense por excelência, que dedicou toda a sua vida ao abnegado ministério sacerdotal iniciado em 1950 em Roma.
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SÃO JOÃO MARIA BATISTA VIANNEY, padroeiro dos sacerdotes.
(parte de palestra proferida pelo Monsenhor Bianchini no Movimento de Emaús).
Hoje santo, padroeiro de todos os párocos, de todos os vigários. Ele nasceu perto de Lyon, de uma família pobre, no ano de 1876, quando na França estava prestes a explodir a revolução francesa.
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Queria ser padre, mas tinha uma dificuldade enorme para os estudos. Três vezes foi rejeitado para entrar no seminário. Tentou uma quarta vez, com uma ordem religiosa de irmãos leigos, mas ainda não conseguiu. Porém, não desistia, afirmando ser esta a sua vocação. O vigário da paróquia, padre Balley, lhe dizia:
-- Meu filho, vai lá em casa. Eu vou lhe dar aulas particulares.
Apesar do esforço do padre e do João, o latim não entrava na cabeça deste último. Porém, tempos depois, o João consegue ser ordenado padre, tamanha a insistência, enquanto ocorria a revolução francesa. A solenidade aconteceu numa casa particular.Colocaram na frente da janela de vidraça uma carroça com feno, mais alto que a janela, para que não olhassem o interior durante a ordenação, pois os padres foram muito perseguidos.
Com o fim dos estudos para o sacerdócio acontece, é costume ainda hoje os superiores do seminário enviarem ao bispo a relação de ordenandos, com o perfil aproximado de cada um: "O Antônio tem facilidade de falar, o Pedro é mais simples, mas muito piedoso". Após isso, o bispo marca o dia e a cidade em que haverá a ordenação. Quando chegou a vez de João Maria, muito humilde, o bispo manda que sente.
-- Meu filho, os seus superiores o elogiam muito. Obediente, humilde, serviçal, não briga com ninguém, é o exemplo do seminário. Mas para ser padre não dá. Você é muito burro!...
O João ficou quieto, baixou a cabeça. Depois de algum tempo criou coragem e falou:
-- Senhor bispo, o senhor conhece a Bíblia melhor do que eu.
-- Claro!...
-- Pois é. Lá em a história do Sansão, que ficou escondido num desfiladeiro, atrás de uma pedra. Quem vinha de um lado não podia vê-lo, e ali só passava um homem de cada vez. Ele esperou, tendo na mão uma queixada seca de um burro. E dava com a queixada na cabeça de cada inimigo do povo de Deus que passava. O fulano caía no precipício e morria. O senhor lembra?
-- Claro que me lembro!
-- Pois o senhor imagine só. Se Deus, com uma queixada de burro, através de Sansão, acabou com tantos inimigos de seu povo, imagine o que ele não fará com um burro inteiro, que sou eu!...
O bispo ficou quieto e caiu em si.
-- Meu filho, eu vou ordená-lo padre por sua humildade.
E João foi ordenado no ano de 1814. Por mais três anos ficou como auxiliar do padre Balley, aperfeiçoando um pouco o latim. Depois foi mandado para a cidadezinha de Ars, perto de Lyon. Era um povoado de trezentas pessoas, cujo divertimento consistia na prostituição, jogatina e trabalho aos domingos. Ele próprio varria a casa, a igreja, pois não havia empregada, ninguém para ajudar. Tocava o sino de manhã, ao meio-dia, à tardinha. E com o tempo as coisas foram mudando, tanto que ele permaneceu lá por mais de quarenta anos. O governo francês se viu obrigado a fazer uma estrada de ferro de Lyon a Ars, tal era o afluxo de gente, príncipes, reis, cardeais, bispos, senadores. Todos queriam ouvi-lo, sua igreja sempre lotada. E ele todo dia, onze da manhã, hora do preparo do almoço, dava catequese. Uma voz rachada, não tinha retórica nenhuma, mas ali havia alguma coisa a mais que atraía multidões.
Certa vez um senador de Paris, no auge da carreira, adepto do racionalismo positivista, foi a Ars às escondidas, para ver o ouvir o padre Vianney. Tinha medo do que pudessem dizer os outros senadores. Mas, no seu retorno, alguém descobriu e, numa sessão do Senado, enquanto corria o cafezinho dos senadores,, um deles quis fazer pouco daquele que fora a Ars para ouvir o cura.
-- Excelência, o que foi ver em Ars?
Ele não se deu por achado. Voltou-se e:
-- Eu vi o que nunca esperei ver na minha vida. Eu vi Deus num homem!
E o silêncio foi total.
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O cura d'Ars todos os dias abria o templo. À tarde entrava na igreja um colono, que deixava machado, enxada, pá, no corredor. Sentava no primeiro banco e ali ficava, sem livro, sem nada, sem falar. Os santos também são curiosos. Um dia, quando o cura acabava de bater com o sino o"anjo do Senhor" e o velhinho ia sair, ele lhe perguntou:
-- Amigo, você não tem livro, não vejo você rezar em voz alta...
-- Seu vigário, eu não sei ler. Então, eu olho pra Ele e Ele olha pra mim.
Um olhar diz mais, às vezes, do que um livro inteiro.
Toda a França e a Europa iam em peregrinação para ouvir este simples sacerdote.
A padroeira da paróquia era Santa Filomena. Quando há festa de igreja os fabriqueiros, sujeitos que organizam a festa, em geral são a dor de cabeça do padre. Se num ano gastaram mil com foguetes, os fabriqueiros do ano seguinte querem gastar dois mil. Escolhem, também, um grande pregador para as prédicas. E estava no auge da fama em Paris o padre Lacordaire, talvez o maior orador sacro cristão de todos os tempos.
-- Seu vigário, pediram eles ao cura d'Ars, podemos convidar o padre Lacordaire?
-- Sim, podem convidar.
E o famoso orador veio de trem. Na hora do sermão, arrebatou as pessoas como só ele sabia fazer. A igreja entupiu. Havia gente trepada nas janelas, nos confessionários, até porque todo mundo, além de ouvir, gosta de ver. Acabada a missa, dirigiu-se o povo para as barraquinhas. E o grande orador foi lá, tomar um cálice de vinho. Chegou, então, o clube dos bajuladores.
-- Padre, o senhor falou tão bem, tão bem, que a igreja encheu. Havia gente nas janelas, em cima dos confessionários...
-- Pois é, rebateu o padre Lacordaire. Quando eu falo o povo sobe nos confessionários. Quando o cura de vocês fala, todos entram no confessionário!...
A ciência e a cultura deslumbram, mas a santidade atrai e converte. O cura d'Ars se consagrou como o modelo de todos os sacerdotes que trabalham em paróquias.
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João Maria Batista Vianney:
- Nascido em 08 de Maio de 1786 perto de Lyon, na França.
- Falecido em Ars, na França, em 04 de Agosto de 1859.
- Canonizado em 01 de Novembro de 1924 pelo Papa Pio XI.
Festa litúrgica: 04 de Agosto.
- Padroeiro dos párocos.
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terça-feira, 26 de outubro de 2010

