Roberto Rodrigues de Menezes.

Roberto Rodrigues de Menezes



sábado, 18 de dezembro de 2010

O ouro de Moscou (Parte II).

03. Decisão.
Quando Prestes chegou a Moscou, o homem forte do Komintern era o ucraniano Dimitri Manuilski, figura negligenciada na literatura comunista brasileira. Manuilski conduziu a Terceira Internacional e ajudou a derrubar dois de seus dirigentes, até mais famosos - Grigori Zinoviev e Nikolai Buhkarin - estes com maior projeção internacional que ele. Dava ordens sem se preocupar com o último presidente do Komintern, o búlgaro Giorgi Dimitrov. A assinatura de Manuilski se encontra na resolução que dissolveu o Komintern em 1943. Foi um dos poucos líderes soviéticos da era Stalin que conseguiu não ser morto pelo ditador.
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Piatnitski remetia de Moscou em 1930:
832 dólares para o PC Argentino.
569 dólares para o PC brasileiro.
1.920 dólares para o Bureau.
1.800 dólares para alunos.
502 dólares para viagem de Codovilla e mulher.
(Dados do Arquivo da KGB).
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Relatório de Guralski ao OMS em 1930:
"Ainda não é hora de levar trabalhadores brasileiros e as massas oprimidas à luta armada. Primeiro fortalecer trabalhadores rurais e operários urbanos. (Fonte KGB).
Um outro enviado de Moscou teria participação importante na Intentona Comunista liderada por Prestes em 1935: o alemão Arthur Ernst Ewert (codinome Harry Berger). Ao contrário de Guralski, timha ampla formação marxista e política. Ewert mantinha os soviéticos informados do que acontecia na América Latina.
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O código de Moscou para a América Latina era "Maison".
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Monumento aos militares mortos na Intentona Comunista de 1935. Oficiais e praças comunistas executaram colegas de farda enquanto dormiam. Praia Vermelha, Urca, Rio de Janeiro.
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Prestes, dos 80.000 dólares que recebera de Getúlio em 1930, remeteu 20.000 para a filial do OMS em Berlim e custeou as despesas do Bureau por algum tempo. A partir de 1931 tinha ficado difícil aos russos enviar dinheiro para o Bureau via Uruguai, como costumavam fazer, pois este país adotou medidas severas de fiscalização quanto ao ingresso de dólares.
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Telegrama de 31 de agosto de 1931 de Ewert para Piatnitski (do Bureau em Buenos Aires para Moscou):
"Prestes vai chegar a Moscou no final de outubro, com mãe e irmãs. Ele aceitou as condições e entregará todos os recursos ao Bureau. Entre eles estão também 20.000 dólares".
Luiz Carlos Prestes aderiu incondicionalmente a Moscou, sacrificando sua independência de ação. Prestes via o Brasil como um futuro satélite da URSS.
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Hotel Lux, em Moscou.

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Moscou orientou os comunistas brasileiros a encaixar os cangaceiros do Nordeste na revolução proletária. Os soviéticos pouco conheciam do Brasil, pois tal orientação chegava a ser cômica.
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Documentos dos comunistas soviéticos da época, hoje revelados nos arquivos da KGB, atestam que Moscou tinha a pior impressão possível do PCB:
O partido não tinha forma ideológica nem consistência organizacional; era repleto de inimigos de classe; quadros dirigentes débeis; contatos insuficientes com camponeses e trabalhadores; foco de atração de elementos pequenos-burgueses; o partido não tem condições de dirigir as massas ********************************** Em 1933 Moscou manda o alemão Jan Jolles (Alonso, Emílio) para o Brasil, como instrutor dos integrantes do PCB. Ele estava desde 1924 orientando o PC argentino. Chegando no Brasil, Jolles conseguiu derrubar do posto de secretário geral do partido o dirigente Fernando de Lacerda, sendo este substituído pelo baiano "Miranda" (Antônio Maciel Bonfim). Este foi amante da garota "Elza" (Elvira Cupelo Colônio), de dezesseis anos, que foi estrangulada e morta por elementos do PCB, suspeita de tê-los denunciado, coisa que nunca se confirmou. O filme "Olga" dá a entender que ela seria uma mulher já feita e não uma menina-moça, omitindo a real responsabilidade de Luiz Carlos Prestes como mandante do assassinato. Na verdade, quem decretou a morte da garota foi um tribunal revolucionário manobrado por ele. ************************* Havia no PCB, a mando de Moscou, um trabalho de infiltração nas Forças Armadas. Quatro ou cinco células no Exército, uma na Marinha e uma na Polícia Militar do Rio de Janeiro. ************************* De acordo com Miranda, secretário geral do PCB, o partido tinha em julho de 1934 cerca de três mil membros ativos e 250 células. No Rio e em Niterói, oitenta por cento delas estavam em fábricas.************************* Havia ambiente de traições, fofocas e incompreensões nos quadros do PCB. Isso valia especialmente para os que estavam em Moscou. Competindo por conquistar as graças dos dirigentes do Komintern, angustiados com a possibilidade dos expurgos, muito a gosto de Stalin, temerosos que alguém lhes tomasse a posição no Brasil, os camaradas brasileiros em Moscou viviam em guerra particular. *************************

