Roberto Rodrigues de Menezes.

Roberto Rodrigues de Menezes



sábado, 27 de novembro de 2010

O Romantismo na Literatura Brasileira.

Aprendi a gostar de Literatura com este poeta, lendo na adolescência a sua obra. Antônio Gonçalves Dias nasceu em 1823 no Maranhão. Em 1840 matricula-se na Universidade de Coimbra. Nesse tempo de estudante, escreve a famosa Canção do Exílio. Em 1846 passa a residir no Rio de Janeiro. Nomeado professor de Latim e História no Colégio Pedro II, passa a atuar na imprensa carioca. Em 1853 é nomeado oficial da Secretaria de Negócios Estrangeiros, o que o faz ir à Europa por duas vezes. Na última procura remédio para a saúde abalada. A 03 de novembro de 1864 morre no naufrágio do navio Ville de Boulogne, quando este se aproximava das costas do Maranhão, sepultando nas ondas o grande poeta. Tinha 41 anos.
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O ROMANTISMO:

I - A POESIA ROMÂNTICA.

Podemos dizer muito simplificadamente, que este estilo literário foi uma reação à estética tradicional e greco-romana do Classicismo. Utiliza a liberdade de inspiração e de forma, a imaginação, a simplicidade, o sentimentalismo, o subjetivismo e a religiosidade. A poesia romântica, chamada até um pouco sarcasticamente de "poesia dos soluços", aproveita os valores da natureza, da religião, do amor, da dúvida (ultra-romântica) e já apresenta um cunho social (mágoa, ceticismo, dilema alma-matéria). Os nomes mais destacados da Poesia Romântica seriam:
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01- Gonçalves de Magalhães. (Rio 1811-Roma 1882).
Na sua obra destacam-se "Suspiros poéticos e saudades" e "A confederação dos Tamoios".
Assim sou eu sobre a terra.
É minh'alma como a lira,
que morre quando não geme,
que vive quando suspira.
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02 - Gonçalves Dias:
Todos os seus dramas têm como fim a morte. Parecia ele pressentir a própria, quando no texto "Adeus aos amigos do Maranhão", cantava:
Porém, quando algum dia, o colorido
das vivas ilusões que inda conservo,
sem força esmorecer, e as tão viçosas
esp'ranças, que eu educo, se afundarem
em mar desenganos - a desgraça
do naufrágio da vida há de arrojar-me
à praia tão querida que ora deixo.
Tal parte o desterrado, um dia as vagas
hão de os seus restos rejeitar na praia
donde tão novo se partira e onde
procura a cinza fria achar jazigo.
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A vida é um fio negro d'amarguras
e de longo sofrer.
Semelha a noite, mas fagueiros sonhos
podem de noite haver.
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Minha terra tem palmeiras
onde canta o sabiá.
As aves que aqui gorjeiam
não gorjeiam como lá.
Não permita Deus que eu morra
sem que volte para lá.
Sem que desfrute os primores
que não encontro por cá.
Sem qu'inda aviste as palmeiras
onde canta o sabiá.
(Canção do Exílio).
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Sou bravo, sou forte,
sou filho do norte.
Meu canto de morte,
guerreiros, ouvi.
Sou filho das selvas,
nas selvas cresci.
Guerreiros, descendo
da tribo tupi.
(I-Juca-Pirama)
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Não chores, meu filho.
Não chores que a vida
é luta renhida.
Viver é lutar.
A vida é combate
que os fracos abate.
Que os fortes, os bravos
só pode exaltar.
(Canção do Tamoio).
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Olha, doutor, a poesia
é donzela melindrosa
que aborrece a malcheirosa
- a nojenta anatomia.
(Epigrama)
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O sol desponta
lá no horizonte,
doirando a fonte,
e o prado e o monte,
e o céu e o mar.
E um manto belo
de vivas cores
adorna as fores,
que entre os verdores
se vê brilhar.
(Tempestade)
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03 - Manuel Antônio ALVAREZ DE AZEVEDO.
(São Paulo 1831- Rio 1852). Morreu de tuberculose, o mal dos poetas do seu tempo, aos 21 anos.
Obras: Lira dos vinte anos (poema), A noite na taverna (contos), Conde Lopo (poema).
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Que sol, que céu azul, que doce n'alva,
acorda a natureza mais louçã.
Não me batera tanto amor no peito
se eu morresse amanhã.
Mas essa dor da vida que devora,
a ânsia de glória, o dolorido afã...
A dor no peito emudecera ao menos
se eu morresse amanhã.
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04- CASIMIRO José Marques DE ABREU.
(Rio 1839- Rio 1860). A tuberculose lhe ceifa a vida aos 22 anos. Obra: Primaveras (magnífica), Camões e o Jau (composição dramática em verso apresentada em Lisboa).
Eu nasci além dos mares,
os meus lares,
meus amores ficam lá,
onde canta nos retiros,
seus suspiros,
suspiros o sabiá.
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Não amo a terra do exílio,
sou bom filho.
Quero a pátria, o meu país.
Quero a terra das mangueiras
e as palmeiras,
e as palmeiras tão gentis.
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Distante do solo amado,
desterrado,
a vida não é feliz.
Nessa eterna primavera
quem me dera,
quem me dera o meu país!
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Da pátria formosa distante e saudoso,
chorando e gemendo meu canto de dor,
eu guardo no peito a imagem querida
do mais verdadeiro, do mais santo amor.
Minha mãe!
Por isso eu agora na terra do exílio,
sentado, sozinho, co'a face na mão,
suspiro e soluço por quem me chamava:
Meu filho querido do meu coração.
Minha mãe!
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Mas se Deus cortar-me os dias
no meio das melodias,
dos sonhos da mocidade,
minha alma tranquila e pura,
à beira da sepultura,
sorrirá à eternidade!
(Primaveras - Lisboa).
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05 - Luiz Nicolau FAGUNDES VARELA.
(Rio 1841- Niterói 1875). Boêmio, morre aos 34 anos. Obras destacadas: Vozes da América, Cantos meridionais, Cantos Religiosos, Diário de Lázaro.
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Na torre estreita do pobre templo,
ressoa o sino da freguesia.
Abrem as flores, Vésper desponta,
cantam os anjos - Ave Maria!
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Na flor dos anos, conheci da vida
toda a ilusão.
Embora os homens meu porvir manchassem,
não os detesto, não!
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Oh, não me fales da glória,
não me fales da esperança.
Eu bem sei que são mentiras,
que se dissipam, criança.
Assim como a luz profliga
as sombras da imensidade,
o tempo desfaz em cinzas
os sonhos da mocidade.
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06 - Luiz José JUNQUEIRA FREIRE.
(Salvador 1832-1855). Nunca se afastou da sua Bahia. Entra na Ordem Beneditina, mas não se adapta e sai. Sempre franzino e doente, morre aos vinte e três anos de moléstia cardíaca.
Obra: Inspirações do claustro, Contradições poéticas.
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Iludimo-nos todos, concebemos
um paraíso eterno.
E quando nele sôfregos tocamos,
achamos um inferno!...
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Por minha face sinistra
meu pranto não correrá.
Em meus olhos moribundos
terrores ninguém lerá.
Não achei na terra amores
que merecessem os meus.
Não tenho um ente no mundo
a quem diga o meu adeus.
Não posso da vida à campa
transportar uma saudade.
Cerro meus olhos contente
sem um ai de ansiedade.
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07 - LAURINDO José da Silva RABELO.
(Rio 1826-1864).
Perdeu o pai e o irmão, assassinados. A irmã enlouquece e lhe sobra a pobre mãe. Consegue se formar em Medicina e se torna médico no Exército. Ao falecer diz à esposa: Deixei de existir no dia em que morreu meu pai. É bom que eu morra antes, para te ensinar como se morre. Obra: Trovas, Poesias (edição póstuma).
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Nestes versos vos dou minha vida,
minha vida, mortais, é assim:
ante os homens um riso mentido,
longe deles um pranto sem fim.
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Ai, querido amor perfeito!
Como vivi satisfeito
quando te vi florescer.
Ai, não houve criatura,
no prazer e na ventura,
que me pudesse exceder!
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Vós, cujo canto tanto me encantava,
da madrugada alígeros orfeus,
uma nênia cantai-me ao fim da tarde.
Passarinhos, adeus!
Vamos. Adeus, ó mãe, irmã e amigos!
Adeus terra, adeus mares, adeus céus!
Adeus, que vou de viagem de finados.
Adeus... Adeus...Adeus!...
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08 - Antônio de CASTRO ALVES.
(Miritiba (Bahia) 1847 - Salvador 1871).
O poeta condor morreu aos 24 anos, de tuberculose. Três anos antes, numa caçada, disparou-lhe a arma um tiro no pé. O ferimento agravou-se e amputou a perna. Em desconsolo, logo morreria. Obra: Espumas flutuantes, A cachoeira de Paulo Afonso. Vozes d'África, Os escravos. Como se pode observar de sua obra, foi um bravo lutador contra a escravidão.
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Tem a relva, a trepadeira,
todas têm os seus amores.
Eu não tenho mãe nem filhos,
nem irmão, nem lar, nem flores...
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Quando à noite, o silêncio habita as matas,
a sepultura fala a sós com Deus...
Prende-se a voz na boca das cascatas,
e as asas de ouro aos astros lá nos céus.
Caminheiro, do escravo desgraçado
o sono agora mesmo começou.
Não lhe toques no leito de noivado.
Há pouco a liberdade o desposou.
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O ROMANCE ROMÂNTICO.