Monsenhor Francisco de Sales Bianchini.

Monsenhor Bianchini (29-01-1925 - 26-10-2010).
(http://www.arquifln.org.br/)
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O Orientador Emérito do Movimento de Emaús de Florianópolis faleceu hoje de manhã no Hospital de Caridade. Seu corpo está sendo velado na Catedral Metropolitana. Amanhã, 27, Dom Murilo Krueger, Arcebispo de Florianópolis, celebra missa de corpo presente às 09:30 horas. Após, ocorrerá o sepultamento no Jardim da Paz, bairro Monte Verde.
CRONOLOGIA:
Nascimento:29-01-1925. Batismo:15-02-25. Crisma:12-04-31. Primeira Comunhão:26-05-36. Ingressa no Seminário de Azambuja, Ginásio e Ensino Médio:13-02-38.
Francisco aos 15 anos.*************************
08-12-39: Torna-se Congregado mariano.
08-12-44: Recebe a batina.
Francisco aos 18 anos. Brusque.
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14-03-45: Ingresso no Seminário de São Leopoldo, RS (Filosofia).
1947 - São Leopoldo. Os seminaristas Agostinho Stähelin, Francisco Bianchini, Hercílio Capeler, Francisco Filipack e Quinto Davi Baldessar.*************************
15-09-47: Saída de São Leopoldo.
10-10-47: Partida de casa (Brusque) para Roma.
20-10-47: Embarque para Roma no navio Hugolino Vivaldi, no Rio de Janeiro.
07-11-47: Chega à Europa, Itália, Nápoles.
10-11-47: Matrícula na Universidade Gregoriana para estudar Teologia. Faz também doutorado em Filosofia. 18-09-48: Primeira Tonsura, Roma.
07-11-48: Ostiário e Leitor.

10-11-48: Exorcista e Acólito.

08-10-50: Subdiaconato.

29-10-50: Diaconato.

