Roberto Rodrigues de Menezes.

Roberto Rodrigues de Menezes



sábado, 30 de junho de 2012

JESUS


Não vos deixeis desencaminhar. De Deus não se zomba, porque tudo o que o homem semear, ele também ceifará (Gálatas 6, 7)
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O Cristianismo vai acabar, vai encolher e desaparecer. Eu estou certo. Jesus era legal, mas suas disciplinas são muito simples. Hoje nós somos mais populares que Jesus Cristo.
Imaginem um mundo sem fronteiras e sem religião.
(John Lennon).
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Nem Jesus me tira a presidência (Tancredo Neves).
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Aceito até o apoio do demônio para me tornar presidente (Leonel Brizola).
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Show no Canecão, no Rio. Cazuza traga um cigarro de maconha, lança a fumaça para cima e diz: Deus, está  é pra você. O público delira.
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Um pastor evangélico tenta conversar com Marilyn Monroe sobre Deus. Não preciso do seu Jesus, rebate ela. (Uma semana depois foi encontrada morta).
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Vou seguir até o fim, na auto-estrada para o inferno. (Bom Scott, vocalista do AC/DC, encontrado morto no ano seguinte no seu próprio vômito).
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O construtor do Titanic:
Nem Deus poderá afundar meu navio.
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2005 - Campinas, SP. Uma jovem espera alguns amigos para ir com eles à balada. Eles chegam num carro e a mãe nota que já estão um tanto embriagados. Ela diz à filha, preocupada: Que Deus te proteja. A filha rebate zombando. Só se eu for no porta-malas.
 Logo em seguida o acidente e morrem todos no carro. Veículo destruido mas, para espanto da perícia, o porta-malas estava intacto. Havia até ovos em seu interior, que não quebraram.
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É prudente nunca brincar com Deus, nem fazer pouco dele, como já está ficando comum.
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Colaboração de Denise Furtado Koerich.
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quarta-feira, 27 de junho de 2012

Contra toda esperança XVI.


