Roberto Rodrigues de Menezes.

Roberto Rodrigues de Menezes



terça-feira, 6 de julho de 2010

Angkor II - O massacre levado à perfeição.

Angkor - da dinastia Khmer.
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1953 - O Camboja (Kampuchea) deixa de ser um protetorado francês e se torna uma monarquia constitucional com o rei Norodon Sihanuk. Este governa até fins de 1970.
1970 - O primeiro ministro Marechal Lon Nol dá um golpe de Estado e o rei é deposto. Anos antes começava a se firmar como alternativa de poder o Partido Revolucionário do Kampuchea, de bases marxistas.
1975 - As forças do Partido se autodenominam Khmer Vermelho, numa referência à primitiva dinastia Khmer, da cidade perdida de Angkor. A capital Phnon Penh é invadida sem grande resistência. Pol Pot, o líder do Khmer, instala no Camboja uma ditadura comunista simpática à China. Enquanto durou, materializou a barbárie no país como prática de Estado.
1978 - O Vietnã intervém, pois os massacres são terríveis até para outra ditadura comunista, e retira Pol Pot do poder. Instala-se um novo regime à feição do Vietnã.
1990 - O Camboja consegue colocar fim definitivo no que restara do Khmer Vermelho. Inicia-se a redemocratização sob a égide da ONU, voltando o país a ser uma monarquia constitucional.
Bandeira do Camboja (Kampuchea).
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O Camboja sofreu a tentativa de transformação social mais radical de todos os tempos, com a aplicação do comunismo integral imediatamente, sem um período de transição que fizesse parte da ortodoxia marxista-leninista. Abolir a moeda, completar a coletivização integral em menos de dois anos, suprimir as diferenças sociais pelo aniquilamento do conjunto das camadas proprietárias, intelectuais e comerciantes, resolver o antagonismo secular entre campos e cidades pela supressão destas últimas em apenas uma semana, tudo isso foi realizado a ferro e fogo.
Camboja, abril de 1975. Os khmers vermelhos vitoriosos entram na capital. Jovens combatentes, adolescentes de quinze e dezesseis anos, se fazem instrumento da política de Pol Pot, o Grande Irmão Número Um, que decide esvaziar a cidade de todos os seus habitantes, para forçá-los a virar agricultores.
O Khmer vermelho cobriu o país de "centros de reeducação". Execuções sumárias e torturas viraram rotina. Num deles foram atirados os soldados inimigos e todos os seus familiares, incluindo crianças, monges budistas e "viajantes suspeitos". A totalidade das crianças foi liquidada de fome e maus tratos. Bebês eram jogados nas paredes com extrema violência, morrendo de imediato. Povo Novo eram denominados os adversários e Antigo Povo, ou khmer, os fiéis ao regime. Estas classes não podiam nem falar entre si. O governo estimulava continuamente com ações e propaganda o "ódio de classe dos proletários patriotas contra os capitalistas lacaios dos imperialistas".
Após a deposição de Pol Pot, instituiu-se o Museu do Genocídio, com milhares de crânios de vítimas do regime vermelho.
A eliminação chegou também às classes dirigentes. Os diplomatas trazidos de volta ao país pagaram com a vida, com exceção de dois. Comunistas pró-vietnamitas também foram eliminados. Elementos do próprio partido viram-se acusados de traição e executados. Isso fez espalhar as conspirações imaginárias, com execuções sem julgamentos.
A prisão de Tuol Sleng, uma antiga escola, foi um dos lugares de tortura e execução mais alucinantes. Cada prisioneiro - criança, mulher, homem, idoso - era fotografado antes de sua execução.
As deportações se faziam em caminhões, trens e barcos, para outras zonas longínquas. Os deportados eram vestidos com uniformes azuis vindos da China. O uniforme dos seguidores de Pol Pot devia ser negro. E assim, sem alarde, milhares de azuis desapareceram.
Para as fotografias, se o prisioneiro estivesse sem camisa, e isso era comum por causa do calor, enterrava-se o alfinete na própria carne. Em 1977, tinham fugido pra o Vietnã 60.000 cambojanos, apesar dos capturados serem punidos imediatamente com a morte. Os conflitos com o Vietnã se tornam mais frequentes, com este país invadindo Phnon Penh no início de 1979. Pol Pot, deposto, fugiu para a Tailândia. Apesar de também comunistas, o povo cambojano viu nos exércitos do país vizinho a sua libertação, tamanho era o terror. Na fuga, os khmer foram matando todos o que viam pelo frente. Na prisão de Tuol Sleng ninguém sobreviveu.

Pol Pot exilado na Tailândia, onde alguns radicais ainda o consideravam o Grande Irmão Número Um, apesar de ter deixado o Camboja em ruínas. Morreu aos 73 anos, em 15 de abril de 1998, após alguns anos doente. Estava para ser preso e deportado por seus crimes, com julgamento em tribunal internacional. A China, com voto no Conselho Especial de Segurança da ONU, procurava postergar o seu julgamento. A morte levou antes o tirano do Kampuchea, que tentou reviver as glórias da cidade perdida de Angkor e a dinastia Khmer, mas que somente conseguiu espalhar sangue, morte e tortura, através de suas utopias comunistas. Ao terminar o período de terror, 64% dos adolescentes cambojanos eram órfãos.
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Bibliografia: Livro Negro do Comunismo - Stephane Courtois e pesquisadores do Centro Nacional de Pesquisa Científica da França - Quarta parte - capítulo III - Camboja, um país do crime desconcertante - Páginas 686 a 763 - Editora Bertrand - Terceira edição).

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