01 - JOSÉ Martiniano DE ALENCAR.
(Mecejana (Ceará)- 1829 - Rio 1877.)
No meu modesto conceito, ao lado de Machado de Assis, Alencar é o maior vulto do romance brasileiro. Foi deputado pelo Ceará e Ministro da Justiça. Candidato ao Senado, não foi aceito pelo imperador Pedro II, a quem criticara asperamente. Aos 48 anos vai à Europa em busca de saúde. Mas regressa para morrer no Brasil.
Obra: Romances de costumes: O tronco do Ipê, Senhora, Lucíola, Diva, Sonhos d'ouro, Til. Romances indigenistas: Iracema, Ubirajara, O Guarani. Ainda publica O sertanejo, As minas de Prata, O gaúcho, além de outros trabalhos.
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Início do romance Iracema:
Verdes mares bravios da minha terra natal, onde canta a jandaia nas frondes da carnaúba. Verdes mares que brilhais como líquida esmeralda aos raios do sol nascente, perlongando as alvas praias emsombradas de coqueiros...
Término do romance Iracema:
Iracema não se ergueu mais da rede onde a pousaram os aflitos braços de Martim. O doce lábio emudeceu para sempre, o último lampejo despediu-se dos olhos baços.
- Iracema!...
Desde então os guerreiros pitiguaras que passavam perto da cabana abandonada e ouviam ressoar a voz plangente da ave amiga, afastavam-se com a alma cheia de tristeza, do coqueiro onde cantava a jandaia. (E foi assim que veio a chamar-se Ceará o rio onde crescia o coqueiro, e os campos onde serpeja o rio). A jandaia cantava ainda no olho do coqueiro; mas não repetia já o mavioso nome de Iracema. Tudo passa sobre a terra.
(Os romances de Alencar conseguiam ser comparados, muitas vezes, com poemas em prosa).
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02 - Bernardo Guimarães.
(Ouro Preto 1825-1865).
Obra: O seminarista, O garimpeiro, O índio Afonso, Cantos da Solidão, Poesias.
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03 - Joaquim Manoel de Macedo.
(Rio 1820-1882).
Obra: A moreninha, O moço louro, O forasteiro, Rio do Quarto, A luneta mágica.
O romance "A moreninha" foi o mais lido do seu tempo.
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04 - Manoel Antônio de Almeida.
(Rio 1831-1861).
Obra: "Memórias de um Sargento de Milícias".
Morreu no mar do Rio de Janeiro, num naufrágio. Sua obra única é uma filmagem fiel da sociedade do seu tempo. Não teve preocupação com a forma. O senso do pitoresco, da realidade flagrante é que compensam a ausência de esmero artístico.
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quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Padre Miguel Augustin Pró.

Padre Miguel Pró prestes a ser executado pelos comunistas do México. Preferiu adotar a posição de Jesus crucificado e gritou "Viva Cristo, Rei!", segundos antes de sentir as balas assassinas.
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Padre Augustin Pró, após rigoroso processo eclesiástico, foi considerado Mártir da Igreja Católica e beatificado por João Paulo II em 25 de Setembro de 1988. Sua festa se comemora no dia 23 de Novembro, dia de sua execução. Livros a este respeito, abundantes em todas as partes do mundo, não entram na América Latina, para que se desconheça os morticínios do Comunismo. Só conseguem ser comprados por encomenda, pois as editoras não os exibem.
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Este símbolo foi o motivo maior de milhões de mortes de inocentes no século vinte. E ainda continua vivo na América Latina e Caribe e em muitas partes do mundo, nos países democratas inclusive. A Igreja Católica Romana, especialmente, foi historicamente perseguida por seus sequazes. Por isso considero inominável que um católico, pior ainda religioso, sinta emoções e enlevos com esta ideologia.*************************
Padre Miguel Augustin Pró nasceu em Guadalupe de Zacatecas, México, em 13 de Janeiro de 1891 e foi morto em 23 de Novembro de 1927 na cidade do México. Tinha 36 anos. Era sacerdote jesuíta.
Miguel nasceu de uma família simples de mineiros, terceiro de onze filhos. Seu apelido familiar era "Cocol". Duas irmãs dele tornaram-se freiras conventuais, pois sua família possuía acendrados hábitos religiosos. Ele, desejoso de ser sacerdote, entrou em um noviciado jesuíta em El Lhano no ano de 1911. Em 1914, em virtude da perseguição religiosa, Miguel teve que seguir para a Califórnia, nos Estados Unidos. Partiu em seguida para Granada, na Espanha, para continuar seus estudos (1915-1919). Foi professor na Nicarágua de 1919 a 1922.

De volta ao México defrontou-se com as tentativas do governo de exterminar a Igreja Católica, cujas escolas confessionais foram fechadas. A Igreja não mais poderia participar da educação dos mexicanos. Os padres perderam seus direitos civis e foram proibidos de usar hábitos. Tiveram negado seu direito ao voto e não poderiam, sob prisão, dar entrevistas. Muitas dessas disposições, depois em desuso, só foram removidas da legislação mexicana em 1998. Quando Fidel Castro fugiu para o México, depois de ser solto pelo abobado do Fulgêncio Batista, por certo lá encontrou terreno propício para seus objetivos.
Miguel seguiu para a Bélgica e lá cursou Teologia, pois era impossível tentar este estudo no seu país. Neste período sua saúde deteriorou-se. Não era de constituição muito forte. Foi neste país que foi ordenado sacerdote em 31 de Agosto de 1925 e iniciou seu ministério entre os mineiros de Charleroi. Três meses depois de ordenado já devia se submeter a cirurgias por causa de úlcera no estômago. Restabelecido, ele retorna ao México em 1926.

