Roberto Rodrigues de Menezes.

Roberto Rodrigues de Menezes



quinta-feira, 20 de maio de 2010

Poemas divertidos.


Hoje vamos discorrer sobre assuntos bem mais amenos. Bichos e poemas, poemas e bichos. Os senhores já devem ter ouvido falar de Esopo, um grego que teria vivido seis séculos antes de Cristo na Grécia, e que brindou o mundo da época com muitas fábulas envolvendo animais, sempre com algum ensinamento ao final delas. Elas nos foram passadas pela tradição oral, e escritas muitos séculos depois. Como exemplo, vou lhes relembrar uma delas, "O lobo e o cordeiro". A história é de Esopo, recontada por Fedro, escritor romano, em prosa e em Latim, e agora reescrita em verso lusitano pelo vosso humilde escriba.

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Eis que o lobo e o cordeiro, compelidos
pela sede chegaram a um riacho.
O lobo se postou bem mais acima
e o manso do cordeiro mais abaixo.
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O lobo, decidido a devorar
o cordeiro, que com medo bebia,
disse a ele: Por que tu sujas a água
que bebo com vontade neste dia?
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Como posso, se o rio corre pra baixo,
e tu estás acima, caro mano?
Mas sei, rosnou o lobo, me disseram
que tu me criticaste faz um ano.
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Mas como criticar te poderia,
se faz seis meses que ao mundo vim?
Não importa, quem sabe foi teu pai,
que ficou a falar bem mal de mim.
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E o lobo despedaça o cordeirinho.
Isto a nós só remete o que pensar.
Quem se põe muito perto ao poderoso,
pode um dia a morte encontrar.

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Um grande escritor italiano, ainda pouco conhecido entre nós, é considerado o Esopo do século vinte. Carlos Alberto Salustri, de apelido Trilussa, poeta de ironia forte e pena sarcástica, nasceu em Roma em 1871 e lá morreu em 1950. Seu livro mais famoso é o Livro Mudo, que compôs com cinquenta poemas, muitos deles criticando de forma alegórica o carrasco e tirano Benito Mussolini, que governou a Itália nos anos da Segunda Grande Guerra.
Conheçamos alguns desses poemas:

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O gato socialista.

Um gato que bancava o socialista,
com o fim de chegar a deputado,
estava a comer um frango assado
na cozinha de um capitalista.
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Outro gato, com lógica sectária
ao primeiro afirmou: - Estou contigo.
Pensa tu que eu também, querido amigo,
pertenço à mesma classe proletária.
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E bem sei que se nestas revoadas,
eu quiser esse frango que dispões,
o partirás já, já, em duas porções,
pois não somos, debalde, camaradas.
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- Isso não, disse o outro sem pudor,
eu não divido nada, ó meu artista.
Porque, se em jejum sou socialista,
comendo, sempre sou conservador.
(Criação de Trilussa - traduzido por Breno di Grado).

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Organizando o ministério

Quando à raposa, que tem tino sério,
foi dada a incumbência delicada
de compor com justeza um ministério,
naturalmente se pôs ela muito honrada.
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E os bichos empenhou-se a convocar;
porém o porco não mandou chamar,
pois disse, muito astuta, com fineza:
- Não convém, ele é sujo, sem limpeza.
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- Tens razão, disse o cão, que estava ao lado.
- Além de sujo, nojento e desastrado,
tem um outro defeito todavia,
pois se ele ao governo for levado,
ficará sempre com a maioria.
(Poema atualíssimo de Trilussa, traduzido por Breno di Grado. Na nossa Marmelândia está cada dia mais comum).

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Números

- Eu valho muito pouco, sou sincero,
dizia o UM ao ZERO.
- No entanto, quanto vales tu?
Na prática
és vazio e inconcludente
quanto na Matemática;
ao passo que eu, se me coloco à frente
de cinco zeros bem iguais a ti,
sabes acaso quanto fico?
Disse o Zero:
- Cem mil, nem mais nem menos.
Questão de números. Aliás é aquilo
que sucede com todo ditador,
que cresce em importância e em valor,
quantos mais são os zeros a segui-lo!
(Trilussa)

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O homem e o lobo

Um homem disse a um lobo:
- Se não fosses tão arrogante e prepotente,
ganharias a vida honestamente
e terias a minha proteção.
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- Prefiro a liberdade a ter patrão,
o lobo retrucou. - E mais, de resto,
se eu fosse bom e me tornasse honesto,
passarias a tratar-me como um cão.
(Trilussa)

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Conselhos de Júpiter.