Pedro Luiz Boitel, prisioneiro político de Castro, agonizava na sua tresloucada greve de fome.
O primeiro a aparecer foi um sargento, ajudante do tenente Valdez, chefe da polícia política naquele presidio. Quando o sargento ergueu o lençol e viu o que restava de Boitel, arregalou os olhos, deu um passo para trás e saiu correndo para avisar seus superiores. Era impressionante aquele esqueleto coberto de pele, que emitia apenas uns fracos gemidos. Os presos pediam assistência médica ao tenente que chegara. Valdez negou.
- Isso eu não posso. Vou informar ao ministério o estado em que ele se encontra. Mas não cederemos a nenhuma pressão. Boitel já nos cansou com suas greves.
Foi-se o tenente, as horas passavam e nada de cuidados a Boitel. Estávamos impotentes e desesperados. No dia seguinte tiraram-no da cela. Ele foi para uma salinha ali no presídio. Nela estavam Medardo Lemus, o chefe dos cárceres e prisões, o tenente Valdez, O'Farril e outros oficiais.
No alto das janelas da cela os detentos observavam a cena. Colocaram um biombo para impedir a visão, Boitel deitado. Um deles falou ao sargento:
- Quando ele parar de respirar, avise.
De madrugada se escutava a voz agonizante de Boitel pedindo água. De repente o silêncio. Boitel estava morto depois de 53 dias de greve de fome. Era 24 de maio de 1972.
Dias depois o tenente Abad se apresentou na casa da mãe de Boitel. 
Clara, ao vê-lo foi assaltada por uma de suas premonições:
- Meu filho está morto!
Um primo de Boitel estava na casa e o tenente o chamou para que desse a notícia à mãe. Mas Clara não esperou. saiu para a rua e dirigiu-se alucinada para a prisão do Príncipe. Mas os guardas, que a conheciam, não a deixaram passar nem da primeira guarita. Clara se negava a sair. Foi enfiada à força num carro de polícia e levada para a chefatura da polícia política. Noemi, uma amiga, fez questão de ir com ela.
- Não adianta.Vamos lhe dar a notícia, Clara, falou o tenente Abad.
- Que notícia, que notícia?...
- Seu filho já está morto e enterrado. Não grite, pois não está em sua casa.
Clara tentou se erguer do sofá, mas o tenente jogou-a de volta. Ele tentou de novo e Abad a esbofeteou. Puseram-na à força numa cela. Já noite avançada levaram-na de volta para casa, num carro patrulha. Gente da rua, do comitê de defesa da revolução, ameaçaram-na. Cortaram o seu telefone e lhe gritaram que não podia perturbar a ordem pública com seus gritos. No dia seguinte oficiais a avisaram do local em que o filho estava enterrado.
No dia 30 de maio, acompanhada por outras mães e familiares de presos, Clara tentou chegar com flores no túmulo do filho. Caminhavam para as valas comuns, onde eram enterrados os fuzilados. Mas no caminho fora  interceptadas, insultadas e agredidas por um grupo de mulheres armadas com bastões de madeira. Não lhes permitiram sequer uma oração.
Algumas das agressoras, se bem que estivessem a paisano, sabia-se que pertenciam à polícia política.
A notícia da morte de Boitel, o preso mais rebelde das masmorras de Castro, chegou até nós, prisioneiros, pelo dr. Gallardo, um médico preso que nos visitava  e que depois viemos  a saber que era um agente infiltrado.
Algumas semanas mais tarde, na casa do oficial do ministério do interior, Alfredo Mesa, no bairro do Cassino Esportivo, nos arredores de Havana, e enquanto preparavam espingardas para a caça aos patos dos pântanos de Zapata, Medardo Lemus comentou que Fidel deu a ordem de "liquidarem Boitel para que não fodesse mais".
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É uma pena Lula não gostar de ler. Poderia conhecer algo mais que a política chinfrim que sempre utilizou e ter horizontes de conhecimento histórico bem mais amplos. Senhores da mentirosa comissão da verdade, peçam a Raul Castro uma reparação para a família de Boitel. Como?... Ah, isso é ingerência nos assuntos internos da amada Cuba? Entendi!...
Em tempo: Boitel não teve balas paulistinhas para lhe aliviarem a fome.
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Contra toda esperança XV.