Alguns Estados como Tabasco haviam fechado todas as Igrejas e tirado os sacerdotes do serviço público, principalmente do magistério e capelanias militares. Muitos sacerdotes foram obrigados a se casar e se submeteram, fraquejando por medo da morte ou da prisão. As missas estavam proibidas e mesmo assim, padre Pró as realizava clandestinamene, muitas vezes com uniforme de operário, pois não podia usar a batina em público sem ser preso. Ministrava a Eucaristia a pequenos grupos de católicos escondidos em residências. O México tinha voltado à época do início da igreja, nas catacumbas. Era um ministério "subterrâneo". A polícia o prendeu no mesmo ano de 1926. Solto, foi mantido sob vigilância.
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Plutarco Elias Calles - fundador do Partido Nacional Revolucionário, de bases marxistas-leninistas, governou o México de Dezembo de 1924 a 30 de Novembro de 1928. Antes fora Ministro da Guerra do presidente Adolfo de La Huerta e Ministro do Interior do governo de Álvaro Obregon. Instituiu o divórcio, estabeleceu o salário-mínimo no país e recrudesceu a perseguição violenta à Igreja Católica, fazendo valer a temida "lei Calles" (1926), absolutamente anti-clerical, que regulamentava com extremo rigor as disposições da Constituição Mexicana de 1917, que presidentes anteriores evitaram levar a efeito na sua totalidade. A lei previa multa de 500 pesos para sacerdotes que se apresentassem em público com vestes religiosas e penas de prisão de cinco anos para os padres que criticassem o governo. (Esta confusão de laicismo com ateísmo e mesmo ódio à Igreja já se revela bem antiga, e mesmo aqui no Brasil...)
As perseguições deram origem à guerra chamada Cristena, mais revolta inerme que guerra, pois os católicos mexicanos não suportaram e resolveram reagir. Executaram alguns atentados contra autoridades, que deram em nada, pois não eram terroristas experimentados e com objetivos de ódio consolidado, como ocorre com outros de ideologias já bem conhecidas e repletas de histórias de sangue. Calles aumentou seu mandato em dois anos e logrou que seu parlamento fantoche votasse pela reeleição. Ele, através de fraude eleitoral, mesmo abrindo mão da reeleição, conseguiu pôr no governo seu preposto Pascual Ortiz Rubio, eleito em 1930.
Funcionários públicos, sindicatos e entidades públicas e não governamentais eram totalmente controlados pelo PRN de Calles (devia ser o PT de lá). Na verdade, apesar de outro presidente, Calles, o dono do PNR, era quem governava efetivamente o México.
Mas o ventos mudam. Na eleição seguinte o povo mexicano diz não a Calles. O presidente Lázaro Cardenas, da oposição, que substituiu o lugar-tenente do tirano, expulsa Calles do México em 1936 e os callistas são demitidos do governo, desaparelhando-o. Este se exila nos Estados Unidos e, tempos depois, o presidente Manuel Camacho permite o seu retorno. O tirano faleceu em 19 de outubro de 1945 na cidade do México, sem ser punido pelos seus crimes.
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Padre Pró rezando antes de sua execução.*************************
Um atentado contra o ex-presidente Obregon, que saiu ferido levemente, teve preso um participante que confessou que o padre, com mais dois irmãos, Humberto e Roberto, teriam participado. Não se soube como esse depoimento foi obtido. Há indícios que os irmãos teriam participado do planejamento (como fizeram alguns pais da pátria do Brasil no passado), mas reconhecidamente o padre Pró não sabia. Aproveitou-se a deixa para eliminá-lo, junto com os irmãos.
Em processo sumário sem judiciário, Calles determinou a 13 de Novembro de 1927 a execução do padre Pró, sob o pretexto do atentado. Mas todos sabiam que o crime era o fato dele ser sacerdote católico. Calles mandou fotografar toda a execução para intimidar os cristeros. Acabou deixando documentos comprobatórios de sua tirania, erro que, reconheçamos, não é comum os comunistas incidirem.
Padre Pró abençoou os soldados encarregados de executá-lo. Esses se ajoelharam e lhe pediram perdão. O padre tinha um crucifixo numa das mãos e um terço em outra. "Sei e vocês sabem que eu sou inocente. Mas que Deus os perdoe!", falou, antes de receber os tiros.
Ele colocou os braços em cruz, como Jesus no Gólgota, e
gritou: "Viva Cristo, Rei!
Recebeu as rajadas e caiu.
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Um soldado percebeu que o sacerdote ainda agonizava. Aproximou-se e deu-lhe o tiro de misericórdia.*************************
A urna que abriga os restos mortais do mártir está na Igreja da Sagrada Família no México.************************
Um outro padre, este paramentado, sendo executado pela polícia de Calles.
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O sacerdote jesuíta Afonso de Santa Cruz escreveu a biografia do santo sacerdote Miguel Augustin Pró, mártir da Igreja Católica no México e beatificado pelo papa João Paulo II. Este livro se espalhou pelo mundo católico.
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segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Cardeal Aloisius Victor Stepinac.

1934 - Stepinac assim que foi sagrado bispo-coadjutor de Zagreb, capital da Croácia. Morreu envenenado!...
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Aloisius nasceu em Zagreb, Croácia, em 1898. Fez seus primeiros estudos nessa cidade. Estudou Filosofia e Teologia em Roma, com dois doutorados, na Pontifícia Universidade Gregoriana do Vaticano. Em 1930 foi ordenado sacerdote na capital da Itália, retornando a Zagreb para trabalhar na sua cidade. Destacou-se tanto pela invulgar cultura e ministério, que já em 1934 foi nomeado bispo pelo papa Pio XI. Era o mais jovem bispo da Igreja Católica no mundo. Assumiu a diocese de Zagreb, sendo seu titular até a sua morte, ocorrida em 1960. O papa Pio XII o sagrou cardeal em 1953, fato que fez com que o governo da Iugoslávia, na época comandado pelo marechal comunista Tito, rompesse relações com o Vaticano. Não teve permissão para sair do país e participar em Roma do conclave que elegeu João XXIII como papa, com a morte de Pio XII, pois estava preso (condenado a 15 anos) em virtude de se recusar a romper com o Vaticano e formar na Iugoslávia uma igreja independente, como queria o governo comunista.
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A catedral da diocese de Zagreb, na Croacia.
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Em 1941 o bispo Stepinac apresentara ao Ministério do Interior um protesto formal contra as leis racistas que proibiam casamentos mistos. Foi confinado a prisão domiciliar.
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O cardeal Stepinac no fim de sua vida. Vinha sendo envenenado aos poucos por seus carrascos comunistas. Fora condenado em 1946 por se recusar a promover um cisma eclesial, como desejava o governo comunista de Tito, além de outros "crimes" forjados pela polícia política do regime, como estar a serviço do capitalismo e bobagens recorrentes.
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O Marechal Josip Broz, de codinome Tito, ao final da Segunda Guerra Mundial reuniu seis países para formar a República Federativa e Socialista da Iugoslávia com a capital em Belgrado (hoje capital da Sérvia). Eslovênia, Sérvia, Croácia, Montenegro, Macedônia e Bósnia-Herzegovina. Com o fim do comunismo no início da década de noventa (século vinte), as repúblicas foram novamente se separando para voltar a dispor de suas nacionalidades.
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Marechal Tito - (1892-1980) - Em 1943 estabeleceu um governo comunista que comandou com mão de ferro até a sua morte. A Constituição de 1974 nomeou-o presidente vitalício, ele que já governava desde 1943. Não deixou herdeiro político, morrendo com 87 anos. Um colegiado seguiu governando até as repúblicas se separarem na década de noventa, quando a União Soviética se dissolveu. (Disse Gorbachev para os países do bloco comunista, Cuba inclusive: Cuidem-se, pois eu vou cuidar da Rússia). Mas, se isso influenciou a separação, foi mais pelo fato da URSS se desintegrar, impactando a Iugoslávia, pois Tito sempre manteve posição distante de Moscou. Tanto que formava no bloco dos países não alinhados. Stalin não o suportava.
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Já preso, o cardeal protestou formalmente em 1959 contra o tratamento cruel a que vinha sendo submetido e pela perseguição aos católicos de sua diocese. Falecido em 10 de Fevereiro de 1960, teve as vísceras de seu cadáver extraídas e destruídas, o que causou diversas interrogações no mundo católico. Era um homem de constituição rija e morrera aos 62 anos, embora viesse sofrendo tratamento cruel e degradante. Somente em 1996, após a queda do comunismo, seus ossos foram exumados e neles foram encontrados vestígios evidentes de veneno. Confirmada a perícia, foi declarado Mártir da Igreja em 1997 por João Paulo II. Quando de seu falecimento, o papa João XXIII celebrou na basílica de São Pedro em Roma missa pela sua alma. Disse em sua homilia: Figura insígne de pastor da Igreja de Deus, sua grande tribulação de 15 anos de desterro em sua própria pátria lhe granjeou admiração universal.
Em 1992 o parlamento croata reabilitou formalmente a sua memória. João Paulo II, após rigoroso processo eclesiástico, o beatificou quando visitou Banja Luka, na Bósnia.
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O novo mapa dos Balcãs. Os países originários do desmembramento da antiga Iugoslávia são países balcânicos. Situados entre a Europa Ocidental e a Ásia, os Balcãs formam um verdadeiro corredor entre o Oriente e o Ocidente. Os Balcãs são um maciço montanhoso da Bulgária que se estende pelos países da ex-Iugoslávia, mais a Albânia, a Grécia continental, a Romênia e a Turquia européia.
A Macedônia, Croácia e Eslovênia se desmembraram da Federação Iugoslava em 1991, a Bósnia em 1992 e a Sérvia e Montenegro em 2006. Vojvodina continua sendo uma província autônoma da Sérvia, ao norte. O Kosovo, ao sul da Sérvia, declarou sua independência unilateralmente, sendo reconhecido por alguns países e não por outros. Para a Sérvia, continua sendo sua província. (Os Balcãs sempre foram historicamente palco de guerras, uniões, separações e conflitos. Talvez não seja à toa ser a região do conde Drácula, pois lá fica a Transilvânia).
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Tela de Arilda Nemes Maia (Carro de boi).
Revista Galeria em Tela da Editora On Line.
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quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Tenente Coronel João Elói Mendes

