Roberto Rodrigues de Menezes.

Roberto Rodrigues de Menezes



sexta-feira, 16 de agosto de 2013

PEQUENA CRÔNICA DO CARTÃO CORPORATIVO.



No ano de 2012 foram gastos 59.600.000,00 de reais com cartões corporativos federais.

   Em 2011 eu estava com minha mulher Sílvia em Caldas Novas, Goiás, num hotel quatro estrelas, o máximo que se poderia pagar numa excursão. Como a minha metade da laranja não entra em avião nem amarrada, costumamos, vez por outra, realizar alguns passeios de ônibus, o que até justifica, pois se revela bem mais barato. Afinal, já criamos os nossos filhos e eles estão bem. E para um oficial aposentado de polícia que só tem reajuste em seu soldo de oito em oito anos, sempre dependente da boa ou má vontade  (normalmente má) do senhor governador, está até muito bom, ou de regular tamanho.
   Ao sairmos, fui acertar as contas na recepção do hotel, com o que gastei de cerveja e refrigerantes. Meu gasto dava 42 reais, pois a estada estava inclusa no roteiro de viagem e era problema da guia. Há que economizar para se passear sempre, além de beber moderadamente para atender aos apelos pretensamente bem comportados do governo e das tevês. 
   Eis que uma moça bonitona e glamurosa se postava na minha frente. Chegou a vez dela e a recepcionista, depois dos cálculos, anunciou que a conta da jovem estava em oito mil reais e alguma coisa. Lembro-me bem dos oito. Diminuí, fiquei até um pouco encolhido com os meus quarenta e dois reais. Pobre!...
─ Cheque, cash ou cartão? Indagou a solícita atendente.
─ Cartão, respondeu a moça muito desinibida.
   E sacou da bolsa um cartão que, pela proximidade em que eu estava, logo atrás dela, embora meio deficiente de vista, pude constatar ser um cartão corporativo com o sinete vetusto e pomposo da nossa idolatrada República, a das enormes tetas, não sei se executiva, legislativa ou judiciária. Ela pagou sem um ai, sem um reclamo, sem um franzir de sobrancelha. Afinal, o dinheiro não era dela. E não costumamos ser muito econômicos com o dinheiro dos outros.
   E lá se foi embora (a moça, não a República) muito lampeira e rebolativa, depois que a Hidra poderosa pagou o seu gasto bem avantajado. Bolas, talvez fosse avantajado só para mim!... Nas questões relevantes do mensalão, a nova e pós-moderna invenção republicana, as cifras nunca se traduziram em mil, mas em milhões.
   Lembrei um pouquinho indignado e triste do que me tiram anualmente no famigerado imposto de renda, que serve mais para imposto sobre salário, pois renda se sonega com muita e graciosa facilidade. Pensei protestar, como fazem aqueles segmentos de interesse que denominam povo. Mas em que praça?... Com que bandeira?... A do Avai? Tenho vergonha de protestar!...
    Afinal, para que protesto se a situação dantesca, no fundo, corresponde ao chamado povo comissionado encafifado no poder?... E a mocinha até que foi econômica, pois não se hospedou num hotel cinco estrelas. Franciscana e espartana, ela!...
   Minha mulher jura que ela estava ali com um político de Brasília.
   E alvíssaras aos os cartões corporativos!...
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