Para análise e comparação, apresento entrevista de Lulla a Augusto Nunes em 1997, quando narrou sobre sua prisão de 30 dias no DOPS em 1980, o que lhe rendeu, além de uma bela grana, uma aposentadoria mensal (reparação) de sete mil reais. Mais honesto seria que ele a desse para os pobres gnus, cujo voto a esquerda controla com bolsas.
"É uma passagem estranha com relação ao dr. Tuma. Ele me tratava com muito respeito. Obviamente que eu fui preso numa condição excepcional. Tinha massa na rua, tinha opinião pública nacional e estrangeira contra minha prisão e a dos outros dirigentes sindicais. Então havia um constrangimento político, mas havia um comportamento humano".
(Puxa, meu, se isso era ditadura, era bem chinfrim. Os agentes tinham medo do Lula).
"Por exemplo, a minha mãe estava com câncer e estava para morrer. Tuma pedia aos delegados me tirarem da cadeia de madrugada para visitar minha mãe. Fui no enterro de minha mãe, fui no hospital quando minha mãe morreu. Eu estava preso. Chegava lá, o delegado me soltava, via a minha mãe... A ponto de que no dia do enterro de minha mã eu tive que defender o delegado. Daí tinha umas três, quatro mil pessoas no cemitério e o pessoal não queria que eu voltasse preso mais. Aí começaram a bater com tijolo no carro da polícia, cercaram o carro. Eu tive que convencer os metalúrgicos que não tinha sentido deixar os companheiros presos, pois eu tinha que defender. Aí voltei..."
(Realmente, a ditadura no Brasil deveria ter pedido orientações a Castro pra ser mais competente como ditadura).
"O Tuma tem uma passagem interessante. Eu estava preso e fazendo um tratamento de canal. Eu não sei porque cargas d'água eu usei aquela agulhinha para fazer limpeza no canal. Quando foi um dia, entupiu o canal, a boca ficou inchada e começou a doer. Era quase meia-noite. Aí eu pedi pro carcereiro ligar pro Tuma. À uma hora da manhã o Tuma trouxe um dentista pra cuidar do meu canal. Estava nervoso e com medo de no dia seguinte a imprensa publicar..."
(Já não lhes afirmei que esta ditadura estava mais pra ditamole?)
"Tem um episódio engraçado. Uma vez, nós entramos em greve de fome. Eu era contra, mas a maioria deliberou... Eu tinha um monte de bala paulistinha e escondia debaixo do travesseiro. Aí o meu companheiro Djalma Souza descobriu e deu descarga nas minhas balas e eu fiquei sem as balas. E quando nós dissemos pro Tuma que íamos fazer greve de fome, ele ficou histérico, bravo... que aquilo era um desrespeito à amizade que ele tinha demonstrado por nós, era uma falta de consideração e a partir daquele instante não ia mais ter jornal, ter rádio nem assistir televisão. É engraçado que quando ele deu essa bronca a gente estava com o rádio ligado e ele saiu e foi embora. No outro dia, o Tuma mandava o carcereiro me chamar para ler na sala dele os jornais do Brasil, Globo, Estadão, Veja ... E falava assim pra mim. Você não conta nada lá embaixo que você leu (risos)".
(Este era, senhores, o horror da ditadura militar. O Lula teve uma vantagem sobre os outros. Não mentiu). 
"Essas coisas só podia acontecer no momento em que você estava preso, com a sociedade fazendo aquela pressão, que a pressão da sociedade era muito grande.
Aí começou a chegar investigador. De repente, eu já estava fazendo reunião com investigador, tentando mostrar deles fazerem um sindicato e ganharem um pouco mais porque... eu via investigador com relógio Rolex no pulso. E eu falava: O salário que você têm não dá de comprar isso, meu caro, aí todo mundo sabe que vocês estão fazendo alguma coisa, levando propina".
(Não digo, leitores, que nesta república até prisão política termina em pizza e cerveja? Não são sérios como em Cuba. Se Armando Valladares chamasse um carcereiro cubano de ladrão, estaria morto. E lá os carcereiros eram tão ladrões quanto os daqui).
Eu acho que vocês precisam se organizar num sindicato para melhorar a vida de vocês. Aí entrou o Tuma e me deu um esporro.  - Não é possível, você tá preso aqui, tentando organizar os investigadores contra a polícia, quantas não sei das quantas. tal..."
(Lula tentava, preso, organizar o sindicato da polícia. Verdade ou fanfarronice? Vejam os senhores que as prisões no Brasil eram, no mínimo, surrealistas. Verdadeiro mimo! E a esquerda posando de séria.)
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Conclusões sobre todo esse besteirol:
- Lulla me pareceu um narciso tupiniquim, tamanha a empáfia.
- Lula conhece Armando Valladares? Ele não ganha reparações indevidas.
- Se Armando fizesse um décimo do que o histriônico Lula fez com o Tuma, estaria no paredon em dois tempos.
- Essa das balas paulistinhas é de matar. Amanhã lhes apresentarei uma greve de fome real, séria, que resultou em morte. Não a palhaçada esquerdista.
- Digo sem qualquer medo de errar que metade, no mínimo, do que se diz sobre a ditabranda militar é a mais deslavada mentira dos vermelhos brasileiros. Já há várias comprovações disso.
- Sete mil reais por mês, senhor Lula. Eu teria vergonha!...
E essa inútil comissão da "verdade"!...
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Vereza tem razão: por que a perplexidade com a aliança entre Maluf e Lula? Eles são a dupla face da mesma moeda, iguais nos objetivos e farinha do mesmo saco. Nada mais coerente que se unam.
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terça-feira, 26 de junho de 2012

Contra toda a esperança XIV.