Da Série Biografias XII.
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O Tenente Coronel João Elói Mendes dá seu honrado nome À Associação dos Oficiais da Reserva e Reformados da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros Militar em Santa Catarina. Na foto, datada de 1935, quando do centenário da Força Pública, ele era primeiro tenente pagador (tesoureiro). Nasceu em Biguaçu, município da região da grande Florianópolis, em 14 de Agosto de 1904. Fez o curso de Sargentos de Infantaria do Exército Brasileiro. Ingressou na antiga Força Pública (hoje Polícia Militar) como segundo tenente, por concurso, em 1931.
Participou do Batalhão da Força Pública durante a revolução constitucionalista de 1932, obtendo várias citações elogiosas por desempenho em combate. Foi promovido a primeiro tenente em 1935, a capitão em 1938, a major em 1943 e a tenente coronel em 1949. Foi delegado de polícia de vários municípios e delegado adjunto da Ordem Política e Social na capital. Exerceu o cargo de prefeito municipal em Chapecó em 1939 e em Biguaçu em 1946.
Como sub-comandante da Polícia Militar catarinense exerceu interinamente o Comando Geral, de 05 de agosto de 1950 a 10 de fevereiro de 1951.
(Dados do acervo do coronel Edmundo José de Bastos Junior).
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Na foto os irmãos: Arnaldo, Jaime, Vidal, João Elói Mendes (o mais velho), José, Lauro e Aldo. Além desses (são nove os irmãos de João Elói) as irmãs Isaura, Lourdes e uma outra que não se conseguiu levantar o nome.*************************
Foto da família Mendes em Abril de 1935.
Em pé, da esquerda para a direita: o irmão Lauro, atrás da esposa Clarice, sentada. O irmão José, atrás da esposa Maria, sentada com um bebê no colo. O cunhado Araraí com um filho de roupa preta no colo e esposa Isaura sentada, irmã de Elói (de vestido branco e blusa preta). Rubens Albino, cunhado, marido da irmã Lourdes, ela em pé entre ele e o mano Elói. Os pais, dona Maria e Leovegildo Machado Mendes, no centro, sentados. À direita de dona Maria outra irmã de Elói, sentada, solteira. O segundo tenente João Elói Mendes e sentada à frente a esposa Geneta Dutra Mendes, com a filha Arleta no colo. O irmão Aldo com o filho no colo e a esposa Almeri sentada ao lado de Geneta e com dois filhos no colo.O irmão Jaime e sentada á frente a esposa Zilá. O irmão Arnaldo e sentada á frente a esposa Edite. As duas últimas mocinhas em pé à direita são da família, mas não foi identificado o seu parentesco. Provavelmente sobrinhas do tenente Elói. Sobram sentados quatro sobrinhos dele. Faltou o irmão Vidal.*************************
Outros dados sobre a família: Alceu Dutra Mendes, filho mais novo de João Elói e de dona Geneta Dutra Mendes, nasceu em Florianópolis em 26 de março de 1942. Em 1951 Alceu foi morar em Niterói e em 1959 foi ao Rio de Janeiro para estudar Medicina. Reside no Rio há pouco mais de 40 anos. Casou com Tânia Pereira Mendes (médica) e moram nas Laranjeiras. Têm duas filhas: Cristina, médica em Macaé e Carolina, médica no Rio de Janeiro.
A outra filha Arleta, a mais velha, nascida em Florianópolis em 24 de novembro de 1934, teve destino trágico. Ela, o marido Carlos Gasparino da Silva e mais três filhos morreram num acidente automobilístico na BR-101 na véspera de Natal de 1972. Ela contava com 38 anos. Morreram na hora ela, o marido, um filhinho que estava no colo dela e outro filho pequeno. Um terceiro ainda resistiu uma semana, mas faleceu na véspera do ano novo de 1973. Foi uma tragédia que emocionou e entristeceu toda a comunidade florianopolitana. Salvou-se um filho, Henrique Mendes da Silva, que hoje mora em Florianópolis. Ele perdeu pai, mãe e três irmãos.
O Tenente coronel João Elói Mendes, morador do bairro de Coqueiros, era expoente da Maçonaria. Ele faleceu em novembro de 1979 na capital, acometido de câncer na bexiga, de acordo com o filho médico, que ainda dele tratou. A esposa dona Geneta Dutra Mendes faleceu em Florianópolis em 17 de maio de 1988. Contava com pouco mais de oitenta anos e teve morte súbita.
João Elói e Geneta eram pessoas muito generosas. Lembra o filho Alceu que sempre havia sobrinhos morando com eles.
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Agradeço ao Coronel Edmundo José de Bastos Junior pela cessão dos dados iniciais, já postados neste blog. Os dados seguintes são inéditos. Meu profundo agradecimento à Senhora Nelcy Coutinho Mendes, proprietária da Editora Papa-Livro, cujo marido já falecido era primo do coronel Elói. Foi ela quem muito gentilmente me cedeu as duas fotos da família com os dados sobre pais, esposa, filhos, irmãos, cunhados e sobrinhos do tenente Coronel João Elói Mendes. Minha gratidão também ao senhor Alceu Dutra Mendes, que com muita cortesia respondeu aos meus e-mails e telefonemas, cedendo-me informações importantes.
Este quadro é o Homem do Cachimbo de Picasso. Perdoem-me a heresia, mas não vejo graça nenhuma nessa tela. Se Picasso via as pessoas assim, como dizem os entendidos, parecia meio míope.
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sábado, 13 de novembro de 2010

Viagem ao Egito e Turquia.