08-12-50: Ordenação sacerdotal pelo cardeal Bento Aloísio Masella. Seu lema de ordenação: "Tu es sacerdos in aeternum".
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Foto da ordenação Sacerdotal em Roma.********************
09-12-50: Celebra sua primeira missa em Roma, na Igreja de Santo Inácio de Loyola.
30-06-51: Retorna a Brusque.
23-09-51: Celebra sua primeira missa na terra natal.
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1951 - Brusque. Padre Francisco, a mãe e os irmãos. Em pé: Nilo, Lourenço, Mercedes, Leonor, Ernesto e Érico. Sentados: Paulo, padre Francisco (o caçula), dona Elisa e João (o mais velho).*************************
21-10-51: Chega a Florianópolis para iniciar seu ministério sacerdotal.
Nov e Dez 51 - Capelão no Hospital de Caridade. Ali, quase 60 anos depois, terminaria seu ministério, após vida santa e ilibada.
1952: Inicia trabalho com a Juventude Universitária Católica.
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1953 - Professor no Colégio Coração de Jesus de Florianópolis.*************************
1952-1961: Coadjutor da Catedral Metropolitana de Florianópolis.
1953: Professor de Italiano e Filosofia na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da capital.
1954: Implantação na capital das equipes de Nossa Senhora.
1958: Retorna a Roma e visita a Terra Santa.
1962-1966: Encarregado da futura paróquia do Saco dos Limões em Florianópolis. Auxilia de forma efetiva na construção da igreja. Fundador da paróquia.
1962-1971: Cura da Catedral Metropolitana.
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1971: Professor fundador da Universidade Federal de Santa Catarina. Professor do Curso de Filosofia. Foi duas vezes Diretor do Centro de Ciências Humanas e duas vezes Chefe do Departamento de Filosofia da UFSC. Na foto, sendo nomeado professor de Filosofia pelo Ministro da Educação Ewaldo Lodi.*************************
1971: Inicia trabalho mais efetivo com os movimentos religiosos (Serra Clube, Associação dos Dirigentes Cristãos de Empresas, Cursilhos da Cristandade).
15-08-74: Implanta na Arquidiocese de Florianópolis o Movimento de Emaús.
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1974 - Primeiro Retiro Emaús Feminino no Morro das Pedras. Quantos retiros masculinos e femininos, a partir dali, ele orientou!
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1975 - Florianópolis - 25 anos, jubileu de prata sacerdotal. Recebe da Câmara de vereadores o título de cidadão florianopolitano.
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1992: Visita Medellin, na Colômbia, para participar como delegado brasileiro da Conferência sobre o documento de Puebla.
1995: Recebe do papa João Paulo II o título de Monsenhor.
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2000 - Jubileu de ouro sacerdotal. Recebe do Governo do Estado a medalha de Mérito Anita Garibaldi, por relevantes serviços prestados.
2001: Nomeado pelo governador Esperidião Amin membro do Conselho Estadual de Educação.
2007: Passa a direção espiritual do Movimento de Emaús ao jovem padre Carlos Rogério Groh, mas continua orientando alguns grupos do Movimento de Emaús e um grupo, o mais antigo, das Equipes de Nossa Senhora. Continua auxiliando de modo vibrante na celebração de missas nas paróquias, especialmente nos finais de semana.
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12-11-2007: Com Roberto, seu biógrafo. Reuniões magníficas de muitas tardes para a elaboração do livro, na sua casa do Jardim Germânia.
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Abril de 2008 - Clube dos Oficiais da Polícia Militar na Trindade, Florianópolis. Lançamento do livro "Vem e Segue-me", biografia do Monsenhor Francisco de Sales Bianchini. Na foto Roberto, Sílvia, Monsenhor, Andrea, Eduardo e Marise, do grupo Sagrada Família do Movimento de Emaús. Momentos de alegria e reconhecimento ao nobre trabalho do venerável sacerdote na capital dos catarinenses, por 58 anos.
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11-12-2008: O Padre Groh veio a falecer prematuramente em Florianópolis, de grave doença. Assume em seu lugar a direção do Movimento de Emaús o Padre Vítor Feller.
Outubro de 2010: Monsenhor Boanchini já não consegue acompanhar como gostaria as atividades que lhe restaram, pois a sua saúde começa a se ressentir. Apresenta uma fraqueza geral, não conseguindo terminar a celebração da missa. É internado no início de Outubro no Hospital de Caridade. Infelizmente hoje, manhã de 26 de Outubro de 2010, vem a falecer naquele nosocômio, na capital dos catarinenses.
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Deus veio enfim buscá-lo para dar-lhe o merecido galardão, pois, como São Paulo, combateu o bom combate, guardando sempre a fé e a perseverança cristãs.
Tu es sacerdos in aeternum, disse-lhe Jesus ao recebê-lo no seu seio, lema de seu ministério desde a ordenação em Roma.
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O livro-biografia, que narra a sua dedicada e profícua historia de vida, toda ela devotada à evangelização e à sua Igreja Católica.********************************


Mario Vargas Lhosa.