As experiências biológicas e suas vítimas.
Os que sabiam o que faziam e as consequências eram os psicólogos do departamento de avaliação psíquica da polícia política, diretores da mais ambiciosa e criminosa experiência da qual éramos cobaias e na qual as autoridades depositavam suas esperanças de nos dobrar e nos levar à aceitação da doutrina marxista, para a "reabilitação" política.
Se tanta violência física e psíquica não desse certo, a alternativa, talvez, seria nos assassinar. Eu não morri porque Martha me fez conhecido internacionalmente. Os homens de branco que nos entrevistavam eram corteses e amáveis. Mas isso não impediu que durante várias semanas colocassem nos alimentos quantidades excessivas de sal, tanto que ao comer nossa garganta ficava em brasa. Depois tiravam o sal completamente. Com esse sistema o metabolismo dos presos sofreu distúrbios, principalmente os que tinham problemas de pressão arterial e rins.
A ausência de proteína fez aparecer os sintomas de fome ou desnutrição. Primeiro inchavam os tornozelos e as pernas; depois as coxas, os testículos, o abdômen e o rosto. Eles observavam os casos dos que ficavam inflamados da cintura para cima. Os que corriam risco de morrer eram retirados e levados para um hospitalzinho cercado de grades. Não sabíamos mais deles. No hospital o preso era submetido a interrogatórios intermináveis. Já doente, era difícil resistir.
Lá faziam todo tipo de análise. Pesavam os alimentos, assim como os excrementos e urina. Depois administravam doses maciças de diuréticos. Os doentes mal podiam dormir, pois tinham que se levantar continuamente para urinar. Desinchávamos como balões de borracha. Um dos casos mais graves foi o de José Carreño. Ele era um intelectual e o que mais nos orientava para resistir. Ensinava-nos a respeito do marxismo e da ideologia posta em prática em nosso país. Depois de submetido ao tratamento já descrito, suas coxas incharam tanto, que ele teve que ser levado nu para o hospitalzinho. Quase não o reconheci, tão monstruosamente inchada estava a cara dele. Deram-lhe os diuréticos e ele quase perdeu 25 quilos de peso. Eu perdi nove quilos em cinco dias, com o mesmo processo. 
O propósito de nos transformar em farrapos ia sendo cumprido com meticuloso rigor. Éramos como que espectros, esqueléticos, como aqueles sobreviventes dos campos nazistas de concentração, depois de termos perdido treze, dezoito e até vinte e cinco quilos de peso.
A 07 de fevereiro de 1972 morria Ibrahim Torres, nosso querido Pire. Seu corpo não resistiu às experiências. Quando viram que o que faziam não adiantava muito, resolveram nos deixar em paz.
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Minha adorada Martha conseguira sair do país com seus pais. Ela daria a conhecer minha situação no estrangeiro, assim como a de todos os presos políticos. Talvez com isso conseguíssemos sensibilizar a opinião pública mundial para os horrores dos cárceres castristas. Tivemos que convencê-la que ela seria muito mais útil fora do que em Cuba. 
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sexta-feira, 22 de junho de 2012

CONTRA TODA ESPERANÇA XII.



