Roberto Rodrigues de Menezes.

Roberto Rodrigues de Menezes



sábado, 31 de dezembro de 2011

A voz do ano que passou.


31 de Dezembro de 2011
Como o soldado que embrenhado na solidão da mata, no silêncio sepulcral da noite, vai cauteloso, render no quarto de vigilia, o sentinela perdido nos pontos mais avançados, assim o novo ano escalado para render ao velho ano, já esta no seu posto de guarda.
Alguém o teria percebido? Talvez...
Florianopolis, como todas as cidades do mundo, está excitada e em festa. Á hora em que o novo ano chegou, á misteriosa hora vinte e quatro, a cidade inteira estava acordada. Não mais, como no passado, isolado boêmio ou noctívago romântico enamorado pelo luar, ou um retardatário, despertando a aguçada curiosidade dos olhares investigadores dos policiais das patrulhas.
Por isso, os anos velho e novo estavam sendo mais do que percebidos.
Nas adjacências do quartel, na praça que lhe fica fronteiriça, os barulhos da virada de ano se faziam presentes. O sentinela das armas, postado no portão principal, ereto no seu posto, tinha, mesmo naquele ambiente de alegria exagerada, algo de majestoso: dir-se-ia que era ele quem regia, impunha toda aquela orquestração aos seres, aquela efervecência na natureza.
De repente, ouviu-se um estalido forte, produzido por uma brusca pancada na bandoleira de um fuzil. O sentinela estava agora, mais ereto e firme ainda, de arma apresentada, em continência a alguém que passava.
Mas, quem poderia estar passando por ali, aquela hora da noite enlouquecida?
E o soldado lá estava firme no seu posto de guarda, arma apresentada, gesticulando, falando com alguém, cujo vulto não era percebido.
Sonambulismo? Talvez sim; talvez não...
- Sentinela, quem passou por aqui, merecedor da continência que acabas de prestar?
- Foi o ano que passou...
- O ano?...
- Sim, ele passou, e eu o percebi, realmente, na imaginação daqueles que fazem votos para que o ano que está por vir seja melhor e que estejam todos felizes comemorando. O ano apresentou-se-me na imagem de um ancião, de aspecto tão venerável que a minha alma se comoveu, possuida do mais alto e sincero sentimento de respeito. Se eu fora paisano, teria beijado sofregamente as mãos trêmulas do ancião, como o fazia quando criança, mas, soldado que sou, sentinela no posto de guarda, não lhe pude exprimir de outra maneira todo o meu respeito, senão apresentando-lhe armas. Isso apesar dele me dizer que no seu transcorrer ocorreram mais desgraças e tristezas que alegrias.
- Sentinela, que te disse mais o ancião?
- O velho ano descortinou, aos meus olhos, todo o passado de nossa humanidade, e o quanto precisamos melhorar, principalmente os que nos governam.
A cidade explode em luzes e foguetes. O ano novo, qual sentinela avançado, está a postos para seu árduo trabalho que começa.
Sentinela! Sentido! O eco está repetindo a voz do ano que passou.
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(Artigo  adaptado de um texto do segundo tenente ILDEFONSO JUVENAL DA SILVA, elaborado em 1935.  Ele (1894-1965) é meu patrono na cadeira 15 da Acadenia de Letras do Brasil/SC/Florianópolis.
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PARA OS MEUS QUERIDOS LEITORES UM ANO DE 2012 REPLETO DE FELICIDADE.
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P. S. Noticio, com muita tristeza, o falecimento a 28 de dezembro deste ano que finda, da senhora Maria Luzinete Manfiolete, dona Nete, que visitei em outubro de 2010, quando resolvi reviver a história triste de um colega, Tenente Ivan Leal da Silveira (artigo de 25-10-2010). No ano de 1972, dona Nete perdeu Ivan, seu genro, o marido e o filho caçula, num acidente de carro. Sua filha Rosely, esposa do tenente, que estava no carro, conseguiu sobreviver por quase sete anos. E foi se juntar ao marido. Que Deus receba dona Nete, que muito sofreu, e lhe dê muitas alegrias. Vai se juntar aos seus entes queridos que tão cedo lhe faltaram.
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A vida será sempre este paradoxo, meus amigos. Muita tristeza, desgraça, alegria e felicidade juntas. Mais para uns; menos para outros!...
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Estive assistindo à Retrospectiva de Rede Globo de Televisão. O brilho do Brasil e a desgraça dos outros países. Parece ter sido gestada no Palácio do Planalto, tamanha a chapa-branca.
Algumas observações:
- Sete ministros demitidos por corrupção e Dilma com aceitação ímpar. Coisa estranha. Ou os institutos de opinião, para variar, dão razão a quem paga, ou o povo não dá muita bola para corruptos, por motivos óbvios.
- O PT vai governar este país como o PRI mexicano, ou como Castro, por mais de meio século. Política assistencialista que mantém votos de geração em geração, além da cooptação generalizada de políticos fracos.
- Outro fato estranho neste país é a morte anunciada da ridícula oposição, com raríssimas exceções. O Partido no poder se reconciliou com todos os seus inimigos de outrora, para aprovar as medidas provisórias. Hoje o Executivo legisla perante um Congresso servil. O DEM se divide e funda o PSD com o objetivo de aderir ao poder. Todos querem aderir. Todos querem participar da cornucópia, da vaca pública das tetas grandes.
- Na área internacional, chama a atenção que ditaduras civis de crápulas como Kadhafi, Bashar e Mubarak, entre outros, serão substituídas por ditaduras nem um pouco melhores: as ditaduras religiosas fundamentalistas, como a do Irã.
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FELIZ 2012!
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