(en.wikipedia.org)
Para mim uma das melhores notícias do ano. O peruano Mario Vargas Lhosa, de 74 anos, recebe o Nobel de Literatura de 2010. Já falei aqui de sua obra. No entanto, o que desejo comentar hoje é a entrevista de Páginas Amarelas da Revista Veja sobre o grande escritor.
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Permitam-me transcrever algo, pois foram as melhores páginas amarelas que já li. Comprem a revista 42 de 20 de Outubro deste ano, edição 2187. A entrevista é de Diogo Schelp e Jerônimo Teixeira.
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A esquerda tem o controle do establishment cultural. Ela domina o mundo acadêmico, as editoras e até os setores de cultura de jornais e revistas de direita. Isso dá um poder de chantagem enorme à esquerda. Todo escritor, desde muito jovem, sabe que não ser de esquerda significa defrontar com portas fechadas. Por outro lado, ser esquerdista garante regalias. A esquerda fracassou em tudo, menos no controle da cultura. Isso foi possível porque a direita é muito ignorante e também por não ter se preocupado em utilizar a cultura ideologicamente, politicamente. A esquerda, sim. Como resultado, muitos intelectuais e artistas, inclusive aqueles que não militam na esquerda, jamais se atrevem a criticá-la. Isso não ocorre apenas na América Latina. Conheci um ambiente assim na França dos anos sessenta. Não ser de esquerda dava muita dor de cabeça.
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Na lógica dos patrulheiros, quem não é esquerda só pode ser nazista, defender o apartheid na África do Sul e ser a favor da guerra do Vietnã. Explicar cada dia, cada semana, que não se é nada disso, é um trabalho muito chato e incômodo. Por isso muitos escritores dizem que são de esquerda só para serem deixados em paz.
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Hugo Chavez é de um anacronismo completo, uma criatura cavernícola, um militante bruto e semianalfabeto.
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Estamos na América Latina, onde os clichês e lugares-comuns que a esquerda incrustou na cultura pesam muito. Queremos ser pobres.
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Lamento que Lula, em política internacional, faça coisas como abraçar um ditador repugnante como Fidel Castro, enquanto um dissidente está morrendo numa greve de fome. Isso me desconcertou, entristeceu, indignou.
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Se quiserem saborear a entrevista toda, leiam a Veja.
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Para mim isso não se revela novidade, embora fique feliz por alguém dizer o que já tive até oportunidade de sentir na carne, é claro, consciente do meu anonimato e da minha condição de joão-ninguém. Quando cursava a Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), sendo diretor da Faculdade de Educação o eminente professor Otacílio Schüller Sobrinho, de saudosa memória, e que tinha sido meu professor no Curso Superior de Polícia, conversei com ele para ver da possibilidade de publicar trabalho meu pela faculdade, pois havia possibilidade para tal mediante aprovação de um conselho de cultura. O professor foi muito sincero: Roberto, vais ter muito pouca possibilidade. Afora o fato de seres oficial da PM, tuas ideias em nada se coadunam com o que pensa reitoria, conselho, e tudo o que funciona aqui. É quase impossível. Eu próprio fico bem calado para continuar dirigindo isso aqui sem problemas.
Agradeci pela sua franqueza. Comecei a pensar na "democracia" cultural da esquerda, que realmente, como afirma Lhosa, domina toda a área. As universidades principalmente. As editoras também. Dou como exemplo somente uma, que é católica: a Editora Vozes, franciscana. Ali os louvores à Cuba e à Teologia da Libertação, frei Betto, Boff e PT, são intermináveis.
Já senti isso, com a minha pequenez, há vinte anos. Somente passam em grandes editoras, jornais e mesmo revistas, com algumas exceções, as ideias socialistas. Guevara continua mito, apesar de reconhecidamente assassino. E isso é algo que a esquerda sabe fazer como ninguém, principalmente nesta América Latina: mitificar assassinos, caudilhos ditadores e demagogos populistas.
A entrevista de Lhosa foi eslarecedora. Continuemos pobres, então, com o nosso eterno complexo de inferioridade (tadinhos de nós, tão inocentes!) e com as nossas ridículas e galeânicas veias abertas. Se um livro passa a ser de cabeceira de Hugo Chavez, por certo é um livro chinfrim. ("As veias abertas da América Latina", do esquerdista uruguaio Eduardo Galeano, um tratado indigente em que nós, inertes e deitados em berço esplêndido, somos bicados em nossas pobres veias pelos gaviões do imperialismo, principalmente os norte-americanos. Um livro que ficaria bem numa sala-de-espera de um hemocentro ou na Transilvânia, no castelo do Drácula. O brucutu bolivariano afirma com aquele sorriso truculento que é seu livro de cabeceira. Duvido que o tenha aberto, muito menos lido, se for igual a alguém aqui em nossa terra).
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Como ilustração, os latinoamericanos que ganharam o Nobel de Literatura foram:
- Gabriela Mistral, chilena, em 1945.
- Pablo Neruda, comunista chileno, em 1971. (Fez o elogio à Coluna Prestes).
- Gabriel Garcia Marques, comunista colombiano, em 1979 (este tem férias quase anuais em Cuba, onde Fidel o enche de mordomias. Já afirmaram sarcasticamente que é o churrasqueiro do ditador fossilizado e que, na época, a amizade com o barbudo foi fundamental para que conquistasse o Nobel).
- Octavio Paz, mexicano, em 1990.
- Mario Vargas Lhosa, peruano, em 2010.
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segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Segundo Tenente Ivan Leal da Silveira.