Armando Valladares
UNIFORMES AZUIS.
O diretor do presídio queria nos obrigar a usar uniformes azuis, em troca de algumas benesses. Sempre usáramos cáquis. 
Mas os azuis eram os dos presos comuns, homicidas, ladrões, dos "reabilitados", ou seja, aqueles que concordavam com o regime e diziam amém a Castro.Nós éramos presos políticos e nos recusamos. Resolveram, então, nos deixar nus, até que nossa vontade quebrasse. Passávamos muito frio e muitos adoeceram. Num raro dia de visitas, tive que receber nu, morto de vergonha, minha mãe e Martha. Abracei minha mãe para evitar que Martha me olhasse. O guarda veio com o uniforme azul, que eu recusei indignado. Ele mandou as duas embora e eu fiquei só.
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A existência de prisioneiros políticos nus foi denunciada diante de governos e organizações  internacionais, mas ninguém se preocupou em se manifestar. A Anistia Internacional manteve-se em silêncio. Seu diretor era, nessa época, Sam McBride, que recebeu o Prêmio Lenin da Paz, concedido, como se sabe, pelo Soviet Supremo da URSS aos que defendessem os seus interesses, sua política exterior e suas concepções ideológicas. Este mesmo Sam McBride dez anos depois, em julho de 1978, presidia uma conferência sobre Direitos Humanos realizada na Venezuela, para denunciar violações que estavam ocorrendo na América Latina. Muito gentil, cumprimentou minha esposa, sem saber quem era ela. Quando Martha começou seu discurso e o senhor McBride escutou-a dizer que em Cuba os direitos humanos eram violados, perdeu toda a compostura, gritou, histérico, e proibiu-a de continuar falando. Martha tentou continuar a exposição, mas o senhor McBride começou a bater fortemente sobre a mesa, gritando ao microfone que os tradutores parassem de fazer a tradução simultânea. Com isso ele conseguiu, diante da consternação de todos, impedi-la de continuar falando. No dia seguinte, na primeira página do jornal venezuelano Últimas Notícias havia esta manchete ocupando todo o espaço do jornal: "VIOLAM-SE OS DIREITOS HUMANOS EM CONFERÊNCIA SOBRE DIREITOS HUMANOS". Os demais órgãos de imprensa também comentaram o incidente, com duras críticas.
O Senhor McBride não queria ouvir nada sobre a violação dos direitos humanos em Cuba. O que teria pensado o Soviet Supremo se ele tivesse permitido? Talvez lhe retirassem a medalha Lenin da Paz.  
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Os comunistas são risíveis. Instituir uma tal medalha dando a ela o nome de um louco furibundo é, no mínimo, ridículo.
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domingo, 17 de junho de 2012

CONTRA TODA ESPERANÇA XI.



presídio da ilha de Pinos.
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Do livro de Armando Valladares, ex-preso político de Castro.
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Alfredo Izaguirre, preso de consciência como eu, tinha decidido, depois de uma análise que comentou comigo na cela,  não trabalhar forçadamente nunca. Sabia que se arriscava a ficar mutilado ou até que o matassem de pancada, mas sua decisão era irrevogável.
Quando o puseram na cela de castigo, o deixaram sossegado por dois ou três dias. Depois desse tempo foram buscá-lo. Da circular vimos Alfredo escoltado por um pelotão que o levou até o fundo do quartel, por onde passava uma vala que era percorrida pela águas servidas dos banheiros e latrinas. 
Queriam que Alfredo movimentasse para frente, com uma lata, os excrementos que se acumulavam nas beiradas da escavação.
O tenente Porfírio Garcia, chefe da Ordem Interior, sabia que era uma questão de princípio. Precisava quebrar a resistência dele. Alfredo negava-se até mesmo a tocar na lata.
A primeira coisa que fizeram foi rebentar a lata na cabeça dele. Os presos viam tudo da circular. Parecia até que os carcereiros desejavam isso, para nos intimidar.
E começou uma surra brutal. A lâmina de uma baioneta soltou-se ao bater-lhe contra a testa. Depois da primeira sessão de pancadas, o tenente Porfírio voltou a insistir, tentando convencê-lo que seria bem melhor. Nova surra. Pararam de bater e prometeram levá-lo para Havana, o que todo preso desejava, tal o terror em Pinos. Mas Alfredo, com o rosto já todo ensanguentado, resistiu. Furiosos, foram batendo nele com as culatras dos fuzis, até que ele perdeu os sentidos. Agarraram pelos pés e mãos e o jogaram num jeep.  Das circulares 3 e 4 dezenas de olhos aterrorizados acompanhavam a tortura selvagem.
Resolveram tirá-lo do jeep e o jogaram no chão. Foi quando apareceu o doutor Agromonte, novo médico militar do presídio, acompanhado por outro de pequena estatura. Foi este que agachou-se, levantou Alfredo, apoiando-o no joelho, para examiná-lo. Alfredo ficou nu, somente com as botinas. Via tudo, mas não conseguia falar.
- Precisamos levá-lo já.
Jogaram-no novamente no jeep e se foram, levando-o para a enfermaria do presídio.
Quando ele voltou, era a imagem de um quase morto. Estava com o osso do nariz quebrado e várias contusões e ferimentos pelo corpo inteiro. Uma das baionetadas havia pegado na dobra da nádega, quando estava deitado de barriga para baixo apanhando. O ferimento fechou como abriu.
Ele continuou mal. Administraram-lhe soro. Quando o deitaram de costas o ferimento da nádega abriu e começou a sangrar. O sangue gotejava no chão. Alfredo já estava em coma, nos umbrais da morte. A surra bárbara o deixara com ferimentos enormes no corpo inteiro. A inflamação do rosto e o derrame pela pancada que lhe fraturou o nariz formaram olheiras completas, violáceas. Mesmo assim o devolveram à cela de castigo.
Alfredo Izaguirre foi um preso político que não prestou serviço nenhum nem por um minuto, nem por um segundo. Morto sob a tortura mais sangrenta, seu nome passou para a História da rebeldia do presídio político cubano.
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E dizer que, no Brasil, o partido hegemônico, a par de querer a desforra pela surra que levou no Araguaia, idolatra o facínora responsável por tantas mortes e torturas em Cuba. Se comparados a ele e seus capangas, os militares brasileiros não passaram de cândidos seminaristas. Dona Ideli Salvati voltou de Cuba encantada.
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quarta-feira, 13 de junho de 2012

