Roberto Rodrigues de Menezes.

Roberto Rodrigues de Menezes



segunda-feira, 30 de abril de 2012

As veias abertas da América Latina. Parte II.


Continuemos nós, pobrezinhos, a tentar explicar a nossa pobreza, muitas vezes mais mental que física. Pudera, com os governantes latinos caudilhescos e messiânicos que temos!... Continuemos cm a nossa biblioteca socialista.
********************
6) O homem multidimensional de Herbert Marcuse. (Só o título já nos mete medo).


Marcuse.
********************
A crítica feroz ao capitalismo surgiu dentro das próprias entranhas das sociedades avançadas. E entre essas críticas, nenhuma teve mais eco nas décadas de 1960 e 1970 - época áurea do idiota latino-americano - que as vertidas pelo filósofo alemão estabelecido nos Estados Unidos, Herbert Marcuse. (Esse pessoal é crítico feroz do capitalismo, mas só quer morar nos EUA. Por que o homem não foi para Moscou, que era bem mais perto?
Nascido em Berlim em 1898, abandonou a Alemanha conturbada pelo nazi-fascismo e foi para a "América" em 1934. Se ele imaginasse que a Alemanha em que vivia iria se transformar em satélite soviético, talvez a história fosse outra, reconheço.
Marcuse era freudiano e marxista, combinação herética que já se havia observado em autores do porte, por exemplo, de Erich Fromm. Ao conduzir suas reflexões por meio dessas duas linguagens - a psicanálise e o materialismo dialético - criava uma verdadeira música angelical, densa e sedutora, para os intelectuais desejosos de crucificar o modelo de convivência ocidental e que queriam algo mais celestial. Marcuse forneceu a filosofia do "Grande Repúdio".
Isso é o Homem Multidimensional: a racionalização, a partir de Marx e Freud e um duro ataque contra a "ideologia da sociedade industrial avançada". Uma ideologia que, aparentemente, desvirtua a natureza profunda dos seres humanos, aliena-os e os transforma em pobres seres conformistas, aparvalhados pela quantidade de bens que o sinuoso aparelho produtivo põe à sua disposição, enquanto secretamente os priva da liberdade de escolher. Porque, no final, "a sociedade tecnológica é um sistema de dominação".
********************
********************
Meus leitores poderão estranhar. O que estarão fazendo aqui o pobre do Pato Donald e seus três sobrinhos Huguinho, Zezinho e Luizinho? Ah, como era gostoso ler estes personagens na minha infância. Ainda hoje faço isso, embora com óculos de grau. Fui descobrir agora que o nosso mal humorado e querido pato (que só perdeu para a Branca de Neve no meu coração, pois por esta eu era apaixonado) foi sempre um agente maldito do mais terrível capitalismo.
7) Para ler o Pato Donald, de Ariel Dorfman e Armand Mattelart (1972). Os livros de Disney, para os autores, são comunicação de massa e colonialismo. Estes dois jovens mal roçavam a casa dos trinta anos. Dorfman nascera na Argentina e Mattelart era de origem francesa. O primeiro era membro da Divisão de publicações infantis de uma editora, enquanto Matellart era professor de uma universidade católica. Em que consiste a obra? Em essência, trata-se de uma aguerrida leitura ideológica sob a perspectiva comunista, publicada justamente no Chile encrespado e radicalizado do governo Salvador Allende. Os dois, marxistas, põem-se a tentar encontrar a mensagem oculta imperial e capitalista que encerram as histórias em quadrinhos saídas das "indústrias Disney". Mais que ler o Pato Donald, esses intrépidos autores, os Abott e Costelo da linguística, querem desmascará-lo, demonstrar as intenções avessas que ele esconde, descrever seu mundo distorcido e vacinar a sociedade contra esse veneno silencioso que risonhamente mina da metrópole ianque. O pato Donald, eliminados os ardis que o encobrem, é um canalha patológico (no sentido de pato mesmo), pervertido, porque no seu mundinho fantástico não há sexo, ninguém sabe quem é filho de quem, porque semear esta confusão sobre as origens faz parte da macabra tarefa do inimigo Disney - dizem os horrorizados investigadores.
Donald, Mickey, Pluto, não são o que parecem. São na verdade agentes da dominação. A Patolândia, metáfora própria dos Estados Unidos, é o antro cruel do mundo, enquanto os outros (nós latinos incluídos, mesmo que excluídos - vá entender!) fazem parte da periferia explorada e explorável habitada por seres inferiores. Penso que seus verdadeiros heróis nesta patacoada são os Irmãos Metralha, o João Bafo-de-onça, o Lobo Mau, a Rainha Madrasta e o Mancha Negra.
Como era de se esperar, uma descomunal besteira dessas tinha que se transformar num best-seller na América Latina. Após 21 anos da primeira edição, a obrinha foi reproduzida 32 vezes, para satisfação do ramo mexicano da Editora Siglo XXI.
Por que este livro se encaixou tão bem na biblioteca do idiota latino? Para esses desconfiados seres, há sempre uma conspiração internacional em curso para subjugá-los, sempre existem uns americanos cruéis tentando enganá-los. Este livro só empatou em acúmulo de bobagens com o besteirol que se escreveu no Brasil sobre os nossos quinhentos anos, nas críticas ao coitado do Pedro Álvares Cabral e seu "estupro" contra os indígenas.
*************************
(encerra na próxima postagem).
*************************

Nenhum comentário:

Postar um comentário