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20 de janeiro de 1971. Ivan e Rosely casam-se na Igreja Nossa Senhora de Fátima do Estreito, parte continental de Florianópolis. Carreira promissora de oficial da Polícia Militar catarinense e um amor muito grande que terrível tragédia iria fazer terminar um ano e sete meses depois.
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Ingressei na Polícia Militar como aluno oficial exatamente um ano depois do aluno Ivan, em 1967. Lembro-me que nesta época eu era meio arredio em ir à missa, como a arrasadora maioria dos jovens, até porque nesta idade a realidade na qual menos se pensa é a morte. Para o jovem, a mórbida madona é preocupação de velho. Minha mãe, muito atenta aos nossos deveres religiosos, me exigia que, depois da missa, eu lhe dissesse a cor dos paramentos do padre e o que ele disse no sermão. Muitas vezes eu ficava até o fim de sermão e saía, pois já estava de posse das duas informações. Espero que nenhum abelhudo vá contar isso para dona Ione agora, até porque só fiz isso naquela época mesmo. Mas, voltando ao assunto que nos traz aqui hoje, nessas ocasiões, na igreja Nossa Senhora de Fátima, exatamente na que Ivan casou com Rosely e eu com Sílvia, via chegar ele e a namorada, ela uma lourinha bonita, para a missa. Cumprimentava os dois e algumas vezes assisti ao ofício religioso ao lado deles. E isso se repetiu em muitos domingos.
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Esta é a casa dos pais de Rosely, na Avenida Santa Catarina, Balneário do Estreito, na época em que Ivan era aluno oficial. Ali ele pediu permissão para namorá-la.
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Rosely Wanderley Manfiolete nasceu no Rio de Janeiro no dia 02 de Setembro de 1952. Era filha do sargento da Marinha José Manfiolete e de Dona Maria Luzinete (Nete) Wanderley Manfiolete. Esta senhora vive ainda de lembranças na mesma casa, com 83 anos. Atendeu-me com muita cortesia e me disponibilizou fotos e documentos que possibilitaram este resgate da memória de um jovem que tinha tudo para ser um grande oficial.
Ivan Leal da Silveira nasceu em Lagoa Vermelha, Rio Grande do Sul, no dia 13 de maio de 1949. Filho de Abílio Paim da Silveira e de dona Geni Leal da Silveira. Hoje dona Geni, viúva, mora em Curitiba.
Na foto, Rosely com 15 anos e Ivan com 18, aluno oficial 52 do Curso Preparatório ao Curso de Formação de oficiais (CP-CFO). Ele incluiu na Corporação em Março de 1966 quando ainda tinha 17 anos. Namorou Rosely no segundo semestre daquele ano.
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A foto da esquerda (18-02-68) foi batida na casa dos pais da namorada. Dona Nete, Ivan e Rosely. À direita Ivan em foto de Abril de 1967, um mês antes de receber o espadim.
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Sandra, irmã de Ivan, desfilando no Clube Concórdia em Porto União, norte de Santa Catarina (12-12-68). Parece que o colega Nery tinha uma quedinha por ela (Olha, Nery, não me mata!...)*************************
05 de Maio de 1967. Ivan no baile do Espadim, no Clube 12 de Agosto, centro de Florianópolis. Está com Rosely e à direita a irmã de criação desta, Rosalina, de apelido Sueli, dois anos mais nova.
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Ivan e Rosely dançando neste baile. O aluno oficial Nery dos Santos, da turma do Ivan e hoje coronel da reserva, posa ao lado de Rosalina. O que será que ele viu de tão engraçado?...
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12 de Dezembro de 1969. Formatura da Turma Tenente Trindade. Da esquerda para a direita o senhor José Manfiolete, pai de Rosely, seu Abílio e dona Geni, pais do Aspirante-a-Oficial Ivan, mais a namorada Rosely.
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20 de Janeiro de 1971. Casamento de Ivan e Rosely. À frente da guarda de honra os segundos tenentes João Batista Cordeiro e José Carlos Chierighini. Este e a esposa Maria foram testemunhas do enlace.
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O padre Aquilino dos Santos realizou o casamento.
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Ivan e Rosely tiram fotos após a cerimônia religiosa.
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Saindo da igreja em meio ao tilintar das espadas dos colegas.
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No carro que os levará ao almoço na Churrascaria Riosulense do Estreito.
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Abílio, Geni, Ivan, Rosely, Nete e José.
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Após a festa, prontos para a lua-de-mel.
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O Aspirante Ivan fez seu estágio no Centro de Ensino da Trindade. Foi promovido a Segundo tenente no dia 04 de Agosto de 1970.
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E chegou o fatídico 13 de Agosto de 1972 (dia dos pais naquele ano). Na volta de São Paulo, onde Rosely fora ao médico, Ivan dirigia seu fusca. Ao lado dele a esposa, no banco de trás seu José, o sogro, e Nivaldo de dezesseis anos, irmão de Rosely. Eles estavam na rodovia Régis Bittencourt, município de Miracatu, a 129 quilômetros ao sul de São Paulo. Retornavam a Floripa e era noite com neblina. Uma ultrapassagem mal sucedida joga o carro de Ivan debaixo de um caminhão Scania de Irati, RS, que ia para São Paulo com uma carga de madeira. Ele, seu José e Nivaldo morrem na hora. Rosely sobrevive, mas fica em estado gravíssimo. Perdera todos os dentes e um profundo corte no calcanhar, quase esmagado, não mais fariam com que ela voltasse a ter vida normal.
Calcule-se a dor de dona Nete e da mana Rosalina, que tinham ficado em casa e os esperavam.
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Os três foram sepultados no cemitério de Itacorubi, na ilha. Tempos depois, os restos mortais de Ivan foram transladados pela família para Curitiba.
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Rosely fizera o curso Normal no Colégio Coração de Jesus. Após o acidente, viúva, mesmo com muita dificuldade, conseguiu se formar em Serviço Social, na Universidade Federal de Santa Catarina.
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11 de maio de 1979. Rosely, que apresentava continuamente sequelas do acidente, sendo sempre submetida a medicação forte, foi encontrada agonizante em seu quarto na mesma casa dos pais. Estava maquiada e vestida como se fosse sair. Ainda tentaram levá-la ao Hospital São Sebastião, no centro de Floripa, onde se tratava, mas não adiantou. Ela já tinha falecido de parada cardíaca. Terminava assim, quase sete anos depois, a vida do último remanescente da tragédia de Miracatu. A moça deixou a vida com 27 anos. O marido morrera aos 23.
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Dona Luzinete (Nete) hoje. Com muita boa vontade e saudade atendeu-me em sua casa. Já não relembra tão bem os eventos que tanto infelicitaram sua vida, pois perdeu de uma só vez o marido, filho e genro, e a filha depois de sete anos.
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Outubro de 2010. A mesma casa em que Ivan namorou Rosely. Nela vive dona Nete com uma moça que dela cuida. A família (irmãos, sobrinhos) a visita com frequência.
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Desejo aqui, para terminar, expressar um preito de gratidão ao Coronel Freddy Harry Schauffert, Comandante das lides do ensino e formação na PM catarinense. Ele foi quem primeiro, com sua bicicleta, foi visitar Dona Nete e a colocou a par de meu projeto. Depois me avisou e marcamos um encontro na casa dela. No entanto, devido a uma reunião no comando ele não pôde comparecer, mas já me tinha aberto as portas com sua extrema boa vontade e gentileza. O trabalho que realizo neste blog, confesso aos senhores que por vezes se revela muito difícil devido às dificuldades que tenho para obter dados e principalmente boa vontade. Mas o coronel Schauffert não deixa por menos. Sempre me atendeu com muito interesse e viva atenção, motivo pelo qual posso dizer que esta postagem somente se tornou possível em razão de sua colaboração inestimável. Obrigado, coronel Schauffert!
Agradeço também ao coronel João César Pastoris Formighieri e aos tenentes coronéis Piraguaí Dias Ferraz e José Carlos Chierighini, todos da Reserva, pelas informações e auxílio. Os três são também da turma Tenente Trindade, oficial da Esquadrilha da Fumaça que faleceu em acidente aqui em Florianópolis, quando se apresentava nos céus da capital com seus companheiros. Sobre este fato o coronel Schauffert compareceu neste blog em 12 de Setembro com a história triste do jovem oficial da Aeronáutica.
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quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Luiz Vaz de Camões.