Contra toda esperança X.


MARTHA.
A diretoria da penal comunicou, uma noite, que receberíamos as visitas no refeitório, sem as odiosas cercas de arame. E além disso, que os visitantes seriam autorizados a nos levar um pacote de ajuda familiar. A visita seria a cada 45 dias.
Foi uma alegria. Depois de mais ou menos três anos sem ver nossos familiares, aquela possibilidade nos encheu de ilusões. Pensei em meus pais, em minha irmã e em Martha, que por fim iria ver. Depois de anos de correspondência clandestina, nossa identificação havia sido tão profunda, que tudo em nós pedia um encontro.
Por fim chegou o dia da visita. Tiraram-nos do refeitório e nos revistaram. Vários pelotões de guardas esperavam. A revista foi vexaminosa. Tivemos que ficar completamente nus, para que revistassem a nossa roupa costura por costura. Era uma obsessão. Tinham que impedir que saísse qualquer denúncia, uma carta que tivesse valor de testemunho. Mandaram-nos até abrir a boca., levantar os testículos. Não se podia levar nada às visitas.
Às dez da manhã, aproximadamente, apareceu o contingente de familiares. Os encontros foram dramáticos, carregados de emoção. Os abraços, as lágrimas, a alegria, tudo misturado naqueles momentos de emoção.
Chegou minha família. Meu pai foi o único que deixou escapar uma lágrima. Minha mãe a a irmã me abraçavam e beijavam ao mesmo tempo. Só podiam entrar três familiares por preso. Martha conseguiu entrar cm uma família amiga. Sua presença foi inesquecível para mim. Mais de três anos tinham se passado desde que nos víramos pela primeira vez. A adolescente era agora uma moça com quase dezoito anos, mais alta, mais mulher, mais bonita e elegante.
Quando chegou, olhamo-nos nos olhos, sem dizer uma palavra. Ela corou. Por dentro, nunca tínhamos deixado de estar juntos. Sabíamos que estávamos unidos para sempre. As palavras não são necessárias quando as almas dizem tudo. Nossa conversa foi como dar-nos as mãos e entrarmos num mundo maravilhoso, criado pelo amor que sentíamos e compartilhávamos. Tudo desapareceu ao nosso redor, as pessoas, o lugar, e éramos como um casal de namorados debaixo de um céu aberto e azul, inundado de uma luz que jamais nos faltaria. Sob ele nos encontramos sempre, deixando para trás celas e ferrolhos, angústias e tristezas.
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Armando Valladares, preso político em Cuba, já cumprira os vinte anos a que fora condenado por negar-se a reconhecer o comunismo.  Iam deixá-lo mofando até morrer num campo de "reeducação", se pressões internacionais não obrigassem o tirano Castro a expulsá-lo de Cuba. É casado com Martha e vivem nos EUA.
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segunda-feira, 11 de junho de 2012

Contra toda esperança IX.