Júpiter disse à ovelha: - São injustos
e odiosos e bem contra a lei,
os sucessivos e pavorosos sustos
que os lobos te afligem, eu bem sei.
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É melhor, entretanto, que suportes
com paciência os agravos. A questão
é que os lobos tão terríveis são
fortes demais para não ter razão.
(Trilussa)
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O cão e a focinheira.

- Sabes que sou fiel e afeiçoado,
dizia o cão ao homem, - e disposto
a tudo, mesmo ser sacrificado,
cumprindo as tuas ordens. Isto posto
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quero falar agora com franqueza:
a focinheira põe-me deprimido.
Por que não dá-la ao gato, que é fingido,
apático e traidor por natureza?
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Responde o homem: - Mas a focinheira
lembra sempre a existência de um patrão,
que te protege, e de qualquer maneira,
é quem te ampara e te garante o pão.
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- Se é assim, fica o dito por não dito,
corrige o cão. - Desculpa-me a besteira.
E desde então, com ar muito convicto,
passou a falar bem da focinheira.
(Trilussa)
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Gratidão
Almoçava o meu frango, o cão e o gato
comiam ao meu redor o resto
dos ossos que saíam do meu prato.
E patrão honesto,
vigiei sem preguiça
a distribuição
com toda justiça
e sem distinção.
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Mas uma vez vazio o prato eu,
vendo o gato sair, disse: - Que foi?...
Vai-se embora?.. - Decerto, respondeu,
pois o frango também já não se foi?...
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O contrário, porém, com o cão se deu,
que em alegria acesa,
me veio ao colo e minha mão lambeu.
Eu disse: - Bravo! Mostras à nobreza,
q'inda há no mundo alguma coisa sã.
E ele respondeu: - Sim, com certeza,
pois outro frango teremos amanhã.
(Trilussa - tradução de Paulo Duarte).

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E para terminar, caros leitores, li um outro texto de Trilussa em português, mas em prosa (Blog Notícias da Bota, de uma senhora chamada Cris). Os versos estavam escritos em italiano, não tendo eu conhecimento para traduzi-los. Aproveitei, no entanto, o texto em prosa, creio que da Cris, e o transformei em versos. A história, por certo, continua sendo de Trilussa.

A missa e o passarinho.

Começava uma missa bem cedinho,
os fiéis a rezarem de manhã.
Eis que entra na igreja um passarinho.
Uma moça o guarda no sutiã.
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E ali fica a piar o pobrezinho.
O padre escuta e repreende, então:
- Por favor, quem tiver passarinho,
saia da igreja sem preocupação.
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Todos os homens vão saindo e nisso,
o padre acode e até derruba o vinho.
- Por favor, vocês voltem, não foi isso
que eu quis dizer sobre o tal passarinho.
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- Vou me corrigir, mas sem fugir da raia,
e falo agora com muito carinho.
O que eu quero, irmãos, que agora saia
quem já pegou o pobre passarinho.
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Vão saindo as mulheres, pois, pudera,
enraivecidas, rosto em desalinho.
O coitado do padre desespera.
- Não foi isso que falei do passarinho.
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- Por favor, é quem viu o passarinho
e o pegou, sem ter medo, nesta igreja.
Eis que as freiras já saem com presteza,
só pensando em esfolar o padrezinho.
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- Ai meu Deus, me perdoem este rompante,
mas é chato o piar do passarinho.
Se apresente e saia de mansinho
quem pegou o bichinho neste instante.
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Sai a mocinha da capela ao lado,
toda vermelha como ninguém viu.
Cheia de raiva, grita ao namorado:
- Eu não falei que alguém nos descobriu?
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A mulher do sutiã tira o bichinho.
Chora o padre a desgraça tão mortiça.
E assim foi-se embora o passarinho,
sem saber que acabou com a santa missa.
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4 comentários:

  1. oi,humm parabéns pela página..
    eu adorei os poemas,principalmente o "A missa e o passarinho"..na minha escola (CEFET-MG) vai haver um concurso de declamação e eu gostaria de saber se vc importa se eu declamar este seu poema?? caso ñ se importe,irei colocar vc como autor e darei créditos a Trilussa,como vc fez neste poste.Espero q ñ se importe e entre em contato comigo o mais rapido possivel,parabéns novamente.
    Rayanne Lemos
    email:rayannelemos@hotmail.com

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  2. amei os poemas parabéns!

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  3. OLHA MUITO BOM ESSE POEMAS PARABÈNS

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  4. Olá Roberto. Tudo bem? Gostaria de conversar contigo. Tens e mail ou Telefone para contato? O meu e mail é profadriani@yahoo.com.br Aguardo seu retorno. Abraço!

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