Outubro de 1995. Estou em frente ao museu (basílica) de Santa Sofia em Istambul, na Turquia. Infelizmente perdi as fotos do Egito. Por sorte, comprei muitos postais em cada país que visitei.
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Pintura no Vale das Rainhas - Mural pintado na tumba da rainha Amen-Khovsef . Gizé.
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A 27 de junho deste ano postei os dois primeiros dias de minha viagem ao Egito. Aqui lhes apresento a continuação, acrescentando a Turquia. Mas não precisam voltar a Junho. A história de hoje é completa.
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Viajei para a Europa, Oriente Médio e norte da África no mês de Outubro de 1995. Fiz um diário de viagem. Fazia parte, com minha mãe, já que Sílvia sempre se recusou a entrar em um avião, de um roteiro turístico com um grupo de casais, senhores e senhoras, a maioria idosos. Eu, com 45, era um dos mais novos. Compartilhei os apartamentos de hotel com o coronel Rolim, aposentado do Exército, senhor de 70 anos, companheiro muito especial com quem fiz uma bela amizade, refinado, culto e conhecedor do mundo. Infelizmente ele faleceu cerca de um ano após a viagem. Uma grande companhia foi também o padre José Artulino Besen, intelectual e teólogo muito respeitado na Arquidiocese da capital e no Estado catarinense. É membro da Academia Catarinense de Letras. Foi meu professor de Oriente Médio na viagem.
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18 de outubro de 1995.
Após uma boa noite de sono no luxuoso hotel Fort Grand, próximo das pirâmides, na planície de Gizé, nosso programa do dia foi visitar Sakara, a cidade dos mortos, e sua infinidade de túmulos antigos. Num local com muitas tamareiras, talvez um oásis, localizava-se um pequeno museu. Na entrada, na parte externa, uma estátua enorme e não muito bem conservada do faraó Ramsés II, não dizia de sua magnificência de outrora. Próxima à rua assomava uma esfinge pequena, construída para proteger o local e a estátua.
Dali nos dirigimos a Menfhis, antiga capital do Egito. A registrar ali somente outra pirâmide escalonada, em péssimo estado. Pelo caminho passamos por um vale banhado com canais de água límpida, um sistema de irrigação baseado no rio Nilo e que era responsável por um cinturão de hortaliças e principalmente frutas e palmeiras. Romãs, tâmaras, mamões, laranjas, melancias... Plantações verdejantes se sucediam dos dois lados de uma estrada estreita e simples, embora asfaltada, mas sem acostamentos. Milharais, hortaliças, jardins de melancias e vinhedos. Ao longo do percurso casas simples de alvenaria ou barro amarelado, gente pobre e vestida rudemente. Com gestos e sorrisos corriam a cumprimentar os passageiros do ônibus, que transitava devagar. Crianças gritavam e pulavam com acenos. Sob este aspecto o árabe é muito simpático, ao contrário da sisudez do israelense.
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Cena do faraó Tutancamon no trono e uma de suas esposas. Museu do Egito no Cairo.
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Chegamos a uma loja de tapetes egípcios, em meio a muitas plantações. Os tapetes, caríssimos e muito bonitos, eram feitos por crianças mal vestidas com túnicas rústicas, em grandes teares de mão. Um destes teares tinha de três a cinco crianças. Uma das meninas, de prováveis dez anos, se chamava Monia e me sorria muito. Logo me interessei pela criança. Usava veste larga e na cabecinha um véu surrado de cor marrom. Tinha os dentes amarelados e as mãozinhas calosas pelo constante dedilhar dos fios. Era bonita, no entanto, com traços perfeitos, olhos negros rasgados, sobrancelhas espessas e bem torneadas. Apesar do véu, dava de perceber os cabelos negros, lisos e brilhantes. Nariz fino de traços retos e boca suavemente desenhada. Ao lado um adulto, aparentemente um feitor, gritava de quando em vez palavras em árabe, o que fazia as crianças apressar o trabalho, pois ficavam curiosas com os turistas presentes. Perguntei ao guia Tarik, um egípcio que trabalhara no Rio Grande do Sul e falava até bem o português, o que aconteceria se me dispusesse a adotá-la e levá-la comigo. Talvez, disse-me ele, se eu fosse muçulmano. Nesse caso poderia comprá-la informalmente se falasse com o pai, prática já ilegal, mas ainda corrente. Desisti da ideia boba, que me ocorreu mais a título de me informar, até porque ela já estava, bem ou mal, integrada à sua cultura, bem diferente da minha. Seria praticamente impossível operacionalizar tal pensamento, embora tivesse certeza que a Sílvia adoraria. Despedi-me e ela sorriu. O guia, ao observar que eu desejava dar algum dinheirinho à menina, quiçá um ou dois dólares, me fez desistir da ideia, asseverando que em seguida à minha saída ela teria que dar o dinheiro ao feitor.
Paramos numa lancheria do Mac Donald's. Após um lanche tipicamente americano no país egípcio, partimos para visitar a mesquita de Muhamad Ali. No caminho, ao longo da rodovia, pudemos observar um enorme cemitério com alguns quilômetros de extensão, habitado por pessoas miseráveis que transitavam em meio aos túmulos. Lembrava enormes favelas de pedras amarelentas e tijolos, com os túmulos, na maioria, tendo a forma de cubos. Ali se misturavam mortos e vivos. A região era chamada cidade dos mortos-vivos.
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Adentramos num belo jardim de flores multicores, que precede a magnífica mesquita. Os minaretes altos e pontudos espetam os céus do Cairo. Muito luxuosa no seu interior, com grandes tapetes no chão, foi edificada pelo sultão Muhamad Ali no ano 1200 DC. Lá dentro, descalços, observamos a oração do guia Gabriel, companheiro de Tarik, que logo sem seguida se dispôs a nos ensinar os cinco princípios básicos do Alcorão, a bíblia dos maometanos:
1 - Alah é Deus e Maomé o seu profeta.
2 - Jejum do Ramadan - jejum de um mês no ano. Só se pode comer à noite. Acontece normalmente nos meses de fevereiro ou março.
3 - Dar esmolas aos pobres.
4 - Peregrinar uma vez a Meca, a cidade santa na Arábia Saudita (único princípio recomendável, não obrigatório).
5 - Orar cinco vezes por dia voltado para o nascente (Meca). Os mulás costumam avisar quando é a hora com seus cantos no alto dos minaretes.
Na mesquita as mulheres permanecem confinadas a um lugar no fundo do templo. Os homens oram e se curvam nos largos espaços atapetados à frente.
Voltamos ao centro do Cairo, onde o ônibus nos deixou para um passeio a pé. Visitamos o mercado popular da cidade. Lojas, bares, frutarias, comércio de cristais, perfumes e tabaco, roupas, braceletes, adornos, véus, estatuetas e todo tipo de comida. A rua era tomada por turistas a comprar e nativos a tentar vender os seus produtos. Procurava eu camisas com desenhos de faraós e bigas.
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A máscara mortuária dourada do faraó Tutancamon no Museu do Egito.
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Gostei de uma estampa e adquiri uma camisa de malha por cinco dólares, numa lojinha simples. Passei ao solícito vendedor uma nota de dez dólares. Ele me deu de troco uma nota de cinco grosseiramente falsificada. Apesar de ser um tanto fraco de visão, foi impossível não notar a mutreta. Ele continuava me olhando com um sorriso imperturbável. Nesse caso, consegui ter pensamento rápido para resolver o problema. Devolvi a nota e disse com gestos e inglês macarrônico que ia levar mais uma camisa. Escolhi outra estampa e ele, meio desconcertado, me embrulhou a roupa. Consegui não ser roubado, apesar de achar as camisas muito caras. No Brasil acho que devo ter usado umas três ou quatro vezes e em seguida desbotaram as estampas. Diferente das camisas em Israel, mais caras, mas que duraram anos.
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A esfinge de Sakara na planície de Gizé.
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Já no hotel, após um banho reparador, dirigi-me ao luxuoso restaurante para jantar. Na recepção, o coronel Rolim passou muito rápido por mim, às pressas, e nem sequer me cumprimentou, o que estranhei. Teria eu feito ou dito algo que ele não gostou? Dei de ombros e continuei meu caminho.
Enquanto jantava, ele retornou e se sentou à mesa. Indaguei o porquê da corrida e, após as explicações dele, nos pusemos a rir. O coitado do coronel, ao pegar a comida no bufê, resolveu experimentar uma posta de peixe desconhecido e meio cru, com um molho de coloração esverdeada. Disse ele que foi só ingerir o fatídico peixe e começou a passar mal, suando muito. Foi acometido de um enjoo terrível, um início de forte dor de barriga, que colocou o pobre do coronel em polvorosa. Atravessou correndo o corredor entre o restaurante e o quarto como um corisco, na busca desesperada de um banheiro. Vomitar e em seguida evacuar foram ações nada românticas que tomaram longo tempo do nosso bom coronel. Voltou mais branco que cera e sem apetite, mais parecendo uma múmia egípcia, tão abatido ficou. Todos correram a receitar os remédios mais disparatados, deixando o homem ainda mais acabrunhado. De médico e de louco cada um de nós não tem um pouco?...
Procurarmos esconder o sorriso, até para não desagradar nosso querido coronel, meio envergonhado. Ele logo se recolheu ao quarto e foi o alvo das conversas da noite, o que demonstra o que de maquiavélico tem o ser humano, rindo da desgraça dos outros.
O Rolim, que sempre era o último a se deitar, pois tinha um papo agradável, foi o primeiro a se recolher. Não sei pelo mal-estar ou pelos sorrisos marotos e meio escondidos que provocou.
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Cidade de Luxor, no Egito. Estátua do faraó Ramsés II.
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19 de outubro de 1995.