Do livro de Armando Valladares, ex-preso político de Fidel Castro.
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A primeira vitória.
A inflamação já estava passando. Mas os ossos fraturados  e deslocados do lugar tinham soldado mal e meu pé estava torcido para dentro, com uma visível deformidade.. Nunca deixamos, meus companheiros e eu, de pedir assistência médica. A negativa sempre foi total.
(Armando e mais alguns companheiros tentaram fugir do presídio. Conseguiram, mas foram recapturados nos mangues da ilha de Pinos. Voltaram ao presídio debaixo de agressões que lhes deixaram arrebentados).
Naquela época os médicos prisoneiros é que dirigiam as salinhas do hospital do presídio. Se não fosse por eles, não teríamos a mínima assistência. O Dr. Armando Zaldivar era o chefe da salinha a que fui destinado. Médico jovem, formado na Espanha, regressou a Cuba com a vitória da revolução. Logo compreendeu que o país estava sendo dirigido para o comunismo e não vacilou em deixar de lado o estetoscópio e empunhar um fuzil e subir para as montanhas do Escambray combater contra Castro. Capturado e condenado a trinta anos, já estava a vários meses na ilha de Pinos.
Meu aspecto miserável impressionou a todos. A primeira coisa que Zaldivar mandou foi cortar minha cabeleira de meses. Também me barbearam. Depois que fui recapturado proibiram-me o banho e as latrinas para defecar estavam infestadas de bichos.. 
Prepararam-me um banho. Lembro que, com uma tampa de lata, que dividi ao meio para servir de colher, raspei a crosta de sujeira que tinha no corpo. Ela saía enroscando como cortiça. Foram necessários vários galões de água para aquele banho. Depois, virei outro homem. Eu me sentia como se me tivessem posto em liberdade.
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Com Raul Lopez consegui fazer sair da prisão um recado para minha família. Visitaram-me na salinha e me cobriram de carinhos.
Zaldivar conseguiu com que fizessem uma radiografia do meu pé. Foi assim que soube dos estragos que os guardas me fizeram  pulando sobre minha perna com seus coturnos, eu caído. Os ossos soldaram fora do lugar e estava com uma artrite pós-traumática e trocas artrósicas. Não se podia fazer mais nada.
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Armando Valladares estava já cumprindo dois anos a mais de sua prisão de vinte anos, quando foi expulso de Cuba por Castro, devido a pressões internacionais. Naturalizou-se americano e dedica-se a denunciar ao mundo os desmandos do ditador. Mas, aqui no Brasil, os livros de Armando não entram. 
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domingo, 10 de junho de 2012

CONTRA TODA ESPERANÇA XIII.

MEU CASAMENTO COM MARTHA.
Alguns de nós, encarcerados políticos, solicitamos à direção do Ministério autorização para nos casar, pois acreditávamos ser o momento propício, uma vez que os sofrimentos estavam mais abrandados.
O pai de Martha e eu queríamos que ela fosse embora de Cuba, morar com seus irmãos no exterior. Isso era necessário para sua segurança, depois de ter sido fichada e detida pela polícia política. Ela, depois de mil argumentações do pai e minhas, mudou a decisão de permanecer em Cuba e concordou em sair do país. A dela era uma das poucas famílias que tinham ficado para trás,  quando as solicitações para sair de Cuba foram  aprovadas. Naquela ocasião, dezenas de milhares de pessoas foram embora para os Estados Unidos nos chamados Voos da Liberdade em 1965.  Ela também teria podido ir.
Certa manhã, no escritório dos militares, assinamos alguns documentos legais e assim nos casamos. Aquele ato não tinha para nós o menor valor espiritual. Só nos sentiríamos realmente casados quando nos uníssemos diante de Deus.
Como uma especial concessão para os dois pares que se tinham casado, concederam-nos quinze minutos no salão de visitas. Quando Martha saísse de Cuba, faria isso como minha esposa. Tínhamos conversado o quanto seria útil seu trabalho fora do país em favor de minha libertação. Planejamos toda uma série de atividades com o objetivo de criar uma campanha de opinião pública que obrigasse Castro a me libertar.  Ela não teria dificuldades para levar essa campanha a cabo, pois era uma verdadeira ativista.
Martha respondeu com juros às esperanças que depositei nela.
(Armando Valladares, ex-preso político de Castro).
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sábado, 9 de junho de 2012