Lisboa dos casarões antigos. A velha cidade dos fados de Amália Rodrigues, de tanto encanto e beleza. Berço do maior poeta português.
******************** Luiz Vaz de Camões (1525-1580). Perde a vista direita combatendo os mouros no Marrocos.
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As armas e os barões assinalados,
que da ocidental praia lusitana,
por mares nunca dantes navegados,
passaram ainda além da Taprobana,
em perigos e guerras esforçados
mais do que prometia a força humana,
e entre gente remota edificaram
novo Reino, que tanto sublimaram.
(Taprobana: ilha do Ceilão, limite do mundo oriental conhecido na época. Novo reino: império português na Ásia.)
Cessem do sábio grego e do troiano
as navegações grandes que fizeram;
cale-se de Alexandre e de Trajano
a fama das vitórias que tiveram.
Que eu canto o peito ilustre lusitano
a quem Netuno e Marte obedeceram.
Cessa tudo o que a antiga Musa canta,
que outro valor mais alto se alevanta.
(Sábio grego: Homero. Virgílio, o "troiano". Alexandre Magno e Trajano, generais que batalharam e venceram no oriente. Netuno (mares) e Marte (guerra), deuses gregos da mitologia.
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Eis a parte inicial da obra-prima de Luiz Vaz de Camões, Os Lusíadas, magistral poema em dez cantos que enaltece as vitórias e navegações portuguesas na África e na Ásia.
Os Lusíadas são heróis descendentes de Luso, um grande amigo do deus grego Baco. Esta maravilhosa epopéia canta os feitos portugueses além-mar. E tal foi feito com a mesma maestria dos poetas gregos da Antiguidade Clássica.
As armas (as tropas, o exército) e os barões ( a nobreza de el-rei) fizeram com que o império luso se aventurasse até os confins do mundo. As cruzadas contra os mouros, inimigos da fé, o comércio com as Índias e a China, a missão dos religiosos, a fidelidade ao rei, tudo isso compõe agora um novo canto.
Os Lusíadas, em dez cantos, inicia com o nascimento do reino lusitano, que vai se firmar perante a Europa por seus desbravadores e navegadores. Homens e deuses se confundem. A viagem de Vasco da Gama se sobressai nas rimas. Isso não impede que o grande vate critique o poder do dinheiro, a ambição desmedida e o fausto exagerado de alguns. Mas a corrente principal da obra é épica, com vitórias e louros.
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Luiz Vaz de Camões nasceu em Lisboa ou na região próxima em 1525. Era filho de Simão Vaz e de Ana de Sá.
O tio, dom Bento, abade de um claustro, possibilitou a Camões navegar na leitura e no conhecimento. Surge talvez daí o seu vasto cabedal literário clássico. Das letras ao convívio com fidalgos ilustres foi um passo. As primeiras experiências poéticas e amorosas sucedem em Coimbra, às margens do rio Mondego.

