Roberto Rodrigues de Menezes.

Roberto Rodrigues de Menezes



quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Monsenhor Bianchini (parte II).

Monsenhor Francisco de Sales Bianchini (29-01-1925 Brusque // 26-10-2010 Florianópolis).
************************* Desde ontem o corpo do reverendo pastor foi velado na Catedral Metropolitana, com grande presença de autoridades, parentes, fiéis católicos, amigos e admiradores em geral.
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Às nove e trinta horas deste 27 de Outubro Dom Murilo Krueger, Arcebispo Metropolitano de Florianópolis, celebrou a missa de corpo presente, com mais dois bispos e inúmeros sacerdotes, além do povo cristão.
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Após a missa, o caixão com o corpo do santo sacerdote colocado em carro aberto do Corpo de Bombeiros, para sepultamento no Jardim da Paz, bairro Monte Verde, na capital.
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O caminhão em frente ao Museu Cruz e Souza, no centro de Florianópolis, já se deslocando para o Jardim da Paz, onde o Monsenhor Bianchini foi sepultado.
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O governador de Santa Catarina, Leonel Pavan, decretou três dias de luto oficial no Estado, em homenagem ao grande sacerdote, filho de Brusque e florianopolitano por mérito, cidadão catarinense por excelência, que dedicou toda a sua vida ao abnegado ministério sacerdotal iniciado em 1950 em Roma.
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SÃO JOÃO MARIA BATISTA VIANNEY, padroeiro dos sacerdotes.
(parte de palestra proferida pelo Monsenhor Bianchini no Movimento de Emaús).
Hoje santo, padroeiro de todos os párocos, de todos os vigários. Ele nasceu perto de Lyon, de uma família pobre, no ano de 1876, quando na França estava prestes a explodir a revolução francesa.
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Queria ser padre, mas tinha uma dificuldade enorme para os estudos. Três vezes foi rejeitado para entrar no seminário. Tentou uma quarta vez, com uma ordem religiosa de irmãos leigos, mas ainda não conseguiu. Porém, não desistia, afirmando ser esta a sua vocação. O vigário da paróquia, padre Balley, lhe dizia:
-- Meu filho, vai lá em casa. Eu vou lhe dar aulas particulares.
Apesar do esforço do padre e do João, o latim não entrava na cabeça deste último. Porém, tempos depois, o João consegue ser ordenado padre, tamanha a insistência, enquanto ocorria a revolução francesa. A solenidade aconteceu numa casa particular.Colocaram na frente da janela de vidraça uma carroça com feno, mais alto que a janela, para que não olhassem o interior durante a ordenação, pois os padres foram muito perseguidos.
Com o fim dos estudos para o sacerdócio acontece, é costume ainda hoje os superiores do seminário enviarem ao bispo a relação de ordenandos, com o perfil aproximado de cada um: "O Antônio tem facilidade de falar, o Pedro é mais simples, mas muito piedoso". Após isso, o bispo marca o dia e a cidade em que haverá a ordenação. Quando chegou a vez de João Maria, muito humilde, o bispo manda que sente.
-- Meu filho, os seus superiores o elogiam muito. Obediente, humilde, serviçal, não briga com ninguém, é o exemplo do seminário. Mas para ser padre não dá. Você é muito burro!...
O João ficou quieto, baixou a cabeça. Depois de algum tempo criou coragem e falou:
-- Senhor bispo, o senhor conhece a Bíblia melhor do que eu.
-- Claro!...
-- Pois é. Lá em a história do Sansão, que ficou escondido num desfiladeiro, atrás de uma pedra. Quem vinha de um lado não podia vê-lo, e ali só passava um homem de cada vez. Ele esperou, tendo na mão uma queixada seca de um burro. E dava com a queixada na cabeça de cada inimigo do povo de Deus que passava. O fulano caía no precipício e morria. O senhor lembra?
-- Claro que me lembro!
-- Pois o senhor imagine só. Se Deus, com uma queixada de burro, através de Sansão, acabou com tantos inimigos de seu povo, imagine o que ele não fará com um burro inteiro, que sou eu!...
O bispo ficou quieto e caiu em si.
-- Meu filho, eu vou ordená-lo padre por sua humildade.
