Roberto Rodrigues de Menezes.

Roberto Rodrigues de Menezes



segunda-feira, 19 de março de 2012

O horror ideológico à norma culta.



Cara Denise:
Fiquei entusiasmado com o teu entusiasmo quando te referiste aos teus aluninhos e suas perguntas.  Quando puder, irei sim, conversar com eles, assim que minha visão melhorar. Mas, como conselho de um velho professor de Língua Portuguesa (e sei que fazes isso), procura ensinar a eles a língua culta, as palavras corretas. Eu comecei em escola pública e meus mestres me ensinaram assim.  Desdenha a história esquerdista de o povo escrever como fala, ou utilizar este linguajar pobre da Internet. Ensina a teus alunos o melhor da norma, para que eles possam enfrentar concursos, provas, entrevistas, sem se sentirem diminuídos. Não vai atrás do canto da sereia que afirma que dois e dois são cinco. Estas esquisitices fazem com que mais e mais se formem legiões de analfabetos funcionais no nosso país, em nome de uma pedagogia dita libertária, mas que no futuro só fará mal, pois nivela por baixo. Este recado, na verdade, não é para ti, pois te conheço (fui teu diretor) e sei que tua preocupação é o bom português, a gramática, o conhecimento. 
Vai em frente, neste mundo pedagógico de nulidades, infelizmente. Seja diferente. Faz de tuas aulas algo sério, com disciplina, com estudo. Não aceita que a escola seja um eterno recreio.
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(Olavo de Carvalho).
Entre nossos literatos, (para não falar de estudantes de letras), não se encontrará um só que, lendo Camilo Castelo Branco, não engasgue a cada linha, intimidado por um vocabulário que, apenas com um século de idade, se tornou impenetrável mistério antediluviano. Quanto mais nos afastamos da nossa autêntica raiz lusitana, mais temos de tomar emprestada a seiva alheia, seja francesa ou americana, e mais a nossa autenticidade se torna uma caricatura do estrangeiro.
Nosso erro não está em buscar uma identidade. Está em algumas fontes do engano, nas quais bebemos compulsivamente há mais de um século. Revoltamo-nos sempre contra o dominador errado. Escravos da Inglaterra, continuávamos a nos bater contra o extinto domínio português. Intoxicados de francesismo, esforçavamo-nos por expelir de nosso ventre os últimos resíduos da herança portuguesa. E hoje, paralisados ante as patas do império mundial anglófono, ensaiamos uma rebeldia não antisaxônica e sim antilusitana, jogando bombas ideológicas contra a "língua dos dominadores", como se o FMI fosse presidido por Cândido de Figueiredo e a Gramática Metódica de Napoleão Mendes de Almeida fosse a Carta da ONU.
Vista sob este prisma, nossa pretensa busca de independência não é senão afetação e disfarce para encobrir uma renitente hipnose de botocudos ante os prestígios internacionais do momento.
Acreditamos demais na mágica besta do popular, do local, do costumeiro e do corriqueiro. Achamos que imitando a fala errada do povo seremos nacionais.
A norma culta está sendo considerada mecanismo de exclusão social e opressão de pobrezinhos. Para os meninos da Febem ou para o lavrador inculto, pode ser bom ou pelo menos cômodo, a curto prazo, que os deixem escrever como falam, sem subjugá-los à uniformidade da norma.
Subjetivamente, eles talvez se sintam menos excluídos, aprisionados na sua particularidade e sem acesso à conversação das classes cultas. Tudo depende de saber se queremos enfraquecê-los pela lisonja ou fortalecê-los pela disciplina.
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Um comentário:

  1. Boa tarde, sr. Roberto.
    Existe uma lei de promoção automática nas escolas estaduais. Eu sou efetiva no município de São José. Então aparecem realmente muitas crianças vindas e amparadas por lei do estado, completamente analfabetas para nós no terceiro, quarto e quinto ano. É uma verdadeira batalha! Mas nós agimos com bastante firmeza no município, e não passamos para a frente os analfabetos. Viramos tudo de cabeça para baixo para conseguir alfabetizar ao mesmo tempo as crianças que aparecem analfabetas e continuar o processo de alfabetização das nossas. Ano passado eu reprovei em Conselho alguns alunos. Esse ano eles estão mais preparados e caminhando num ritmo mais próximo aos outros... Mesmo assim nós temos que nos desdobrar em sete oito para dar conta. E não há nada a ser feito. Existe uma lei. E ela rouba a nossa voz.
    E se tentarmos gritar, ela tira a nossa voz.
    Quase matemático. Quanto mais eficaz a justiça num país, mais tranquila é a polícia. Como na Inglaterra. Mas quando a justiça é quse inexistente, até da polícia rouba-se a voz, imagine o que não se rouba dos professores.
    Ensino sim, meu alunos a portarem-se com disciplina. Exijo respeito e não negocio isso. Assim, percebo que eles não tornam-se pessoas de cristal, que a qualquer piada( e isso sempre existiu, hoje colocam como bullyng) não se abatam, e sigam em frente de cabeça erguida. Aprendam da maneira correta as palavras, sabendo que na vida serão cobrados por diversos meios o seu uso. Eu sou bastante exigente. Mas sei ficar do tamanho de uma criança quando ela chega amedrontada no primeiro dia de aula e segurar-lhe as mãozinhas. Depois eu entro no coração também. É por ali que basta um olhar para que saibam quando estão passando dos limites. Eu recebo assim, vinte e cinco abraços por dia. De crianças que não são de cristal. Engenheiros ilustrados projetaram e construíram campos de concentrações em ditaduras comunistas e nazistas. Além da Língua Portuguesa e da Matemática, quero formar alunos humanos.
    Quero que eles tenham escrita, fala, sonhos e humanidade.
    E que ninguém lhes roube isso.
    Denise.

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