Roberto Rodrigues de Menezes.

Roberto Rodrigues de Menezes



domingo, 11 de julho de 2010

Um pequeno grande homem.

"Sou menino passarinho com vontade
de voar."
(Luiz Vieira)
Ilson Wilmar Rodrigues e Daice Pacheco, noivos, em 1950.

Ilson Wilmar Rodrigues nasceu em Florianópolis, a 25 de Novembro de 1929, dia em que o Estado comemorava a data de Santa Catarina.
Era filho de Bertoldo Manoel Rodrigues (1898-1972), da Passagem do Maciambu, e de Lídia Francisca Rodrigues (1898-1994), da Praia de Fora. Ambas as localidades situam-se no município de Palhoça, tendo a Enseada de Brito a separá-las.
Bertoldo e Lídia casaram na Enseada de Brito a 31 de março de 1920. Moraram na Passagem e no Sertão do Campo, vindo residir em Florianópolis, na ilha, em 1922. Buscavam melhor oportunidade de vida, pois nos ermos que habitavam o existir era difícil e penoso.
Seus primeiros filhos foram gêmeos (meninos), que morreram bebês. A terceira, Águida, teve o mesmo destino. Ivone parece ter vindo para ficar mas, em 1935, com dez anos, foi brincar mais cedo com os anjos. Os pais a sepultaram com o vestidinho da primeira comunhão, que acabara de fazer. Morreu de icterícia.
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Bertoldo e Lídia tiveram ainda os seguintes filhos:
- Ione (Oninha), nascida em 1927, mãe do autor deste Blog.
- Iolanda (Dia), de 1928.
- Ilson (Tinho), de 1929.
- Ivonete (Netinha), de 1931. Faleceu em 1955 com 24 anos, em virtude de febre reumática e complicações cardíacas decorrentes. Deixou dois filhos de três e dois anos (meus primos Sérgio e Alcides) e o marido Nilton Calazans.
-Ido (Didica) e Ivo (Ivinho), gêmeos, de 1934. Ivo faleceu em 1998 e está sepultado na Enseada de Brito junto à esposa Cacilda (1943-1996).
- Ivenes - Nascido em 1936, morreu aos 24 anos em 1960, da mesma doença da irmã Ivonete.
- Ivone, a caçula, de 1940.
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O casal e os filhos que vinham nascendo em metódica sequência, moraram na Costeira, no Saco dos Limões, na Prainha (morro do Bode). Dindinho Bertoldo conseguiu finalmente comprar uma casa, destas de estilo açoriano, no morro da Mariquinha (no sopé do morro está o Instituto Estadual de Educação, na Avenida Mauro Ramos), e para lá todos foram em 1948.
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Ilson começava a trabalhar como radiotelegrafista na Secretaria de Segurança Pública do governo do Estado. Fez ali toda a sua carreira, até se aposentar como Chefe do Setor Administrativo do Detran em Florianópolis, onde trabalhou por muitos anos.
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Os irmãos Ivonete e Ilson em sua primeira comunhão no ano de 1940. Ele com onze anos e ela com 9.
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O ano de 1953 foi importantíssimo na vida de Ilson, pois ele se casaria a 05 de Fevereiro com a jovem Daice Pacheco, da Trindade, nascida em Florianópolis a 05 de outubro de 1932. Ela seria, como será, sua eterna companheira. No mesmo dia a irmã Iolanda casou-se com Nilton Osório.
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Ilson e Daice foram morar numa casinha de madeira que a irmã mais velha Ione e o marido haviam construído no terreno acima da casa de Bertoldo. Simeão fora transferido para Jaraguá do Sul e Ione vendeu a casa para o irmão.
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Ilson e Daice tiveram os seguintes filhos.
- Ilson Filho (Sumá), de 1953.
- Paulo César (Paulinho), de 1956.
- Rogério Rodrigues (Leco), de 1958.
- Carlos Alberto (Bebeto), de 1959.
- Ivenes, de 1961.
- Rita de Cássia, de 1964.
- Márcio, de 1965.
- Luciane, de 1967, que faleceu em 1989 vítima de leucemia, com 22 anos.
- Silvane, a caçula, de 1970.
Eles tiveram os dois ou três primeiros filhos ali. Mudaram-se, então, para o bairro da Trindade, onde tio Ilson e tia Daice criaram os filhos. Mudar-se-iam depois para a Enseada de Brito, onde tinham construído uma casa de veraneio.
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1967. Daice e os filhos Márcio e Rita.***************