O dia amanheceu ensolarado. É lugar comum afirmar isso nesta parte do planetinha, onde não chove quase o ano todo. Dia livre. Uns preferiram voltar ao Museu ou fazer compras no mercado. Outros preferiram ficar e aproveitar os serviços do hotel. Fiquei entre esses últimos e fui para a piscina. De uma confortável cadeira podia ver as duas pirâmides maiores, o sol entre elas. A piscina formava um L, com uma parte rasa para crianças ou idosos e outra com profundidade de cerca de dois metros. Mandei vir uma cerveja (importada da Alemanha). O calor era intenso, mas não queimava a pele, como acontece em lugares no Brasil. A explicação é que praticamente não há umidade no ar. Por isso existem as múmias. Tomei um refrescante e demorado banho. Às treze horas fui até o apartamento da mama e comemos um belo lanche, pois estávamos desconfiados da comida do bufê. Carne de camelo e cavalo, que naturalmente rejeitamos. Mas havia frango também. Nestes países também não é costume o almoço, sendo o jantar mais importante. Parece que almoço mesmo é o café da manhã.
Numa loja de presentes do próprio hotel comprei uma bela corrente com uma cabeça de faraó, em azul e dourado (Tutancamon), que vou dar para minha filha Adriana. Adquiri também uma estatueta em bronze que representa um sacerdote do deus egípcio Horus, da segurança. Voltei para a piscina com mais uns cinco companheiros. Ficamos lá a tomar banho e conversar a tarde toda. O coronel Rolim já estava bem melhor.
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Vale dos Reis. Pintura de uma cerimônia religiosa.
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Nesta noite, fomos surpreendidos com um casamento egípcio, que aconteceu no magnífico hall do hotel. Muita música oriental. Flores, brilhos, homens e mulheres elegantemente vestidos, eles de terno e elas de tailleur com véu, ou traje muçulmano, ou seja, vestido longo e fechado. Algumas dobravam o véu em frente ao rosto para somente deixar antever os olhos e a testa.
A noiva trajava um vestido cor de vinho que mudava de tom na medida em que ela caminhava. Tinha o véu e o pedaço dele que lhe cobria o rosto abaixo dos olhos era transparente. Estava de braços com um senhor de terno verde, descendo devagar a suntuosa escadaria de mármore, expondo-se às luzes magníficas dos lustres. Cena de mil e uma noites. No final da escadaria o senhor a entregou a um outro um pouco mais jovem e sorridente. Nós, refestelados nas macias poltronas da recepção, contemplávamos tudo admirados. Os noivos começaram a dançar uma valsa, ou a tentar dançar. Dançaram uma outra música oriental, e sua performance foi até bem melhor. Retornaram depois à escadaria e passaram a subir lentamente, como num desfile. Algumas mulheres mais velhas emitiam gritos estridentes, por certo um costume árabe. Lá em cima eles foram recepcionados por um senhor de barbas brancas, vestido com manto também branco e dourado, um turbante na cabeça. Parecia um clérigo muçulmano. A partir daí nada mais vimos, pois noivos e convidados desapareceram rumo a algum salão. Uma meia-hora depois eles voltaram em caravana, para o jantar na parte externa da recepção, entre jardins e postes de luzes feéricas. As mulheres que conseguimos ver mais de perto, elegantes e bem vestidas, pintadas de forma suave e com muitas jóias, eram na maioria bonitas. Por sinal, dentre todas as nações que visitei, as mulheres mais bonitas se revelaram as árabes, obviamente para a minha percepção, pois esta questão é um tanto subjetiva. Como tenho predileção por morenas, e as mulheres árabes são morenas na maioria....
Soubemos depois que foi o segundo casamento de um alto funcionário do governo egípcio do presidente Mubarak. A primeira esposa recepcionava os convivas muito satisfeita.
Os árabes podem se casar com até quatro mulheres (acho que isto não vale para os sultões). Moram no mesmo teto ou em casas separadas, se as posses do marido permitirem. O divórcio poderá ser solicitado pelo homem ou por qualquer das mulheres. Obviamente, o árabe pode, não deve, casar com quatro. Se quiser permanece com uma, ou duas, ou mesmo três; problema dele.
Conversamos um pouco sobre as conveniências e inconveniências do casamento entre os árabes e fomos dormir.
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A esse respeito uma senhora idosa cujo nome não recordo, mostrou-se escandalizada quando o guia lhe disse que era permitido casar com quatro mulheres.
-- Que horror!... comentou ela meio tonta.
Notei que o guia Tarik não gostou, tanto que rebateu contrafeito: -- Talvez seja um horror, mas evita o sistema ocidental de matriz e filiais.
Quem diz o que quer na terra dos outros...
Dissolvemos a roda. O coronel Rolim ainda estava meio abatido.
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As senhoras pediram ao padre Besen que celebrasse missa num dos apartamentos do hotel. Tudo foi feito às escondidas, pois Tarik nos disse que alguns poderiam não gostar, mesmo os funcionários do hotel, considerando uma ofensa ao Islã. Quem afirma que os maometanos são democráticos e liberais parece estar um pouquinho enganado. E isto porque estávamos numa república árabe das mais moderadas. Imaginem o Iraque ou o Irã!...
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DO CAIRO A ISTAMBUL.
A Mesquita Azul em Istambul. À esquerda a fonte do Kaiser Guilherme II.
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Dia de viagem. De manhã dirigi-me até uma praça próxima ao rio Nilo. Tanto as praças como as ruas do Cairo são na maioria um tanto mal cuidadas. Sob este aspecto, os árabes perdem muito para os israelenses. Avistava dali o famoso Nilo, tornado cor de sangue em épocas imemoriais pelo famoso cajado de Moisés.
Um mulher esperava em frente a uma pequena loja. Observei que estava impaciente, mesmo temerosa, olhando sempre para um lado da praça. Chegou em seguida um homem com aquela bata branca que vai até os pés, de barba bem negra, pegou-a pelo braço e praticamente a arrastou para dentro da loja. Ela aparentava estar muito amedrontada. Esperei um pouco para ver se acontecia algo, pois não era maluco de me meter nesse tipo de coisa, mas só o silêncio. Fui embora pois, nos meus trinta anos de polícia, quantas vezes isso e muito pior aconteceu na minha terra!...
Perto das dez horas voltei ao hotel. Todos se preparavam para deixar o país dos faraós e visitar a Turquia. Malas prontas, um ônibus nos levou até o aeroporto. Após os procedimentos de praxe, bem menos rigorosos que em Israel, um avião da Egypt Air Lines nos levou até Istambul, num voo não tão tranquilo de uma hora e meia. Brilhava na cauda do aparelho a imagem do deus Horus, da guerra e segurança, e sua inconfundível cabeça de gavião. O detalhe é que o piloto devia estar com pressa, pois andava pela pista sem muito cuidados nas curvas, parecia-me. O avião, pra lá de usado, chacoalhava mais que carro alegórico de escola de samba. Deu a impressão que não subiria mesmo, só o fazendo na hora final, como nos desenhos. Olhávamos uns para os outros transidos de medo.
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Chegamos a Istambul no fim da tarde. O aeroporto estava lotado de gente de todos os lugares do mundo, ocasionando filas enormes para verificação de passaportes. Quando conseguimos entrar no ônibus de turismo, já era noite. A guia, uma turca morena e meio gordinha parecida com a minha cunhada Solange, nos saudou em espanhol e desejou boas vindas à república otomana.
Istambul é uma cidade estrategicamente situada entre a Europa e a Ásia. Foi a capital do Império Romano do Oriente, antiga Bizâncio e Constantinopla.
Os turcos são muçulmanos na maioria (cerca de noventa por cento), mas bem mais ocidentais que os egípcios. Vi poucas mulheres com véus em Istambul. A nossa guia trajava calças jeans. Cidade enorme, com muitos carros e um trânsito conturbado. Chegamos ao Hotel Nippon, bem no centro. A porta é giratória, como aquelas dos filmes americanos antigos, o que causou tropeções e aborrecimentos, pois as senhoras, especialmente, não sabiam calcular muito bem o tempo certo de avanço na porta, já que o trânsito ali era constante. Uma chegou a ficar entalada, o que nos fez soltar uns risinhos comportados para não constrangê-la. Depois que nos acostumamos, alguns abobados como eu e nosso guia brasileiro Élvio chegamos a brincar de entrar e sair. O hotel Nippon é quatro estrelas e possui dez andares.
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Museu de Santa Sofia - Istambul.
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Istambul é banhada pelo mar de Mármara, que se comunica com o mar Egeu, na direção da Grécia pelo estreito de Dardanelos, e com o mar Negro, na direção da Rússia pelo canal do rio Bósforo.
Turistas alemães quase bêbados promoviam uma cantoria, ou melhor, gritaria, no bar do hotel. Ficamos observando os enormes e desengonçados germânicos (como se fôssemos o supra-sumo da elegância).
Jantamos no ótimo restaurante e em seguida saímos a pé para umas voltinhas pelo centro. Fomos até um terminal de ônibus, situado numa praça apinhada de gente. Participaram do passeio o coronel Rolim, Aurélia e Eleni (senhoras de uns quarenta anos, as mais novas), os irmãos Ferreira, de quase setenta, o padre Besen e eu. Voltamos depois ao hotel para conversar e depois descansar.
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Mesquita do sultão Suleiman e ponte de Gálata. Istambul, Turquia, metade da cidade na Ásia e metade na Europa.
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De manhã no Cairo, à noite em Istambul. Apesar de começar a me julgar um cidadão do mundo, já estava sentindo saudades da minha casa e da minha gente.
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terça-feira, 9 de novembro de 2010

