Roberto Rodrigues de Menezes.

Roberto Rodrigues de Menezes



segunda-feira, 11 de junho de 2012

Contra toda esperança IX.


Do livro de Armando Valladares, ex-preso político de Fidel Castro.
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A primeira vitória.
A inflamação já estava passando. Mas os ossos fraturados  e deslocados do lugar tinham soldado mal e meu pé estava torcido para dentro, com uma visível deformidade.. Nunca deixamos, meus companheiros e eu, de pedir assistência médica. A negativa sempre foi total.
(Armando e mais alguns companheiros tentaram fugir do presídio. Conseguiram, mas foram recapturados nos mangues da ilha de Pinos. Voltaram ao presídio debaixo de agressões que lhes deixaram arrebentados).
Naquela época os médicos prisoneiros é que dirigiam as salinhas do hospital do presídio. Se não fosse por eles, não teríamos a mínima assistência. O Dr. Armando Zaldivar era o chefe da salinha a que fui destinado. Médico jovem, formado na Espanha, regressou a Cuba com a vitória da revolução. Logo compreendeu que o país estava sendo dirigido para o comunismo e não vacilou em deixar de lado o estetoscópio e empunhar um fuzil e subir para as montanhas do Escambray combater contra Castro. Capturado e condenado a trinta anos, já estava a vários meses na ilha de Pinos.
Meu aspecto miserável impressionou a todos. A primeira coisa que Zaldivar mandou foi cortar minha cabeleira de meses. Também me barbearam. Depois que fui recapturado proibiram-me o banho e as latrinas para defecar estavam infestadas de bichos.. 
Prepararam-me um banho. Lembro que, com uma tampa de lata, que dividi ao meio para servir de colher, raspei a crosta de sujeira que tinha no corpo. Ela saía enroscando como cortiça. Foram necessários vários galões de água para aquele banho. Depois, virei outro homem. Eu me sentia como se me tivessem posto em liberdade.
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Com Raul Lopez consegui fazer sair da prisão um recado para minha família. Visitaram-me na salinha e me cobriram de carinhos.
Zaldivar conseguiu com que fizessem uma radiografia do meu pé. Foi assim que soube dos estragos que os guardas me fizeram  pulando sobre minha perna com seus coturnos, eu caído. Os ossos soldaram fora do lugar e estava com uma artrite pós-traumática e trocas artrósicas. Não se podia fazer mais nada.
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Armando Valladares estava já cumprindo dois anos a mais de sua prisão de vinte anos, quando foi expulso de Cuba por Castro, devido a pressões internacionais. Naturalizou-se americano e dedica-se a denunciar ao mundo os desmandos do ditador. Mas, aqui no Brasil, os livros de Armando não entram. 
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