1982- A avó Lídia com 84 anos e a neta Luciane, filha de Ilson, com 15 anos. A jovenzinha faleceu sete anos depois e a avó ainda viveria mais doze anos.
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Ilson e Daice comemoraram cinquenta anos de casamento em 2003. Recordo-me que tio Ilson, na igreja da Enseada, começou assim o seu pequeno discurso: A Daice foi o melhor investimento de minha vida. Uma bela festa reuniu toda a numerosa família. Ele era ministro da Eucaristia na paróquia da Enseada. Homem de profunda fé em Deus, escudado na honra e na dignidade, foi exemplo para todos os que com ele conviveram.
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Os irmãos: Sentadas Ivone e Ione. Em pé Iolanda, Ilson e Didica. Mafra/SC.***************
Ilson trabalhou efetivamente na construção do Lar São Francisco do Ribeirão da ilha, inaugurado em 1980. Pertenceu à Fraternidade Santa Rosa de Viterbo na Trindade e à de São Francisco das Chagas no centro de Florianópolis.
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No dia 02 de julho de 2007 a esposa Daice, que tinha sérios problemas de diabetes, veio a falecer no Hospital da Polícia Militar. Depois da morte da filha Luciane, com 22 anos, era mais uma desgraça a se abater sobre ele e a família. Mas tinha fé e esperança de que a esposa estivesse bem, numa outra vida. Ele, embora mantivesse a sua fé, na verdade nunca conseguiu superar a morte dela. Faltou-lhe o centro, o apoio mais efetivo.
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Os irmãos Ilson, Ivone e Ido (Didica) em Mafra, na casa do último.***************
No ano passado viajamos ele, eu e minha mulher Sílvia para Caldas Novas e Trindade, no município de Goiás. Em Trindade aumenta dia a dia a devoção ao Divino Pai Eterno, de que ele era devoto. Como tio Ilson não queria a comida do bufê à noite, Sílvia sempre conseguia lhe preparar no restaurante um café com pão e alguma mistura. Era homem acostumado a hábitos simples e espartanos. Tinha ele também especial devoção a São Francisco de Assis. Eram até parecidos no aspecto físico e na humildade.
Nesta viagem um senhor brincou com ele no ônibus, dizendo que o tio agora estava livre para, quem sabe, algum novo amor. Ele respondeu, apontando a aliança: -- Não sou viúvo. Sou casado. O casamento não acaba com a morte! Vou me encontrar com minha esposa um dia!
No ano de 2010 os problemas de estômago se agravaram, embora ele sempre comesse pouquinho. Foi internado, os médicos tentaram cirurgia, mas pouco se pôde fazer. Ele retornou à Enseada, onde a irmã Ivone cuidou dele por algum tempo, sendo ajudada pela Silvane, a filha mais nova do tio, que sempre esteve com ele. Mas tendo se machucado na perna, Ivone precisou voltar à sua casa em Barreiros para se recuperar. Tio Ilson, que vivia na Enseada com a filha Silvane, contratou uma senhora ali perto, a dona Dorli, muito dedicada e gentil, para ajudar Silvane nos afazeres domésticos, pois havia duas casas para cuidar: a dele e a da filha. Tia Ivone o chamava carinhosamente de cutelo, ou cutelinho, nome popular do beija-flor. Na sexta-feira, 02 de julho, ele tem que retornar ao Hospital da PM, pois o corpo recusa qualquer comida. É medicado com soro. Precisa também de oxigênio. Antes de ir, conversando com o padre Antero, pároco da Enseada, foi taxativo. --Eu vou e retorno bom!
Para um doente terminal, e tio Ilson era muito inteligente para saber disso, a afirmação adquiriu uma outra conotação. Quem sabe ele voltasse bom nos braços de Deus e para um reencontro feliz com a esposa e a filha!
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Sílvia e eu visitamos tio Ilson no hospital às dezenove horas do dia 06 de julho. Ele respirava com dificuldade e não conseguia falar. Estava no oxigênio. No dia anterior escrevera para o filho Ivenes: Quero... Enseada...agora...
Queria voltar ao lar e ao seu cigarrinho, que nunca abandonou. Naquela noite de nossa visita, Sílvia lhe pediu que voltasse à Enseada, pois ela iria lhe preparar no café uns bolinhos de banana, doce que ele gostava muito. Ele sorriu e fez sinal positivo com o polegar. No quarto estavam o filho mais velho Ilson Wilmar com a esposa Doroti, mais a dona Dorli. Chegaram em seguida os netos Gabriel e Gustavo, filhos da Rita. Ele quer dizer algo. Sumá lhe apresenta papel e caneta e ele consegue escrever pedindo para saber a data, o dia. Hoje é 06 de julho, diz o filho. Ele faz novamente sinal de positivo. Sílvia e eu nos despedimos. Sabíamos que aquela data ele pedira, para cotejar com a data da morte da esposa, 02 de julho. Ela estava ali, com a filha, para levá-lo, quem sabe. Chegamos em casa e logo fomos avisados de que ele falecera. Esposa e filha realmente vieram buscá-lo. Antes, pedira para colocarem na sua mão esquerda o terço, que começou a rezar, e na outra mão o Tao, cruz símbolo da Ordem Franciscana. O corpo pequeno estava pesando cerca de trinta quilos. Doroti tomou a mão do sogro entre as suas e a sentiu fria. Ele estava deixando a vida naquele momento, no braços da nora.
Tio Ilson foi velado em sua casa na Enseada e sepultado no túmulo da esposa e da filha. Estavam agora juntos os três, por toda a eternidade. O Sol começava a cair no poente do dia 07 de julho do ano de 2010. Padre Antero, o capelão padre Valdemar, da Polícia Militar e o diácono Belelo presidiram o rito fúnebre. Estava tio Ilson muito sereno em seu caixão, na Igrejinha de Nossa Senhora do Rosário da Enseada, que ele tanto frequentara e ajudara a reformar.
Finalmente, e digo isso com muita fé e sentida confiança, o menino-passarinho já está junto, e muito feliz, da sua tão querida sabiá.
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P. S. Foi fundamental para a postagem deste artigo a inestimável ajuda de minha filha Adriana do Amaral Menezes Souza. Toda as fotos preparadas para o computador são trabalhos dela, desde a pesquisa que fiz sobre a família Rodrigues no ano de 2004, assim como também com a família Menezes em 2005. Seu marido Marcelo, meu genro, executou a preparação técnica deste Blog. Outro que me auxiliou muito foi meu filho Junior. A foto final deste artigo, que junta numa montagem magnífica e comovente meus tios Ilson e Daice, é um trabalho de criação da Adriana que exige, além da técnica, muita sensibilidade. Sem eles não poderia eu estar sendo lido por este éter chamado Internet.
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Um comentário:

  1. Muito obrigada por tanto carinho. Amamos muito tudo isto!!! Beijocas da Mana - da Béka - do Marcelo e da Baby!!! Blumenau!!!

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