Che Guevara.

Guevara fuma displicentemente um charuto, enquanto o embaixador norte-americano Adlai Stenvenson discursa do Conselho de Segurança da ONU em New York (1964). Atitude de colegial imaturo e não de um representante de um país num organismo internacional. Na verdade, finesse não era coisa que Guevara incorporasse. Isso, porém, não impedia que tais rompantes fossem admirados e aplaudidos por milhares de jovens e intelectuais esquerdistas no mundo todo.
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Dezembro de 1964. Guevara faz vigoroso discurso na ONU, em New York, atacando os Estados Unidos dentro de seu próprio território (Ah, os males da democracia!). Até aí, tudo previsível. No meio do discurso lança sua metralhadora falante também contra os soviéticos, criticando tentativas de aproximação entre os dois países. As críticas de Che aos russos irritam Fidel, que não desejava colocar em risco importantes acordos comerciais firmados com Moscou. No ano seguinte Guevara desaparece das vistas do público. Optara por se tornar novamente guerrilheiro. Do Congo à Bolívia, Che só consegue encontrar a morte.*************************
Havana parou no tempo. Carros e casas ainda vivem a década de cinquenta.*************************
"Che Guevara e os idiotas úteis que o idolatram". Livro do cubano-americano Humberto Fontova, Editora É Realizações - São Paulo - 287 páginas).
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SUCESSO NO MARKETING COMERCIAL, FRACASSO NA VIDA REAL.
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Resenha de Paulo Zamboni sobre o livro em apreço.
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Ernesto Guevara, ícone dos pobres, sempre ostentou um Rolex no pulso. Transformado ao longo dos anos numa espécie de "Jesus Cristo revolucionário", graças aos esforços inauditos da esquerda mundial, o argentino é ainda objeto de culto à personalidade em todo mundo.
Com extensas fontes orais e bibliográficas, especialmente de ex-companheiros, Fontova relata de maneira impiedosa e irônica que o deus da mitologia esquerdista era uma pessoa ressentida, vingativa, profissionalmente incompetente e responsável direta pelo assassinato de pessoas absolutamente inocentes de qualquer tipo de crime. Devotava um ódio primário e animalizado aos Estados Unidos. Vindo de uma desestruturada família burguesa simpatizante do comunismo, Guevara tinha tudo para ser considerado um vagabundo, um andarilho perdido na América Latina. Seu envolvimento fortuito com exilados cubanos no México acabou levando-o para aventuras em Cuba, no seio do movimento armado contra o ditador Fulgêncio Batista.
Diferente do senso comum, segundo o qual Batista foi derrotado por guerrilheiros heróicos, o que menos houve na queda de Batista foi luta armada. Castro operava sobretudo no terreno da propaganda, angariando dinheiro em grande quantidade, especialmente das elites cubanas cansadas de Batista, contra as quais o barbudo se voltou depois. Estas elites nunca poderiam supor que estavam financiando uma futura ditadura marxista-leninista.
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Castro e Guevara no início do poder absoluto.
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Castro se tornou internacionalmente simpático, especialmente perante os Estados Unidos, e até chegou a ir aos americanos pedir ajuda para seu novo governo. Foi recebido com indiferença, pois a nação do norte não tinha certeza das reais intenções do cubano. Ressentido, bandeou-se para o lado soviético e se tornou comunista.
O regime de Batista caiu praticamente sem esforço. Foi minado pela corrupção de suas forças, que aceitavam dinheiro de Fidel para se retirar da luta. Para a população cubana, especialmente sua elite, havia a crença que Castro e seus homens eram democratas e honestos. E os havia realmente, como Huber Matos e Pedro Luiz Diaz Lanz, que lutaram com Fidel para conseguir a democracia. Iludidos com o comunismo que não queriam e não lhes fora anunciado, revoltaram-se, sendo o primeiro preso e condenado a vinte anos de cadeia. O segundo conseguiu fugir para os EUA. Aviador que era, pilotou um avião até a ilha, de onde lançava panfletos acusando Fidel de ser comunista.
Após a vitória, em pouco tempo a verdadeira face do regime se revelou. Violência, assassinatos, tortura e prisões. E Guevara teve papel fundamental nisso, como criador dos campos de concentração cubanos, chamados pomposamente de "campos de reeducação." Muitos homossexuais, camponeses e religiosos morreram nestes campos.
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O oficial Aristidez Dias, do Exército de Batista, é confortado por um padre para ser em seguida executado. Corpos se enfileiram na estrada. Guevara e Castro depois adotariam o instituto do "paredon", para que a coisa ficasse mais escondida.*************************
Castro se mostrava mais hábil, utilizando a violência como um meio para alcançar um fim. Guevara parecia ver na brutalidade e no assassinato um fim em si mesmos. Ele acreditava na "violência revolucionária" e admirava o criminoso soviétivo Netchaiev, adepto da violência extrema e morte sem piedade de inimigos reais ou imaginários (Marighela no Brasil incorporou esta crença). Desde o começo Guevara pressionou para que Castro se ligasse logo ao bloco soviético, transportando seus métodos para o cenário cubano. Providência atroz para o povo da ilha, pois era época em que os crimes do genocida Stalin estavam sendo finalmente conhecidos pelo mundo estarrecido.
Talvez o mais chocante para os fãs de Guevara, ao lerem o livro, seja a imensa distância entre o ícone e sua figura real. Um homem cultuado por minorias, raças discriminadas, hippies, alternativos e jovens, possuía verdadeira mentalidade racista e patriarcal, despótica e arrogante. Apesar de bonitão, conhecendo-se as três mulheres que desposou, qual sultão latino, não era dado ao hábito do banho, tendo em Cuba o apelido de El Chancho.
Essas e muitas outras incoerências são o resultado do intenso caso de amor entre a revolução cubana e os meios intelectuais e midiáticos, principalmente nos Estados Unidos no começo do governo castrista. O jornal New York Times não se pejou de repetir com Castro o que já fizera com Stalin, encobrindo os seus crimes e os incensando.
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A incompetência de Guevara à frente do Ministério da Economia destruiu a infraestrutura cubana, desorganizando até hoje um país que, antes do comunismo, sempre fora um dos mais prósperos da América Latina, levando ao caos e à miséria uma população cristã e orgulhosa, favorecendo sua submissão ao projeto totalitário.
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O livro revela episódios pouco conhecidos, como o envolvimento de Guevara numa série de atentados frustrados nos Estados Unidos, na época em que os americanos ainda pensavam que podiam confiar em Castro.
Este teve a garantia americana de que seu governo não seria incomodado, ao final da crise dos Mísseis, artefatos bélicos que a União Soviética instalara em solo cubano para espionar e mesmo atacar os Estados Unidos. Kruschev, ante a ameaça de Kennedy de invadir a ilha, determinou a saída dos mísseis sem consultar Castro, o que deixou este enfurecido. No entanto, era muito tarde para mudar de patrão.
Começava então uma dura repressão contra uma incipiente revolta popular promovida pela população rural cubana, que durou até metade da década de sessenta, com a submissão dos camponeses que tentaram reagir à coletivização geral forçada.
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As aventuras externas de Guevara, primeiro no Congo e depois na Bolívia, cheias de retórica revolucionária vazia e despidas de competência, resultaram no descrédito dele em Cuba após seu fracasso no Congo. Na verdade, tinha dificuldade até para ler uma bússola. A decantada e fantasiosa habilidade tática e estratégica era somente fruto de propaganda.
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Sua fugaz permanência na Bolívia revela guerrilheiros em ação com um modus operandi primário e mesmo constrangedor. Nem os comunistas bolivianos o ajudaram, por achá-lo auto-suficiente e arrogante demais. Além disso, os camponeses bolivianos Aimarás a que Guevara se dirigia com suas pregações, pouco entendiam de espanhol, e estranharam um sujeito diferente deles, de terras longínquas, que os concitava a lutar contra o governo. Como resultado, comunicaram ao Exército boliviano a sua presença e de seus dezoito guerrilheiros na selva. Castro, que prometera ajudá-los com artilharia, não compareceu. Guevara foi preso a 08 e executado em território boliviano a 09 de outubro de 1967, a mando do presidente, General Renê Barrientos. A execução ocorreu na selva, longe das vistas de seus admiradores internacionais. Contava o Che com quarenta anos.
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Um dos biógrafos chapa-branca de Guevara, citado várias vezes no livro de Fontova, o mexicano Jorge Castaneda, antigo esquerdista radical e convertido ao socialismo light que predomina nos EUA e em alguns países da América Latina, esteve envolvido em episódio no mínimo curioso. Convidado para um evento promovido pela sofrida e perseguida oposição venezuelana contra o brucutu bolivariano Hugo Chavez, Casteneda o criticou asperamente, afirmando que Chavez estava tentando criar uma outra Cuba na América Latina. Para quem dedicou grande parte de sua vida a homenagear os tiranos Castro e Guevara, essa é uma virada e tanto.
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segunda-feira, 8 de novembro de 2010

O anel dos Nibelungos (parte II).