O pensamento de Friedrich Nietzsche


Não concordo com muitos pensamentos (especialmente no que concernem à religião) deste filósofo brilhantíssimo. Mas todos reconhecem seu valor exponencial para sua época. Nietzsche, nascido na Saxônia (1844-1900), teve vida extremamente infeliz .Foi um solitário contumaz.

Obras principais:
O nascimento da tragédia (1872).
Humano, demasiadamente humano (1878).
A gaia ciência (1882).
Assim falou Zaratustra (1883).
Ecce homo (1888).
O anticristo (1888).

Ao final da vida perdeu a razão.

Pensamentos do filósofo:
- De dor e cansaço estou quase morto.
- Kant e Hegel escreveram em estilo acadêmico somente para a classe acadêmica. Eu escrevo sobre a vida e para a vida.
- Deus está morto, e nós o matamos.
- Felizes são os mortos, que não morrem mais.
- Não sou meu corpo. Ele é um invólucro. A pele esconde vísceras, o que torna o homem suportável de se ver.
- As virtudes são vícios mascarados.
- Costuma haver uma ponte entre um ser humano e outro; na mais das vezes intransponível.
- Deus, o erro final na falsa busca de uma verdade verdadeira.
- Não escrevo lendo outros filósofos. Escrevo com o meu sangue.
- A mente adora passagens secretas e alçapões.
- Investigação e descrença começam pela ciência. Mas esta é estressante.
- Existem razões além da razão.
- O sujeito humano só pode ser examinado após serem varridas a convenção, a mitologia e a religião.
- Todas as ações são autodirigidas. Tudo é autoserviço. Todo o amor é próprio.
- Amamos o desejo; não a pessoa desejada.
- Torna-te quem tu és!
- O desespero é o preço pago pela autoconsciência.
- Quiçá criar um novo código de conduta moral, sem superstições e sem a ânsia do sobrenatural.
- Perdoa-se aos amigos com mais dificuldade que aos inimigos.
- Zaratustra - um antigo profeta persa.
- A maior árvore ascende às maiores alturas e mergulha as raízes mais fundas para dentro da escuridão.
- É mais fácil obedecer a outro que dirigir a si mesmo.
- Se você mata Deus, terá que deixar também o abrigo do templo.
- O espírito de um homem se constrói a partir de suas escolhas. (Isso é muito copiado hoje).
- Eis um homem (Ecce homo) tão oprimido pela gravidade - sua cultura, sua posição, sua família - que jamais conheceu sua própria vontade.
- Todos os pensadores sérios contemplam o suicídio. É um consolo que nos ajuda a atravessar a noite.
- Os sacerdotes oferecem a orientação sobrenatural, a proteção contra a morte, a imortalidade. Mas veja o preço que cobram: a escravidão religiosa, reverência pelos fracos, êxtase, ódio ao corpo, às alegrias e a este mundo. Não podemos recorrer a estes tranquilizantes inumanos.
- Odeio quem me rouba a solidão sem, em troca, me oferecer verdadeira companhia.
- Cada pessoa está fadada a ser sozinha.
- Médicos da angústia se tornarão uma especialidade típica e importante. (Sigmund Freud foi seu contemporâneo).
- A morte perde seu terror quando se morre depois de consumir a própria vida.
- Meu destino é procurar pela verdade na lonjura da solidão.
- Quero, mas não posso me aquecer na lareira de uma família.


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