E João foi ordenado no ano de 1814. Por mais três anos ficou como auxiliar do padre Balley, aperfeiçoando um pouco o latim. Depois foi mandado para a cidadezinha de Ars, perto de Lyon. Era um povoado de trezentas pessoas, cujo divertimento consistia na prostituição, jogatina e trabalho aos domingos. Ele próprio varria a casa, a igreja, pois não havia empregada, ninguém para ajudar. Tocava o sino de manhã, ao meio-dia, à tardinha. E com o tempo as coisas foram mudando, tanto que ele permaneceu lá por mais de quarenta anos. O governo francês se viu obrigado a fazer uma estrada de ferro de Lyon a Ars, tal era o afluxo de gente, príncipes, reis, cardeais, bispos, senadores. Todos queriam ouvi-lo, sua igreja sempre lotada. E ele todo dia, onze da manhã, hora do preparo do almoço, dava catequese. Uma voz rachada, não tinha retórica nenhuma, mas ali havia alguma coisa a mais que atraía multidões.
Certa vez um senador de Paris, no auge da carreira, adepto do racionalismo positivista, foi a Ars às escondidas, para ver o ouvir o padre Vianney. Tinha medo do que pudessem dizer os outros senadores. Mas, no seu retorno, alguém descobriu e, numa sessão do Senado, enquanto corria o cafezinho dos senadores,, um deles quis fazer pouco daquele que fora a Ars para ouvir o cura.
-- Excelência, o que foi ver em Ars?
Ele não se deu por achado. Voltou-se e:
-- Eu vi o que nunca esperei ver na minha vida. Eu vi Deus num homem!
E o silêncio foi total.
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O cura d'Ars todos os dias abria o templo. À tarde entrava na igreja um colono, que deixava machado, enxada, pá, no corredor. Sentava no primeiro banco e ali ficava, sem livro, sem nada, sem falar. Os santos também são curiosos. Um dia, quando o cura acabava de bater com o sino o"anjo do Senhor" e o velhinho ia sair, ele lhe perguntou:
-- Amigo, você não tem livro, não vejo você rezar em voz alta...
-- Seu vigário, eu não sei ler. Então, eu olho pra Ele e Ele olha pra mim.
Um olhar diz mais, às vezes, do que um livro inteiro.
Toda a França e a Europa iam em peregrinação para ouvir este simples sacerdote.
A padroeira da paróquia era Santa Filomena. Quando há festa de igreja os fabriqueiros, sujeitos que organizam a festa, em geral são a dor de cabeça do padre. Se num ano gastaram mil com foguetes, os fabriqueiros do ano seguinte querem gastar dois mil. Escolhem, também, um grande pregador para as prédicas. E estava no auge da fama em Paris o padre Lacordaire, talvez o maior orador sacro cristão de todos os tempos.
-- Seu vigário, pediram eles ao cura d'Ars, podemos convidar o padre Lacordaire?
-- Sim, podem convidar.
E o famoso orador veio de trem. Na hora do sermão, arrebatou as pessoas como só ele sabia fazer. A igreja entupiu. Havia gente trepada nas janelas, nos confessionários, até porque todo mundo, além de ouvir, gosta de ver. Acabada a missa, dirigiu-se o povo para as barraquinhas. E o grande orador foi lá, tomar um cálice de vinho. Chegou, então, o clube dos bajuladores.
-- Padre, o senhor falou tão bem, tão bem, que a igreja encheu. Havia gente nas janelas, em cima dos confessionários...
-- Pois é, rebateu o padre Lacordaire. Quando eu falo o povo sobe nos confessionários. Quando o cura de vocês fala, todos entram no confessionário!...
A ciência e a cultura deslumbram, mas a santidade atrai e converte. O cura d'Ars se consagrou como o modelo de todos os sacerdotes que trabalham em paróquias.
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João Maria Batista Vianney:
- Nascido em 08 de Maio de 1786 perto de Lyon, na França.
- Falecido em Ars, na França, em 04 de Agosto de 1859.
- Canonizado em 01 de Novembro de 1924 pelo Papa Pio XI.
Festa litúrgica: 04 de Agosto.
- Padroeiro dos párocos.
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Um comentário:

  1. Olá "tio" Roberto,

    Espero que tudo esteja bem e em paz contigo e com os teus no Brasil. Acompanho avidamente seu blog aqui da Alemanha, e em especial, este do Mons. Bianchini, por quem sempre nutri um especial carinho e inegável admiração. Ele era meu confessor e me ajudou muito quando em épocas tristes de minha vida. Antes de minha viagem, foi quem me conferiu uma benção especial. Como na história que o Monsenhor contava sobre o Cura de Ars, sobre um tal senador francês adepto do racionalismo positivista, que afirmou ter visto Deus falar pela boca de um homem, eu posso igualmente afirmar que vi Deus falar pela boca do Padre Bianchini...

    Permita-me finalizar com o lema dos Cartuxos, ordem que tive o imenso prazer de conhecer aqui na Europa, que creio cair muito bem neste momento triste:

    "Stat crux dum volvitur orbis."

    In corde Iesus, semper.
    Guilherme R

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