Alberico, rei dos nibelungos, consegue enganar a vigilância das ondinas e rouba o ouro de Votã. Porém o deus, com mais poderes, arrebata o ouro roubado e o anão jura vingança.
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Na noite que antecedeu aquela manhã fatídica, em que Sigismundo perdeu a vida pela espada de Hundings, ele tomou Sigislinda em seus braços, numa clareira da floresta, e a amou com toda a intensidade. Ela se entregara por completo, pois até aquele momento não conhecera o amor.
E estes momentos de intensa paixão geraram uma vida, um menino, que tão logo nasceu a mulher confiou à guarda de um anão nibelungo, evitando a ira de Hunding. Mantendo-se a custo com a saudade do guerreiro e não podendo ter nos braços o filho, maltratada pelo marido violento, Sigislinda não tardou a morrer, indo ao encontro do amado na eternidade. O menino Sigefredo, gerado por aquele desesperado amor, criou-se sem medo, arrostando todos os perigos. Seu padrasto Mime era na verdade irmão de Alberico, tendo os dois nibelungos resolvido esperar que o garoto se tornasse adulto para realizarem um plano de vingança contra Votã. Mime sempre o alertava sobre a desgraça do pai, morto por interferência do deus das alturas celestes. Já adulto, procurou o guerreiro o lugar em que o pai fora atingido pela espada de Hunding, e lá achou os pedaços prateados da arma que antes pertencera ao próprio Votã, e que Sigismundo retirara de um tronco para depois fugir com a amada Sigislinda para a floresta.
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Ajudado por Mime e Alberico, não foi dificil para o jovem forjar novamente a espada, que ficou perfeita e com seus poderes renovados. Era a arma que somente seria usada por quem desconhecesse o medo, e Sigefredo se sentia assim.
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Mime leva o jovem até a caverna do dragão Fafner. Este, assim que vê o guerreiro, avança para ele com um urro que faz tremer a montanha e a gruta. Sigefredo não se intimida e responde ao ataque com sua espada prateada. Desvia-se com agilidade da investida e, num pulo, enterra sua arma por inteiro no corpo da fera, que cai com estrondo. O dragão se retorce, agoniza, e finalmente morre com um urro que ecoa nos vales. O herói tem agora a seu dispor o ouro de Votã, mais o anel e o elmo. Dispõe-se a retomá-lo e adentra na gruta, mas percebe atrás de si uma sombra e se volta como um raio. É Mime, que levanta o punhal pata atingi-lo pelas costas. Furioso, decepa de um só golpe a cabeça do anão.
O dragão morto ainda esguichava sangue, e algumas gotas sujaram as mãos do guerreiro. Ao colocar a mão na boca para limpar-se, sente que o sangue lhe provoca uma ardência e, maravilhado, passa a entender todos os gorjeios e cantos dos pássaros em sua volta. Convence-se do poder daquele sangue e o passa no corpo. Com isso se tornará invulnerável aos golpes dos inimigos. Mas, apressado, esquece de passar no meio das costas, onde as mãos têm mais dificuldade de tocar.
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Sigefredo é avisado pelas aves que uma valquíria, Brunilda, jaz adormecida numa colina. Parte para lá de imediato, disposto a livrar a guerreira de seu destino. Mas o pai Votã a tudo observa. Impôs o castigo à filha desobediente e não permite que a livrem. Desce à terra e toma a forma de um ancião, armado de poderosa lança.
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Mas os deuses também, como os homens, cometem enganos. O guerreiro sem medo o enfrenta com a espada encantada que um dia fora dele e quebra a lança, deixando Votã inerme e sob o jugo do inimigo. Eis que se aproxima o fim dos deuses.
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A valquíria ainda dorme recostada em seu elmo, tendo em redor de si uma barreira de chamas que o pai tivera o cuidado de formar, antes do encontro com o guerreiro. Este, porém, transpõe a barreira sem se intimidar e socorre finalmente a bela mulher.
Sigefredo e Brunilda se apaixonam e casam. Ele, apesar de bem mais jovem, tem, para ela, a mesma aparência do amado que morrera sob os golpes de Hundings. O casal possui agora o anel, o elmo e as pedras de ouro de Votã. O marido conta à feliz valquíria o seu segredo. Seu corpo é invulnerável, com exceção de um pequeno ponto em suas costas. Mas confia que seus inimigos terão sempre que enfrentá-lo pela frente e de peito aberto.
Mas Alberico, bem velho, ainda planeja vingança. O filho Hagen, forte e aguerrido, que nascera de uma relação sua com uma mulher da estirpe dos homens, não é baixo nem atarracado como o pai. O nibelungo cria o filho com a missão de executar a sua vingança. Dá a ele uma poção mágica que pede que entregue a Sigefredo, como se vinho fosse. Os dois se encontram na mata e Hagen, em nome da hospitalidade, lhe oferece a bebida, que o guerreiro toma num brinde. Retorna ao lar, mas a beberagem já fizera os seus efeitos. Regressou a custo, pois não mais se lembrava de onde morava. E dali por diante esquece de tudo o que lhe ocorrera antes. Ignora Brunilda que, desesperada, não consegue entender a súbita mudança do marido. Sigefredo ainda faz mais. Repele a esposa e entrega-a a um outro guerreiro, Gunter, desposando a irmã da valquíria. Cega pela dor e pelo ciúme, Brunilda vaga pelos ermos distantes. Encontra Hagen e a ele revela o segredo da invunerabilidade do marido infiel.
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É quase fim de tarde e Sigefredo está na seio da floresta, a ouvir o canto dos pássaros. Hagen consegue se aproximar sorrateiro e enterra a espada nas costas do guerreiro, no ponto indicado pela valquíria. O sol vai morrendo no horizonte, ao mesmo tempo em que a alma do jovem guerreiro é levada aos céus por uma penalizada valquíria.
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O mesmo fado cruel e terrível coubera ao filho de Sigismundo e Sigislinda. O corpo inerme do herói
é colocado numa pira de fogo, como reza o costume, onde se consumirá. Hagen vasculha a casa do infeliz casal, mas não consegue descobrir os tesouros desejados pelo pai nibelungo. Brunilda os escondera na floresta. Ela toma os objetos todos, que julga serem a causa de sua ruína e, com as faces revoltas e os cabelos em desalinho, joga-os de volta ao rio Reno. As ondinas, atentas, se encarregam de devolvê-lo ao lugar de onde nunca deveria ter saído, no mais profundo das águas.
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Brunilda desiste da vida, que lhe é impossível sem a presença do marido. Monta seu cavalo e se lança como doida em direção à pira em que jaz o amado. Consome-se no fogo com ele. Uma enorme labareda se eleva até os céus e atinge o Walhalla, o palácio de cristal, onde os deuses aguardam resignados o seu destino. Tudo explode em turbilhões enormes e o céu enegrecido a custo se refaz.
Acabava para sempre a grandeza, o poder e a morada dos deuses.
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P.S. Podemos observar que, apesar das culturas tão diversas do nosso planetinha, elas possuem sempre algum ponto em comum. A adormecida valquíria nos relembra a Bela Adormecida a esperar seu príncipe, guardada por um feroz dragão. A parte vulnerável do corpo do guerreiro Sigefredo nos remete à guerra de Tróia, onde o invulnerável Aquiles só tem como ponto fraco o seu calcanhar. As ondinas nada mais são que a sereias gregas e mesmo as iaras indígenas. Por que não comparar Sigismundo e Sigislinda com Paris e Helena?
Os deuses costumam, independente de nacionalidade, morar no alto dos céus e em meio a nuvens douradas. As valquírias podem ser comparadas às ninfas dos bosques, que vivem a fugir dos sátiros e faunos.Vinganças, poções e desgraças tornam-se comuns e recorrentes. Nem sempre o final será feliz, a exemplo da mitologia greco-romana. Mas os pontos coincidentes demonstram que vivemos mesmo numa aldeia global, e nossos usos e costumes por vezes tão díspares, possuem alguns pontos em comum. E assim é feita e refeita a história dos homens, verdadeira ou mítica, principalmente por aqueles que vencem as disputas e porfias, seja através da coragem, ou da cizânia e dissimulação, como costuma acontecer muito nos tempos atuais. Nossa América Latina serve como exemplo da segunda hipótese.
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Pesquisa e resumo com base no Tomo V da Enciclopédia Trópico. O conto "A lenda do tesouro do rio Cubatão", de nossa autoria, postado neste blog nos dias 11 e 12 de agosto deste ano, foi elaborado com base nesta lenda nórdica.
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