Prédio de apartamentos onde Prestes morou com a mãe e as irmãs em 1931 em Moscou.(apto 129).
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04. Os agentes soviéticos que vieram ao Brasil:
Rcomendações de Moscou, após reunião dos partidos comunistas da América Latina em 1934: "Formação de alianças nacionais de libertação (aqui o foco é mudado, pois as alianças sempre tinham sido proibidas até então) e constituição de governos nacionais revolucionários provisórios, baseados em frentes únicas, populares e amplas, com a participação de organizações e partidos antiimperialistas". Na cabeça de Prestes tudo se ajeitava no Brasil para uma insurreição, o que foi um erro grosseiro de cálculo. Os preparativos para o levante foram feitos por Moscou, antes mesmo da chegada lá dos comunistas brasileiros. Moscou determinava tudo. Sillo Meirelles, amigo íntimo de Prestes, seria o encarregado da insurreição comunista no Nordeste. ************************* Olga Benário, alemã, agente soviética de Stalin, acompanhou Prestes em seu regresso ao Brasil em Dezembro de 1934. Apaixonaram-se.
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Rosa de Luxemburgo e Karl Libknecht fundaram um partido político na Alemanha em 1919, que daria origem ao partido comunista alemão.************************* Johan (Jonny) de Graaf, alemão, foi incumbido por Moscou de organizar grupos de sabotadores na China. Em agosto de 1934 ele foi informado por dirigentes soviéticos que, juntamente com Arthur Ernst Ewert, iria ao Brasil para ajudar na organização da Intentona. O responsável pelas operações seria Luiz Carlos Prestes. De Graaf tinha a incumbência de organizar grupos de sabotagem, pois era instrutor dessas atividades. Viria ao Brasil como um comerciante austríaco ao lado de uma bela mulher. Seriam "Franz e Erna Gruber" ************************ Olga Benário recebera dos soviéticos a missão de cuidar que Luiz Carlos Prestes chegasse em segurança ao Brasil. Tinha 27 anos e foi presa juntamente com Prestes no Rio, em 1936, após o fracasso da Intentona. Deportada para a Alemanha em razão de um pedido de extradição de Hitler para Getúlio Vargas, ficou sob os cuidados da Gestapo. Numa prisão em Berlim, em Novembro de 1936, daria à luz uma menina (Anita Leocádia), fruto de seu romance com Prestes. A mãe, Leocádia, e uma irmã, conseguiram resgatar a criança com quase um ano, com a ajuda decisiva do advogado católico e conservador Sobral Pinto, via embaixada francesa. Olga morreria em 1942 numa câmara nazista de gás (tinha ascendênca judia), no campo de concentração de Ravensbruck. O filme Olga omite o auxílio do advogado, dando todo o mérito do resgate da criança a Leocádia. Hoje, Ana Leocádia é uma historiadora comunista como o pai. *************************

Stalin, Lênin e Kalinin em 1919. *************************

Quando caiu o muro de Berlim em 1989, havia na Alemanha comunista oitenta e três escolas, sete ruas e uma praça com o nome de Olga Benário. Para os comunistas alemães e brasileiros, Olga seria um modelo a ser seguido. ********************

Fernando Morais, autor do livro "Olga" em 1985 (que deu origem ao filme), tem como base de seus relatos os documentos e depoimentos de Prestes. O papel de Olga como agente de Stalin ficou somente conhecido com a abertura dos arquivos da KGB. Olga teve como namorado na Alemanha Otto Braun, um professor socialista recusado pelos soviéticos. Ela nunca se relacionou bem com o pai, um social democrata, fugindo de casa para a clandestinidade do comunismo. Foi chefe de organização e propaganda. O PC alemão enviou Olga para Moscou, aonde ela chegou com o nome de Frida Leuschner no passaporte. Em 1920 participou ela da Escola Especial para instrutores do Konsomol (Juventude comunista soviética).

Olga Benário *************************

Olga, antes de vir para o Brasil com Prestes, fora casada com o russo B. P. Nikitin, secretário do Konsomol na Academia Militar Frunge. O casal de ucranianos Pavel Stuchevski e Sofia Stuchevskaia veio ao Brasil para o levante comunista, como um casal de belgas de nome falso: Leon e Alphonsine Vallée. Ele seria um europeu abastado e ela sua esposa. Vieram também como agentes soviéticos o argentino Rodolhfo Chiodi com a mulher Carmen de Alfaye, o alemão Arthur Ernst Ewert com a mulher Elise Saborowski, mais Jonny de Graaf e a mulher Helena Kruger. Um agente comunista italiano veio também ao Brasil. Foi o primeiro a relatar a Moscou o insucesso na tentativa de golpe em 1935. Nunca foi, porém, identificado.

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Um comentário:

  1. Horrivel a decisão de assassinar a menina, estes stalinistas não tomam jeito

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