Muda-se, porém, para a Lisboa cheia de gente e vida, onde navios e navios se revesavam saindo e entrando pela foz do rio Tejo. E o seu lado boêmio aflora, com algumas aventuras e arruaças. Em 1550 Camões se alista para viajar às Índias. Mas acaba partindo para o porto marroquino de Ceuta. Aqui há dúvidas se foi ou não o poeta degredado em virtude de má conduta em Lisboa. Combatendo os mouros no Marrocos, perde a vista direita em 1949. Consegue retornar a Lisboa, onde fica preso por quase um ano, após briga com alto funcionário do palácio. Consegue a liberdade com o perdão do rei.

Parte para as Índias em 1553 a serviço da casa real portuguesa. Essas viagens lhe dariam todo o cabedal histórico necessário para o seu poema épico. Esteve também a serviço do rei em Macau, na China. Conhece ainda Moçambique, de onde consegue retornar a Lisboa à custa de amigos que lhe pagam a viagem. Na bagagem traz para sua terra Os Lusíadas, publicado em 1572. Com o feito, consegue do rei uma pensão anual que, embora pequena, lhe permite sobreviver. O grande poeta lusitano morre pobre em 1580 e uma entidade beneficente lhe custeia as exéquias.

Logo em seguida Portugal sofre o domínio da Espanha. O poema se agiganta como um dos fatores de resistência ao domínio indesejado e se torna mais ainda conhecido.

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Obras de Luiz Vaz de Camões:

Os Lusíadas - poema épico em dez cantos.
Líricas - redondilhas, éclogas, elegias, cantos, odes, sonetos.
Teatro - Três autos: Del Rei Seleuco, de Filodemo, e dos Enfatriões.
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Ao final deste trabalho apresentaremos um belo poema lírico, uma redondilha suave e maviosa do grande poeta. Esta forma de poema tem um mote (lema, tema, assunto) e algumas voltas (versos). Estes interpretam o mote e lhe dão melhor substância literária e poética. As redondilhas são comumente versos de cinco ou sete sílabas métricas (não confundir com as sílabas tônicas e átonas da gramática).
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Encarcerado em Lisboa por causa de uma briga com alto funcionário do Rei.
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Reconhecido pelo poema épico, o rei Dom Sebastião recebe o poeta e lhe concede um soldo anual para subsistência.
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Mausoléu de Camões em Lisboa, na Igreja de Santa Maria.
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MOTE
Descalça vai pera a fonte
Lianor pela verdura;
Vai fermosa e não segura.
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VOLTAS
Leva na cabeça o pote
O testo nas mãos de prata,
cinta de fina escarlata,
sainho de chamalote.
Traz a vasquinha de cote
mais branca que a neve pura.
Vai fermosa e não segura.
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Descobre a touca a garganta
cabelos de ouro entrançado.
Fita de cor de encarnado,
tão linda que o mundo espanta.
Chove nela graça tanta,
que dá graça à fermosura.
Vai fermosa e não segura.
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Os versos apresentam Lianor, que descalça vai à fonte, bela, graciosa, fresca, leve. Redondilha singela, de beleza agreste e bucólica.
pela verdura - pelos campos.
fermosa - formosa.
não segura - solta, leve.
testo - a tampa do pote.
sainho - saia pequena.
chamalote - tecido de lã com mistura de seda.
vasquinha - saia usada sobre a roupa.
de cote - diária.
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Pesquisa:
Enciclopédia Trópico.
Literatura Comentada - Editora Abril.
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sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Holodomor: a morte pela fome!

Kharkiv, Ucrânia, 1933. Camponeses conseguem evitar as barreiras policiais na busca desesperada pelas cidades e por ter o que comer. Uns chegam às cidades, mas morrem nas calçadas, sob os olhares indiferentes de populares.
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Memorial às vítimas do Holodomor em Kiev, Ucrânia. A morte de camponeses pela fome aconteceu nos anos de 1931 e 1932.
******************** Josef Stalin, responsável maior pelo genocídio.
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Faço-lhe um desafio, caro leitor. Vá até uma universidade e procure falar com cem estudantes.
Pergunte-lhes sobre o Holocausto Nazista promovido contra os judeus na Segunda Grande Guerra. Todos, sem exceção, lhe falarão alguma coisa. Faça, então, a mesma pergunta sobre o Holodomor, o holocausto dos ucranianos. O número de vítimas foi quase o mesmo e o fato aconteceu cerca de dez anos antes. Posso lhe dizer sem medo de errar que talvez um, dentre cem, sendo um pouco otimista, lhe dirá algo. Talvez você, meu caro amigo, nem conheça também.
Por que isso acontece? Porque não passa um mês sem que tomemos conhecimento de alguma homenagem, coroa de flores, algum pedido de perdão, filmes, documentários sobre os nazistas? O Nazismo foi o segundo pior tumor social da história da civilização que já está sepultado há 65 anos. E por que o primeiro tumor, tão ou mais deletério que o Nazismo, continua vivo, como acontece na América Latina? Não me manifesto avesso às homenagens aos judeus mortos por Hitler, muito pelo contrário. Quem percorre meu blog sabe que costumo defender dois países por considerar que no primeiro, EUA, a democracia sempre existiu desde a sua independência, e o segundo, Israel, o valente e corajoso país de Moshe Dyan, tem toda a esquerda internacional contra si.
A questão se resolve com duas assertivas díspares: uma é a propaganda e a outra a cortina de silêncio. No caso dos nazistas, a propaganda foi determinante e acontece até hoje. No caso do Holodomor, a cortina de silêncio e a censura sempre imperaram, pelo menos até a URSS ruir na início da década de 90. As universidades do mundo não comentam o Holodomor. Talvez na Ucrânia, a grande vítima.
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Criança ucraniana vítima da coletivização forçada dos campos.
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Todos sabemos que com a advento do comunismo na Rússia, no começo do século XX, pouco a pouco as nações em volta, até chegar ao número de quatorze, foram absorvidas com violência, ou mesmo uniram-se por concordância, ao ideais e utopias soviéticas. Isso foi um processo demorado. A infeliz Polônia, por exemplo, sentiu o tacão nazista até 1945 para passar a ser vítima de outro tacão pior, o comunista, até cerca de 1990. Quatorze satélites formariam a URSS, com um comando em Moscou. Outros países do leste europeu passariam a formar o que se chamou Cortina de Ferro, uma espécie de defesa dos soviéticos contra a Europa.
Mas no ano de 1931, quando se efetivou com maior repressão o processo de coletivização dos campos, que derrubou por completo o direito de propriedade, os camponeses da Europa Oriental se viram à míngua. Acostumados a produzir em casa, artesanalmente, chegava até eles o Estado exigindo a sua parte. E era a parte do leão. Expurgos, massacres, transferências forçadas, todo um processo aterrorizante que destruiu a produção agrícola e fez chegar a fome em todo o seu terror.
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Uma vítima do holocausto ucraniano.
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Máximo Gorki, escritor stalinista e o temido Yagoda, chefe da polícia política soviética na época do massacre ucraniano, denominada GPU (mais tarde KGB).
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Mikhail Khalinin. Um dos lugares tenentes de Stalin com responsabilidade nos massacres.
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O bonitão Lazar Kaganovitch, apesar do nome. Outro fiel assessor de Stalin, membro do Politburo e responsável maior pela campanha de requisições no Cáucaso do Norte.
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Stanislav Kassior, homenageado em selo, mais um dos responsáveis pelo Holodomor, secretário geral do partido comunista na Ucrânia.
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Sempre foi muito difícil fazer o cálculo do número de vítimas, pois as informações eram totalmente censuradas. Somente o Estado soviético e seus satélites as possuíam. A abertura dos arquivos da KGB e das polícias políticas dos países comunistas permitiu, a partir do final do século que se foi, vislumbrar informações corretas e dados novos e estarrecedores. Foi um genocídio deliberado, pois havia revolta contra o poder central soviético, que não permitia discordância. O historiador Stanislav Kulchytsky relata as mortes de 3 a 3,5 milhões de camponeses na Ucrânia e 1 a 1,5 milhões de mortes no Cazaquistão, nas regiões dos rios Volga e Don e no Cáucaso do Norte. O total oscila entre 5 a 6 milhões de mortos somente nos anos de 1931-32. Os judeus vítimas dos nazistas foram 6 milhões.
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O escritor socialista George Bernard Shaw afirmava: O poder não corrompe o homem, mas é o homem que corrompe o poder. Um dito inteligente, que não impediu que ele sempre se posicionasse a favor do comunismo stalinista.
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Esta é uma pequena das milhares de amostras do que somente se descobriu após a queda do Muro de Berlim. Queremos nós o comunismo na América Latina? Sei. Já sei que você vai me chamar de delirante, amalucado, que isso não pode mais ocorrer. Mas saiba que temos um Chavez ao nosso lado. Saiba que Castro ainda não morreu. Saiba que há setores guerrilheiros da própria Igreja Católica no Brasil (Pastoral da Terra) que consideram o agro-negócio, que sustenta a economia deste país, coisa do demônio. Saiba também que o MST prega sem rodeios em suas madraças a abolição da propriedade privada e coletivização da área rural. Deseja o socialismo marxista-leninista sem rodeios e não faz mistério disso. Obviamente, ainda existe uma esquerda democrática e vou até votar nela porque neste país todos temem ser considerados conservadores, tamanha a cachaça ideológica pregada e a consequente patrulha. Mas... ainda se mostra interessante estar alerta, ou estar esperto, como disse um dia o Cabo Sílvio a respeito do peru do tenente Piva.
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As fotos foram obtidas junto à Wikipédia. Se o caro leitor quiser se aprofundar sobre este tema, recomendo a leitura do Livro Negro do Comunismo, produzido por pesquisadores e professores do Centro Nacional de Pesquisas Científicas da França (CNRS), sob a coordenação do pesquisador Stèphane Courtois. Alerto, porém, que os massacres são tantos, que o livro possui quase mil páginas. E por dever com a verdade, reconheço que Stalin não foi o maior genocida da História no que concerne à coletivização privada dos campos e áreas rurais. Mao-Tse-Tung o superou com folga na China.
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